quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A extinção dos machos - Pe.Gonçalo Portocarro de Almada

O "Le Figaro Magazine" do passado dia 20 de Julho dedica a capa e os artigos centrais à crise da identidade masculina e questiona o estatuto do varão na sociedade moderna. Homens e mulheres parecem ter sido modernamente substituídos por uma categoria híbrida de seres humanos, indefinidos e equivalentes, em que já não se revê a clássica distinção dos sexos.

É verdade que em tempos se entendeu que seria másculo quem fosse bruto e insensível, até porque, como se dizia, os homens não choram. Um medricas era pela certa alguém com falta de virilidade. Pelo contrário, ser feminino era sinónimo de uma certa superficialidade - as coisas de mulheres eram, por regra, assuntos sem importância - e de um carácter sentimental e fútil. Molière até se permitiu troçar das femmes savantes à conta do ridículo que parecia ser então uma senhora erudita.

Na família, a distinção entre as virtudes femininas da fada do lar e as atitudes viris do chefe de família acentuavam, mais do que a igualdade essencial de mulheres e homens, a diferença social dos seus estatutos.

À mulher, esposa dedicada e extremosa mãe, pedia-se submissão ao marido, esmerada educação dos filhos e prudente administração doméstica. Não lhe ficava bem expressar opiniões políticas, nem se lhe consentia que discordasse do cônjuge, cuja autoridade devia sempre sublinhar. Muito menos se lhe permitiria qualquer devaneio extraconjugal, que, pelo contrário, se tolerava socialmente aos maridos, preservada alguma decência. Também não era bem visto que o pai levasse ao colo um filho, fosse fazer as compras domésticas ou se encarregasse da cozinha.

Ainda bem que muitas destas diferenças já se esbateram. Afinal os homens também choram e as suas lágrimas são, muitas vezes, expressão sincera da nobreza do seu carácter e não indício de pusilanimidade. As mulheres ganharam, a pulso, lugares de enorme responsabilidade no mundo laboral, dando exemplo de grande profissionalismo. A presença feminina é hoje do- minante em profissões que eram tradicionalmente masculinas, como por exemplo a medicina e a magistratura. Ninguém estranha que um homem cozinhe, aspire a casa ou vá ao supermercado. Também ninguém se escandaliza por ver uma mulher a guiar um táxi ou uma locomotiva, ser dirigente sindical ou discordar politicamente do cônjuge.

Não é preciso ressuscitar o machismo de outras eras, felizmente extinto, para nos opormos à dominante moda unissexo, que, à conta da ideologia do género e não só, parece ter perdido a noção da riqueza específica da feminilidade e da masculinidade. É de lamentar que em alguns países as mulheres não possam tirar a carta de condução, estudar numa universidade, apresentar-se de rosto descoberto ou disputar umas eleições políticas. Mas também não é aceitável a confusão dos géneros, que alguns ideólogos modernos propõem, certamente em nome do louvável princípio da igual dignidade dos dois sexos, mas na ignorância do inegável princípio antropológico da sua diferença e complementaridade.

Deus, quando criou o ser humano à sua imagem e semelhança, criou-o homem e mulher. E quando o Pai eterno enviou ao mundo o seu Filho deu-Lhe uma mãe, Maria, e um pai, José. Graças à feminilidade da donzela de Nazaré e à masculinidade do carpinteiro da casa e família de David, Jesus "crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens". Graças à harmonia conjugada das salutares diferenças da "cheia de graça" e do varão "justo", Cristo não só é Deus perfeito, mas também perfeito homem. in jornal i

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