segunda-feira, 14 de outubro de 2024

São Calixto: de escravo e ladrão a Papa mártir

Natural de Roma e sucessor de Papa São Zeferino, São Calisto (ou Calixto) pertence também ele ao grémio dos Papas que deram a vida em defesa da Fé.

Foi escravo de Aurelius Carpoforus, pai da família imperial. Conta-se que Aurelius era cristão e acabou por conceder a liberdade a Calixto, a quem, inclusive, doou uma soma para que pudesse abrir o próprio negócio. Acontece que Calixto não aproveitou a oportunidade e chegou a apropriar-se de certa quantia de Aurelius, tendo depois fugido para Roma, onde acabou por ser capturado e teve de trabalhar para devolver o dinheiro furtado. O pai do imperador, porém, deu-lhe uma segunda oportunidade, determinando que fosse libertado. 

Mesmo assim, Calixto envolveu-se em algumas aventuras desonestas, fazendo com que fosse enviado para a Sardenha, onde passou um bom período submetido a a trabalhos formados nas minas. Nesta época reinava o Imperador Cómodo com a sua esposa Márcia, sendo um período, favorável aos cristãos exilados, durante o qual muitos receberam a liberdade, como Calixto.

O Papa Zeferino acabou por contratar os serviços de Calixto. Desempenhou-os tão bem, que acabou por ser nomeado secretário e, posteriormente, homem de confiança do Papa. Ficou muito famoso pelo empreendimento de grandes feitos administrativos, entre os quais a organização das catacumbas de Roma, onde estavam depositadas as relíquias dos santos da Igreja primitiva. Grande parte destas catacumbas ficaram muito conhecidas e levam o seu nome (famosas catacumbas de São Calixto). Ali, 46 Papas e milhares de mártires encontram-se enterrados. Possuem quatro pisos sobrepostos e mais de 20 quilómetros de corredores. Construiu também a Basílica de Santa Maria em Trastevere.

Após o martírio de São Zeferino, o clero e o povo de Roma elegeram São Calixto como a pessoa mais preparada para assumir o governo da Igreja. Era notável a sua fama de devoção e piedade. Havia, muito antes, declarado publicamente os seus pecados, afirmando que, se um pecador sinceramente contrito, se entregasse à penitência e deixasse para trás as suas maldades, poderia voltar a ser admitido entre os fiéis cristãos católicos, e que nenhum bispo o poderia destituir mesmo que por grave pecado, caso se arrependesse e viesse a levar vida de conversão e penitência. 

Ocorreu que um tal Hipólito, baseado no passado e associando nelas as declarações feitas, opôs-se terrivelmente, de forma que investiu de todas as formas para que Calixto fosse deposto do trono pontifício, mas os seus argumentos não encontraram eco nem no seio da Igreja, nem junto aos cristãos católicos.

Durante o seu pontificado, converteu muitos romanos ao Cristianismo e curou a vários doentes que padeciam de graves enfermidades. Também defendeu e consolou muito os cristãos vítimas de perseguições movidas pelos pagãos. Costumava fazer penitência com frequência, inclusive, chegou a submeter-se a 40 dias consecutivos de jejum. Combateu com constância as heresias adopcionistas e modalistas.

Foi ele também vítima de uma grande insurreição popular. Havia entre os pagãos, ódio generalizado por causa do tratamento favorável que o Imperador Eligobalo concedia aos cristãos. No mesmo ano (222), porém, pouco antes do martírio de São Calixto, Eligobalo e a sua mãe foram assassinados.

Assumindo, o Imperador Alexandre Severo não conseguiu deter o ódio popular e mandou prender Calixto, o qual foi enviado ao cárcere, onde o deixaram durante muitos dias sem comida e sem bebida. Foi encontrado pelos guardas em silêncio e com semblante muito tranquilo. Perguntaram-no se tinha fome ou sede após tanto tempo sem água ou comida, ao que respondeu: “Acostumei o meu corpo a passar dias e semanas sem comer e nem beber, por amor ao meu amigo Jesus Cristo”.

Foi no cárcere que, com as suas orações, curou a esposa do carcereiro quando ela já agonizava. Por causa deste milagre, o carcereiro deixou-se baptizar com toda sua família, ingressando na santa religião cristã.

Finalmente, por ordem imperial, São Calixto foi lançado num poço profundo, que foi coberto até a boca com terra e diversos escombros. O poço de Calixto é um local turístico de Roma , e está situado no Tribunal do convento de São Calixto, próximo à Basílica de Santa Maria, em Trastevere, venerado até hoje pelos cristãos. As suas relíquias encontram-se no cemitério de Calepódio, em Via Aurélia

in Página do Oriente

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