Completando-se cinquenta anos da constituição apostólica Missale Romanum, que introduziu o Novus Ordo Missae, um número crescente de católicos julgou ter chegado o momento de fazer um balanço isento, desapaixonado e rigoroso das suas consequências.
Foi também há 50 anos que os cardeais Ottaviani e Bacci apresentaram a Paulo VI uma lúcida advertência, validada por doze eminentes teólogos, na qual denunciavam na reforma da liturgia «um impressionante afastamento da teologia católica da Santa Missa».
Na verdade, os reformadores quiseram uma liturgia completamente nova, diferente da antiga, tanto no espírito como nas formas exteriores, e que correspondesse às tendências da «teologia nova».
Mais recentemente, o Papa Bento XVI, que viveu com grande dor toda a crise litúrgica, chegou a afirmar: «Estou convencido de que a crise eclesial em que hoje nos encontramos depende em grande parte da decadência da liturgia». Antes disso, já tinha dito que, em vez de redescobrir o centro vivo da liturgia, a reforma «na sua realização concreta afastou-se cada vez mais dessa origem. O resultado não foi uma reanimação mas uma devastação (…) uma liturgia degenerada em show».
A verdade é que o êxito pastoral que se esperava não se concretizou. As igrejas esvaziaram-se, o povo descristianizou-se, a juventude afastou-se da Fé. Tudo isto levou o grande liturgista alemão Klaus Gamber, da Academia Pontifícia de Liturgia, a afirmar: «Consumou-se a ruptura com a tradição (…) Pode-se dizer que as esperanças que se depositaram na reforma litúrgica não se realizaram em absoluto». E acrescentou: «É necessário que o rito mais do que milenar da Missa seja conservado na Igreja Católica romana como forma primária de celebração (…) É necessário que volte a ser a norma de fé e sinal da unidade dos católicos em todo o mundo, um pólo inabalável em tempos de tanta desorientação».
NOTA DO EDITOR:
Nesta publicação reunimos diversos estudos sobre a chamada «Reforma da Liturgia Romana» (que completa 50 anos no próximo dia 30 de Novembro). O estudo mais extenso e completo deve-se ao ilustre professor católico brasileiro, Dr. Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira, recentemente falecido.
Na segunda parte deste volume é publicado outro rigoroso estudo elaborado por doze eminentes teólogos romanos; tal trabalho é precedido por uma carta dos cardeais Alfredo Ottaviani e Antonio Bacci, dirigida a S.S. Paulo VI. Completa o volume uma série de excertos da obra do conceituado liturgista alemão, P. Klaus Gamber, sobre os problemas da Missa «versus populum», bem como alguns outros excertos de conhecidos autores sobre o mesmo tema. O prefácio deve-se ao distinto professor brasileiro, Dr. Ibsen Noronha, regente da cadeira de História do Direito Luso-Brasileiro, da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
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