Vivemos num tempo em
que Padres são repreendidos por Bispos por usarem batina, ou simplesmente não
gostam de usá-la. Se eu fosse
Padre, usaria tanto a batina, mas tanto, mas tanto, que comeria de batina, iria
ao médico de batina, tomaria banho de batina, dormiria de batina e, depois de
morto, seria enterrado vestindo a batina.
Eu usaria tanto a batina que, após a minha
morte, nem mesmo o maior dermatologista do mundo saberia mais distinguir, no
cadáver, a pele da batina. Eu usaria tanto a batina que, depois da minha morte,
a minha batina iria adquirir vida própria, sairia do meu túmulo, rezaria Missa,
celebraria casamentos, ouviria confissões, proferiria sermões e, no inverno,
aqueceria os mendigos.
A minha batina causaria tanta dor de
cabeça para os modernistas e para os ímpios da política que, ambos, em conluio,
iriam perseguir a minha batina, condenando-a a uma pena de reclusão, em regime
fechado, em carácter perpétuo, num lugar esquerdo qualquer de subúrbio.
Porém, séculos depois, após a Tradição da
Igreja ter sido resgatada e os modernistas terem sido expulsos da hierarquia da
Igreja, todos reconheceriam a grande piedade e as grandes virtudes da minha
batina. Um processo de canonização seria aberto. Milagres e mais milagres
seriam atribuídos à intercessão da minha batina. O material com o qual a minha
batina foi feita seria analisado por comissões de costureiras e alfaiates, para
que se pudesse comprovar a sua incorruptibilidade.
Após muita expectativa da Igreja de todo o
mundo, a minha batina seria declarada santa, a primeira batina santa da
História da Igreja. E, no fim das contas, ninguém mais se lembraria de mim, mas
todos se lembrariam da minha batina.
Felipe Lustosa (seminarista)
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