sábado, 2 de novembro de 2019

A brevidade da vida - Santo Afonso Maria de Ligório

"Quae este vita vestra? Vapor modicum parens." (Jac 4, 15)
"O que é a vossa vida? Um fumo que aparece num momento" (Tg 4, 15)

I - Depressa Chega a Morte

Ó que é a vida humana! O Espírito Santo compara-a a um fumo que se dissipa ao menor sopro e que não volta. Ninguém ignora que há-de morrer, mas a ilusão dum grande número é imaginarem a morte tão afastada que quase se lhes afigura que não vem.

É um grande erro. Job nos adverte que a vida humana é curta: "O homem — diz ele — vive pouco tempo... é semelhante à flor que apenas desabrocha é calcada aos pés": Homo brevi vivens tempore, quasi flos egreditur et conteritur (Job 14, 1).

A Isaías mandou o Senhor que pregasse a mesma verdade: "Levanta a tua voz e clama; Toda a carne é erva... Em verdade a humanidade não é senão feno; seca-se a erva e cai a sua flor" : Clama... Omnis caro fenum... Vere fenum est populus; eacsiccatum est fenum, et cecídit fios (Is. 40, 6). Um pecíolo de erva, eis o que parece ser a vida do homem; vem a morte e faz secar essa erva, corta o fio da nossa vida, e lá cai a flor do alto de toda a grandeza e de todas as vantagens mundanas.

"Passaram os meus dias mais velozes que um correio": Dies mei veloctores ,fuerunt cursore (Job, 9, 25). Vem para nós a morte mais rápida que nenhum correio, e nós corremos sem parar ao encontro da morte. Cada um dos nossos passos, cada urna das nossas respirações nos aproxima dela. "O momento em que vos escrevo" - dizia S. Jerónimo - "é diminuído à minha vida", é mais um passo para a morte. "Todos morremos e corremos pela terra, como águas que não retrocedem mais": Ornnes morimur, et quasi aquae clilabimur ia terram, quae non revertuntur (2. Reg. 14, 14).

Vedes lá em baixo o rio que corre se lançar ao mar? Assim como as suas águas desligam sem parar e não voltam para trás, assina também, irmão meu, os vossos dias passam, encurtando cada vez mais a distância que vos separa da morte. Passam os prazeres, os divertimentos, as festas, os louvores, os aplausos, e que resta? "Uma sepultura - responde Job - e nada mais": Solum mihi superest sepulchrum (Job 17, 1). Despojados de tudo e lançados numa cova, seremos entregues à corrupção.

No momento da morte, a recordação de todos os prazeres passados, de todas as honras gozadas, só servirá para agravar as nossas ansiedades e afrouxar a nossa esperança da felicidade eterna. Então dirá o mundano de si para si : passados poucos instantes, a minha casa, os meus campos, os meus jardins, o meu mobiliário de tanto gosto, essas ricas pinturas, nada será meu! Uma sepultura é tudo quanto me resta.

Oh! então todos os bens terrenos enchem de amargura o coração que os amou desordenadamente, e essa mesma amargura é mais um perigo para a salvação. Com efeito a experiência nos mostra que as pessoas, assim presas às coisas temporais, só querem ouvir falar da sua moléstia, dos médicos a consultar e dos remédios a empregar.

Se lhe falardes da alma, mostrarão enfado, pedindo-vos que as deixeis, porque lhes dói a cabeça, e não podem ouvir-vos; se vos responderem, será dum modo confuso; fica-se a pensar que não sabem o que dizem. Muitas vezes os confessores absolvem-nas, não porque as julguem dispostas, mas porque não é possível demorar. Assim morrem os que pensam pouco na morte.

1 comentário:

  1. Vivemos, muitas vezes, como se nunca tivéssemos de morrer.
    E contudo, tarde ou cedo, deixaremos esta vida.
    Quando morreremos? Como morreremos? Onde? Não o sabemos. Só DEUS o sabe.
    A morte virá inesperada como o ladrão.
    O certo, porém, é que se morre e sabe-se que se morre como se vive.
    No portão de certo cemitério pode ler-se isto:
    "Eu fui o que tu és,
    tu serás o que sou;
    pensa nisto e procura DEUS!"

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