A ‘Ostpolitik’ foi uma política desenvolvida durante os pontificados de João XXIII e Paulo VI em relação aos países comunistas. O objectivo passava por não hostilizar os governos comunistas, o que implicava muitas vezes evitar que fossem ordenados sacerdotes nesses países. Apesar das ordens do Papa, o Cardeal Wojtyla, Arcebispo de Cracóvia ordenou sacerdotes:
«O Cardeal Wojtyła nunca duvidou das boas intenções de Paulo VI em sua Ostpolitik, e certamente sabia do tormento pessoal do Papa, dividido entre o instinto de seu coração de defender a Igreja perseguida e o julgamento de sua mente de que ele deveria seguir a política de salvare il salvabile [“salvar o que poderia ser salvo”] – o que, como ele disse certa vez ao arcebispo Casaroli, não era uma ‘política de glória”. O arcebispo de Cracóvia também acreditava ter a obrigação de manter a solidariedade com uma vizinha perseguida e profundamente ferida, a Igreja na Tchecoslováquia, onde a situação se deteriorou durante os anos da nova Ostpolitik vaticana.
Assim, o Cardeal Wojtyła e um de seus bispos auxiliares, Juliusz Groblicki, ordenaram padres clandestinamente para o serviço na Checoslováquia, apesar (ou talvez por causa) do facto de a Santa Sé ter proibido bispos clandestinos naquele país de realizar tais ordenações. As ordenações clandestinas em Cracóvia eram sempre realizadas com a autorização expressa do superior do candidato a ser ordenado – o seu bispo ou, no caso de membros de ordens religiosas, o seu provincial.
Foram planeados sistemas de segurança. No caso dos Padres Salesianos, foi utilizado o sistema de cartão rasgado. O certificado que autorizava a ordenação foi rasgado ao meio. O candidato, que teve de passar clandestinamente pela fronteira, levou metade consigo para Cracóvia, enquanto a outra metade foi enviada por correio clandestino ao superior salesiano de Cracóvia. As duas metades foram então combinadas e a ordenação pôde prosseguir na capela do arcebispo em Franciszkańska.
O Cardeal Wojtyła não informou a Santa Sé sobre essas ordenações. Não as considerava como actos que desafiavam a política do Vaticano, mas como um dever para com os crentes sofredores. E, presumivelmente, não queria levantar uma questão que não poderia ser resolvida sem dor de ambos os lados. Ele também pode ter acreditado que a Santa Sé e o Papa sabiam que estas coisas estavam a suceder em Cracóvia, confiado no seu julgamento e discrição, e pode ter recebido uma espécie de válvula de escape no que estava se a tornar uma situação cada vez mais desesperada.»
George Weigel in 'Witness to Hope: The Biography of John Paul II'
Interessante! Não estava ciente deste acto de indisciplina do Arcebispo de Cracóvia que, ao fim e ao cabo, não é muito diferente daquele pelo qual o Arc. Lefebvre foi excomungado. Dois pesos e duas medidas? Tudo indica que sim! Sábia decisão a de Bento XVI que retirou a excomunhão que pendia sobre Mons. Lefebvre...!
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ResponderEliminarJesus afirma que "os fins não justificamos meios". Porém, neste caso, compreendo a atitude de S. João Paulo II, e talvez possamos relembrar a Passagem em que Jesus refere que "o sábado foi feito por causa do Homem e não o Homem por causa do sábado"...
Nestas circunstâncias, as consequências seriam muito mais gravosas para a Igreja com a lei estipulada pelo Papa, baseada numa prudência TALVEZ cobarde, como infelizmente Ela já nos habituou, totalmente contrária, ao heroísmo que Jesus preconiza, para aqueles que Nele Creem.
E, quanto a M. Lefébvre, também já li que tudo não passou de um mal entendido, embora, nesse caso, ele estivesse mesmo a desobedecer, por sua própria vontade. Mesmo com razão, e hoje dou-lha, o perigo do Cisma era muito grande, o que não acontecia com a atitude de S. João Paulo II!
É suposto que os comentários sejam feitos sobre o "post" publicado mas já que a Mª José me comenta e parece saber de tudo a ponto de fazer juízos, expostos com imensa "autoridade" , gostaria que me citasse a passagem bíblica em que Jesus afirma "os fins não justificamos os meios" . Quanto ao resto, devido à labiríntica confusão que aí é expressa, não me atrevo, também por prudência, mas não cobarde, a entrar na disputa.
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ResponderEliminarSe for à Obra : "O Evangelho como me foi revelado", de Maria Valtorta-- Beata e Mística, reconhecida pela Igreja-- lerá numa Passagem, que S. João, numa certa noite, seguiu Jesus depois Dele já ter escolhido Pedro para Chefe da Igreja.
S. João tinha somente a intenção de protegê-Lo, uma vez que sabia que Jesus já andava a ser procurado pelos inimigos do Templo.
Mas Jesus, ao vê-lo, reprendeu-o severamente, exaltando a Obediência, ao mesmo tempo que lhe perguntava se Pedro tinha conhecimento da sua atitude. João respondeu que sim, pedindo-Lhe que o perdoasse, pois tinha agido por Amor. Jesus, perante a resposta amansou e respondeu: "Se Pedro sabe, não tenho nada que te perdoar!"--convém referir, que esse afastamento de Jesus, era para um Retiro de Oração, durante uns dias antes da Paixão--
Porém, continuou e explicou: "Há coisas que mesmo feitas por Amor, se não forem por OBEDIÊNCIA, mais merecem castigo, e os fins não justificam os meios, nestes casos!
Agora, acredite se quiser, pois, esta Obra, foi mandada escrever por Jesus, precisamente, como Ele refere, para dar argumentos ao Seu Santo Vigário CONTRA O MODERNISMO EXACERBADO, que já nessa época assolava a Igreja.
E, na altura, por muito que nos custe aceitar, era Bento XVI o responsável pelo Dicastério para a Doutrina da Fé e, embora não a contestasse, também não lhe prestou o devido valor, apresentando o argumento: "Para não influenciar os mais néscios..."
E não é por acaso que, na mesma Obra, Jesus desabafa à Mística dizendo que "os doutores esquisitos, pesquisarão, pesquisarão, pesquisarão, mas torcerão sempre o nariz...E isso, porque nada de contraditório encontrarão nela.
Agora, se S. João Paulo II não obedeceu na Polónia, para mim, eu acho que ele simplesmente não quis obedecer ao Comunismo, ajudando a Igreja, enquanto Lefebvre se tinha insurgido
contra Roma...