quinta-feira, 30 de julho de 2015

Juramento de Ourique - Dom Afonso, Rei de Portugal

Eu Dom Afonso, Rei de Portugal, Filho do ilustre Conde Dom Henrique, Neto do Grande Rei Dom Afonso: sendo presentes Vós o Bispo de Braga, e Bispo de Coimbra, e Teotónio, e os mais Magnates, Oficiais, e Vassalos do meu Reino: juro por esta cruz de metal, e por este Livro dos Santíssimos Evangelhos, em que ponho a mão: que eu mísero pecador, com estes meus olhos indignos, vi a Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, posto em uma Cruz nesta forma:

Eu estava com meu Exército nas Terras de Além Tejo, no Campo de Ourique, para pelejar com Ismael, e outros quatro Reis dos mouros, que tinham consigo infinitos milhares de homens.

E a minha gente atemorizada com esta multidão, estava enfadada, e muito triste, em tanto que muitos diziam ser temeridade começar a guerra.

E eu triste por aquilo que ouvia, comecei a cuidar comigo que faria; e tinha um livro na minha Tenda, no qual estava escrito o Testamento Velho, e o Testamento de Jesus Cristo: abri-o, e li nele a vitória de Gedeão, e disse antre mim: Vós sabeis Senhor Jesus Cristo, que por vosso amor faço esta guerra contra vossos inimigos; e que na vossa mão está dar-me a mim e aos meus fortaleza para que vençamos aqueles blasfemadores de Vosso Nome.

E dizendo isto adormeci sobre o Livro, e logo vi um Velho, que se vinha para mim, e me dizia: Afonso, confia, porque viverás e desbaratarás estes Reis, e quebrantarás os seus poderes e o Senhor se te há-de mostrar.

Estando eu vendo isto, chegou-se a mim João Fernandes de Sousa, vassalo de minha Câmara, e disse-me: Senhor, levantai-vos, está aqui um homem velho, que vos quer falar: entre, disse eu, se é fiel.

E entrado ele onde eu estava, conheci ser aquele mesmo, que eu tinha visto na visão. O qual me disse: Senhor, está de bom ânimo: vencerás, vencerás e não serás vencido. És amado do Senhor, porque sobre ti, e sobre teus descendentes depois de ti, tem posto os olhos de sua misericórdia até à décima sexta geração, na qual se diminuirá a descendência, mas na mesma assim diminuída, o mesmo Senhor tornará a pôr os olhos e verá. Ele me manda dizer-te, que tanto que ouvires esta noite que vem, tanto a campainha da minha Ermida, na qual vivi sessenta e seis anos, entre os infiéis, guardado com o favor do Altíssimo, sairás do teu arraial, só e sem companheiros, e mostrar-te-á sua muita piedade.

Obedeci e com reverência posto em terra, venerei o embaixador, e a Quem o mandava. E estando em Oração, esperando pelo som da campainha, já na segunda vigília da noite, a ouvi.

Então armado com a espada, e escudo, saí do arraial, e vi subitamente para a parte direita contra o Oriente um Raio resplandecente, e o resplandecer crescia pouco e pouco em mais, e quando naquela parte pus os olhos com eficácia, logo no mesmo raio mais claro que o Sol, vejo o sinal da Cruz e Jesus Cristo nela crucificado, e de uma outra parte multidão de mancebos alvíssimos, que eu creio eram os Santos Anjos.

A qual visão, tanto que eu vi, posta à parte a espada, e escudo, e deixados os vestidos, e calçado, humilhado me lancei em terra, e aí derramando muita cópia de lágrimas, comecei a rogar pelo esforço dos meus Vassalos.

E nada turbado disse: Vós a mim Senhor? Porque a quem já crê em Vós, quereis acrescentar a Fé? Melhor será que vos vejam os Infiéis e creiam, e não eu que com a água do baptismo vos conheci e conheço pelo verdadeiro filho da Virgem, e do Padre Eterno.

A Cruz era de admirável grandeza, e levantada de terra quase dez côvados.

O Senhor, com suave órgão de voz, que meus indignos ouvidos receberam, me disse:

Não te apareci desta maneira para te acrescentar a Fé, mas fortalecer o teu coração neste conflito, e para estabelecer e confirmar sobre firme pedra os princípios do teu Reino. Confia, Afonso, porque não somente vencerás esta batalha, mas todas as outras, em que pelejares contra os inimigos da Cruz. Tua gente acharás alegre para a guerra, e forte, pedindo-te que com nome de Rei entres nesta batalha com título de Rei. Não duvides, mas concede-lhe liberalmente o que te pedirem. Porque Eu sou o que faço e desfaço Reinos e Impérios. E minha vontade é edificar sobre ti e sobre tua geração depois de ti, um Império, para que o meu Nome seja levado a gentes estranhas. E porque os teus sucessores conheçam quem te deu o Reino, fabricarás o teu Escudo de armas com a divisa do preço, com que Eu comprei o género humano, e com o que eu fui comprado dos Judeus. E ser-me-á um Reino santificado, puro na Fé e pela piedade amado.

Tanto que eu ouvi estas coisas, prostrado em terra, o adorei, dizendo: Senhor, por que merecimentos me anunciais tanta piedade? Farei o que mandais e vós ponde os olhos de misericórdia em os meus descendentes, como me prometeis; e a gente de Portugal guardai e salvai, e se contra eles algum mal tiverdes determinado, antes o convertei todo em mim; e a meus sucessores e o meu povo, que amo tanto como único filho, absolvei.

Consentindo, o Senhor disse:

Não se apartará deles, nem de ti alguma hora minha misericórdia, porque por eles tenho aparelhado para mim grande sementeira, porque os escolhi por meus semeadores para terras mui apartadas e remotas.

E dizendo isto desapareceu, e eu, cheio de confiança e suavidade, tornei ao exército.

E que tudo passou assim eu el Rei Dom Afonso o juro pelos Santíssimos Evangelhos de Jesus Cristo, em que ponho a mão. Pelo que mando a meus sucessores, que tragam por divisa e insígnia, cinco escudos patidos em cruz, por amor da Cruz e das cinco Chagas de Jesus Cristo, e em cada um trinta dinheiros de prata, e em cima a serpente de Moisés, por ser figura de Cristo. E esta será a divisa da nossa nobreza em toda nossa geração.

E se algum outra coisa intentar, seja maldito do Senhor e com Judas traidor atormentado no Inferno.

Feita em Coimbra a vinte e oito de Outubro, da Era de Cristo mil cento e cinquenta e dois.

Eu Dom Afonso, Rei de Portugal.
Dom João, Bispo de Coimbra.
Dom João, Metropolitano de Braga.
Dom Teotónio, Prior.

Confessionário na Sé Velha de Coimbra





Antigo confessionário à entrada da Sé Velha de Coimbra.

Hoje usado como armazém de folhetos.

Fiat misericordia tua, Domine, super nos.     Faça-se em nós, Senhor, a tua misericórdia.

Quorum remiseritis peccata remituntur eis. Aqueles a quem perdoardes os pecados serão perdoados.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Por que é que os Católicos dissidentes fazem da justiça social o seu maior objectivo?

Uma pessoa falou-me uma vez sobre o seu irmão que se tinha tornado um padre Católico. Este irmão, antes de ser ordenado, admitiu que tinha deixado de acreditar nas doutrinas do Credo dos Apóstolos - que já não acreditava na Fé Católica - que era uma colecção de mitos. Ainda assim, o irmão foi em frente e ordenou-se padre Católico.

Porquê? Ele disse que sendo um padre Católico o ajudaria a ter uma plataforma melhor para a justiça social do que se simplesmente continuasse um membro normal da comunidade local. Vejam, ele não acreditava na Fé Católica. Em vez disso, confiava na justiça social como o bem último para a humanidade.

De todos os padres, religiosos e leigos Católicos que eu conheci, aqueles que divergiram das doutrinas reveladas por Cristo e pelos Apóstolos, dadas à Igreja, também falavam como se a justiça social ou o trabalho social fosse o maior bem do Cristão e que devia ser o objectivo principal da Igreja Católica.

Por exemplo, uma pessoa podia ter negado a transubstanciação, a existência do Inferno, as condições para pecado mortal e/ou a salvação unicamente através de Cristo, mas estava sempre convencida da vocação da Igreja à justiça social. De facto, se ouvirem com cuidado, eles subscrevem uma espécie de comunismo religioso - aquilo que é conhecido como teologia da libertação. Porque é que isto acontece?

São Tomás de Aquino dá-nos a resposta. Os bens espirituais podem ser partilhados igualmente por todos porque Deus é tudo em todos. A visão beatífica não é reduzida por outra pessoa a partilhar. Da mesma forma, a graça santificante não se reduz quando outro pecador recebe graça. Pelo contrário, a graça aumenta quando é partilhada. Este é um princípio fundamental da teologia Católica.

No entanto, os bens materiais NÃO funcionam assim. Se muitas pessoas partilharem a pizza significa que cada pessoa recebe menos pizza. O mesmo acontece para a propriedade, água, dinheiro, carvão ou qualquer outro recurso natural. Deus é infinito. A matéria é finita.

Aqueles que negam o nosso fim e bem sobrenatural, que é a visão beatífica, têm então que pegar no princípio sobrenatural (que a visão beatífica de Deus não é divisível) e aplicá-lo aos bens terrestres. Sobrenaturalizam os bens materiais como o bem último do homem. Sim, devemos providenciar justiça social e sofrer dificuldades pelo bem estar dos outros. A riqueza deve ser espalhada pelos outros. No entanto, Nosso Senhor disse, "Buscai, pois, em PRIMEIRO LUGAR, o Reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas (materiais) vos serão dadas por acréscimo."

Não devemos nunca esquecer que a salvação das almas através da pregação apropriada, da direcção espiritual e da santificação é a uma prioridade superior que a justiça social.

Dito isto, a justiça social é a vontade de Deus. Mas não é um fim em si mesma. É um meio para dar às nossas almas e às almas de outros a graça santificante de Deus e finalmente a visão beatífica de Deus. Deus ama a justiça e ouve as orações dos pobres, dos viúvos, dos orfãos. Como Católicos devemos ter um amor pelos pobre e pela pobreza em si mesma, visto que este foi o estado de Cristo, de Sua Mãe, de S. José e dos Seus Santos Apóstolos. A justiça social é parte integrante da identidade Cristã e da ortodoxia Cristã - simplesmente não é o maior bem de todos.

Concluindo, está visto que os que são dedicados à ortodoxia Católica, a uma vida de penitência e à aquisição de graça são os que servem os pobres e proclamam a justiça.

Muitos dos maiores santos da Igreja e mesmo doutores são bem conhecidos pelo seu amor aos pobres e pela sua vontade de aliviar o sofrimento do próximo. Alguns até se tornaram escravos devido a outros. E, ainda assim, estes mesmos homens e mulheres foram pilares de ortodoxia, amantes dos sacramentos, fiéis à Igreja e bem avançados na vida mística.

"O homem, ao substituir o ideal superior que abandonou, pode, por exemplo, colocar a sua religião na ciência ou no culto da justiça social ou nalgum ideal humano, que ele acaba por ver de um modo religioso ou mesmo místico. Assim, ele afasta-se da realidade suprema e começa a surgir um grande número de problemas que só serão resolvidos se ele regressar ao problema fundamental das relações íntimas da alma com Deus." Pe. Reginald Garrigou-Lagrange

Taylor Marshall

terça-feira, 28 de julho de 2015

Meditar é ver a alma ao espelho

"Aquele que não medita na Palavra de Deus é como a pessoa que sai de casa sem antes se olhar ao espelho." 

S. Pio de Pietrelcina

O que fazer com o barulho das crianças na Missa?

A criança no banco da frente

Havia uma criança no banco da frente, e a pequena não parava quieta um instante sequer! Era Missa; e a frutuosa participação no Sacrifício de Cristo exige algumas disposições interiores de ordinário avessas à distração inevitavelmente provocada por uma criança irrequieta. Em poucas palavras, a gente precisa se concentrar pra rezar direito, e é difícil concentrar-se com uma criança chamando a sua atenção o tempo todo…

Lembrei-me de que “o problema” das crianças na Missa já fora abordado de um sem-número de maneiras. Há quem defenda que elas sejam simplesmente deixadas em casa. Há quem pugne pelo oferecimento de uma estrutura paroquial – uma salinha separada, a “acolhida das crianças” – para “tomar conta” dos pequenos enquanto os seus pais assistem à Missa. Há quem diga que os pais devem se impôr mesmo e fazer as crianças ficarem quietas, retirando-as do recinto sagrado se necessário for. Domingo, havia uma criança no banco da frente, e eu me peguei a pensar no assunto. E, curiosamente, a solução a que cheguei foi esta: é preciso deixar as crianças serem crianças. E deixar os pais serem pais.

A menina – era já um pouco grandinha, não sei, três anos… – olhava para tudo ao redor, com aquela curiosidade própria de quem tem um mundo inteiro a desbravar. Subia no banco. Descia do banco. Abraçava o pai. Segurava a mãe. Tinha uma voz estridente, de cujo volume as convenções sociais ainda não tivera tempo de aprender. Pegava o papel. Derrubava o papel. Ia de um lado para outro, para o braço de um e de outro. Olhava, sorria. Desinteressava-se. Falava. Ensaiava um choro. Um momento houve até em que, em pé no banco, começou a pisar forte e ritmadamente – com o insofismável fito de fazer barulho. (Neste instante, aliás, o pai a pegou no braço. E ela não fez escândalo. Em momento algum ela fez escândalo.)

Pela descrição, parece até que a igreja estava a ponto de vir abaixo; dir-se-ia um verdadeiro pandemônio instaurado no templo santo de Deus. Houve até um momento em que eu próprio olhei para a criança e me perguntei se não haveria algum fenômeno preternatural a explicar aquele incansável empenho infantil em roubar do Altar a atenção dos fiéis. Mas, na verdade, a impressão agora é ilusória, como o fora no decorrer da Missa. A criança não atrapalhava a celebração mais do que outras coisas com as quais a Igreja sempre conviveu – e é bom que conviva.

Li, há anos, em não me lembro agora qual historiador, uma descrição de uma provável Missa celebrada em um típico vilarejo medieval. Não havia os bancos que hoje nos acostumamos a encontrar, a fim de organizar os fiéis que se reúnem para a assistência do Santo Sacrifício; o espaço aberto da nave ocupava-se de maneira natural, orgânica, à medida que os católicos fossem chegando e na proporção do seu fervor religioso na ocasião. O povo também não se pejava de adentrar o templo do modo como se encontrasse; às vezes carregando um saco de frutas a vender na feira, ou dois patos adquiridos no caminho e que iriam servir de alimento à família. O ápice da Missa era – como ainda é – a Consagração; assim, no instante em que o sacerdote elevava a Hóstia Consagrada por cima de sua cabeça, todos se acotovelavam para, acima dos ombros uns dos outros, vislumbrar – por um instante fugaz que fosse – o Santíssimo Sacramento. E, imaginando as penas voando, o grasnar dos patos, a melancia espatifando-se no chão e um monte de gente se empurrando para ver melhor (que os outros) o altar… aquela criança no banco da frente da Missa de domingo passado parecia-me transmitir uma quietude elísia.

O quadro, dirão, é “pouco piedoso”. Ora, mas é claro que é pouco piedoso; é um quadro que retrata todas as mazelas e defeitos dos seres humanos de carne e osso para cuja salvação existe a Igreja! Mas não se trata sempre de pouco zelo; às vezes, há circunstâncias pessoais bem razoáveis a justificar certos comportamentos dos fiéis. E para as encontrar não é preciso retroceder a nenhum obscuro vilarejo medieval; basta pensar, por exemplo, nas missas celebradas em campanha. Ou alguém acha que em Iwo Jima não havia soldados fazendo a guarda, olhares apreensivos para todos os lados, tiroteios e ribombos de canhões ao fundo, essas coisas que costumam acontecer nas guerras?

Tampouco é preciso ir à guerra; vá-se a uma festa popular de maior monta. Aqui, em Recife, fui recentemente (como o disse) à de Nossa Senhora no Carmo. E havia crianças comendo, e gente mexendo no celular, e empurra-empurra na nave central (da qual, em talvez involuntária homenagem ao vilarejo medieval que referi acima, haviam retirado os bancos), e guardas-chuvas e capas pingando (sim, chovia lá fora), e pessoas chegando e saindo o tempo inteiro. Perto disso, repita-se mais uma vez, a criança no banco da frente da Missa de domingo passado transparecia a placidez de um mosteiro cartuxo.

O ponto, em suma, é o seguinte: não nos deve surpreender que a assistência à Missa revista-se dos elementos naturais da vida social. Mais até: quanto mais fortes forem esses elementos, mais isso significa que a religião está entranhada no dia-a-dia das pessoas, mais as pessoas a vêem com familiaridade. Atenção, que não se está aqui falando nada de Liturgia! A Liturgia é para ser sempre impecável, é evidente, como convém ser o culto prestado ao Deus Todo-Poderoso. Mas a forma como as pessoas assistem a este culto pode, sim, adquirir os rasgos de espontaneidade não-institucional que sejam socialmente aceitáveis e razoavelmente justificáveis. E é até bonito que assim se faça; chega a ser um testemunho da vitalidade do Evangelho, ao qual se curvam as necessidades sociais. Falo, por exemplo, de pessoas entrando e saindo da igreja durante a Missa, aproveitando o intervalo do horário de trabalho para assistir, se não a celebração inteira, ao menos o pedaço que conseguem. Falo de militares de serviço assistindo à missa de farda camuflada, quepe às costas. Falo de doentes tossindo. E, claro, falo de mães embalando seus filhos, ou retirando-se para lhes trocar as fraldas, e falo de crianças correndo e gritando.

Dir-me-ão que essas coisas são muito diferentes, e que nada tem a ver uma guerra com um feirante, ou com um pedreiro sujo de cimento, ou com uma criança mal-comportada. Eu digo que todas essas coisas têm muito mais em comum entre si do que parece à primeira vista: são, todas elas, exemplos de seres humanos tentando conciliar os seus deveres de estado com a prática religiosa. Assim como o soldado deve combater, e isso talvez lhe exija prestar atenção nos arredores do acampamento mesmo durante a celebração da Missa, assim o trabalhador deve prover ao sustento da sua família – e isso talvez lhe exija levar à igreja os seus instrumentos de trabalho. Isto é um sinal de que a sociedade anda sadia e está ordenada; é um indício de que, apesar de tudo, as coisas estão indo bem.

Mas um soldado não é a sua patente e, um feirante ou pedreiro, não é o seu comércio ou sua construção civil.Uma mãe, contudo, é indissociável da sua maternidade. O soldado tem o seu dia de folga, onde ele não exerce o serviço de militar; um pai, contudo, não dispõe de um instante sequer onde esteja dispensado de seus serviços paternos. Nem aos domingos. Nem na igreja.

Uma família com crianças é uma campanha militar permanente. E se deixamos sem maiores olhares de censura os soldados (ou os policiais, ou os médicos, ou os bombeiros) assistirem às nossas missas, mesmo que estejam fardados, mesmo que o rádio que levam à cintura possa eventualmente tocar, mesmo que precisem sair às pressas da celebração; se os deixamos e, ainda, sentimo-nos gratos porque eles protegem as pessoas, salvam vidas, cuidam de nós, e é bom tê-los por perto; se, até mesmo!, olhamos com admiração para essas pessoas que, no meio do serviço, fazem malabarismos para conciliar os seus deveres com algum tempo de oração e de agradecimento a Deus; por qual razão censuraríamos as famílias que vão à missa fardadas com bolsas e fraudas, e carrinhos de bebê, e mamadeiras?, e por qual motivo não agradeceríamos àqueles que, mesmo durante a Missa, não descuidam do cuidado dos seus filhos, que outra coisa não é que o cuidado com o nosso futuro?, e por quê, em suma, não olhamos com admiração e reconhecimento para estas pessoas que, sem descuidar de seus deveres, mesmo a serviço, desdobram-se para dedicar um pouco de tempo à vida de oração e aos seus deveres públicos para com Deus?

A menina no banco da frente da Igreja era uma criança. E isso significava três coisas: primeiro, que ainda há crianças no mundo, graças a Deus; segundo, que os seus pais não as deixam de lado para estar na Igreja; e, terceiro, que eles tampouco deixavam a Igreja para cuidar de suas crianças. Foi o que eu percebi no domingo passado; e, perto disso, qualquer distração que a sua presença pudesse provocar era de pouca monta. Que Deus nos conceda igrejas repletas de crianças! Conviver com elas, afinal de contas, é um excelente sinal de que as coisas – graças a Deus! – ainda andam bem no mundo.

in Deus lo vult!

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Inside Out - As emoções contadas de uma forma Cristã

Fui ver há uns dias com uns amigos o novo filme da Pixar, Inside Out.

É um filme de desenhos animados em que a história está cheia de pormenores incríveis sobre a vida que encantam qualquer adulto, como é típico nos filmes da Pixar.

O interessante neste filme é que o plano de acção é a mente de uma rapariga, a Riley, desde que ela nasce até aos seus 12 anos. O filme é muito divertido, mas também ensina muito sobre o funcionamento da mente humana. Na verdade, muitas cenas do filme batem certo com o que a ciência sabe hoje sobre o cérebro.

Os protagonistas do filme são cinco emoções com personalidade - a alegria, a tristeza, o medo, a ira e a repulsa (Joy, Sadness, Fear, Anger e Disgust). Durante o filme, notou-se que a forma de agir destas personagens entusiasmou bastante quem o estava a ver.

Um dos pontos do filme que melhor mostra isto é a forma como Joy (alegria) quer estar sempre a controlar a mente de Riley, dando-lhe alegria. Para o fazer, Joy está constantemente a esforçar-se para descobrir um ponto positivo diante das situações em que Riley se encontra, mesmo que sejam as piores possíveis, como mudar para uma casa a cair de podre aos 12 anos. E o ponto é que ela, de facto, vai conseguindo animar a nossa menina.

Eram estas as cenas que mais faziam o público rir porque são as que melhor reflectem aquilo que é próprio do ser humano. No fundo do nosso coração todos sabemos que o homem tem condições para estar sempre alegre, mesmo que muitas vezes a nossa vida não seja assim vivida. Mais ainda, ao ver estas cenas lembramo-nos que podíamos ser mais assim, mais optimistas.

E, se há alguém que viveu a vida com alegria, foram e são os Cristãos. A certeza que os Cristãos têm da vida eterna e do amor infinito que Deus tem por cada um permite-lhes estarem sempre alegres. A vida dos Santos é o melhor exemplo disso. Como é possível que S. Josemaria conseguisse serenar e alegrar todos os que o rodeavam em Madrid durante a sangrenta Guerra Civil espanhola? Ou como conseguiu S. Maximiliano Kolbe ajudar tantos naquele campo de concentração em Auschwitz? Tinham a funcionar dentro de si a Alegria que Riley também tem no filme.

Mas estas cenas têm outro segredo que também contribuiu para entusiasmar quem viu o filme. Conseguir estar alegre independentemente da situação em que nos encontremos mostra que o ser humano está acima de qualquer tipo de factor externo. Os nossos estados de ânimo, por muito fugazes que possam parecer, estão sob o nosso controlo. Isto é, quem escolhe estar alegre somos nós. Ou estar triste. Ou zangado. O que quer que seja. Nós somos donos das nossas emoções. Mas como é possível?

O truque para isto ser possível é a razão. Hoje em dia muitos acham que o avanço da neurociência representa um retrocesso da alma, que é a própria essência do que nós somos. O homem não seria mais do que um conjunto de neurónios que respondem a muitos estímulos - acabavam assim todos os conceitos de liberdade, consciência, amor, etc. No fundo o homem tornava-se igual aos animais.

Mas não é assim, porque o homem está dotado de razão, que é a chave para estar acima das emoções. Mas onde é que no filme está a razão na cabeça de Riley? Como me disse um amigo no final do filme, a razão estava em cada uma das emoções. Na verdade, os criadores do filme, ao personificarem cada emoção estavam a dar-lhes o dom da razão. E é assim que, ao longo de todo o filme, a Joy consegue ser tão alegre e descobrir o ponto positivo de cada situação. No filme nós até a vemos a pensar, a fazer um esforço para ser alegre.

A este esforço para estar alegre nós chamamos vontade. O ser humano pode ser descrito através de três coisas: a sua vontade, inteligência e paixões/emoções. É a inteligência aliada à vontade que faz com que consigamos controlar as nossas emoções, tal como acontece ao longo de Inside Out. Que isto é possível não devia ser novidade nenhuma, pois o Cristianismo desde sempre que o ensina.

Chama-se temperança a este domínio das emoções. Ensina o Catecismo da Igreja Católica que:
a temperança é a virtude moral que modera a atracção dos prazeres (...). Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos nos limites da honestidade. A pessoa temperada orienta para o bem os apetites sensíveis, guarda uma sã discrição e não se deixa arrastar pelas paixões do coração. (CIC, 1809.)

Ou seja, uma pessoa que tenha a virtude da temperança sabe sempre comportar-se, estando quase sempre alegre, mas também muitas vezes triste ou zangada. A temperança faz com que sejamos pessoas equilibradas, não demasiado alegres nem demasiado tristes. Sem querer saltar o filme inteiro, é precisamente assim que acaba o filme. Para haver alegria é preciso haver tristeza. É preciso sabermos zangar-nos quando é preciso (vejam Jesus a expulsar os vendilhões do templo).

Durante todo o filme vemos Joy (alegria) a tentar que Sadness (tristeza) não tome controlo das emoções de Riley - queria evitar que Riley ficasse triste a todo o custo. Mas, como se vê com o desenrolar do filme, esta demonstra-se uma tarefa bastante difícil, senão mesmo impossível. O clímax do filme é quando Joy percebe que só vai conseguir alegrar Riley com a ajuda de Sadness. Ou seja, a mensagem do filme é descobrir que alguns momentos de tristeza levarão a uma alegria ainda maior. E não é este o cerne do Cristianismo? O maior horror alguma vez cometido, o Filho de Deus torturado e morto na Cruz é a fonte de toda a Graça, o culminar da nossa Redenção.

No fundo a tristeza complementa a alegria. A virtude da temperança vai-se desenvolvendo e as nossas emoções ficam temperadas.

Ver isto num filme de Hollywood é muito reconfortante. É um bom filme para qualquer idade: um adulto estará atento a estes pormenores e uma criança estará a aprender que crescer significa ter um maior domínio sobre as suas emoções.

Na produção do filme, os produtores e realizadores estiveram sempre em contacto com neurocientistas de topo e por isso o filme é uma boa introdução ao que se sabe hoje sobre o funcionamento do cérebro. Nota-se que o avanço da ciência nestas áreas vai cada vez mais iluminando aquilo que é próprio da moral e tradição cristãs.

Nuno CB

domingo, 26 de julho de 2015

Túmulo do Beato Miguel Pro, SJ

Um poderoso intercessor.

Um santo para os nossos tempos -- sacerdote e mártir.

Morreu na Cidade do México. A cidade capital de um país Católico. Por ordem do governo. Pode acontecer.

Isto é o seu túmulo na igreja Jesuíta na Cidade do México, Sagrada Familia.

Definitivamente digna de uma visita.

https://en.wikipedia.org/wiki/Miguel_Pro

in orbiscatholicussecundus.blogspot.com

sábado, 25 de julho de 2015

Deus não vai de férias - D. Nuno Brás

A tecnologia, fruto do progresso científico que o mundo ocidental colocou ao nosso dispor, dá-nos, não raras vezes, a sensação de que somos omnipotentes, invencíveis e dominadores de tudo. Projetamos a nossa vida e queremos a todo o custo que tudo se cumpra de acordo com as nossas previsões. E que os outros sigam a nossa norma – que tenham os mesmos gostos, que sejam do mesmo clube desportivo, que estejam ao nosso dispor quando deles precisamos.

Mas essa ilusão de omnipotência de que tanto gostamos tem diariamente vários sinais de que não passa de uma simples ilusão por cada um construída.

Um desses sinais é a necessidade de repouso diário. Não existe ninguém que não tenha que descansar, que dormir. Podemos, na força da vida, “fazer uma direta”, como gostam de dizer os estudantes em tempos de exames, passando uma noite sem dormir e continuar, dia adiante, no trabalho que temos pela frente. Mas logo depois o sono tem que ser minimamente compensado. Nessas horas em que dormimos ficamos vulneráveis, sem consciência, à mercê do mundo exterior.

A necessidade de repousar recorda-nos em cada dia que passa que não passamos de seres humanos, que não somos pequenos deuses.

E isso mesmo nos deveriam recordar também as férias – oua, pelo menos, aquele período do ano em que aligeiramos as nossas tarefas do quotidiano e procuramos fazer aquilo de que mais gostamos, sem horários rígidos para cumprir.

Muitas vezes, com as férias vem, ao contrário, o esquecimento de Deus. Com a desculpa de que não conhecemos os horários das Missas, salta a Eucaristia dominical; e esquecemos o tempo de oração; e esquecemos que somos cristãos, “discípulos missionários”.

Graças a Deus, Ele não vai de férias. Continua a querer-nos, a amar-nos, a procurar um momento de encontro connosco.

D. Nuno Brás in Voz da Verdade

sexta-feira, 24 de julho de 2015

O inverno liberal

A imprensa parece inebriada com a homossexualidade. Este fascínio ressurgiu agora nas discussões sobre adopção por casais do mesmo sexo: a generalidade dos jornalistas assumiu implicitamente apenas uma possibilidade válida, desprezando as alternativas como obscurantismo, numa promoção aberta da sodomia. O totalitarismo opinativo é tão esmagador que afirmar isto fica perigoso, mas o clima pontual de exaltação da liberdade de expressão talvez permita considerar o tema.

Independentemente da posição sobre o polémico assunto, este unanimismo surpreende. Primeiro por se tratar de questão insignificante. Os homossexuais são minoria minúscula, e casados, só poucas centenas. O problema é, pois, simplesmente irrelevante. Porquê tanto ruído e paixão, no meio dos graves dramas nacionais?

Depois, o deslumbramento gera contradições evidentes. Quem defende, de forma tão absoluta, estas mudanças fá-lo sempre a partir de uma posição liberal face à família. Ora a generalidade desses activistas e jornalistas têm atitude radicalmente oposta nos outros assuntos sociais, usando o adjectivo «neoliberal» só como insulto. Por outro lado, embora a posição se justifique a partir da justiça e direitos humanos, fica sempre omisso o elemento que deveria ser a prioridade: as crianças. Não existe um direito a adoptar, mas o benefício infantil em ser adoptado. Centrar a questão no casal, não na criança, é perverter a discussão.

O debate é vasto e complexo, cheio de detalhes e implicações mas, precisamente por isso, é importante descobrir as causas deste surpreendente e compulsivo enamoramento mediático com os homossexuais. Por que motivo pessoas razoáveis e inteligentes, membros de uma imprensa livre, caem aqui na doutrinação?

As explicações simplistas não colhem. Não existem conspirações surdas e maléficas, nem se vê uma opção unívoca pela perversão sexual, permanecendo abominadas outras formas, como a pedofilia. Mas deve ter-se em conta que a catequização mediática se estende a mais elementos: união de facto, divórcio, aborto, entre outros.

O mistério fica desvendado através do paralelo com as discussões políticas de gerações anteriores, aliás perfeitamente reproduzidas agora nestes assuntos. Basta avançar no debate para notar que a questão básica é, não a defesa de um tipo particular de sexualidade, mas o desafio aberto e hostil à chamada «família tradicional», em nome da total autonomia lasciva. Fica evidente que a homossexualidade é aqui usada como mero instrumento para um propósito ideológico de fundo. Como o fenómeno segue de perto as características tradicionais de antigas campanhas jornalísticas, o processo é fácil de identificar. No fundo os activistas revivem romanticamente velhas glórias da agitação mediática.

No século XVIII a humanidade achou que iria finalmente destruir os inimigos atávicos da servidão, desigualdade e pobreza. Armadas com as novidades tecnológicas da revolução industrial, as forças progressistas – que se apelidavam de «liberais» – proclamaram a revolução das estruturas sociais e económicas, em nome da igualdade e liberdade. Os resultados foram excelentes mas, ao mesmo tempo, o liberalismo criou abusos, hoje tão repudiados.

Em meados do século XX, em termos equivalentes aos antigos movimentos liberais, alguns grupos também anunciaram o fim de um velho inimigo: a monogamia. As forças do progressismo erótico proclamaram a «revolução sexual», armadas da pílula como novidade tecnológica. Igualdade e liberdade permaneciam os temas base, mas agora nas práticas venéreas, em nome do prazer e libertinagem. Cada um faz o que quer, ninguém tem nada com isso, e a lei tem de declarar tudo equivalente.

Esta atitude também teve resultados excelentes, eliminando velhas discriminações e bloqueios, mas os abusos estão à vista. Colapso de casamentos e natalidade, solidão nas famílias desfeitas, abandono de jovens e idosos e tantos outros dramas, têm terríveis impactos nacionais, não só evidentes, mas muito mais devastadores que os que ocupam os jornais. Mas poucos se atrevem a referir esses efeitos, parecendo existir um medo supersticioso de desafiar o consenso libertino.

Este mito da emancipação sexual está tão entranhado que é difícil de abdicar, mesmo diante do desastre. Portugal, mais uma vez, chegou atrasado, mas cheio de fervor, a soluções em vias de abandono. É por isso que a nossa imprensa, em nome da sociedade ideal, insiste em sonhos e tabus, dogmas da revolução obsoleta, repetindo na família o inverno ideológico do liberalismo.

João César das Neves in Diário de Notícias

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Como eram as férias do Padre Wojtyla em Julho?

A propósito do mês que estamos a viver e de muitas pessoas estarem já de férias, aqui fica um excerto de umas férias de Julho de S. João Paulo II, ainda sacerdote, em que ele teve que sair a meio para receber a notícia de que... o Papa Pio XII o tinha nomeado Bispo.

[negritos feito pelo Senza]
"Era o ano de 1958. Encontrava-me com um grupo de entusiastas da canoagem num comboio para Olsztyn. Íamos começar as nossas férias segundo o programa que vinha sendo praticado desde 1953: passávamos uma parte das férias na montanha, mais frequentemente em Bieszczady, e outra parte nos lagos da Masuria. (...) 
Era o mês de Julho. Dirigindo-me àquele que fazia as vezes de ‹‹almirante›› - se bem me lembro na altura era Zdzislaw Heydel - disse: "Zdzislaw, daqui a pouco terei de deixar a canoa, porque o primaz [(...) o primaz era o cardeal Stefan Wyszynski] me chamou e devo encontrar-me com ele." 
O ‹‹almirante›› respondeu-me: "Está bem, eu penso nisso." 
E assim, quando chegou o dia combinado, deixei o grupo e fui para a estação ferroviária mais próxima, Olsztynek. 
Sabendo que tinha de me apresentar ao cardeal primaz durante a travessia do rio Lyna, havia previamente deixado a batina melhor em Varsóvia na casa de alguns conhecidos. Não poderia, na verdade, apresentar-me ao primaz com aquela batina que eu levava comigo durante as expedições de canoa (nos passeios tinha sempre comigo uma batina e os paramentos para celebrar a Santa Missa)."
in S. João Paulo II, Levantai-vos! Vamos! - Autobiografia, Publicações Dom Quixote, Junho 2004.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Deputados portugueses pedem a libertação de Asia Bibi

Deputados portugueses enviaram hoje um “apelo urgente” ao presidente da República do Paquistão para que a apreciação do último recurso sobre a acusação a Asia Bibi decida “no sentido da libertação”.

O apelo foi enviado pelo Grupo Parlamentar de Solidariedade com os Cristãos Perseguidos no Mundo através de uma carta dirigida à embaixadora da República Islâmica do Paquistão em Lisboa, enviada hoje à Agência ECCLESIA.

“Sabemos que o caso de Asia Bibi tem, amanhã, um dia decisivo. E é por esse motivo que escrevemos a V. Ex.a, pedindo que transmita com urgência o nosso apelo e a nossa extrema preocupação ao Presidente da República Islâmica do Paquistão, Sua Excelência Mamnoon Hussein, e demais autoridades relevantes do país”, pode ler-se na carta.

O Grupo do Parlamento português recorda que esta quarta-feira, 22 de Julho, em Lahore, o Supremo Tribunal paquistanês “apreciará o último recurso sobre a acusação absurda e a injusta condenação que pende sobre Asia Bibi, decidindo ou no sentido da libertação, ou pela confirmação da condenação à morte”.

“O nosso apelo é para que Asia Bibi seja finalmente libertada e restituída, em segurança, a seus filhos e família, pondo-se termo à perseguição de que, como cristã, tem sido objeto por parte de grupos e correntes extremistas, estando presa há mais de 2.200 dias sob a acusação de blasfémia. Importa pôr termo a este caso de violação de direitos humanos fundamentais que, repetidas vezes, vem chocando a opinião pública internacional”, escrevem os deputados.

Na carta assinada por José Ribeiro e Castro, os deputados manifestam confiança na “Justiça e no sentido humanitário das autoridades paquistanesas”.

O Grupo Parlamentar de Solidariedade com os Cristãos Perseguidos no Mundo é constituído pelos deputados José Ribeiro e Castro, presidente, Carina Oliveira e António Cardoso, vice-presidentes, e por António Braga, António Cardoso, António Proa, Artur Rego, Conceição Ruão, Graça Mota; Inês Teotónio Pereira; Isabel Galriça Neto; João Figueiredo; João Lobo; João Portugal, Maria Ester Vargas, Paula Gonçalves, Raúl de Almeida, Rosa Arezes, e Teresa Anjinho.

in Agência Ecclesia

segunda-feira, 20 de julho de 2015

A oração não é um ioga cristão

Para perseverar na vida da oração, é preciso evitar que, logo à partida, se entre por falsas pistas. Por isso, é indispensável compreender o que é específico da prece cristã e distingui-la de outras buscas e outros caminhos espirituais. Isto é tanto mais necessário quanto o materialismo da nossa cultura suscita, como reacção, uma sede - que é boa - de absoluto, de mística, de comunicação com o Invisível, mas que, frequentemente, acaba por se perder em experiências decepcionantes ou, até, destruidoras.

A primeira verdade fundamental que precisamos de entender e sem a qual não poderemos ir muito longe é que a vida de oração - ou, por outras palavras, a prece contemplativa - não é fruto de uma técnica, mas um dom que devemos acolher. (...) Não há método de oração, quer diz, não há um conjunto receitas ou de procedimentos cuja aplicação seja suficiente para orar bem. A verdadeira prece contemplativa é um dom que Deus faz gratuitamente, mas é preciso saber como acolhê-lo.

É necessário insistir neste ponto. Sobretudo hoje, por causa da ampla difusão no nosso mundo dos métodos de meditação orientais, como o ioga e o zen, etc., por causa da mentalidade moderna que quer reduzir tudo a técnicas e, finalmente, por causa de uma tentação permanente do espírito humano de fazer da vida - mesmo da vida espiritual - algo que se possa manipular à vontade, temos frequentemente e de modo mais ou menos consciente uma imagem falsa da vida de oração, como se fosse uma espécie de ioga cristão: progredir-se-ia na oração mediante processos de concentração mental e de recolhimento, de técnicas apropriadas de respiração, de atitudes corporais, de repetição de certas fórmulas, etc. Depois de, pelo hábito, se ter adquirido a prática destes elementos, eles permitiriam que o indivíduo acedesse a um estado de consciência superior. Esta visão das coisas, que está subjacente às técnicas orientais, influencia por vezes a concepção que se tem da oração e da vida mística no cristianismo e dá delas uma visão completamente errada.

Errada porque a pessoa se agarra a métodos em que, afinal, é o esforço do homem que é determinante, quando no cristianismo tudo é graça, tudo é dom gratuito de Deus.

Jacques Philippe in Tempo para Deus: Guia para a vida de Oração

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Padre Duarte nomeado Pároco de Nossa Senhora do Carmo

O Cardeal Patriarca de Lisboa nomeou hoje o nosso querido Padre Duarte, um dos membros fundadores dos Senza, Prior da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo do Alto do Lumiar. É um dia de imensa alegria para o Pe. Duarte e para nós todos! 
Que Nossa Senhora do Carmo o proteja sempre e o ajude na cura de almas da sua nova paróquia.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Não se pode obrigar ninguém a mudar a visão sobre o matrimónio

O Arcebispo Anthony Fisher de Sydney criticou os esforços para "obrigar" as pessoas a aceitar a desconstrução do casamento, dizendo que "homogeneizar a 'igualdade'" era marginalizar as questões sobre "o que é o casamento e para que serve".
O Arcebispo Fisher fez estes comentários na sua homilia na anual Missa de Casamentos e de renovamento de votos no dia 12 de Julho, na Catedral de St. Mary, Sydney.
"Há vozes na nossas cultura que já não acham que o casamento é preciso para a vida ou que seja aberto aos filhos, ou que seja exclusivo ou entre um homem e uma mulher," disse o Arcebispo Fisher à assembleia, que incluia 30 casais a celebrar os aniversários de 50 e 65 anos.
Os casais Cristãos estão a encontrar-se "numa posição desconfortável," disse o arcebispo, "porque algumas forças políticas, culturais e comercialmente poderosas estão determinadas a silenciar qualquer alternativa à posição politicamente correcta sobre isto; a obrigar-nos a todos a aceitar a desconstrução e redefinição de uma instituição fundamental; e a relegar questões sobre o que é o casamento e para que serve para um patamar secundário para homogeneizar a 'igualdade'."
"Chamam ignorantes e preconceituosos aos que defendem o casamento tal como é conhecido tradicionalmente."
O Arcebispo Fisher disse que no contexto de uma cultura que esqueceu o seu fim e significado, o verdadeiro matrimónio é "uma forma de pregação e terapia."
"Apresenta um testemunho sem palavras da compreensão Cristã da pessoa humana e da sociedade, da nossa missão de amar dada por Deus não apenas como um serviço centrado em si mesmo, romântico, de um amor em forma de coração do dia dos namorados, mas com um amor que se dá, redentor, com a forma da Cruz do dia de Páscoa."
A pressão para o casamento do mesmo sexo na Austrália tem aumentado muito nos últimos meses, na sequência do referendo da Irlanda. Muitos membros do paralmento anunciaram que estavam agora a favor da "igualdade de casamento."
Também aumentou no sector dos negócios, com muitas das grandes empresas, incluindo bancos e companhias aéreas, a emprestas as suas marcas a anúncios a promover a igualdade de casamentos, no dia 29 de Maio.
A Conferência de Bispos Católicos da Austrália lançou uma carta pastoral pró-matrimónio, "Don't Mess With Marriage" [Não se metam com o matrimónio], a 28 de Maio, que foi distriuída pelas paróquias e escolas, incluindo cada aluno nas escolas Católicas de Sydney, Melbourne e outras dioceses australianas.
Rodney Croome, director da campanha pela igualdade do matrimónio na Austrália, denunciou a carta como "perigosa" e acusou os bispos de tornar as crianças em "portadores do preconceito", ao dar-lhes a carta.
O Arcebispo Fisher disse na sua homilia que reconhecer a relação única entre marido e mulher "não era criticar ninguém," incluindo as pessoas com atracção entre o mesmo sexo e as pessoas separadas e divorciadas que "deram tudo ao casamento."
"O matrimónio, tal como visto tradicionalmente ...(quando) os nossos aniversariantes entraram nele, significava uma união corporal, psicológica e espiritual entre um homem e uma mulher, por isso se tornam "uma só carne" e formam um família."
"É por isso que estes casais não prometeram tornar-se esposos ou parceiros, mas tornar-se homem e mulher," disse ele.
"Estas dimensões do verdadeiro matrimónio tornam-no um sinal profético nos dias de hoje, um sinal de contradição, porque alguns querem reduzir o casamento a não mais do que um acordo público e uma ligação físco-emocional entre quaisquer duas pessoas."
Arcebispo Fisher a cumprimentar os casais à porta da Catedral de St. Mary
in Catholic News Servive

As obras de Cristo não retrocedem, não são enfraquecidas

Hoje existem visões segundo as quais toda a história da Igreja no segundo milénio teria sido um declínio permanente; alguns vêem o declínio subitamente após o Novo Testamento. Na verdade, “Opera Christi non deficiunt, sed proficiunt” (As obras de Cristo não retrocedem, não são enfraquecidas, mas progridem). O que seria a Igreja sem a nova espiritualidade dos Cistercienses, dos Franciscanos e Dominicanos, da espiritualidade de Santa Teresa de Ávila e de São João da Cruz, e assim por diante? Também hoje vale afirmar: Opera Christi non deficiunt, sed proficiunt, ide avante. 

São Boaventura ensina-nos, pelo exemplo, o discernimento necessário, por vezes severo, do realismo sóbrio e da abertura a novos carismas doados por Cristo, no Espírito Santo, à sua Igreja. E, enquanto se repete essa ideia de declínio, há também uma outra, o utopismo espiritualístico que se repete. 

Nós sabemos como, depois do Concílio Vaticano II, alguns estavam convencidos de que tudo era novo, que havia uma outra Igreja, que a Igreja pré-conciliar é finita e teríamos outra, totalmente diferente. Um utopismo anárquico e, graças a Deus, os sábios timoneiros da barca de Pedro – Papa Paulo VI, Papa João Paulo II – defenderam, por um lado, a novidade do Concílio e, ao mesmo tempo, a unicidade e continuidade da Igreja, que é sempre Igreja de pecadores e sempre um lugar de graça.

Papa Bento XVI in Audiência Geral, 10 de Março de 2010

terça-feira, 14 de julho de 2015

O juízo final

"O que será de nós quando tivermos de comparecer com todas as acções que praticámos à presença de Deus no juízo final?" 

S. Pio de Pietrelcina

O que é o traje nupcial de que fala o Evangelho?

O que é o traje nupcial de que fala o Evangelho? Este traje é, certamente, algo que apenas os bons possuem, aqueles que vão participar no banquete. Serão os sacramentos? O baptismo? Sem o baptismo ninguém chega a Deus, mas há quem receba o baptismo e não chegue a Deus. Será talvez o altar ou o que se recebe no altar? Mas, ao receber o Corpo do Senhor, há quem coma e beba a sua própria condenação (1Cor 11,29). O que será, então? O jejum ? Os maus também jejuam. Frequentar a igreja ? Os maus vão à igreja como os outros.

O que é, então, este traje nupcial? O apóstolo Paulo diz-nos: «Esta recomendação só pretende estabelecer a caridade, nascida de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera» (1Tm 1,5). Eis aqui o traje nupcial: não se trata de um amor qualquer, porque muitas vezes vemos homens desonestos amar outros; mas não vemos neles esta caridade «nascida de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera»; ora, é essa caridade que é o traje nupcial.

«Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos», diz o apóstolo Paulo, «se não tiver caridade sou como bronze que ressoa, ou como címbalo que tine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que possua a fé em plenitude ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade nada sou» (1Cor 13,1-2). Ainda que tenha tudo isto, diz ele, sem Cristo «nada sou». 


Como são inúteis todos os bens, se um só deles vier a faltar! Se não tiver caridade, ainda que distribua todos os meus bens em esmola e entregue o meu corpo a fim de ser queimado (v.3), de nada me aproveita, uma vez que posso agir deste modo por amor da glória. «Se não tiver caridade, de nada me aproveita». Eis o traje nupcial. Examinai-vos e, se o tiverdes, aproximai-vos com confiança do banquete do Senhor.

Santo Agostinho in Sermão 90; PL 38, 559ss

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Factos e mitos: Cruzadas, Inquisição e Guerra contra as Mulheres

Em tempos de terrorismo disseminado por todos os continentes, não faltam afirmações gratuitas de todo o tipo, seja para reduzir todos os muçulmanos a farinha do mesmo saco dos terroristas, seja para tentar livrá-los dessa generalização mediante mais generalizações a respeito de outras religiões (de preferência, a católica). Entre os chavões mais batidos, voltam à berlinda as indefectíveis acusações do tipo “Não se esqueçam dos actos bárbaros cometidos em nome de Cristo durante as Cruzadas e a Inquisição!", além de reducionismos da ordem do dia, como a assim chamada “Guerra contra as Mulheres”, expressão que está na moda aqui nos Estados Unidos e em boa parte da Europa ocidental.

Mas há factos históricos que são cuidadosamente deixados de lado a respeito desses três clichés. Vejamos alguns deles.

As Cruzadas


Será verdade que os cruzados não passavam de saqueadores e vândalos cruéis que distorciam o cristianismo, como afirma a visão popularizada desses episódios da história medieval?

Thomas F. Madden, historiador das Cruzadas e director do Centro de Estudos Medievais e Renascentistas da Universidade de Saint Louis, afirma que não. Ele vem travando a sua própria “cruzada de um homem só” para desmascarar os mitos populares sobre as supostas atrocidades patrocinadas pela Igreja católica entre os séculos XII e XVI.

Madden explica que os guerreiros do Islão, com enorme energia, começaram a combater os cristãos logo depois da morte de Maomé. E os muçulmanos foram extremamente bem sucedidos nessa empreitada, a tal ponto que a Palestina, a Síria e o Egipto, que antes eram as regiões mais fortemente cristãs do mundo todo, sucumbiram rapidamente. Até ao século VIII, os exércitos muçulmanos já tinham conquistado todo o Norte da África e a Espanha, que também eram, anteriormente, áreas cristãs. No século XI, os turcos seljúcidas conquistaram a Ásia Menor (actual Turquia), que tinha sido cristã desde os tempos do Apóstolo São Paulo. O antigo Império Romano do Oriente, que os historiadores modernos preferem chamar de Império Bizantino, foi reduzido a pouco mais que o território da Grécia actual. Desesperado, o imperador bizantino, cuja sede ficava em Constantinopla (actual Istambul, na Turquia), enviou uma mensagem aos cristãos da Europa ocidental pedindo ajuda para defender os seus irmãos e irmãs no Oriente.

Foi este o contexto que deu à luz as Cruzadas. Elas não foram fruto da imaginação de um Papa ambicioso ou de cavaleiros vorazes, mas uma resposta a mais de quatro séculos de conquistas muçulmanas que já tinham dominado dois terços do velho mundo cristão. O cristianismo, como fé e cultura, precisava tomar uma decisão: ou se defendia ou era engolido pelo Islão. As Cruzadas foram a estratégia adoptada para a reacção em defesa própria.

Madden descreve os dois objectivos estabelecidos pelo papa Urbano II para as Cruzadas: resgatar os cristãos do Médio Oriente, que estavam sendo escravizados pelo domínio muçulmano, e libertar dos islâmicos a cidade de Jerusalém e outros lugares santificados pela vida de Cristo. Longe de ser uma distorção do catolicismo, as Cruzadas nasceram do próprio coração da fé, explica o historiador, citando uma carta do papa Inocêncio III aos Cavaleiros Templários: "Vós realizais em actos as palavras do Evangelho: ninguém tem amor maior do aquele que dá a vida pelos seus amigos".

Na execução prática das oito Cruzadas, aconteceram, é claro, muitos abusos inadmissíveis por parte dos grupos combatentes. Mas daí a afirmar gratuitamente que as Cruzadas já foram concebidas com fins violentos extrapola em muito a veracidade histórica.

A Inquisição

Praticamente tudo o que achamos que sabemos sobre a Inquisição também é distorcido,explica Madden. Em 1998, o Papa João Paulo II abriu os arquivos do Santo Ofício para uma equipa multidisciplinar formada por 30 estudiosos de diferentes partes do mundo. O relatório de 800 páginas escrito por essa equipa foi publicado em 2004, confirmando o que muitos historiadores já tinham descoberto ao fazerem pesquisas prévias em outros arquivos europeus: a ideia popular do que tinha sido a Inquisição baseava-se em mitos (e continua a basear-se).

Na Idade Média, a heresia era considerada um crime contra o Estado, punível com a morte. Não era a Igreja quem condenava os hereges à morte: pelo contrário, o Papa Lúcio III estabeleceu o tribunal da Inquisição precisamente para evitar que as acusações de heresia, feitas pelo Estado, fossem julgadas por juízes civis, que eram ignorantes da doutrina e consideravam os acusados indiscriminadamente culpados. Com o tribunal da Inquisição, as acusações de heresia poderiam passar pela análise de teólogos competentes que, em quase todos os casos, impediram as sentenças de morte. Enquanto os reis, de acordo com Madden, viam os hereges como traidores que questionavam a sua “autoridade concedida por Deus”, a Igreja via-os como “ovelhas perdidas que tinham se desviado do rebanho”.

A maioria das pessoas acusadas de heresia perante a Inquisição foram absolvidas ou tiveram as suas sentenças suspensas. Os culpados de grave erro doutrinal eram autorizados a confessar os seus pecados, fazer penitência e ser reintegrados ao Corpo de Cristo. Os hereges impenitentes ou obstinados eram excomungados e entregues às autoridades laicas. Apesar dos mitos populares, a Inquisição não queimava os hereges. O facto real é que a Inquisição medieval salvou incontáveis milhares de pessoas inocentes (e algumas nem tão inocentes assim) de serem queimadas vivas pelos senhores feudais ou pela fúria da multidão.

Muito tempo mais tarde, os processos inquisitoriais foram tomados pelas autoridades civis, que não mostravam o perdão e misericórdia que Igreja tinha mostrado.

A contemporânea “Guerra contra as Mulheres”

A chamada "Guerra contra as Mulheres" é a mais recente acusação infundada sofrida pela Igreja. Como a doutrina católica propõe a permanente abertura dos casais à vida, opondo-se claramente ao aborto e aos meios artificiais de controle da natalidade, a Igreja tornou-se o principal alvo de radicais feministas, progressistas, libertinos, da comunicação social, do mundo académico e do governo, entre outros grupos contrários a ela.

Quando o Papa Bento XVI afirmou que os preservativos não são a solução para a crise da SIDA na África sub-sariana, foi considerado "terrivelmente ignorante" e responsabilizado pelas mortes em decorrência da SIDA que varrem o continente (como se todas as mortes por SIDA acontecessem entre os católicos praticantes que obedecem aos ensinamentos da Igreja; aliás, esses católicos formam justamente o grupo de menor risco, por se absterem de sexo antes do casamento e por se manterem fiéis quando casados).

Enquanto o governo de Barack Obama pisoteia a liberdade religiosa nos Estados Unidos ao forçar as instituições católicas a fornecerem anticoncepcionais como parte dos planos de saúde dos seus funcionários, é a Igreja quem recebe as acusações de agressão contra as mulheres! Por se opor ao financiamento dos contribuintes norte-americanos a organizações abortistas como a Planned Parenthood, que é a mais prolífica máquina de assassinatos dos Estados Unidos, é novamente a Igreja quem é acusada de “fazer guerra contra as mulheres”!

Na última campanha eleitoral, com base na Primeira Emenda à constitução norte-americana, os candidatos que defenderam a liberdade religiosa das instituições católicas e dos indivíduos diante da tentativa do governo Obama de obrigá-los a fornecer "benefícios" que eles consideram imorais, também foram acusados de fazer parte da "guerra contra as mulheres". Essa mesma narrativa forjada será ressuscitada, muito provavelmente, nas próximas eleições.

O verdadeiro vilão da "guerra contra as mulheres" nos Estados Unidos não é a Igreja, mas a política de saúde pública do governo Obama, o popularmente chamado “Obamacare”. Contraceptivos, abortivos e esterilização servem todos para prejudicar o saudável funcionamento do sistema reprodutivo feminino, causando inúmeros riscos às mulheres. Uma pesquisa feita em 2011 sobre o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal constatou que o perfil “mais infeliz” entre os profissionais norte-americanos é o da “mulher de aproximadamente 42 anos, solteira, com renda familiar de até 100 mil dólares por ano, profissional liberal (médica ou advogada, por exemplo)”. 

No entanto, essa mulher de carreira, “livre de marido e filhos que a oprimam” e que ainda assim se declara infeliz, é precisamente o “modelo ideal de emancipação” proposto às mulheres por organizações norte-americanas como a National Organization for Women [Organização Nacional para as Mulheres] e o Fund for a Feminist Majority [Fundo por uma Maioria Feminista].

Além dessas manipulações da realidade, existe outra razão muito sólida para que os críticos contrários à Igreja católica passem a direcionar o seu sarcasmo contra outros alvos. A Igreja é a maior organização de caridade do planeta Terra em termos de ajuda concreta em áreas como a alimentação, o vestuário, a moradia, o tratamento médico e a educação. Ela ministra ajuda aos necessitados do mundo inteiro há quase dois milênios, incluindo populações que não apenas não são católicas, mas nem sequer são cristãs.

Será que é mesmo demais pedir que aos governos e à comunicação social que verifiquem os factos, pelo menos de vez em quando?

in Aleteia