Como sabem, a.C. refere-se a "antes de Cristo" e portanto é confuso ouvir os académicos dizer que Cristo nasceu a 4 a.C. Isto significaria que Cristo nascera quatro anos antes de Cristo. No entanto, estudos cronológicos recentes e mais precisos validaram a data tradicional do nascimento de Cristo a 25 Dezembro do ano 1 a.C. [i]
Revendo os fundamentos, a datação de a.C. (antes de Cristo) e d.C. (depois de Cristo) vem dos cálculos de Dionísio 'Exiguus'. 'Exiguus' significa pequeno, por isso ele é muitas vezes chamado de Dionísio o pequeno. Dionísio era um monge que vivia em Roma. Morreu por volta de 544 d.C.
Em Roma, Dionísio trabalhava com os melhores registos romanos e documentos da Igreja para calcular o nascimento de Cristo. Este novo cálculo dividia o tempo em antes e depois de Cristo. Dionísio não incluía um ano zero. 31 de Dezembro do ano 1 a.C. devia passar para 1 Janeiro do ano 1 d.C.
Dionísio identificou a Anunciação de Gabriel à Virgem e a Encarnação de Cristo no ventre da Santíssima Virgem Maria a 25 de Março do mesmo ano 1 a.C. Ele reconheceu o nascimento de Cristo a 25 de Dezembro do ano 1 a.C. A circuncisão de Cristo, oito dias depois do Seu nascimento, foi a 1 de Janeiro de 1 d.C. A Sua crucifixão foi no ano 33 d.C.
Beda, o Venerável, pegou no esquema de datas de Dionísio, o pequeno, na sua Ecclesiastical History of the English People, e o resto é história. Continuamos a usar o seu sistema de datação até hoje: a.C. e d.C.
Dúvidas sobre o ano de nascimento de Cristo surgiram nos anos 1600. Os académicos souberam da cronologia feita pelo historiador judeu Flávio Josefo. Josefo coloca a data do Rei Herodes, o Grande, onde Dionísio chamou 4 a.C. Visto que Herodes tentou matar Cristo menino, seria necessário que Cristo já tivesse nascido antes da morte de Herodes. Se Herodes morreu em 4 a.C., então Cristo teria que ter nascido antes de 4 a.C. Assim, desde o século XVII, as pessoas têm dito que Dionísio se enganou e que Cristo nasceu quatro anos antes de Cristo.
O que é que podemos dizer disto? Bem, ou Josefo está certo ou Dionísio está certo. Não podem estar ambos. Até recentemente a maior parte dos académicos concordava com Josefo porque: A) Josefo viveu no século de Cristo, B) Josefo era judeu, e C) Josefo era um historiador profissional. Dionísio era apenas um monge que vivia em Roma mais de quinhentos anos mais tarde.
No entanto, existem agora boas razões para acreditar que Josefo se enganou. Vários estudos sobre Josefo revelam que ele de certeza que não era consistente ou preciso a datar variados acontecimentos chave na história judaica e romana. De facto, Josefo contradiz história confirmada, a Bíblia, e mesmo a sua própria cronologia cerca de uma centena de vezes. As suas datas não são muito precisas. O arqueólogo, jurista e historiador francês Theodore Reinarch foi um dos primeiros a documentar os muitos erros factuais e cronológicos de Josefo. A tradução de Reinarch de Josefo é constantemente interrompida por comentários tais como "isto é um erro" ou "noutro livro as suas personagens são diferentes." [ii]
De seguida está um exemplo da má cronologia de Josefo. Josefo regista na sua Guerra judaica que Hyrcanus reinou durante trinta e três anos. No entanto, na sua Antiguidades dos judeus, que Hyrcanus reinou trinta e dois anos. [iii] Ainda assim noutro local da sua Antiguidades, Josefo diz que Hyrcanus reinou apenas trinta anos. Isto são três alegações contraditórias - duas no mesmo livro!
Na sua Guerra judaica, Josefo regista que Aristobulus colocou o diadema na sua cabeça 471 anos depois do exílio. No entanto na sua Antiguidades, ele diz que foi 481 anos, uma diferença de dez anos. Já agora, os historiadores modernos agora sabem que foram 490 anos. Josefo está errado em todas as contas.
Podiam ser dados mais exemplos. O facto é que Josefo era desleixado com as datas, especialmente no que tocava a reis. Por isso vejamos as datas que ele dá para o Rei Herodes. Descobrimos que Josefo na verdade dá duas datas contraditórias para a morte de Herodes - 4 a.C. e 7 ou 8 d.C.
Josefo escreve que Herodes capturou Jerusalém e começou a reinar naquilo que Dionísio chama 37 a.C., e que Herodes viveu mais 34 anos depois disto. Se fizerem as contas, isto significa que Herodes morreu no ano 4 ou 3 a.C. Os académicos citam isto como a prova de autoridade de que Jesus nasceu antes de 4-3 a.C.
Ainda assim, Josefo regista uma datação diferente para a morte de Herodes noutro lado. Na sua Antiguidades, Josefo escreve que Herodes tinha quinze anos naquilo que chamaríamos 47 a.C., quando César escolheu Hyrcanus como etnarca.[iv] Mas, duas vezes noutros sítios, Josefo diz que Herodes tinha setenta anos quando morreu. Portanto se Herodes tinha 15 em 47 a.C., isso significa que morreu aos 70 de idade em 7 ou 8 d.C.
Temos uma discrepância séria nas datas de Josefo - um janela de mais de dez anos. Mais ainda, quem é que sabe realmente se ambos os números são precisos dados os seus erros noutras datas históricas?
Porque é que isto é tão importante? Revela que não devíamos deixar Josefo ter a última palavra na cronologia de Cristo. A datação de Josefo da morte de Herodes a 4 a.C. é verdadeiramente só uma versão dos seus cálculos. Porque não usar a sua data de 7 ou 8 d.C.? É um pouco arbitrário os historiadores modernos defenderem a data de 4 a.C.
A melhor maneira de datar a morte de Herodes é concentrando-nos no testemunho de que Herodes morreu poucos meses depois de um eclipse da lua bem observado. Com modelos astronómicos modernos, sabemos que um eclipse da lua como este ocorreu em Jerusalém antes do pôr do Sol de 29 de Dezembro de 1 a.C. Isto significaria que Herodes morreu pouco tempo depois de 1 d.C. Isto alinha-se perfeitamente com a cronologia de Dionísio, o pequeno. Isto significa que Cristo nasceu a 25 de Dezembro de 1 a.C. e que foi circuncidado a 1 de Janeiro de 1 d.C.
O nosso calendário é perfeitamente preciso!
Taylor Marshall
[i] Hugues de Nanteuil, Sur les dates de naissance et de mort de Jésus, Paris: Téqui editions, 1988. Translated by J.S. Daly and F. Egregyi. Paris, 2008.
[ii] de Nanteuil, 2008.
[iii] Josephus, Antiquities, 12.
[iv] Josephus, Antiquities, 14.
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