sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

A história de uma santa Batina


Vivemos num tempo em que Padres são repreendidos por Bispos por usarem batina, ou simplesmente não gostam de usá-la. Se eu fosse Padre, usaria tanto a batina, mas tanto, mas tanto, que comeria de batina, iria ao médico de batina, tomaria banho de batina, dormiria de batina e, depois de morto, seria enterrado vestindo a batina.

Eu usaria tanto a batina que, após a minha morte, nem mesmo o maior dermatologista do mundo saberia mais distinguir, no cadáver, a pele da batina. Eu usaria tanto a batina que, depois da minha morte, a minha batina iria adquirir vida própria, sairia do meu túmulo, rezaria Missa, celebraria casamentos, ouviria confissões, proferiria sermões e, no inverno, aqueceria os mendigos.

A minha batina causaria tanta dor de cabeça para os modernistas e para os ímpios da política que, ambos, em conluio, iriam perseguir a minha batina, condenando-a a uma pena de reclusão, em regime fechado, em carácter perpétuo, num lugar esquerdo qualquer de subúrbio.

Porém, séculos depois, após a Tradição da Igreja ter sido resgatada e os modernistas terem sido expulsos da hierarquia da Igreja, todos reconheceriam a grande piedade e as grandes virtudes da minha batina. Um processo de canonização seria aberto. Milagres e mais milagres seriam atribuídos à intercessão da minha batina. O material com o qual a minha batina foi feita seria analisado por comissões de costureiras e alfaiates, para que se pudesse comprovar a sua incorruptibilidade.

Após muita expectativa da Igreja de todo o mundo, a minha batina seria declarada santa, a primeira batina santa da História da Igreja. E, no fim das contas, ninguém mais se lembraria de mim, mas todos se lembrariam da minha batina.

Felipe Lustosa (seminarista)

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