segunda-feira, 23 de março de 2020

Viver e morrer pela Missa

Uma meditação sobre a Pandemia

No Ocidente, a Igreja tem sido razoavelmente imune à interferência governamental na prática da Fé. Existem impostos sobre os salários, regulamentos laborais e outros processos do género. Ocasionalmente, há um desafio ao selo sacrossanto da Confissão: litígios que geralmente são resolvidos antes de chegar aos tribunais.

Mas a pandemia actual colocou as autoridades do governo contra as autoridades da Igreja em matéria de celebração da missa, com alguns bispos a renderem-se à pressão do governo. Resultado: Muitos líderes da Igreja acordaram em suspender a celebração pública da Missa.

Às vezes, cancelar a Missa faz sentido: uma ameaça de bomba, um cenário de crime, preocupações com a segurança, equívocos, etc. Os cancelamentos são anomalias, geralmente com a intenção de retomar após um intervalo razoável. Mas a suspensão voluntária de missas públicas por dioceses inteiras é um fenómeno inusitado numa situação que não seja de zonas de guerra nem de estados totalitários.

A pandemia actual é um enigma para os líderes católicos. Como é que poderíamos celebrar a missa em público e evitar o contágio? Obviamente, há uma diferença significativa entre uma resposta razoáveis ​​a ameaças à saúde e reacções histéricas. Os julgamentos prudenciais são subjectivos, e é difícil identificar uma linha clara de distinção. Mas os açambarcadores que esvaziaram as prateleiras dos supermercados de papel higiénico e desinfectantes para as mãos claramente cruzaram essa linha. O egoísmo aumentou o risco de doenças porque a escassez de desinfectantes afecta todos os locais públicos, inclusive as igrejas.

O pânico - alimentado por alguns políticos e por boa parte da media - resultou na emergência desnecessária, a roubos de medicamentos e de farmacêuticos. O frenesim alcançou o que os nazistas e comunistas - e 2000 anos de bispos e padres corruptos (parafraseando uma piada de um assessor de Napoleão) - não foram capazes de realizar: a supressão do culto público da Igreja. Por quanto tempo e a que custo espiritual?

Os líderes da igreja vêem-se apanhados no fogo cruzado da opinião pública. É conveniente satisfazer as autoridades do governo fechando as igrejas e alienando muitos dos fiéis. É mais desafiador manter as igrejas abertas - mesmo com as devidas precauções de saúde nas práticas litúrgicas - do que arriscar acusações de negligência em cuidados de saúde.

Muitas das medidas de saúde definidas são prudentes. Felizmente, os bispos suspenderam a troca do aperto de mão do Sinal de Paz (espera-se que para sempre). Nunca saberemos quantos vírus são trocados com cada aperto de mão não lavado. Sempre foi costume que católicos em risco devido à idade ou à saúde fossem dispensados da missa dominical. E agora há ainda mais tolerância quanto a isso. Talvez estejamos no momento ideal de redescobrir as práticas sanitárias que as mães costumavam ensinar aos filhos. Mas em muitas partes do país, essas práticas razoáveis não satisfazem as autoridades civis.

A raiz subjacente da histeria é o ateísmo, ou a falta de fé do ateísmo implícito enraizada nos confortos do consumismo. Segundo o credo ateu, o maior mal da vida é o sofrimento ou uma vida interrompida por causa de uma doença catastrófica. Para um ateu crente, o sofrimento pode ser pior que a morte. (O que em si explica o surgimento de legislação que aprova o suicídio assistido em vários países.) Mas uma “morte prematura” também aterroriza. O credo ateu é fácil de entender, simples de viver quando as coisas são boas, mas termina sempre em desespero. O sofrimento humano é um mal insuperável.

Os cristãos acreditam que Deus não é o autor do sofrimento e da morte. "... Deus não fez a morte, nem se alegra com a destruição dos vivos." (Sabedoria 1, 13). A morte é o resultado da inveja do diabo (Sabedoria 2, 24) e do pecado, original e pessoal (cf. Gen 3).

Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, veio ao mundo para nos resgatar dos nossos pecados. Ele enfrentou o mal em obediência ao Pai e suportou a Sua terrível Paixão pela nossa salvação. A Sua poderosa ressurreição revela-nos a Sua vitória final sobre o pecado, o sofrimento e a morte. Ele oferece-nos a Sua nova e eterna aliança para nos libertar da desgraça e horrores eternos. 

Portanto, no baptismo, morremos espiritualmente com Cristo e emergimos das águas em união com Ele, incorporados ao seu corpo místico. Quando morremos em amizade com Jesus ressuscitado, “a vida muda, não acaba” (Prefácio, Missa Funeral).

Todos os confortos da vida, incluindo os melhores cuidados de saúde, não podem substituir o estado de graça santificadora no momento da morte. Por isso, estando nós nesse “vale de lágrimas”, proclamamos alegremente com São Paulo: “Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão? (1Cor 15, 55)

A narrativa cristã, resumida no Credo dos Apóstolos, é realista. Ela confronta o mistério do sofrimento e da morte e oferece a esperança da vida eterna. A nossa batalha é pela vida eterna, e todas as gerações devem escolher o Caminho da Cruz. "Se alguém quiser seguir-Me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me." (Mt 16, 24) Viver essa narrativa não é fácil. O Caminho requer a graça, fé, oração, estudo, coragem e esperança em Deus na nossa vitória final em Cristo.

Mas, acima de tudo, para viver, precisamos da reconstituição dominical (e diária) daquele amor da nova e eterna aliança que ocorre na Missa.

Durante as perseguições do imperador romano Diocleciano na Igreja primitiva, os cristãos desobedeciam à ordem do imperador de cancelar as suas reuniões religiosas. E enfrentara a morte, dizendo: 

«Não podemos omitir a celebração dos mistérios divinos. O cristão não pode viver sem a Eucaristia e a Eucaristia sem o Cristão. Vós não sabeis que o cristão existe para a Eucaristia e a Eucaristia para o Cristão? Sim, participei com os irmãos na reunião, celebrei os mistérios do Senhor e tenho aqui comigo, escritos no meu coração, as Escrituras Divinas. A Eucaristia é a esperança e a salvação dos cristãos.»

Desculpe, governador. Lamento, Meritíssimo. A celebração da Missa não é negociável e não é da sua conta. Faremos o nosso melhor - sem garantias - com higiene pessoal e distâncias seguras. Mas nós “procuramos as coisas do alto” (Col 3, 1) e vivemos e morremos pela Missa.

Fr. Jerry Pokorsky in catholicculture.org
Tradução: André Pires

1 comentário:

  1. ¿Quién ha dicho esas historias?,
    ¿que el Cristo este año no sale?,
    si está vestido de blanco,
    de azul, en los hospitales...

    ¿Quién dice que el Nazareno
    no puede hacer penitencia,
    si están todos atendiendo
    a enfermos en las urgencias?

    ¿Cómo que Jesús Caído
    no saldrá el Miércoles Santo?
    Mírale tú en nuestros médicos
    que caen rendidos, exhaustos,
    con humildes cireneos
    ayudando a cada paso:
    celadores, enfermeras, administrativas,
    codo a codo, sin descanso.

    Igual que en la Borriquita
    pasó Jesús por la tierra,
    nuestros héroes camioneros
    pasan las noches en vela
    para abastecer mercados
    de barrio, farmacias, tiendas...

    Ejército, Guardia Civil, Policía,...
    patrullan calles desiertas,
    y no están con sus familias
    sino cuidando a las nuestras.
    Y lejos de las ciudades,
    Jesucristo está doblado
    sobre los surcos de tierra,
    se hace a la mar en un barco,
    tiende cables, cava pozos
    o pastorea el ganado.

    Nadie diga que el Señor
    no está en las calles presente,
    cuando en las Iglesias solitarias
    los Sacerdotes celebran Misa diariamente.

    Nadie diga que el Cautivo
    no va a salir este año,
    mientras haya una voz buena
    llamando al que está encerrado.

    Nadie diga que el Gran Poder
    no va en su anda,
    cuando tantas vidas orantes
    se ofrecen y aman.

    Con cansancio en la mirada,
    con buen humor, sin fallarnos,
    también Cristo está presente
    en cualquier supermercado,
    reponiendo estanterías
    o a pie de caja cobrando.

    Jesús viene en un camión
    de blanco y verde pintado,
    recoge nuestros desechos
    y se va sin ser notado.

    Cuando veo a tanta gente
    que a los suyos ha enterrado,
    siento que también salió
    la Piedad del barrio bajo,
    la Virgen de las Angustias
    con su Hijo en el regazo.

    Y aunque a todos nos asuste
    el pasar por el Sepulcro,
    ahí está la fortaleza
    de Aquel que ha vencido al mundo.

    Tal vez no haya procesiones
    con imágenes talladas
    pero ya ves, Cristo sale
    al encuentro de tu alma,
    en mil rostros escondido,
    sin cirios y sin campanas.

    Que aunque no haya procesiones
    por España en primavera,
    seguirá oliendo el incienso
    que pone su gente buena.

    El amor salta las tapias,
    el corazón no se encierra;
    será una "Semana Santa"
    más que nunca, y verdadera.

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