A lapidação de Santo Estevão, Rembrandt van Rijn - 1625 - Musée des Beaux Arts, Lyon |
Esta história tem início na cumplicidade de um crime, um linchamento, como tantos outros que aconteceram ao longo dos séculos. Este tem um nome: lapidação.
Decorrente de uma determinação a um tempo legal e religiosa, a execução não requer a presença de nenhum carrasco, apenas alguns homens vulgares que se esforçam por se impregnar de ódio para darem livre curso aos seus instintos. Cada um dos actores mune-se de pedras para as lançar sobre o alvo vivo. Cada vez mais depressa, cada vez com mais força: uma execução que é também um concurso de pontaria.
No ano 34 da nossa era, nos arrabaldes da cidade de Jerusalém, o homem atingido por essas pedras não procura esquivar-se. De joelhos, imóvel, reza. Ouvem-se estas palavras:
- Senhor Jesus, recebei o meu espírito!
Intensificam-se as pedradas contra o alvo. Começam a espalhar-se pelo corpo manchas escuras e sanguinolentas. Quebram-se os ossos. Por causa da transpiração, os executores depositaram os seus mantos aos pés de um jovem que indubitavelmente «aprova». Pelo gesto ou pela palavra?
Uma pedra atinge o lapidado em cheio na cabeça. Tem ainda força para murmurar:
- Senhor, não lhes leves em conta este pecado...
Cai. Morre. O seu nome é Estêvão. Pouco antes, a pequena comunidade cristã de Jerusalém tinha-o escolhido como um dos Sete encarregados de a administrar. Acusado de pronunciar «palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus», foi arrastado diante do Sinédrio. Não satisfeito com a afirmação da sua fé, chegou mesmo a proclamá-la.
De toda a assembleia brotou um grito:
- Lapidai-o!
O jovem que guardou os mantos chama-se Saulo. É natural de Tarso, na Cilícia.
Alain Decaux in O Aborto de Deus (Cap.I)
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