Nota - A primeira parte deste resumo encontra-se aqui: Conferência de D. Athanasius Schneider em Lisboa (Parte I).
A segunda parte deste resumo encontra-se aqui: Conferência de D. Athanasius Schneider em Lisboa (Parte II).
A segunda parte deste resumo encontra-se aqui: Conferência de D. Athanasius Schneider em Lisboa (Parte II).
Na visita a Lisboa, D. Athanasius abriu a sua conferência
a uma sessão de questões (Q) e respostas (R). Deixamos aqui algumas delas:
Q – D. Athanasius falou-nos da necessidade de maior
reverência ao Santíssimo Sacramento para a renovação da Igreja. No entanto, não
devemos esperar que nos seja dado o exemplo pelos membros da Igreja com maior
representatividade, como os padres e as freiras, por exemplo?
R – A providência divina ao longo da história sempre se
serviu dos pequeninos para os seus desígnios. Estes não são necessariamente os
pequeninos da nomenclatura da Igreja. Os leigos como vocês, por exemplo, podem
ser um exemplo de reverência e adoração a Nosso Senhor no Santíssimo
Sacramento, mesmo se os padres e freiras assim não o fizerem. Assim é o Corpo
Místico de Cristo: quando falha um membro, Deus suscita outros membros para
fazerem a sua função.
Q – Do que nos falou a respeito da reverência a Jesus
Eucarístico, considera que de toda a reforma litúrgica vieram traços negativos?
R – Antes de mais convém esclarecer que a reforma litúrgica
não é matéria infalível, há a possibilidade de erro. De facto há momentos não
tão felizes derivados dessa reforma, pois em alguns casos o que se faz de facto
não corresponde aos princípios litúrgicos previamente estabelecidos, não na sua
totalidade mas em algumas formas concretas da mesma. A reforma precisa de ser
melhorada para se tornar mais celeste. Claramente neste momento precisamos
desse melhoramento.
Q – Falou da centralidade de Jesus Eucarístico na Eucaristia
em detrimento de nos centrarmos no sacerdote. Se me lembro bem, aprendi que o
Padre actua in persona Christi. Não estamos assim a dar o realce devido a
Cristo através do celebrante?
R – O celebrante actua
in persona Christi Capitis, mas isso não significa que seja o elemento
principal da celebração, que é Cristo. O celebrante é ministro secundário,
Cristo é o ministro principal. O celebrante é instrumento de Cristo, que actua
por meio dele. Por isso mesmo deve ser modesto e “desaparecer”, para dar espaço
a Cristo.
Q – A Igreja permite a comunhão na mão e existem textos da
Igreja primitiva que mostram que é uma prática já antiga. Porquê a oposição?
R – O que estamos a viver hoje é uma espécie de “Exílio de
Avinhão” da Liturgia. Como sabem, nos séculos XIII e XIV viveu-se um tempo em
que o Papa, sucessor de Pedro, residia em Avinhão. As consequências negativas
que daí poderiam advir eram grandes, como a questão da sucessão do Apóstolo e o
seu primado. No entanto, apesar de ser algo com consequências evidentemente más
para a Igreja, muitos aceitavam-no, incluindo o próprio Papa. Ninguém ousava
criticar a situação. Quem falou foram os pequeninos que tiveram a ousadia, como
Santa Brígida e Santa Catarina e o Papa acabou por regressar a Roma. Note-se que o
exílio era legal, permitido e defendido por muitos, mas não era isso que o
fazia ser bom ou isento de crítica. O Papa é o Servo dos Servos de Deus e não um
monarca absoluto, pois está ao serviço do Povo de Deus. Hoje, Santa Catarina é
Doutora da Igreja.
No que respeita a prática da comunhão na mão na Igreja
primitiva convém esclarecer a situação, pois é um mito recorrente. O único texto
dos padres da Igreja que fala da comunhão na mão é de S. Cirilo de
Jerusalém, que não é magistério. Além do mais, o relato da maneira de comungar
aí presente é substancialmente diferente ao gesto hoje usado ao comungar na
mão. Em primeiro lugar, comungava-se recebendo o Corpo de Cristo na mão
direita, que tinha de estar lavada e, no caso das senhoras, tinha de estar
coberta por um corporal. Depois, o comungante inclinava-se para estar abaixo da mão que tinha o Corpo de Cristo e recebia-o directamente na boca, sem alguma vez
O tocar com os dedos. Portanto, era muito diferente do gesto que hoje se faz
para comungar na mão, que não é um gesto da Igreja antiga. O gesto que hoje se
usa é um gesto que se foi buscar aos Calvinistas, na sua forma de comungar.
Mesmo a respeito da forma descrita por S. Cirilo de Jerusalém, esta forma de
comungar quase instintivamente se deixou para adoptar uma outra forma, mais
segura. Houve um crescimento orgânico e a prática deixou-se e diz-nos o Papa
Pio XII que não podemos restaurar as coisas simplesmente antigas, pois o
crescimento destas é orgânico.
Convém ainda relatar a maneira como hoje é permitida a
comunhão na mão. Antes de ser concedido o indulto para se poder comungar na
mão, o Papa Paulo VI sondou os Bispos para saberem o que pensavam desta prática.
A maioria dos bispos rejeitou-a: consideravam perigosa, pois é menos reverente,
contribui para a diminuição da fé na presença real de Cristo na Eucaristia e
abre a porta a sacrilégios daí derivantes. O indulto foi concedido sob um
conjunto de condições, sendo que quando o fez o Papa apelou a que se
mantivesse o rito tradicional de receber a comunhão. Aberta a porta,
sabemos que daí veio uma avalanche de coisas.
Q – Em muitos casos, como por exemplo em peregrinações a
Fátima, parece difícil manter a reverência de que fala para com a Eucaristia,
em particular quando é distribuída a comunhão…
R – É uma situação muito grave a que relata. Em muitos casos
de grandes multidões não é possível controlar se não há sacrilégios para com a
Eucaristia. Se de facto esta é para nós Deus encarnado, é contraditório
distribuir a Comunhão quando não fazemos ideia do que poderá acontecer. Por
isso, em tais eventos é preferível reavivar uma prática da Igreja muitas vezes
esquecida: a comunhão espiritual.
Q – Será que nos pode elucidar sobre de que maneira podemos
participar activamente na Missa?
R – Existe um mito que veio depois do Concílio Vaticano II
que convém esclarecer: participar activamente na Missa não é fazer coisas,
tarefas. Não há nada nos documentos conciliares que o diga, podem ir verificar.
O que se diz sobre a participação activa na Missa, isso sim, é que consiste
essencialmente numa presença consciente de que se está na Missa e não ter o
pensamento fora desta. Pode-se fazê-lo escutando, fazendo os gestos corporais devidos,
cantando. O cume da Participação na Missa é a Comunhão Sacramental.
Outra forma de participação proposta pela Sacrosanctum
Concilium, que talvez vos admire, é o Silêncio. No fundo, é fazer concordar o
coração com o que dizemos pelos lábios.
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