Foi divulgada uma carta que o Padre Yoannis Lahzi Gadi, secretário
do Papa Francisco, enviou a um grupo de sacerdotes. A carta, que foi aprovada
pelo Papa, é um apelo a que todos os sacerdotes abandonem a epidemia do medo e
comecem a agir segundo a lógica de Deus e não segundo a lógica dos
homens:
Quo vadis, Domine? (Senhor, para onde vais?)
É um episódio atribuído ao apóstolo Pedro que, segundo a tradição,
fugiu de Roma para escapar das perseguições de Nero, teria encontrado Cristo,
que carregava uma cruz nos ombros e ia na direcção de Roma. Pedro perguntou a
Jesus: "Domine, quo vadis?" (Senhor, para onde vais?) E à resposta de
Jesus: "Eo Romam iterum crucifigi." (Vou a Roma para ser crucificado
novamente.) Pedro compreendeu que tinha de voltar para Roma para enfrentar o
martírio.
Pedro tinha, humanamente falando, todo o direito de escapar para
salvar a sua vida da perseguição e talvez fundar outras comunidades e outras igrejas,
mas, na realidade, de acordo com a lógica do mundo, as pessoas agiam como
Satanás, ou seja, pensando como homens e não segundo Deus. Jesus, voltando-se,
disse a Pedro:
"Vai-te da minha frente,
Satanás, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos
homens." (Mc 8, 33).
Cristo, no Evangelho de João, ao falar do "Bom Pastor" e
do mercenário, chama a Si mesmo "Bom Pastor", que não apenas cuida
das ovelhas, mas conhece-as pessoalmente e dá, até, a vida por elas. Jesus é o
"guia" seguro das pessoas que procuram o caminho que conduz a Deus e
aos irmãos.
Na epidemia do medo que todos estamos enfrentando, por causa da pandemia
de corona vírus, todos corremos o risco de nos comportarmos como mercenários e
não como pastores.
Não podemos e não devemos julgar, mas vem-nos à mente a imagem de
Cristo, que encontra Pedro assustado e iludido, não para o censurar mas para ir
morrer em seu lugar. Pensamos em todas as almas amedrontadas e abandonadas
porque nós, pastores, seguimos as instruções civis - o que é correcto e
certamente necessário neste momento para evitar o contágio - mas corremos o
risco de deixar de lado as instruções divinas - o que é um pecado.
Pensamos como homens e não segundo Deus, colocamo-nos entre os
assustados e não entre os médicos, enfermeiros, voluntários, trabalhadores e
pais da família que estão na linha de frente. Penso nas pessoas que vivem
alimentando-se da Eucaristia, porque acreditam na Presença Real de Cristo na
Sagrada Comunhão. Penso nas pessoas que agora devem ser contentar-se com seguir
a transmissão da Missa em streaming. Penso nas almas que precisam
de conforto espiritual e de se confessar. Penso nas pessoas que certamente
abandonarão a Igreja, quando esse pesadelo acabar, porque a Igreja as abandonou
quando precisavam.
É bom que as igrejas permaneçam abertas. Os padres devem estar na
linha de frente. Os fiéis devem encontrar coragem e conforto olhando para os
pastores. Os fiéis devem saber que, a qualquer momento, podem correr a
refugiar-se nas igrejas e paróquias e encontrá-las abertas e prontas para os
acolher. A Igreja deve ser chegar às pessoas também através de um "número
verde" para o qual a pessoa possa ligar para ser consolada, pedir combinar
uma confissão, para receber a Sagrada Comunhão comunicado ou para que seja dada
a entes queridos.
Devemos aumentar as visitas às casas, casa por casa, usando todas
as precauções necessárias para evitar o contágio; nunca nos fechando mas sim
vigiando. Caso contrário, acontece que são entregues nas casas as refeições, as
pizzas, mas não a Comunhão, especialmente a pessoas idosas, doentes e carentes.
Acontece que supermercados, quiosques e tabacarias permanecem abertos, mas não
as igrejas.
O Governo tem o dever de garantir cuidado e apoio material às
pessoas, mas nós temos o dever de fazer o mesmo com as almas. Que nunca se
diga: "Eu não vou a uma igreja que não me veio visitar quando eu precisava".
Portanto, aplicamos todas as medidas necessárias, mas não nos
deixamos condicionar pelo medo. Peçamos a Graça e a coragem de nos comportarmos
segundo Deus e não segundo os homens!
Don Yoannis Lahzi Gadi
Caro Joao Silveira,
ResponderEliminarObrigado por colocar alguma luz num momento tão estranho e em que tantos se sentem abandonados pela sua Igreja. A vida não pode parar, nem com a própria morte! Uma Igreja de portas fechadas que evita o risco da morte é algo para mim muito difícil de aceitar. O silêncio do Papa, que não fala à sua Igreja neste momento, é uma desilusão que nos faz sentir abandonados na fé. Uma Igreja de portas fechadas num momento como este é uma contradição no coração dos que acreditam que a morte faz parte da vida e que jamais a poderá deter!! Um abraço, Tomás Roquette Tenreiro