Filho de Ricardo
Ferrini e de Luísa Buccellati, um casal muito católico, Contardo era um jovem de
memória prodigiosa. Estudioso, chamavam-lhe o Aristóteles. Aprendia tudo o
que lhe ensinavam com a maior facilidade. Um dia, apareceu pela Ambrosiana, a
pedir ao prefeito da biblioteca que lhe ensinasse o hebreu. Estudou o hebreu, e
depois o siríaco, o sânscrito e o copta.
Em Pavia, em 1876, com
17 anos, começou o curso de Direito. Ali, o abade Buccellati, seu
tio, ministrava o direito penal. Dos colegas debochados, dos ditos obscenos,
dos risos que as ordinarices provocavam, o jovem Ferrini fugia, atormentado.
Trazia o cilício sempre bem apertado e procurava o confessionário todos os
dias.
Em 1881, fez um voto de
castidade. Um dia, um colega apontou-lhe duas jovens irmãs, bastante bonitas, de
boa família, e, pois, óptimos partidos. Qual delas escolheria Contardo? O jovem
respondeu:
– Eu sou pela terceira,
ainda por nascer.
Em Junho de 1880
defendeu, brilhantemente, em Pavia, a sua tese – uma dissertação latina que
girava em torno da importância de Homero e de Hesíodo para a história do
direito penal – tese que lhe valeu uma bolsa de viagem. (...)
Do professorado,
Contardo fez o seu sacerdócio. Foi mestre sempre compenetrado, sério, grande
estudioso, que não procurou matérias que levam ao sucesso fácil, mas o direito
penal romano e o direito bizantino. Nesta última disciplina, foi quase que um
iniciador na Itália. (...)
Assistindo à Missa
todos os dias, diante do tabernáculo, Contardo, a orar, chegava ao êxtase.
Aos Domingos, se o
procuravam em casa, o porteiro avisava:
– Não é fácil, em dias
de festa, achar o professor em casa. Não! Está sempre na igreja, onde tem tanta
coisa para fazer!
Terciário franciscano,
desde 1886, Ferrini era doce, humilde, paciente, sempre procurando a perfeição.
'Eu procurarei,
escreveu duma feita, ser modelo de mansidão, de doçura, de caridade e de
humildade. Repararei cada falta por uma redobrada atenção, para evitá-las, e
procurarei, todos os dias, ocasião de praticar as virtudes'.
Depois:
'Durante o dia, farei
uma visita a Jesus no Santo Sacramento, lembrando-me do seu amor, da sua
ternura e da sua doçura inefáveis: a Ele irei em espírito de afectuosa
confiança e de humildade. Permanecerei unido a Ele todo o dia com frequentes
aspirações e uma grande pureza de intenção. A caridade espiritual para com os
outros será meu primeiro cuidado; hei de ser humilde e afável. Falando de Deus
aos outros, rogarei a Ele que termine a minha obra com a sua acção inefável'.
De real espírito de
pobreza, Ferrini era verdadeiramente indiferente pelo dinheiro. Professor em
Pavia, hospedara-se na casa da irmã. Metódico, levantava-se às cinco horas e
meia, invariavelmente. Ao final das aulas, depois de atender às perguntas dos
alunos, sempre a rodeá-lo, tornava a pé para casa.
Contardo Ferrini
faleceu aos 43 anos, em 1902. Foi o tipo do homem que mostrou, e
de modo cabal, que a ciência e a religião não são incompatíveis. Beatificado em
1947.
Pe. René François
Rohrbacher in 'Vidas dos Santos' (Volume XVIII) - Editora das Américas (São
Paulo), 1961, pp. 292-294
Admirável exemplo de um leigo casto e celibatário sem precisar ser um religioso ou padre.
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