terça-feira, 30 de junho de 2015
Amor e Orgulho
Fala-se nestes dias muito de amor de tal forma ensurdecedora que não o reconheço.
O amor, na minha experiência, não é orgulho mas discrição, dá-se sem se querer fazer notar todos os dias, a cada dia, em cada gesto, em todos os gestos.
O amor é mais trabalho que festa. É trabalho que é festa.
O amor é mais pequeno que grande. Quando mais pequeno, mais grande fica.
O amor é humilde. Não exige direitos, não dá opinião, não argumenta, não quer ter razão.
O amor silencia e não exalta. É mais silêncio que palavra.
O amor é ordeiro. É acção ponderada e livre, é escolha e compromisso, é obediência.
O amor é sacrifício, tantas vezes pouco colorido e difícil de viver.
O amor é paciente. Encontra, conhece, espera e aprende.
O que for que se anda a festejar, se é amor, não o reconheço.
Inês Dias da Silva in Povo
segunda-feira, 29 de junho de 2015
"A Igreja é só e unicamente de Cristo" - Papa Francisco
Ao longo da história,
quantas forças procuraram – e procuram – aniquilar a Igreja, tanto a partir do
exterior como do interior, mas todas foram aniquiladas e a Igreja permanece
viva e fecunda! Inexplicavelmente, permanece firme para poder – como diz São
Paulo – aclamar, «a Ele, a glória pelos séculos dos séculos» (2 Tm 4, 18).
Tudo passa, só Deus resta. Na
verdade, passaram reinos, povos, culturas, nações, ideologias, potências, mas a
Igreja, fundada sobre Cristo, não obstante as inúmeras tempestades e os nossos
muitos pecados, permanece fiel ao depósito da fé no serviço, porque a Igreja
não é dos Papas, dos Bispos, dos padres e nem mesmo dos fiéis; é só e
unicamente de Cristo. Só quem vive em Cristo promove e defende Igreja com a
santidade da vida, a exemplo de Pedro e Paulo.
Em nome de Cristo, os crentes
ressuscitaram os mortos; curaram os enfermos; amaram os seus perseguidores;
demonstraram que não existe uma força capaz de derrotar quem possui a força da
fé!
Amar o Papa cada dia com mais amor - S. Josemaria
Ama, venera, reza, mortifica-te – cada dia com mais amor – pelo Romano Pontífice, pedra basilar da Igreja, que prolonga entre todos os homens, ao longo dos séculos e até ao fim dos tempos, aquele trabalho de santificação e governo que Jesus confiou a Pedro. Forja, 134
A nossa Santa Mãe a Igreja, em magnífica extensão de amor, vai espalhando a semente do Evangelho por todo o mundo. De Roma à periferia. Ao colaborares nessa expansão, pelo orbe inteiro, leva a periferia ao Papa, para que a terra toda seja um só rebanho e um só Pastor: um só apostolado! Forja, 638
Oferece a oração, a expiação e a acção por esta finalidade: «ut sint unum!», para que todos os cristãos tenham uma mesma vontade, um mesmo coração, um mesmo espírito: para que «omnes cum Petro ad Iesum per Mariam!», todos, bem unidos ao Papa, vamos a Jesus, por Maria. Forja, 647
Maria, na verdade, edifica continuamente a Igreja, reúne-a, mantém-na coesa. É difícil ter autêntica devoção à Virgem sem nos sentirmos mais vinculados aos outros membros do Corpo Místico e também mais unidos à sua cabeça visível, o Papa. Por isso me agrada repetir: Omnes cum Petro ad Iesum per Mariam! – todos, com Pedro, a Jesus, por Maria! E assim, ao reconhecer-nos como parte da Igreja e convidados a sentir-nos irmãos na Fé, descobrimos mais profundamente a fraternidade que nos une à Humanidade inteira, porque a Igreja foi enviada por Cristo a todos os homens e a todos os povos. Cristo que passa, 139
Para mim, depois da Santíssima Trindade e de nossa Mãe a Virgem, vem logo o Papa, na hierarquia do amor. Não posso esquecer que foi S.S. Pio XIl quem aprovou o Opus Dei, quando este caminho de espiritualidade parecia a alguns uma heresia; mas também não esqueço que as primeiras palavras de carinho e afecto que recebi em Roma, em 1946, disse-mas o então Mons. Montini [Papa Paulo VI]. Tenho também muito presente o encanto afável e paternal de João XXIII, de todas as vezes que tive ocasião de o visitar. Uma vez disse-lhe: “Todos, católicos ou não, têm encontrado na nossa Obra um lugar acolhedor: não tive de aprender o ecumenismo com Vossa Santidade ...”. E o Santo Padre João sorriu emocionado. Que quer que lhe diga? Todos os Romanos Pontífices têm tido compreensão e carinho para com o Opus Dei. Temas actuais do cristianismo, 46
domingo, 28 de junho de 2015
A Fé não se pode adaptar à cultura do momento
"A Fé não se pode adaptar à cultura do momento; o que a Fé deve fazer é chamar a cultura para a conversão. Nós somos um movimento de contra-cultura, não um movimento populista."
Cardeal Raymond Burke in 'Vida Nueva' - 31.X.2014
sábado, 27 de junho de 2015
O Proto-homossexual
Porque a normalização da homossexualidade é a realização da
ideologia heterossexual. “Gay” e “homossexual” não são taxonomias mas
ideologias. Não são orientações mas desorientações: bi-, homo-, ou hétero-,
sexualidade hifenizada faz-nos perder o nosso sentido de direção para o
verdadeiro sexual e as vítimas desta ideologia são as crianças.
As palavras “homossexual” e “heterossexual” são neologismos
do século XIX feitos para separar o romance da responsabilidade e o sexo da
fecundidade. “A heterossexualidade foi feita para servir este fantasioso quadro
de regulação de ideais”, escreve Michael Hannon, resumindo Foucault, “preservar
a proibição social contra a sodomia e outros desenfreios sexuais sem a
necessidade de recorrer à natureza procriadora da sexualidade humana”. O mito
tornou-se um facto, e é por isso que tantos heterossexuais são a favor da
homossexualidade. A homossexualidade ratifica a heterossexualidade.
Os mesmos princípios e práticas que ajudam e estimulam a
ideologia homossexual só validam a ideologia heterossexual: a coabitação, o
divórcio sem culpa, o sexo estéril, a exultação do amor romântico, a história
banal do casal que se revolta contra o mundo para que possam fugir juntos para
o pôr-do-sol, a suposição que ter filhos é um estilo de vida opcional, ou até
mesmo algo que se pode comprar através da adoção ou da fertilização “in vitro”.
Heterossexualidade, eu diria, é na verdade proto-homossexualidade.
O Proto-homossexual
Quem é o Proto-homossexual? É o trovador poeta de França do
século XII idealizando romance e paixão sexual, o Cavaleiro da lenda do Rei
Artur que se compromete a servir a sua senhora com verdade e cortesia como se
ela fosse uma deusa digna de adoração. Ele acredita que o amor erótico é uma
elevada experiência espiritual, a experiência mais elevada. O manual de Andreas
Capellanus diz que o secretismo e o suspense vão reavivar a chama da paixão;
que obrigações familiares e filhos vão sufocá-la. Lancelot e Guinevere traem o
Rei Artur, Tristen e Iseult infringem a lei, Romeu e Julieta ficam malucos e em
nome do “amor”, cada nova aventura, causa uma dor não merecida aos outros. Tudo
isto, claro, matéria-prima para filmes de sucesso e para romances bestseller na América, hoje em dia.
A verdadeira falha em todo o sistema do Amor Cortês é a sua
tendência inerente para a anarquia e o narcisismo. Encontrando-se sozinhos no
escuro, longe das responsabilidades diárias e dos constrangimentos sociais, os
casais não se tentam conhecer realmente um ao outro. O suposto amor um pelo
outro é auto absorvido, a sua vida amorosa é pouco mais do que masturbação
mútua. Com a imagem lisonjeira que vêm nos olhos um do outro, eles imaginam-se
idênticos. O heterossexual, que é o proto-homossexual, olha para a sua amada
como se estivesse a ver o seu reflexo na água.
O narcisismo proto-homossexual, o seu sentimento elevado de
si mesmo, leva-o a acreditar que a força irresistível a que chama “amor” é
intrinsecamente enobrecedor e que as suas relações não precisam de nada a não
ser de consentimento mútuo. Mas a sua paixão só o impulsiona ao engano é à
crueldade não intencionada- para a sua amada, para a própria família e para a
dela, para os filhos que eles possam ter e para ele próprio.
Apaixonados que se levantam contra o mundo para se poderem
casar é um cliché muito visto. No entanto, “casamento como revolta” e “sexo
como realização pessoal” mantém-se o estádio inquestionável sobre quem
cortejar, casar ou divorciar. Esta é a casa que construímos para conceber e
criar crianças.
É um “castelo de cartas”. Tendo já derrubado as pressões
sociais e morais da sociedade e erigido um sistema de namoro parecido com a
guerra civil, tendo já privatizado o casamento e tendo-o transformado numa
declaração sobre a liberdade e a preferência erótica- “é a minha escolha, o meu
amor!”- o proto-homossexual fecha as cortinas do seu quarto para encontrar
apenas mais um obstáculo à sua felicidade: a fertilidade.
Muito antes de alguém ter sonhado em normalizar a sodomia, a
ideologia heterossexual sustentou que o sexo devia ser, em primeiro lugar,
recriação. O único problema disto é que o sexo é naturalmente criativo. Mas,
tal como a ideologia heterossexual, a tecnologia também evoluiu: com o latex, os procedimentos cirúrgicos
certos e os químicos, foi-se tornando possível acreditar que o sexo é
essencialmente recriação, uma crença muito acelerada pela pornografia. Duma
simulação da realidade, como a sodomia, a pornografia tira, muito astutamente,
de cena, a fertilidade. O sexo não é sobre um futuro florescimento mas sobre
uma diversão imediata.
(Tem de ser mencionado que a contracepção artificial foi
considerada imoral pelos Cristãos, Protestantes e Católicos do mesmo género, em
todos os sítios e em todos os tempos até à Conferência de Lambeth em 1930.
Dentro de uma única geração a universal e inquebrável ética cristã foi coberta,
sufocada e apagada. A condenação do que Martin Luther King considerava como um
acto “muito mais atroz do que o incesto ou o adultério” é agora visto como um
equívoco católico.)
A pornografia é o desvio, o controlo da natalidade, a
cortina de fumo e o aborto o último recurso. Mas há outro problema. Depois de
fazer as suas declarações e de se ter divertido, o proto-homossexual percebe que
entrou num vínculo indissolúvel.
A ideologia heterossexual levanta uma questão: se o
casamento não é, antes de tudo, uma compreensiva união conjugal, se é um
vínculo sentimental com a tua Pessoa Número Um, porque é que deve ser
permanente? E assim encontramo-nos cara-a-cara com a ideia dos anos 70, o
divórcio sem culpa. Se o teu esposo ganhou peso, se o espirro dele te
envergonha, se o sexo é tépido, se a tua realização pessoal ou a tua felicidade
estão em jogo, podes largá-lo num piscar de olhos. O divórcio sem culpa dá uma
ventilação completa aos valores heterossexuais.
A evolução lenta do heterossexual é, de facto, a urgência do
homossexual. Com a imagem lisonjeira reflectida nos olhos do amado, a
heterossexualidade é só outra versão do Amor de Cortesia. A aceitação cultural
da sodomia, tão obviamente estéril e infrutífera, só legitima a crença de que o
sexo é pura recriação. O “casamento” entre pessoas do mesmo sexo reforça o
sistema do divórcio sem culpa afirmando que o casamento não é, em primeiro
lugar, sobre o compromisso e os filhos, mas sobre a felicidade. Junta-se,
simplesmente, à tradição heterossexual de ver o casamento como uma forma de
revolta.
A alegação de que o comportamento homossexual está errado
seria a realização de outros para um padrão moral ao qual o próprio
comportamento heterossexual não está em conformidade. Bi-, homo-, hétero-,
qualquer forma de sexualidade hifenizada quer a mesma coisa: sexo sem limites
morais ou generativos, relações sem constrangimentos culturais ou familiares. Quem é o proto-homossexual? És tu e sou eu.
A verdadeira vítima
O proto-homossexual coloca o casal contra a sociedade, até
contra a família. Ele faz contraceptivos e pornografia, ele legaliza o aborto e
legisla sobre o divórcio sem culpa e o “casamento” entre homossexuais e quando
acaba com o seu terceiro casamento sente que foi vítima, entre todas as coisas,
de preconceito religioso! Mas quem é a verdadeira vítima da sexualidade
hifenizada?
As verdadeiras vítimas da sexualidade hifenizada não são as 'lobistas' lésbicas ou os gays. As verdadeiras vítimas são os mais novos e os
mais inocentes entre nós. O amor livre tem custos e quem os paga são as
crianças.
O debate sobre o “casamento” gay não é sobre a
homossexualidade mas sobre o casamento. Não é sobre quem se pode casar mas
sobre o significado de casamento. O significado do casamento depende do que
realmente é uma pessoa humana e a verdade é que cada um de nós nasceu de uma
mulher e de um homem. O casamento e os filhos estão inevitavelmente ligados.
Se os humanos não se reproduzissem sexualmente e se os bebés
nadassem simplesmente para fora das mães como os tubarões, então a instituição
do casamento nunca teria sido estabelecida. Historicamente, as leis sobre o
casamento foram feitas para reforçar a ligação entre pais e filhos,
especialmente entre o pai e os filhos. O verdadeiro tema são os direitos das
crianças.
Num esforço para desviar a atenção dos direitos das crianças
vai-se argumentar que o casamento foi redefinido antes. Quantas mulheres teve
Jacob? O casamento não foi já entre um homem adulto e uma adolescente? As leis
contra a mistura de raças estavam escritas nos livros há menos de 60 anos.
Enquanto a nossa sociedade redefine quem conta e quem interessa, vai ser
argumentado, o casamento muda. Para além disto, se casais heterossexuais podem
adoptar crianças, porque é que os casais homossexuais não podem?
Mas a poligamia não é um argumento para o "casamento" gay. Nem
sequer o facto de haver exemplos de poligamia na história, é um argumento para
a poligamia. A excepção não prova a regra: a excepção quebra a regra. As leis
contra a mistura de raças não foram uma redefinição do casamento conjugal mas a
imposição de preconceitos racistas contra a instituição do casamento. A única
altura em que homens com mais de 18 anos puderam casar-se com raparigas com
menos de 18 anos não desafia, de todo, a definição tradicional de casamento;
quanto muito, desafia a definição contemporânea de adulto.
A questão não está em se uma mulher que se sinta atraída por
outra mulher possa ser mãe, mas se duas mães fazem um casamento e se o
acoplamento de duas mulheres é uma maneira saudável de criar filhos. A adopção
existe por causa da tragédia que é o abandono ou a morte. Mesmo assim, todas as
crianças têm o direito de ter um pai e uma mãe. Só porque acontecem tragédias,
tal não nos dá permissão para, preventivamente, privar as crianças do direito
de ter um pai e uma mãe.
A questão não se prende com o facto de saber se uma pessoa
que se identifique como homossexual conta ou importa. A questão está em saber
se uma relação homossexual constitui um casamento. A questão está em saber,
dado o facto de que o ser humano se reproduz sexualmente e que os nossos filhos
não nascem auto-suficientes, se o casamento continua a ser o meio natural de
florescimento humano. O sexo foi artificialmente separado da procriação, a
família, o propósito natural (biológico) do nosso corpo, e os filhos pagaram o
preço.
No fim de contas, todos pagam o preço. Nós não somos pavões.
Nós não nos limitamos a acasalar. Nós casamos. Nós ansiamos por relações de
confiança e duradouras, pela totalidade e por uma vida séria e profunda- e pelo
nosso futuro. O parto, o lar e os filhos, a preocupação com o futuro, com a
linhagem, tudo isto está em jogo com a revolta contra a sexualidade humana. O
espasmo utópico da sexualidade hifenizada é prejudicial para o homem, para a
mulher e, especialmente, para as crianças. Eles são a prova da civilização
avançada.
As crianças têm direito à vida. As crianças têm direito a
ter um pai e uma mãe. As crianças têm o direito a ser educadas em casamentos
fiéis e comprometidos. Quem somos nós para privá-las disso?
Nós estamos orientados
Falando em orientação sexual, eu sinto-me quase um
revolucionário (no sentido de um círculo voltando ao seu principio, ao seu
sítio certo). Estou a tentar expor a orientação sexual em cada um de nós- a
orientação que é tão boa que dói. Nós vingamo-nos chamando-lhe Atracção ou Desejo
Sexual. É a orientação sexual que não podemos ignorar ou que não podemos
admitir mas que no entanto queremos fazer os dois. Não podemos admiti-la porque
ameaça todo o falso programa dentro do qual temos vivido. No entanto, não podemos
ignorá-lo porque está escrito nos nossos próprios corpos ou no mais profundo do
nosso coração. Eu gostava de lançar a ideia de que nós não somos nem hetero nem
homossexuais, somos simplesmente (agora parece inacreditável) sexuais. Como
homens e mulheres somos, todos, orientados.
E isto persegue-nos. Nós fingimos que a ligação entre o sexo
e a fecundidade é uma barbaridade da idade mais escura. Nós esterilizamo-nos a
nós próprios, tomamos comprimidos que suprimem a nossa fertilidade, como último
recurso abortamos e comportamo-nos como se tivéssemos resolvido o assunto. Mas
tudo isto é um estratagema. Sob as taxonomias sexuais e os subterfúgios
tecnológicos permanece a inegável orientação sexual para a reprodução sexual. O
ciclo menstrual, a erecção, o útero e os seios, tudo nos lembra dessa
orientação. Nem um preservativo consegue esconder o facto do que o que está a
ser derramados é uma semente. A biologia e a natureza humana lembram-nos que a
sexualidade humana é orientada para os filhos e para o futuro.
Esta orientação tem sido deformada e desumanizada por toda a
nossa tecnologia e manipulação. Mas para além de tudo o que possamos ser, como
homens e mulheres, nós somos sexualmente complementares e mutuamente envolvidos
na geração. Isto não é uma construção social. Esta é a permanente e irreduzível
verdade sobre a biologia e a natureza humana. Esta é a nossa herança e o nosso
futuro. Esta é a nossa destruição. Nós dependemos desta orientação para o
florescimento do nosso próprio futuro.
Nós somos, cada um de nós, orientados para o sexual. A
sexualidade sem o artifício de um prefixo ideológico é a profunda reserva de
vida, de geração, de filhos. E como os filhos humanos requerem uma quantidade
incalculável de cuidado físico e moral, o sexo e o casamento estão, como sempre
estiveram, ligados.
A história de Ovid serve de aviso: o Narciso apaixona-se
pelo seu próprio reflexo na água, recusa o afecto de Echos e morre porque o amor
sem o outro é estéril e sem esperança. Como o amor sexual é naturalmente
criativo, seria um erro esperar, como o Narciso, que um amante espelha-se
exactamente quem somos. Os apaixonados não estão ligados por sentimentos (como o
trovador poeta pensava), mas pela ligação matrimonial, que deve ser aberta à
vida e à responsabilidade pelo outro. O casamento é a correlação social para o
facto biológico da fecundidade humana.
A definição tradicional de casamento não tem raízes na
religião nem na homofobia mas na natureza biológica e humana. O “casamento” gay
pode fazer sentido numa ideologia pessoal, mas não faz sentido para a
sociedade. O casamento não foi estabelecido porque os humanos são românticos e
gostam de intimidade mas porque os humanos reproduzem-se sexualmente e as
crianças precisam de um pai e de uma mãe para serem concebidos e criados.
Todos têm o direito de se casarem, mas isso não faz com que nenhuma relação
romântica ou sexual seja um casamento, apesar da ideologia heterossexual dizer
que assim é.
A heterossexualidade é, na verdade, proto-homossexualidade: a
diferença entre a heterossexualidade e a homossexualidade é uma questão de
preferência, mas os valores e os objectivos são os mesmos. No entanto, o
casamento lembra-nos que estamos orientados para o sexual, e é por isso que se
tornou num campo de batalha. É por isso que tantas pessoas hétero são a favor
da homossexualidade.
Tyler Blanski in Crisis Magazine
sexta-feira, 26 de junho de 2015
Não se trata apenas de plantar árvores - D. Nuno Brás
A recente encíclica “Louvado sejas”, do Santo Padre Francisco, foi acolhida com aplausos generalizados. As notícias da sua publicação sublinhavam essencialmente o respeito por toda a realidade criada a que o Papa a todos convida.
Em particular, deu-se relevo ao primeiro capítulo, onde o Santo Padre se refere ao que “está a acontecer à nossa casa”, realçando dois tipos de problemas: “Embora a mudança faça parte da dinâmica dos sistemas complexos, a velocidade que hoje lhe impõem as ações humanas contrasta com a lentidão natural da evolução biológica. A isto vem juntar-se o problema de que os objectivos desta mudança rápida e constante não estão necessariamente orientados para o bem comum e para um desenvolvimento humano sustentável e integral” (LS 18).
Já ao contrário, por exemplo, se silenciou completamente o n.º 120 da encíclica: “Uma vez que tudo está relacionado, também não é compatível a defesa da natureza com a justificação do aborto. Não parece viável um percurso educativo para acolher os seres frágeis que nos rodeiam (…) quando não se dá proteção a um embrião humano ainda que a sua chegada seja causa de incómodos e dificuldade”. Ou, mais à frente, aquilo que diz o Papa Francisco: “épreocupante constatar que alguns movimentos ecologistas defendem a integridade do ambiente (…) mas não aplicam estes mesmos princípios à vida humana. Muitas vezes, justifica-se que se ultrapassem todos os limites quando se fazem experiências com embriões humanos vivos. Esquece-se o valor inalienável do ser humano” (n.º 136). Ou, ainda, quando o Santo Padre sublinha, contra a “ideologia de género”, que “é necessário ter apreço pelo próprio corpo na sua feminilidade ou masculinidade” (n.º 155).
Com efeito, “Não se trata apenas de plantar árvores”, como defendeu há dias o Cardeal Antonio Cañizares. Aliás, o Arcebispo de Valência foi mesmo mais longe e afirmou claramente: “Se os partidos defendessem a ecologia, não estariam a favor do aborto”.
D. Nuno Brás in Voz da Verdade
Cardeal Cerejeira pediu ao Papa a canonização de S. Josemaria
D. Manuel Gonçalves Cerejeira foi Cardeal Patriarca de Lisboa de 1929 a 1971, tendo morrido no ano de 1977 com 89 anos.
Carta do Cardeal Cerejeira ao Santo Padre Beato Paulo VI:
"Santíssimo Padre
Portugal católico não pode esquecer a figura religiosa de Monsenhor Escrivá de Balaguer. Aqui, depois da Espanha, ensaiou os primeiros passos para a fundação de Opus Dei. E mãos portuguesas se estenderam a apresentá-lo aqui e a recomendá-lo em Roma.
A glória e o desafio dos cincoenta e quatro membros de Opus Dei, todos dos mais diversos Países, com seus títulos académicos e variadas profissões, ordenados sacerdotes, recentemente, em Barcelona, demonstra triunfalmente ao mundo descristianizado como Jesus Cristo continua a conquistar o coração e o espírito dos homens ansiosos de Deus, desde que Ele nos seja revelado por um apóstolo como o fundador de Opus Dei.
Doía - e dói - o coração aos que passavam pelas Universidades modernas, ao notarem o vazio de alma de grande parte da juventude que as enchia. Monsenhor Escrivá passou por lá: e este filho da raça dos conquistadores, falando a mesma língua dela, abrindo-lhe o espírito à novidade e à actualidade da Igreja, e cultivando a alegria, e a esperança e a coragem cristãs - funda Opus Dei. E um "mundo novo" começa para tantos que estavam ociosos.
Santíssimo Padre, depois do que tive oportunidade de testemunhar anteriormente de todo o coração desejo exprimir os meus votos de que se inicie o processo de glorificação deste santo sacerdote e homem de Deus que foi Mons. Escrivá de Balaguer, para glória de Deus e para maior bem espiritual do povo cristão.
+ M. Card. Cerejeira
Patriarca de Lisboa
res.
Para além desta carta, o Papa Paulo VI recebeu outras cartas com o mesmo pedido escritas pelos senhores bispos de Braga (arcebispo e bispo-auxiliar), de Évora, de Coimbra, do Algarve, de Leiria, do Funchal e do Patriarca das Índias.
in Josemaria Escrivá: Testemunhos. Rei dos Livros (1992)
O Senza acrescenta, de outras fontes (vários livros), que cerca de 1/3 dos bispos de todo o mundo escreveram cartas com o mesmo pedido para a Santa Sé.
quinta-feira, 25 de junho de 2015
Papa Francisco contra propaganda de redução de nascimentos
"Em vez de resolver os problemas dos pobres e pensar num mundo diferente, alguns limitam-se a propor uma redução da natalidade.
Não faltam pressões internacionais sobre os países em vias de desenvolvimento, que condicionam as ajudas económicas a determinadas políticas de «saúde reprodutiva». Mas, «se é verdade que a desigual distribuição da população e dos recursos disponíveis cria obstáculos ao desenvolvimento e ao uso sustentável do ambiente, deve-se reconhecer que o crescimento demográfico é plenamente compatível com um desenvolvimento integral e solidário».
Culpar o incremento demográfico em vez do consumismo exacerbado e selectivo de alguns é uma forma de não enfrentar os problemas. Pretende-se, assim, legitimar o modelo distributivo actual, no qual uma minoria se julga com o direito de consumir numa proporção que seria impossível generalizar, porque o planeta não poderia sequer conter os resíduos de tal consumo."
Não faltam pressões internacionais sobre os países em vias de desenvolvimento, que condicionam as ajudas económicas a determinadas políticas de «saúde reprodutiva». Mas, «se é verdade que a desigual distribuição da população e dos recursos disponíveis cria obstáculos ao desenvolvimento e ao uso sustentável do ambiente, deve-se reconhecer que o crescimento demográfico é plenamente compatível com um desenvolvimento integral e solidário».
Culpar o incremento demográfico em vez do consumismo exacerbado e selectivo de alguns é uma forma de não enfrentar os problemas. Pretende-se, assim, legitimar o modelo distributivo actual, no qual uma minoria se julga com o direito de consumir numa proporção que seria impossível generalizar, porque o planeta não poderia sequer conter os resíduos de tal consumo."
Laudato Si 50.
quarta-feira, 24 de junho de 2015
Papa Francisco pede aos jovens que sejam castos
"O amor está nas obras, no comunicar-se; mas o amor respeita as pessoas, não usa as pessoas, isto é, o amor é casto. E a vocês jovens neste mundo, neste mundo hedonista, neste mundo onde apenas é publicitado o prazer, o aproveitar, a boa vida, eu vos digo: sejam castos, sejam castos."
Papa Francisco - Encontro com os jovens em Turim, 21 de Junho de 2015
Morreu a primeira sucessora de Madre Teresa de Calcutá
Morreu ontem (23 de Junho) a irmã (ou Sister) Nirmala Joshi, a primeira sucessora de Madre Teresa de Calcutá à frente das Missionárias da Caridade. Serviu a Igreja como Superiora Geral das Missionárias entre 1997 e 2009. Nesse último ano deixou o cargo por causa da doença que já a afectava.
O blog Senza sabe, por amigos que já ajudaram as próprias irmãs em Calcutá, que a Sr. Nirmala estava doente nos rins há algum tempo e tinha-se recusado a receber tratamentos, que só iriam prolongar uma morte inadiável. Estamos certos que a Sr. Nirmala ofereceu estes últimos anos pelas irmãs, pois os sacrifícios dos doentes era algo muito querido pelo carisma da Madre Teresa.
O Arcebispo de Calcutá, D. Thomas D'Souza, que visitara a Sr. Nirmala há 15 dias, quando ela recuperou a consciência, mostrou-se muito tocado pela sua morte, dizendo que "ela era uma grande alma" e louvando o seu trabalho. Disse D. Thomas que "ela nunca falava sobre si mesma, estava muito mais preocupada sobre como promover a paz e ajudar os pobres... tinha uma união profunda com Jesus e foi uma gentil apóstola da paz até ao fim."
A Sr. Nirmala nasceu em 1934 na Índia oriental, numa família Hindu do Nepal, que servia o império britânico. Andou em escolas cristãs e, inspirada pelo trabalho da Madre Teresa, baptizou-se e deu a sua vida para ser missionária da Caridade. Ao fazer os votos mudou o seu nome para "Nirmala" que, em Sanskrit, significa "pureza". É normal, dada a insistência que a Madre Teresa dava à luta pela Santa Pureza, mesmo para os mais pobres que viviam em condições muito degradantes.
A Sr. Nirmala fez um mestrado em ciência política e também estudou direito e, nos anos 70, tornou-se superiora do ramo contemplativo das Missionárias. Só mais tarde, já em 1997, é que foi eleita Superiora Geral, pouco antes da morte de Madre Teresa. Foi graças a ela que o processo de beatificação de Madre Teresa avançou tão rápido. Já se fala que no próximo ano da misericórdia o Santo Padre pode canonizar Madre Teresa, concluindo o processo de canonização.
Em 2009 o lugar da Sr. Nirmala foi ocupado pela Sr. Mary Prema, que é hoje a Superiora Geral das Missionárias da Caridade.
Santa Missa na Forma Extraordinária celebrada numa casa das Missionárias da Caridade em Puerto Rico.
terça-feira, 23 de junho de 2015
Alcaide espanhol recusa fazer o juramento sem o crucifixo
"Onde está o crucifixo?", perguntou Borja Gutiérrez Iglesias, o reeleito Alcaide da cidade de Brunete, nos arredores de Madrid (Espanha). Decorria a cerimónia de tomada de posse do seu novo mandato quando interrompeu o juramento, ao perceber que o crucifixo tinha sido retirado da mesa. Mais tarde soube-se que teria sido por pressões de políticos de esquerda.
É com alegria que damos notícia de mais um corajoso político que não se envergonha das raízes cristãs europeias.
Os direitos dos caracóis - Pe. Gonçalo Portocarrero
Não obstante a iminente encíclica papal sobre a questão ambiental e a muito cristã sensibilidade ecológica – quem não recorda o amor de Francisco de Assis por todas as criaturas?! – confesso que ainda não logrei sentir-me interpelado pelo lancinante apelo dos defensores dos caracóis: “Gostava de ser cozido vivo? Ele também não”.
Em época de santos populares e de arraiais em abundância, houve quem contabilizasse a quantidade de sardinhas que estes festejos acarretam. Só no presente mês de Junho, segundo o mesmo estudo, são consumidas 48 mil sardinhas por hora, 800 por minuto e 13 – número aziago, este! – por segundo. Quase cinquenta mil sardinhas por hora é – desculpem-me a incongruência gastronómica – muita fruta! Não sei mesmo se uma tão monstruosa cifra não permitirá considerar este facto como um autêntico genocídio.
Talvez nunca como agora se exaltaram tanto os animais, em detrimento dos seres humanos: ao mesmo tempo que se promove o aborto e a eutanásia, pretende-se alargar aos seres irracionais os direitos próprios dos cidadãos. Também não falta quem entenda que a diferença entre os animais não humanos e os seres racionais é apenas acidental porque, na realidade, todos são, igualmente, seres vivos. Já não são poucos os bichanos que recebem nomes de pessoas, embora talvez ainda não haja seres humanos chamados Lassie, Fiel, Bóbi, Tejo, Rin-tim-tim, ou coisa que o valha.
A polémica questão dos direitos dos animais baseia-se num preconceito: o de que eles são como nós. É o que está na base do slogan contra a cozedura de caracóis vivos. É verdade que algumas pessoas, de tão brutas, parecem meros animais e alguns animais, ditos irracionais, parecem espertos e afectuosos. Mas são aparências que iludem, porque a distância que vai do mais apto dos símios para o mais estúpido dos homens é infinitamente superior à que dista entre o mais evoluído dos primatas e o mais básico ser vivo. Mais uma vez a ciência confirma o que a Bíblia ensina: enquanto os seres humanos são imagem e semelhança do Criador, os outros seres vivos são apenas criaturas de Deus.
Com efeito, qualquer homem ou mulher, qualquer que seja a sua idade, é um ser dotado de inteligência e vontade e, portanto, essencialmente distinto de todos os outros seres vivos. Alguns animais irracionais têm conhecimento, mas meramente sensitivo, como também os seus sentimentos não são livres, mas instintivos: um cão identifica o dono, mas não conhece a sua natureza, nem é capaz de um acto de verdadeiro amor ou ódio. Alguns seres irracionais sentem, mas não amam, não odeiam, nem sofrem em sentido próprio, porque o amor, o ódio e o sofrimento implicam uma certa consciência, que só é possível em quem está dotado de razão e vontade. Um animal canceroso tem certamente as dores físicas que são próprias da doença, mas não o sofrimento que um ser humano, nessas circunstâncias, padece.
Quer isto dizer, então, que se pode fazer o que se quiser com os animais irracionais? Alguns defensores dos seus alegados direitos entendem que alguns bichos – como os caracóis, por exemplo – não têm quaisquer direitos, mas que os que são sensíveis, como alguns primatas, deveriam ser respeitados, quase como se fossem da nossa espécie. Há até quem fale, paradoxalmente, dos direitos humanos dos animais …
O Cristianismo, muito antes de se falar de ecologia ou de aparecerem os partidos dos verdes, já ensinava a bondade de todos os seres vivos, que são obras de Deus e património da humanidade. Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, “o homem deve respeitar a bondade própria de cada criatura, para evitar o uso desordenado das coisas, que despreza o Criador e traz consigo consequências nefastas para os homens e para o seu meio ambiente” (nº 339). Portanto, não é moralmente aceitável a sua indiscriminada destruição. É também eticamente condenável causar dor, por hedonismo ou absurda diversão, aos seres irracionais porque, embora nenhum deles sofra como nós, alguns são sensíveis e, todos, um bem a preservar. Mas é legítimo que se use ou até elimine, de forma razoável, algum ser vivo, vegetal ou animal irracional, sempre que assim o exija o bem comum da humanidade.
Embora seja muito louvável a extrema sensibilidade dos defensores dos caracóis, não é razoável a sua propaganda. Nestas causas, como em todas, não bastam as boas intenções, é preciso também ter razão, sob pena de se cair numa argumentação fanática ou absurda. Foi o caso de um revisor que, ao questionar um passageiro incorrectamente sentado, se era desse jeito que se comportava em casa dele, obteve uma resposta certamente impertinente, mas com carradas de razão: - E o senhor revisor, no seu lar também pica bilhetes?!
Pe. Gonçalo Portocarrero in Voz da Verdade
domingo, 21 de junho de 2015
Roma: 1 milhão de pessoas nas ruas contra a Ideologia de Género
Um mar de gente encheu, e fez transbordar, a piazza San Giovanni, em Roma. Foram manifestar-se publicamente a favor da "família natural", contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e contra a ideologia de género, que tem estado a ser imposta na sociedade ocidental, especialmente nas escolas. O slogan foi: "Defendamos os nossos filhos".
O número de pessoas ultrapassou todas as expectativas, até as dos organizadores deste "Dia da Família". Foi uma impressionante manifestação dos cidadãos contra os políticos que insistem em impor ideologias nefastas e anti-naturais produzindo dessa forma danos incalculáveis ao bem-comum.
Basta de ditadura mascarada de democracia e basta de políticos que teimam em conduzir a Europa contra a sua própria identidade e a caminho do abismo!
sábado, 20 de junho de 2015
11 coisas que não vão ouvir sobre a encíclica do Papa Francisco
A versão oficial da eco-encíclica do Papa Francisco Laudato Si (LS) foi publicada há poucos dias. Enquanto os media se vão focar nas partes dedicadas às mudanças climáticas e ao aquecimento global, há onze coisas na encíclica que provavelmente ninguém vai ver nos cabeçalhos das notícias:
(1) A Criação tem um Criador e é mais do que apenas "natureza-mais-evolução" (LS 75, 77);
(2) Ecologia humana significa reconhecer e valorizar a diferença entre masculinidade e feminilidade (LS 155);
(3) Jesus santifica o trabalho humano (LS 98);
(4) Tirem os olhos dos telefones e encontrem-se uns aos outros (LS 47);
(5) Salvem os bébés humanos (LS 91, 120, 136);
(6) Ajudar os pobres requer mais do que simples esmolas (LS 128);
(7) A sobrepopulação não é o problema (LS 50);
(8) A verdadeira ecologia precisa de uma verdadeira antropologia e respeito pela dignidade humana (LS 65, 118);
(9) Uma mudança real precisa de uma mudança na cultura e não apenas na política (LS 123, 211);
(10) A Igreja não quer resolver questões científicos e precisamos de um debate honesto e aberto (LS 60, 118);
(11) Acabem com o cinismo, o secularismo e a imoralidade (LS 229).
in stream.org
quinta-feira, 18 de junho de 2015
'Laudato Si': Papa Francisco critica ideologia de género e aborto
Foi divulgada hoje a 'Laudato Si', primeira encíclica escrita exclusivamente pelo Papa Francisco. A encíclica 'Lumen Fidei', que saiu já no pontificado actual, tinha sido escrita em grande parte pelo Papa Bento XVI.
A nova encíclica é bastante extensa, 187 páginas, e, como já se sabia, trata bastante de temas ecológicos e de sustentabilidade dos recursos naturais.
Quando se trata de ecologia não é muito comum ver três críticas que o Papa faz: no parágrafo 50 à mentalidade contraceptiva, no parágrafo 155 à transexualidade e ideologia de género e no parágrafo 120 ao aborto. Vejamos as palavras do Papa:
50. Em vez de resolver os problemas dos pobres e pensar num mundo diferente, alguns limitam-se a propor uma redução da natalidade. Não faltam pressões internacionais sobre os países em vias de desenvolvimento, que condicionam as ajudas económicas a determinadas políticas de «saúde reprodutiva».
50. Em vez de resolver os problemas dos pobres e pensar num mundo diferente, alguns limitam-se a propor uma redução da natalidade. Não faltam pressões internacionais sobre os países em vias de desenvolvimento, que condicionam as ajudas económicas a determinadas políticas de «saúde reprodutiva».
155. A ecologia humana implica também algo de muito profundo que é indispensável para se poder criar um ambiente mais dignificante: a relação necessária da vida do ser humano com a lei moral inscrita na sua própria natureza. Bento XVI dizia que existe uma «ecologia do homem», porque «também o homem possui uma natureza, que deve respeitar e não pode manipular como lhe apetece».
Nesta linha, é preciso reconhecer que o nosso corpo nos põe em relação directa com o meio ambiente e com os outros seres vivos. A aceitação do próprio corpo como dom de Deus é necessária para acolher e aceitar o mundo inteiro como dom do Pai e casa comum; pelo contrário, uma lógica de domínio sobre o próprio corpo transforma-se numa lógica, por vezes subtil, de domínio sobre a criação.
Aprender a aceitar o próprio corpo, a cuidar dele e a respeitar os seus significados é essencial para uma verdadeira ecologia humana. Também é necessário ter apreço pelo próprio corpo na sua feminilidade ou masculinidade, para se poder reconhecer a si mesmo no encontro com o outro que é diferente.
Assim, é possível aceitar com alegria o dom específico do outro ou da outra, obra de Deus criador, e enriquecer-se mutuamente. Portanto, não é salutar um comportamento que pretenda «cancelar a diferença sexual, porque já não sabe confrontar-se com ela».
120. Uma vez que tudo está relacionado, também não é compatível a defesa da natureza com a justificação do aborto. Não parece viável um percurso educativo para acolher os seres frágeis que nos rodeiam e que, às vezes, são molestos e inoportunos, quando não se dá protecção a um embrião humano ainda que a sua chegada seja causa de incómodos e dificuldades: «Se se perde a sensibilidade pessoal e social ao acolhimento duma nova vida, definham também outras formas de acolhimento úteis à vida social».
Resposta ao artigo de Isabel Moreira sobre o Aborto
A deputada socialista Isabel Moreira escreveu um artigo com o título 'Selvajaria moral', no qual, recorrendo a inúmeros sofismas, defendeu as virtudes do aborto legal e gratuito em Portugal.
Aqui ficam algumas citações do dito texto (a negrito) e as respostas e interrogações que cada trecho merece:
É sabido que deu entrada na AR uma iniciativa legislativa de um
grupo de cidadãos, entre os quais consta o Professor Marcelo Rebelo de Sousa,
sobre a IVG, a qual, entre outras alterações à lei atual, propõe a consagração
do direito a nascer e o direito do nascituro a
ser membro do agregado familiar.
É evidente para qualquer pessoa de boa-fé que os nascituros já
merecem tutela jurídica. Essa tutela, não é, nem pode ser, idêntica à de uma
pessoa já nascida e, como qualquer bem ou valor jurídico-constitucional, não é
absoluta.
A pergunta a fazer é:
porquê? Porque é que a tutela
jurídica de um nascituro será distinta da tutela jurídica de uma pessoa já
nascida? No limite, a meia-hora do
parto, porque é que um nascituro de 38 semanas de gestação terá que ter uma
tutela jurídica distinta?
E, desde a fertilização até
ao parto, muda alguma coisa de substancial no nascituro? Se não há mudança
substancial do ponto de vista biológico, porque razão haveria distinção na
tutela jurídica? E é curioso que se negue
valor absoluto à tutela da vida, dada a forma como o Artigo 24 se refere à
questão:
«Artigo 24.º (Direito à
vida).
1. A vida humana é
inviolável.
2. Em caso algum haverá
pena de morte.»
Pelo menos no caso da pena
de morte, a coisa parece escrita de forma absoluta! E a palavra
“inviolável" também apela para algo de absoluto, sem excepções.
A intenção dos cidadãos pró-vida é
contrariar a lógica do sistema, intenção essa que trairia, se levada à prática,
o espírito do nosso ordenamento jurídico e serviria, não apenas para insistir
na luta contra as mulheres, mas para no futuro terem por impedidos quase todos
os avanços da bioética.
Pelo contrário, não se vê como conciliar a
afirmação de Isabel Moreira de que não há bens ou valores
jurídico-constitucionais absolutos com a própria Constituição!
Acerca da luta contra as mulheres, pode-se argumentar que o
aborto é uma violência contra a própria mulher, violência essa muitas vezes
ditada por pais, maridos, namorados ou patrões sem escrúpulos, que remetem a
mulher para a crueldade do aborto, empurrando-a para o crime hediondo de dar a
morte ao próprio filho ou filha. Se o nascituro for do sexo feminino, então há
dupla violência contra as mulheres: contra a mãe que aborta e contra a filha
que é abortada.
Acerca da afirmação final, de que a intenção dos cidadãos
pró-vida tenderia a impedir “todos os avanços da bioética”, fica por explicar o
salto de lógica dado pela autora, porque a última afirmação não segue da
primeira.
Para
que não haja dúvidas, porque estas pessoas gostam de imaginar dúvidas, existe a
expressa consagração constitucional da inviolabilidade
da vida humana, como os autores da iniciativa recordam,
imaginando-a, talvez, como um princípio absoluto.
Não é preciso imaginar dúvidas. Basta ler o Artigo 24.
Como
se refere no Acórdão do TC nº 671/2006, a propósito do referendo à despenalização
da IVG “O facto de o feto ser tutelado em nome
da dignidade da vida humana não significa que haja título idêntico ao
reconhecido a partir do nascimento. Na verdade, constata-se que na generalidade
dos sistemas jurídicos o feto não é considerado uma pessoa titular de direitos (…)
O raciocínio da autora parece ser este: não existem bens ou
valores jurídico-constitucionais absolutos por causa do que vem no Acórdão em
questão. Recordemos que esse Acórdão obteve a aprovação dos juízes signatários Maria
Fernanda Palma, Bravo Serra, Gil Galvão, Vítor Gomes, Maria Helena Brito, Maria
João Antunes e Artur Maurício. Estes são os nomes dos juízes
que concordam com a distinção de tutela jurídica entre nascituros e crianças
nascidas, e que concordam com a relativização do Artigo 24, um artigo que vimos
não conter ambiguidades.
Foram sete juízes que
aprovaram o Acórdão. Contra seis juízes, com sentido de Estado e de ética, que
inclusive deixaram declarações de protesto. Foram eles: Rui Manuel Moura Ramos, Maria dos Prazeres
Pizarro Beleza, Paulo Mota Pinto, Benjamim Rodrigues, Mário José de Araújo
Torres e Carlos Pamplona de Oliveira. Pelo menos esses seis juízes não acharam
tão óbvio que o absoluto Artigo 24 fosse, afinal, relativo. Nem concordaram com
a distinção de tutelas.
E se lermos as razões invocadas pelos sete juízes do Tribunal
Constitucional que aprovaram o texto que Isabel Moreira cita, encontramos a
seguinte justificação: “constata-se que na generalidade dos sistemas jurídicos
o feto não é considerado uma pessoa titular de direitos (…)”. Singular
raciocínio ético!
Imaginemos alguém a raciocinar da mesma forma, no século XIX, a
favor da escravatura, alegando que na generalidade dos sistemas jurídicos em
voga na altura, o escravo não era considerado uma pessoa titular de direitos…
Por outro lado, nem a inviolabilidade da vida humana nem
sequer a necessidade de proteção da vida intrauterina impõem especificamente
uma tutela penal idêntica em todas as fases da vida, tal como concluiu o
Acórdão nº 288/98. A própria história do Direito Penal revela-o, ao ter feito
quase sempre a distinção entre homicídio e aborto (…)
A “conclusão” que saiu do Acórdão em questão foi o resultado de
uma votação de sete contra seis juízes! Se a votação tivesse saído ao
contrário, ou seja, sete juízes contra o direito ao aborto, como ficaria o
sistema ético de Isabel Moreira? Que conclusões jurídico-constitucionais
retiraria então? O bem e o mal decidem-se por voto?
E que distinção é essa, que o Direito Penal terá “feito quase
sempre” entre homicídio e aborto? Distinção penal? Sobre a moldura penal
distinta a aplicar em cada caso?
Mas essa é uma questão diferente. Podemos considerar o aborto
como homicídio que é: trata-se objectivamente do crime de destruir uma vida
humana inocente.
Ao mesmo tempo podemos defender para o mesmo crime objectivo a
aplicação de molduras penais distintas, penalizando de forma mais severa o
homicídio de pessoas nascidas face ao homicídio de nascituros. A culpa
subjectiva pode ser distinta nesses dois casos, o que justifica uma moldura
penal distinta. Em muitas situações de aborto, a mulher é coagida a tomar essa
decisão, o que reduz substancialmente a sua culpa. O crime, esse, é objectivamente
o mesmo: a destruição de uma vida humana inocente.
Ainda no plano da interpretação da Constituição, há quem
entenda, segundo a linha de orientação de um Parecer do Conselho Consultivo da
Procuradoria‑Geral da República, que o artigo 24º, nº 1, na mente dos
constituintes, não pretendeu abranger a proteção da vida intrauterina,
afastando também, por aí, a necessidade de uma referência a esse preceito e ao
princípio da inviolabilidade da vida humana do problema da despenalização da
interrupção voluntária da gravidez.
Haverá sempre quem queira tirar entendimentos distintos da
“mente dos constituintes”. A linguagem do Artigo 24 parece bastante clara, mas
mesmo admitindo por hipótese que a “mente dos constituintes” era a favor do
direito ao aborto, somos obrigados a aceitar que tais mentes eram infalíveis?
Deste modo, a partir de qualquer uma destas considerações – mesmo
que não se concorde com todas –, a perspectiva de inconstitucionalidade não
encontra fundamento no artigo 24º da Constituição”
Como se vê, não existindo argumentação lógica em defesa dessa
tese, permanece válida a tese contrária, a de que o Artigo 24 da Constituição
proíbe o aborto, tal como proíbe a pena de morte.
Numa
palavra, a vida intrauterina tem proteção objetiva; a
vida já nascida tem proteção subjetiva.
Pretender equivaler estas dimensões é pré-histórico.
É extremamente difícil comentar este parágrafo, dado o uso equívoco dos termos “objectiva” e “subjectiva”.
Que a vida intra-uterina tem protecção objectiva (ou seja,
independente do sujeito em questão) é uma trivialidade que se retira do Artigo
24. E por esse mesmo artigo, o aborto não deveria ser legal ao abrigo da
Constituição. Por outro lado, a vida humana já nascida tem a mesma protecção
objectiva, à luz do mesmo Artigo 24.
Não se entende o que quer a autora dizer com “protecção subjectiva”.
Nem se entende o raciocínio que subjaz à frase “pretender equivaler estas
dimensões é pré-histórico”. Talvez seja a intenção da autora terminar com uma
tirada de retórica, mas sem explicar nem definir de que “dimensões” fala, dado
que usa os termos de forma equívoca, é muito difícil comentar esta passagem...
A
ponderação de princípios e valores é, claro, necessária. Está feita. Temos uma
lei da IVG decente. A ausência de lei da IVG era, essa sim, o caminho da morte.
Mais uma tirada de retórica, “o caminho da morte”. Uma tirada
que nem faz sentido, à luz dos dados estatísticos. O número de abortos disparou
em função da nova lei. A actual lei do aborto, essa sim, abriu o “caminho da
morte” para dezenas de milhares de nascituros, dezenas de milhares de
Portugueses e de Portuguesas, que nunca chegaram a ver a luz do dia, graças a
uma lei indecente.
A
análise dos artigos propostos revela um ataque moralmente insuportável à
dignidade das mulheres.
Pelo contrário, o aborto é que é um ataque moralmente
insuportável à dignidade da mulher grávida, e quando o nascituro é do sexo
feminino, o aborto é um ataque vil e irremediável à vida dessas mulheres que
nunca chegarão a nascer.
Nos
termos do artigo 4º, é revogada, para todos os efeitos, a equiparação entre IVG
e gravidez.
Porque é que haviam de ser equiparáveis? Porque razão deveria o
Estado proteger da mesma forma aquela mulher que quer dar à luz mais um
Português ou mais uma Portuguesa, daquela mulher que não quer levar a sua
gravidez a termo?
Esta
inconstitucionalidade significa que os signatários ignoram que o aborto
espontâneo, tal como a IVG, são problemas de saúde.
Não se vê onde está a inconstitucionalidade. Essa conclusão
surgiu de repente no texto, sem ser fundamentada. O aborto espontâneo é distinto do aborto provocado, pelo facto
de que este último é precisamente provocado. Ou seja, a morte do nascituro é
desejada e provocada pelos intervenientes no aborto.
O aborto provocado não é um “problema de saúde”, dado que é uma
escolha livremente tomada pela mulher que opta por pedir que lhe matem o seu
filho ou filha. Certamente que, após o aborto, vários problemas de saúde física
e psíquica irão advir. Mas o aborto procurado em si mesmo é radicalmente
distinto do aborto espontâneo.
Se uma mulher grávida sofre um aborto espontâneo, estamos
perante um problema de saúde: a sua gravidez falhou. O aborto espontâneo é algo
indesejado que pode acontecer a qualquer mulher grávida. O aborto provocado é um mal que a própria mulher grávida opta
(quando não é coagida) por fazer a si mesma e ao seu nascituro.
Este
preceito não pretende apenas que a IVG deixe de ser comparticipada.
Porque razão deveria o aborto ser comparticipado? Porque razão é
comparticipado?
Acaso tem o Estado culpa alguma que uma mulher grávida queira
desistir da sua gravidez?
E um contribuinte não tem direito à objecção de consciência?
Como contribuinte, eu não quero ver as minhas contribuições
fiscais a serem usadas para destruir a vida de mulheres grávidas e de
nascituros do meu país. Que posso fazer para impedir que o Estado use os meus impostos
para destruir compatriotas meus?
Pretende
que toda e qualquer mulher que faça uma IVG não tenha justificação de faltas,
licenças, baixas comparticipadas, etc. Esta medida afetaria todas as mulheres
que se atrevem a fazer uma
só IVG: todas. Não só as que as que recorrem à IVG até às 10 semanas, mas todas
as que a fazem nas demais circunstâncias do artigo 142º do Código Penal, como o
caso de ser o único meio para salvar a vida da mãe.
E então? Não se entende o raciocínio de Isabel Moreira. Porque
razão deveria o Estado conceder benesses sociais às mulheres que querem acabar
com a sua gravidez?
Acerca do famoso mito de que o aborto pode ser o único meio, em
certos casos, para salvar a vida da mãe, tal história não passa disso mesmo: um
mito. Há certamente casos nos quais o aborto pode ser a consequência
indirecta e indesejada de um acto médico essencial para salvar a vida de uma
mulher grávida. Nada a opor a esses casos. Nessas situações, o médico
bem-formado fará tudo para salvar ambas as vidas, e se uma delas se perder como
consequência indirecta e indesejada, não há qualquer erro ético por parte do
médico.
Todavia, não há um só caso na Medicina no qual seja necessário
matar directamente um nascituro como única forma de salvar a vida de uma mulher
grávida. Será que Isabel Moreira consegue citar um só caso desses?
No
que toca ao desejo doentio de acabar com a isenção das taxas moderadoras,
talvez recordar que a IVG é um acto de saúde materno-infantil, estando, como
todos eles, isenta das ditas.
Fica-se com a impressão de que Isabel Moreira está a troçar do
leitor. Como é que um aborto provocado é um “acto de saúde materno-infantil”?
Vamos regressar ao básico: num aborto provocado, um nascituro é
destruído. Logo, a mulher grávida, que era mãe desde a fertilização, deixa de o
ser. Do ponto de vista do nascituro, não se pode falar de saúde infantil, dado
que o nascituro foi morto. Do ponto de vista da mulher grávida também não se
pode falar de saúde maternal, dado que a gravidez (um estado saudável) foi
desfeita. Como é que se pode considerar o aborto provocado como um “acto de
saúde materno-infantil”? Não se brinca com coisas sérias...
Acresce
o argumento do sigilo.
Uma rapariga de 16 anos ou uma mulher dependente do marido, por exemplo, não
podem fazer prova da sua insuficiência económica sem colocarem em risco o
carácter sigiloso da sua decisão.
Em primeiro lugar, uma rapariga de 16 anos é menor de idade. Já
é aberrante que ela possa ser ajudada a matar o seu filho, mas é ainda mais
aberrante que se possa defender que um crime desses seja feito às escondidas
dos encarregados de educação de uma menor. No caso de uma mulher adulta, é
também aberrante que se defenda que a mulher possa sozinha escolher a morte de
um nascituro cujo genoma advém em 50% de um homem, sem que a opinião deste seja
tida em conta.
A
desconsideração pelas mulheres continua no artigo 9º, o qual obriga a mulher a
revelar as pessoas com quem teve sexo. A própria pode nem saber. Além da
incompreensão do que é a IVG (só a mulher é que está grávida) obriga à devassa
toral da sua privacidade.
O aborto não é um acto privado. Matar um nascituro não é um acto
privado. Ao abrigo do Artigo 24, tal nascituro deve ser protegido pelo Estado.
Ou
a ter de contactar com potenciais criminosos. A gravidez pode ter resultado de
violação e mulher não ter apresentado queixa. Há aqui uma incompreensão
assustadora da diferença do conflito de interesses entre a mulher grávida e o
nascituro e a mulher grávida e o ex-possível-futuro pai e o nascituro, porque
os homens não estão grávidos, não correm riscos de saúde, é preciso densificar
mais esta indignidade?
Mesmo no caso dramático de uma violação, não se compreende
porque razão a culpa do violador recai sobre o nascituro, que é sempre
condenado a morrer, sem apelo nem agravo.
Mais uma vez, o Artigo 24 devia ser tido em conta nestes e em
todos os casos: o nascituro merece viver. Ninguém tem o direito a matá-lo. Isso
é que é uma indignidade.
Os
signatários insistem em afirmar que a IVG realizada até às 10 semanas em
estabelecimento legalmente autorizado é uma liberalização do aborto.
Liberalização, como os próprios sabem, seria a IVG ser possível a todo o tempo
onde uma mulher quisesse. Mas adiante.
É por demais evidente que o actual quadro legal constitui uma
liberalização. O aborto não é apenas um acto legal, ou seja, um acto que uma
mulher grávida possa efectuar sem incorrer em ilícitos legais. O aborto é pago
pelo SNS, pelos contribuintes, pelo que realmente foi liberalizado. Há um sem
número de estabelecimentos nos quais uma mulher pode obter um aborto dentro do
prazo legal. O aborto foi, realmente, liberalizado.
Estas
pessoas vivem o desgosto dos números das interrupções voluntárias da gravidez
terem escapado, por enorme defeito, às suas expetativas.
Pelo contrário, os números são terríveis. 100.000 nascituros
mortos entre 2008 e 2012. Este sim é o desgosto!
Basta
consultar os dados oficiais para concluir que Portugal tem os números de
repetência mais baixos do mundo.
Uma só vida humana destruída com apoio do Estado é uma vergonha.
Como é possível alguém se orgulhar destes números?
Os
abortos por opção da mulher até às 10 semanas correspondem a uma das menores
taxas da Europa e abaixo de todas as previsões.
É caso para festejar? Porquê?
Quanto
ao número de abortos repetidos, é menos de 1% (dos países europeus que apuram
taxa de repetição, somos o que apresenta a menor, atrás de Itália, França e
Espanha) e 60% das portuguesas que abortam são mães.
Isabel Moreira refere-se aos números de que ano? Desde que o
aborto foi liberalizado, a percentagem de mulheres que abortaram e que já
tinham abortado uma vez manteve-se em torno dos 20% (http://www.federacao-vida. com.pt/estudos/FPV%20-%20O% 20Aborto%20em%20Portugal% 202012FEV10.pdf).
Mesmo os números sobre 2014, que foram tornados públicos há
poucos dias, mostram que 21,9% das mulheres que abortaram durante esse ano já
tinham abortado antes.
Como é que
Isabel Moreira consegue passar de 20% para 1%?
Finalmente,
a proposta de introduzir violência de estado, essa de a IVG ser realizada após
conhecimento pela grávida, através de ecografia impressa, por si subscrita, do
estado e tempo de gestação. Como já afirmou a psiquiatra Ana Matos Pires forçar uma mulher a olhar para uma ecografia é, na minha
opinião, não só eticamente reprovável em termos médicos, como invasivo, abusivo
e perverso em termos humanos. Em última análise, consubstancia uma forma de
abuso de poder por parte do clínico que vai contra o mais elementar princípio
da relação terapêutica: a salvaguarda da saúde do indivíduo.
Aqui, Isabel Moreira não apresentou um só argumento contra o
visionamento de uma ecografia por parte da mulher grávida. Citar a psiquiatra Ana Matos Pires não constitui um argumento,
sobretudo, dado que nessa citação, Ana Matos Pires também não apresenta
argumentos, mas sim apenas a sua opinião pessoal.
Não faz sentido pedir à mulher grávida que assuma a
responsabilidade da sua decisão, uma decisão de vida ou de morte, com base em
factos médicos? Não tem a mulher grávida o direito à sua dignidade de mulher,
que deve estar consciente do acto que solicita? Não tem a mulher grávida o
direito e o dever de ter acesso aos dados médicos referentes ao nascituro que
ela deseja eliminar?
A
noite do aborto clandestino foi longa, escuta, cheia de morte, de
desigualdades, com a vergonha de julgamentos gravados na memória de tantas
mulheres. Chega desta selvajaria moral.
Sobre o aborto clandestino, por ser clandestino, não temos
números que nos permitam avaliar a sua dimensão. Mas sobre o aborto legalizado,
temos números. Já estamos na centena de milhar de Portugueses destruídos com a
conivência e subsídio do estado.
Chega desta selvajaria moral!
Bernardo Motta
Aqui fica um verdadeiro artigo científico no qual se demonstra a inviolabilidade da vida humana e a imoralidade do aborto: Argumentário contra o Direito ao Aborto