Foi aprovado no parlamento europeu um projecto (relatório Lunacek) que tende a obrigar todos os estados membros da União a reconhecer o matrimónio homossexual e qualquer outra forma de "casal" e a iniciar as crianças e jovens a uma visão pansexualista da realidade social. Uma visão em que, de facto, venham ao de cima os desvios, e até patologias, dos valores de direitos pessoais e sociais.
É um sinal preocupante da mentalidade laica anti-católica – e até desumana – na medida que é imposta, sem um tiro ser disparado e no qual, até mesmo a menor referência de dialéctica, parece ser considerada quase como um delito de lesa-majestade.
Majestade de quem? A majestade reside no povo da União e é o povo que precisa de ser colocado na posição de avaliar as propostas, com realismo e responsabilidade que, de facto, devem permanecer como propostas sobres estes temas de tanto relevo para a vida dos povos e das nações.
A responsabilidade que eu tenho para com a comunidade cristã – e, além dessa, para com tantos homens e mulheres de boa vontade que encontro no meu quotidiano empenho pastoral – levam-me a estar cordialmente, e admiradamente, de acordo com as iniciativas da "Manif pour Tous in Europa" e outras em Itália, que iniciam, pelo menos, uma obra de grande sensibilização, nos confrontos destes eventos de carácter social e de tentativas ideológicas que se estão a desenvolver. Parece-me a expressão de uma laicidade sã, de uma laicidade que, para protestar contra as posições que se revelam em efeitos violentos, não faz uso, de mais nada, para além da própria consciência livre, a própria capacidade de responsabilidade, a vontade de servir o bem comum do povo e de uma nação.
Mas, além deste clima de caça às bruxas, no qual, em plena Europa, se começam a prender cidadãos acusados de vestir uma camisola que tem uma imagem de uma família normal, tradicional; para além deste clima de carga fiscal, o que afecta gravemente, e surpreende, é o reiterado silêncio de todas aquelas realidades institucionais que, a vários níveis e nos vários âmbitos da vida social, deveriam tomar uma posição substancialmente dialéctica, nos confrontos daquilo que se está substancialmente a impor.
Este silêncio não impedirá a história de ajuíza-lo como uma fraqueza imperdoável, que se torna, de facto, conivência e, portanto, responsabilidade compartilhada. Outras atitudes bastante diferentes, vindas especialmente por parte do povo católico, foram realizadas em momentos graves e decisivos para as democracias dos países.
Nesta perspectiva, conto um outro factor me suscitou interesse. Participei, na qualidade de arcebispo de uma diocese italiana, numa série de manifestações que aconteceram por ocasião da jornada de memória das injustiças e crimes cometidos contra a presença judaica no nosso país. Não pude evitar um certo desconforto, especialmente aquando da apresentação de eventos históricos – e não por instituições, mas por participantes a título cultural – por se correr o risco de reconstruções parciais, em que alguns factores desses eventos assim trágicos foram minimizados. Por exemplo, a grande presença da Igreja em Itália levou à defesa de milhares e milhares de judeus que, assim, puderam fugir de destinos terríveis. Mas, depois disto, impressionou-me a hesitação da esperança que se queria construir sobre esta memória, onde prevalecia mais uma atitude de vingança.
Sobre que coisa se constrói a esperança dos jovens, um futuro bom para a nossa sociedade? Constrói-se numa memória de um passado vergonhoso, que decerto não se deve esquecer, que não se pode esquecer, mas que não constitui uma base sólida onde se pode colocar a esperança fidedigna, humanamente confiável, como falou Bento XVI na sua Encíclica Spe Salvi?
Durante estes dias tenho pensado, amargamente, que, se o mecanismo diabólico das ideologias e dos sistemas totalitários foram brutalmente impostos a povos - como a maioria da parte dos europeus, que tinham crescido durante séculos numa autêntica e profunda educação cristã e humana - se apesar disto, os povos sofreram estas violências, resistindo muitas vezes na sua consciência e em muitíssimos casos na expressão da sua vida cultural e social, então, se certos sistemas foram impostos nessa época, que resistência poderá ter a ditadura que se está a preparar?
Esta é uma ditadura dos meios de comunicação, da política e do culturalmente correcto, que encontra uma tradição católica ignorada pela maioria dos jovens - ignorada porque a maior parte dos que deviam falar dela não o fizeram de maneira adequada; uma ditadura que encontra uma situação de vida social muito débil no plano pessoal, no plano da consciência humana e no plano da consciência dos valores éticos fundamentais; em resumo, encontra um povo desintegrado, que corre o risco de sofrer uma ditadura sem sequer ter a nobreza da oposição.
Não consegui sair destas manifestações que tiveram, para mim, pessoalmente, um valor de enorme testemunho, com uma esperança enorme sobre o presente e sobre o futuro, com excepção de: não renunciar o meu compromisso diário de ser educador do povo cristão na Fé, do povo humano na experiência do fascínio do Verdadeiro, do Bem, do Belo e do Justo. Fica, porém, a amargura de pensar que talvez se reduzem, a cada dia que passa, as filas de quem assume esta responsabilidade. E, também aqui, todo este incompreensível silêncio poderá ser julgado, em seu momento, como traição. in La Nuova Bussola Quotidiana
Infelizmente, muito deste silêncio se deve à inacção da Igreja Católica que tem sido muito permissiva. Veja-se o caso de Portugal onde o Snr. Cardeal Patriarca informou e "descansou" Sòcrates dizendo que a Igreja não iria fazer uma cruzada contra a aprovação da lei que prevê "casamento" homossexual. http://www.ionline.pt/artigos/38003-socrates-tranquilo-cardeal-recusa-guerra-santa-ao-casamento-gay
ResponderEliminarPara além desta notícia, eu pessoalmente vivi os casos de paróquias que estavam a organizar pessoas para participarem na marcha contra esta lei e que foram informadas que deixassem essa luta e ficámos completamente sem apoio.
Por isso, acho extraordinário que muito do que hoje vai acontecendo pelo mundo, especialmente em França, é uma reacção de indignação das pessoas que não ficaram à espera da reacção da Igreja. Tenho muita pena de dizer isto, mas é um facto que isto se verifica, principalmente aqui em Portugal onde não há uma linguagem clara de condenação a este tipo de leis.
Perdoe-me se me excedo, mas por acaso ouvimos alguma reacção oficial da Igreja portuguesa à aprovação desta lei que no fundo teve também a participação de deputados portugueses?
Por acaso ouvimos alguma nota de desagrado por parte da Igreja portuguesa sobre a notícia desta semana em que referia que desde a aprovação da lei do aborto foram já realizados 100.000 abortos?
Ouvimos à Igreja POrtuguesa alguma recação e condenação veemente pela lei que foi aprovada há 2 dias na Bélgica que prevê eutanásia para crianças?
Nada!
Tenho muita pena que estejamos assim, e numa sociedade global a Igreja de qualquer País pode e deve falar.
A Igreja não se pode deixar intimidar pelos chantagistas que usam o caso de pedofilia na Igreja para amedrontar e calar a voz da Igreja.
Infelizmente, muito deste silêncio se deve à inacção da Igreja Católica que tem sido muito permissiva. Veja-se o caso de Portugal onde o Snr. Cardeal Patriarca informou e "descansou" Sòcrates dizendo que a Igreja não iria fazer uma cruzada contra a aprovação da lei que prevê "casamento" homossexual. http://www.ionline.pt/artigos/38003-socrates-tranquilo-cardeal-recusa-guerra-santa-ao-casamento-gay
ResponderEliminarPara além desta notícia, eu pessoalmente vivi os casos de paróquias que estavam a organizar pessoas para participarem na marcha contra esta lei e que foram informadas que deixassem essa luta e ficámos completamente sem apoio.
Por isso, acho extraordinário que muito do que hoje vai acontecendo pelo mundo, especialmente em França, é uma reacção de indignação das pessoas que não ficaram à espera da reacção da Igreja. Tenho muita pena de dizer isto, mas é um facto que isto se verifica, principalmente aqui em Portugal onde não há uma linguagem clara de condenação a este tipo de leis.
Perdoe-me se me excedo, mas por acaso ouvimos alguma reacção oficial da Igreja portuguesa à aprovação desta lei que no fundo teve também a participação de deputados portugueses?
Por acaso ouvimos alguma nota de desagrado por parte da Igreja portuguesa sobre a notícia desta semana em que referia que desde a aprovação da lei do aborto foram já realizados 100.000 abortos?
Ouvimos à Igreja POrtuguesa alguma recação e condenação veemente pela lei que foi aprovada há 2 dias na Bélgica que prevê eutanásia para crianças?
Nada!
Tenho muita pena que estejamos assim, e numa sociedade global a Igreja de qualquer País pode e deve falar.
A Igreja não se pode deixar intimidar pelos chantagistas que usam o caso de pedofilia na Igreja para amedrontar e calar a voz da Igreja.
Inteiramente De Acordo Com O Comentário De M.Almeida A Quem Felicito Pela Clareza Do Texto E Coragem Que Evidencia.Miguel Teixeira E Melo.
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