Atendendo sobretudo ao Sínodo Ordinário sobre a Família, convocado pelo Santo Padre e que no dia 5 de Outubro de 2015, começou no Vaticano, vale a pena lembrar algumas palavras do Cardeal Robert Sarah, nigeriano de nascimento, homem de uma devoção e fé extraordinárias como se pode constatar pela leitura do livro adiante referido. O Cardeal Sarah era Arcebispo de Conakry e foi para a Santa Sé a pedido do agora São João Paulo II, aí se manteve sob o pontificado do Papa Bento XVI e o Papa Francisco, apreciando certamente as suas muitas qualidades, nomeou-o recentemente Prefeito para a Congregação do Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos.
Nas últimas páginas do seu livro/entrevista “Dieu ou rien”, o Cardeal Sarah responde a uma pergunta de Nicolas Diat sobre as, ainda recentes, declarações do Cardeal Reinhard Marx, Arcebispo de Munique e Frisinga e Presidente da Conferência Episcopal da Alemanha. Dizia o Cardeal alemão:
“A procura de um acompanhamento teologicamente responsável e pastoralmente apropriado dos crentes divorciados ou divorciados e recasados civilmente encontra-se em todo o mundo entre os desafios urgentes da pastoral familiar e conjugal no contexto da evangelização”.
“A procura de um acompanhamento teologicamente responsável e pastoralmente apropriado dos crentes divorciados ou divorciados e recasados civilmente encontra-se em todo o mundo entre os desafios urgentes da pastoral familiar e conjugal no contexto da evangelização”.
Reacção do Cardeal Sarah, tão clara que dispensa totalmente comentários:
“Tenho muito respeito pelo Cardeal Reinhard Marx. Mas esta afirmação tão geral parece-me ser a expressão de uma pura ideologia que se quer impor à força a toda a Igreja. (…) A questão dos crentes divorciados ou divorciados e recasados civilmente não é um desafio urgente para as Igrejas de África ou Ásia. Ao contrário, trata-se de uma obsessão de certas Igrejas ocidentais que querem impor soluções ditas teologicamente responsáveis e pastoralmente apropriadas, as quais contradizem radicalmente o ensino de Jesus e do magistério da Igreja.”
“Tenho muito respeito pelo Cardeal Reinhard Marx. Mas esta afirmação tão geral parece-me ser a expressão de uma pura ideologia que se quer impor à força a toda a Igreja. (…) A questão dos crentes divorciados ou divorciados e recasados civilmente não é um desafio urgente para as Igrejas de África ou Ásia. Ao contrário, trata-se de uma obsessão de certas Igrejas ocidentais que querem impor soluções ditas teologicamente responsáveis e pastoralmente apropriadas, as quais contradizem radicalmente o ensino de Jesus e do magistério da Igreja.”
Mais à frente:
“… não é possível imaginar uma qualquer que seja distorção entre o magistério e a pastoral. A ideia que consistiria em colocar o magistério num bonito guarda-joias destacando-o da prática pastoral, que poderia evoluir ao gosto das circunstâncias, das modas e das paixões, é uma forma de heresia, uma perigosa patologia esquizofrénica.
“… não é possível imaginar uma qualquer que seja distorção entre o magistério e a pastoral. A ideia que consistiria em colocar o magistério num bonito guarda-joias destacando-o da prática pastoral, que poderia evoluir ao gosto das circunstâncias, das modas e das paixões, é uma forma de heresia, uma perigosa patologia esquizofrénica.
Afirmo, pois, solenemente, que a Igreja de África se oporá firmemente a toda a rebelião contra o ensino de Jesus e do magistério.
Se me posso permitir recordar uns factos históricos, no séc. IV, a Igreja de África e o Concílio de Cartago decretaram o celibato sacerdotal. Depois, no séc. XVI, o mesmo Concílio africano constituiu o fundamento sobre o qual o Papa Pio IV se baseou para fazer face às pressões dos príncipes alemães, os quais lhe pediam para autorizar o casamento dos padres. Hoje também, a Igreja de África compromete-se, em nome do Senhor Jesus, a manter inalterado o ensinamento de Deus e da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimónio: o que Deus uniu, que o Homem não o separe.
Como é que um Sínodo poderia voltar atrás relativamente ao ensino constante, unificado e aprofundado do Beato Paulo VI, de S. João Paulo II e de Bento XVI? Ponho a minha confiança na fidelidade do Papa Francisco.”
Um pouco mais adiante, a propósito dos actuais mártires cristãos perseguidos em todo o mundo, o Cardeal Sarah retoma o mesmo tema da referida afirmação do Cardeal Marx bem como outra das questões fracturantes que vão ser tratadas no Sínodo. Diz aquele Príncipe da Igreja:
“Enquanto cristãos morrem pela sua fé e a sua fidelidade a Jesus, no ocidente, numerosos homens da Igreja procuram reduzir ao mínimo as exigências do Evangelho.
“Enquanto cristãos morrem pela sua fé e a sua fidelidade a Jesus, no ocidente, numerosos homens da Igreja procuram reduzir ao mínimo as exigências do Evangelho.
Vamos mesmo ao ponto de utilizar a misericórdia de Deus, abafando a justiça e a verdade, para acolher, de acordo com os termos da Relatio post disceptationem do último Sínodo sobre a Família de Outubro de 2014, os dons e as qualidades que as pessoas homossexuais têm para oferecer à comunidade cristã. (…) o verdadeiro escândalo não é a existência de pecadores, pois precisamente a misericórdia e o perdão existe sempre para eles, mas antes a confusão entre bem e mal, operada pelos pastores católicos. Se homens consagrados a Deus já não são capazes de compreender a radicalidade da mensagem do Evangelho, procurando anestesiá-la, andaremos na estrada errada. Pois eis aqui a verdadeira falta de misericórdia.
Enquanto centenas de milhares de cristãos vivem cada dia com medo real, certos querem evitar que sofrimento aos divorciados recasados, que se sentiriam discriminados por estarem excluídos da comunhão sacramental. Apesar de um estado de adultério permanente, apesar de um estado de vida que testemunha uma recusa de adesão à Palavra que eleva os que são sacramentalmente casados a ser um sinal revelador do mistério pastoral de Cristo, alguns teólogos querem dar acesso à comunhão eucarística aos divorciados recasados. A supressão desta interdicção da comunhão sacramental aos divorciados recasados, que se autorizaram eles mesmos a ultrapassar a Palavra de Cristo – O que Deus uniu o Homem não pode separar (Mt 19,6) – significaria claramente a negação da indissolubilidade do matrimónio sacramental.
(…) Como compreender que pastores católicos submetam ao voto a doutrina, a lei de Deus, e o ensino da Igreja sobre a homossexualidade, sobre o divórcio e o recasamento, como se a Palavra de Deus e o magistério devessem deste agora ser sancionados, aprovados pelo voto da maioria?
(…) Por ocasião do próximo Sínodo sobre a Família, que caminho queremos tomar separando o culto, a lei e a ética?”
Seguidamente, e a este propósito, transcreve um texto da obra “Introdução ao Espírito da Liturgia”, do então Cardeal Joseph Ratzinger.
Seguidamente, e a este propósito, transcreve um texto da obra “Introdução ao Espírito da Liturgia”, do então Cardeal Joseph Ratzinger.
Se me posso permitir, recomendo vivamente a leitura da obra “Dieu ou rien” que trata de inúmeras questões da actualidade e de fé de forma clara e reveladora da importância da devoção, humildade e obediência, que facilmente compreendemos serem características da personalidade do Cardeal Robert Sarah.
Luiz de Albuquerque Veloso
a igreja catolica em africa e o futuro
ResponderEliminaralguem sabe se o livro Dieu ou rien do Cardela Sarah irá ser publicado em português?
ResponderEliminar