A chegada do tempo de Advento recorda o contínuo desejo que o coração humano alberga de ver a Deus. Em diversas religiões, mas sobretudo na história do povo da Antiga Aliança, encontramos orações, poemas, narrações onde é evidente o pedido de ver o “Rosto de Deus”. Nos salmos, que são inspirados pelo próprio Deus, é recorrente este pedido. É como se Deus, ao ensinar-nos a rezar, nos quisesse dizer que o mais importante é querer encontrá-Lo, vê-Lo, estar com Ele. Celebrar o Natal é afirmar que Deus Se mostrou! O desejo de ver o Rosto de Deus encontra a sua resposta quando podemos ver o rosto de Jesus. E isso faz toda a diferença.
Ao longo de dois mil anos de História da Igreja este desejo não diminuiu. Mesmo que hoje uma certa cultura dominante o queira abafar, ele está gravado no nosso coração. Pode estar esquecido, mas não desaparece. A Igreja recorda ao homem qual o desejo mais profundo do coração humano, mas também mostra que continua a ser possível ver o rosto de Deus em Jesus! Ele mesmo garantiu que enviaria o Seu Espírito e que desse modo estaria presente até ao fim dos tempos. Ele deixou-nos a Eucaristia para que a Sua presença física continuasse na história. Ele identificou-Se com os mais pobres e necessitados, para que O possamos reconhecer no próximo. Apesar de tudo isso, os cristãos quiseram e querem ver o verdadeiro rosto de Jesus de Nazaré. Deus fez-Se homem, e, por isso, assumiu um rosto humano que nós queremos conhecer para perceber como olha e como reage quando o seu olhar cruza com o nosso. A arte cristã sempre tentou apresentar o rosto do Salvador. Impressiona o facto que todas as imagens, ícones e pinturas que retratam Jesus obedeçam a um certo modelo. De onde vem a certeza que Jesus era mesmo assim? Em Turim existe um lençol onde está impresso todo o corpo de um homem morto depois de ter suportado uma série de tormentos que coincidem exactamente com quanto encontramos nos relatos da Paixão de Cristo.
Hoje os muitos estudos que foram feitos sobre este lençol, que em português erradamente chamamos Sudário (na realidade sudário seria um pano que se colocava sobre o rosto para colher o suor), mostram que é um grande mistério. Como é que aquela imagem está ali gravada? Tudo aponta para que o pano seja mesmo do tempo de Jesus e da zona da Palestina. Muito provavelmente é o lençol onde Jesus foi colocado depois de descido da cruz. Contudo, este lençol não é a única relíquia que nos mostra o rosto de Jesus. Na Idade Média os cristãos que queriam ver Jesus iam a Roma ver a “verdadeira imagem” de Jesus, que ali fora parar depois de ter estado em Constantinopla e antes em Edessa e antes ainda em Jerusalém. No saque de Roma, em 1527, esta imagem desapareceu. Os Papas fizeram uma cópia a partir da memória que se tinha da imagem e de outras cópias que ainda hoje está guardada no Vaticano, mas na realidade sabiam que a imagem verdadeira desaparecera. Entretanto no início do século XVII em Manoppello, perto de Pescara já quase junto ao mar, numa igreja dos capuchinhos surge uma imagem que foi logo chamada “Rosto Santo”.
Ninguém relacionou com “Vero ícone”que desaparecera de Roma, mas rapidamente os cristãos daquelas zonas perceberam que era algo especial. Não é uma pintura mas parece. Está num pano que não é de linho nem de seda mas de Bisso marinho, que é um tecido raríssimo feito com os fios de umas conchas. Um tecido que não permite ser pintado, e aliás visto ao microscópio não há resquícios de nenhuma tinta entre os fios da malha, que é bem larga, e no entanto é visível o rosto de um homem, de olhos abertos e boca aberta, que parece estar a olhar para nós e a dizer-nos algo. Um pano que permite ver a imagem de um e do outro lado e que quando tem uma luz forte por trás é quase transparente. Um Cristo que olha com mil olhares dependendo da luz! E que não deixa indiferentes os que vão ao santuário. Os estudos que têm sido feitos sobre este pano levaram a concluir que é a mesma pessoa retratada no lençol de Turim. Que destes panos se tenha tirado o modelo para todas as imagens que se fizeram de Jesus parece também certo. E que o pano de Manoppello seja o mesmo que na Idade Média era venerado como o “Verdadeiro Rosto” em Roma também hoje quase todos estão de acordo. Mas tudo isto é descoberta recente. Sabia-se que havia uma imagem impressionante em Manoppello mas nunca se tinha relacionado com o resto.
Os primeiros livros para o grande público saíram nos últimos 5 anos! O melhor é de Paul Bade que conseguiu mesmo convencer o Papa Bento XVI a visitar o santuário no dia 1 de Setembro de 2006. Num momento em que a nossa civilização se mostra desorientada, não nos bastam engenharias financeiras para sair da crise, precisamos de ver o Rosto de Deus. Que esta imagem reapareça à devoção dos cristãos de todo o mundo agora é providencial para nos recordar que a nossa fé é o encontro com uma Pessoa: Jesus Cristo, e não apenas com uma doutrina ou filosofia. O Natal é mesmo a celebração do nascimento de alguém, do nosso Salvador!
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