É habitual, de há alguns tempos a esta parte, escutarmos o “discurso dos valores”: “o que importa são os valores”; “há que ensinar sobretudo valores”; “temos que educar para que possam viver os valores”… e tantas outras expressões como estas, que têm feito, vitoriosas, o seu caminho no discurso quotidiano.
No entanto, a questão não me parece ser assim tão simples. É verdade que mesmo esta educação para os valores tem vindo a ser posta em causa – e não raros são aqueles que defendem já que a escola apenas tem que transmitir conhecimentos científicos e deixar a cada um a escolha dos seus “valores” (o que pode bem constituir a completa ausência dos mesmos e o regresso à selva onde, descaradamente, impera aquele que é simplesmente mais forte). Mas o ser pai e ser mãe é muito mais que dar a vida biológica a um ser: trata-se de educar o homem, de construir humanidade e, por isso, de ter a liberdade efectiva de escolher o projecto educativo para os seus filhos.
Contudo, a questão vai mesmo mais longe. Não esqueço a afirmação do Papa Francisco na sua Encíclica “A luz da fé” (54): “Na Idade Moderna, procurou-se construir a fraternidade universal entre os homens, baseando-se na sua igualdade; mas, pouco a pouco, fomos compreendendo que esta fraternidade, privada do referimento a um Pai comum como seu fundamento último, não consegue subsistir; por isso, é necessário voltar à verdadeira raiz da fraternidade”.
Esta é a questão do “discurso dos valores”: esquece a raiz dos próprios valores, o seu fundamento, para os resumir a uma simples vivência subjectiva, onde cada um os interpreta e vive como lhe apraz…
Aliás, para continuarmos no campo da “fraternidade” (e na sequência da referida afirmação do Santo Padre), alguém me recordava há dias que das três palavras de ordem da Revolução Francesa, a “liberdade” e a “igualdade” tinham entrado em praticamente todas as Constituições dos países do mundo ocidental, ao contrário da “fraternidade”, que não entrou em nenhuma… Até pela necessidade de fazer referência a um Pai comum!
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