Ao CEO da Dreamia, Produtora dos
canais temáticos Panda e Panda Biggs, Pedro Mota Carmo
Caro Pedro,
(Desculpe o tratamento pelo
primeiro nome, não o tome como falta de respeito. Não é. Se um dia me responder
a este e-mail, terei todo o gosto em ser tratado apenas como Bernardo)
O meu nome é Bernardo do Valle de
Castro, tenho 34 anos, casado e pai de três filhos.
Muitas vezes vou a casa de amigos
e, para poder estar à conversa com eles, os filhos deles ficam a ver televisão.
É um alívio, um sossego!
Sempre que passo os olhos pelos
bonecos que estão a dar, no entanto, dá-me aquela sensação de nostalgia: “Os
desenhos animados que eu via em pequeno é que eram bons! Desenhos bem-feitos,
histórias calmas, giras.” Mas enfim, como não sou dado a nostalgias, não me
interesso em continuo à conversa.
Uma vez por outra, quando tenho
um bocadinho mais de paciência, fico a ver um bocado os desenhos animados e de
quase-nostálgico, fico preocupado: não só os desenhos animados não são nada
como os que eu via em pequeno (nem têm que ser, claro!), como são, a meu ver,
feios, com personagens parvas, ridículas, com histórias absurdas, com diálogos
maus, deseducativos, graves. Não percebo nada de “como é que se capta a atenção
dos espectadores infantis”, mas a sensação que dá ao observador comum é que
aquilo é realmente mau…e os miúdos comem com aquilo sem qualquer critério.
Naturalmente, em nossa casa, não
temos televisão. Os meus filhos vêm o que eu os deixo ver: o critério sou eu
quem lhes dá. Ainda são pequenos. Mais velhos, verão outras coisas, conversando
comigo e com a minha mulher, e quando já souberem pensar por eles, verão o que
quiserem, claro. Não temos televisão mas temos computador e internet e facebook
e alguns amigos com televisão atentos aos programas de dois dos seus canais:
Panda e Panda Biggs – o tal da diversão, que os filhos dos meus amigos vêem
muito.
Ultimamente tenho visto excertos
destes dois canais, que me têm chegado por facebook. Digo sem exagero que, quem
tenha bom senso, não pode ficar senão horrorizado com aquilo. Na verdade, não é
horrorizado com aquilo: é horrorizado com a hipótese de miúdos de 4, 5 e 6 anos
verem aquilo sem qualquer critério, só porque os pais, coitados, querem estar a
descansar. Pergunto-lhe, sem ser em tom de provocação (não é mesmo essa a minha
intenção. Não me conhece, mas garanto-lhe.), se já alguma vez viu aqueles
canais? É assustador.
Fui, então, ver quem era a
entidade responsável pelos canais Panda e percebi que era uma empresa chamada
Dreamia. A partir daí foi fácil: linked in e cheguei ao nome do CEO da empresa
– o seu, desde há 2 anos e 10 meses.
Não sei quais são as funções de
um CEO de uma empresa responsável por estes canais. Provavelmente não é sua a
função da escolha da programação, mas imagino que seja seu o papel de
supervisão geral, nem que seja pelas pessoas responsáveis pela escolha dos
conteúdos dos seus canais. Por isso é a si que dirijo esta carta, para lhe
expor a minha preocupação e algumas dúvidas que tenho.
Penso nas motivações que o
levaram a aceitar este cargo: teria uma ideia para os seus canais? Uma linha
orientadora? Um conteúdo que gostava de apresentar? Talvez fosse mais
empresarial, o seu propósito, e tenha querido apenas assegurar que os seus
canais seriam cada vez mais líderes de audiências, no matter what!
Duvido sinceramente que alguém no
seu lugar nunca se tenha posto a questão: “Qual a função da televisão? Dado o
incrível poder deste aparelho, interessará questionar-me sobre se a televisão
tem ou deve ter alguma função, já que é tão espectacularmente influenciadora?
Tudo se deve resumir, realmente, ao descartar absoluto da responsabilidade no
«só vê quem quer?»”. Pergunto-me se alguma vez o Pedro se terá feito alguma
destas perguntas. Sendo ou não sua a responsabilidade da escolha da programação,
o Pedro lidera a entidade responsável por ela. Que poderosa responsabilidade, a
sua!
Sei que também tem outros canais
– não apenas os vocacionados para crianças. E se, aí sim, me aprece mais claro
o “só vê quem quer, seja bom ou mau o conteúdo”, no que toca aos canais
infantis penso que a questão não pode deixar de se colocar. Apetecia-me
ilustrar algumas passagens dos desenhos animados que passam nos dois Pandas,
mas quero manter o nível desta carta e não o baixar ao nível perverso dos
desenhos animados infantis que infinitas crianças vêem pelo nosso país fora,
formando os critérios de futuros portuguesinhos, formação essa para a qual, em
parte, obviamente, o Pedro contribuiu.
Já lhe perguntei antes se o Pedro
alguma vez viu aqueles canais. Quero acreditar que sim. Por isso, pergunto-me
também se deixaria um filho seu ver aquilo. Espero sinceramente que não. É
realmente mau demais para ser verdade.
Tenho curiosidade para, um dia,
me sentar numa mesa das vossas, onde estão a decidir que programas comprar para
serem reproduzidos nos canais Panda: não consigo mesmo perceber qual o critério
que é usado para decisões dessas. Não que a televisão tenha que ter carácter
educativo para as crianças, e que esse seja o critério com base no qual compram
os vossos programas: só os vê quem quer, por isso podem pôr lá o lixo inteiro,
que, no limite, a responsabilidade é dos pais. Agora, o conteúdo daqueles
desenhos animados é propositadamente deseducativo! Parece que, nessa tal mesa redonda
onde essas coisas são decididas, os seus colegas assumem o direito de colocarem
o que querem como uma obrigação de subserviência ao lixo que vos chega.
Se, por hipótese meramente
académica, fizéssemos um teste, e colocássemos uma criança a ver exclusivamente
os canais Panda durante vários dias, nos seus tempos livres em casa, o
resultado seria certamente uma criança perturbada: os seus comportamentos
adaptar-se-iam aos dos seus heróis, aos dos seus exemplos, aos dos seus
pequenos ídolos animados.
Ups! Isto não é uma hipótese
meramente académica: esta é a realidade diária de milhares de crianças
portuguesas que estão presas ao lixo que vêem durante duas horas. (Desculpe a
linguagem, mas sou mais pela verdade que pelos eufemismos).
Se calhar, afinal, sou saudosista,
porque gostava muito mais dos desenhos animados que eu via quando era
pequenino, porque recebi com as suas personagens critérios que me acompanharam
à medida que cresci: a procura da beleza, da história bem contada, das
personagens exemplares com quem nos queremos identificar, do bem e do mal, do
certo e do errado, dos crescidos que estão lá para nos ajudar e são referência.
Enfim, tudo, absolutamente tudo o contrário do que hoje é possível ver nos
desenhos animados que os meus filhos não vêm mas que os filhos de pessoas de
quem gosto vêm.
Caro Pedro, não me tome a mal
este meu desabafo: é o de alguém naturalmente preocupado com o mundo no qual os
seus filhos crescerão, e onde tanta coisa é o contrário absoluto do que lhes
quero ensinar. Se faz favor, perceba que não podia ficar calado!
Com amizade,
Bernardo do Valle de Castro
Achei extremamente interessante o assunto exposto nesta carta, era uma carta que perfeitamente poderia ser minha se tivesse filhos, contudo mesmo não os tendo, questionei-me inúmeras vezes a respeito dos critérios de selecção de programas, concluindo que literalmente consumimos lixo. Lixo é a palavra. Mas não é lixo inofensivo, é daquele que faz nascer tumores em ratos de laboratório, porque serve a indústria do dinheiro e não a da educação, da cultura, da verdade, da integridade etc. Não sei se teria a ousadia de subtrair o aparelho de tv de casa, uma vez que não compro com frequência jornais (o papel está caro não passando por vezes do alarde das primeiras páginas), assim sendo vejo as notícias na tv. Creio que a programação televisiva é na sua grande maioria muito má, e por vezes passo canais onde apenas se encontram novelas e programas, sem conteúdo digno que insultam a minha inteligência e a minha dignidade enquanto pessoa, pelo que não vejo praticamente televisão. Eu, que sou a favor da livre escolha, da explicação em vez da proibição, compreendo que é necessária uma atitude radical no que respeita ao que pretendem fazer, usando da sua liberdade de tempo de antena nas nossas casas, com as “nossas” crianças. Ora, não há tempo de antena aceitável quando se propaga o inaceitável. Resumindo, dou-lhe os meus parabéns pela sua excelente exposição, pela posição critica numa sociedade cada vez mais acomodada … e claro, pela preocupação como pai, em educar bem os seus filhos.
ResponderEliminarDe acordo!!! Se acham que é necessário dar desenhos mais agressivos ponham no panda biggs.ja sabemos que é um canal para crianças adolescentes. Os canais andam tão agressivos como podem as crianças ser boas!!!!
ResponderEliminar👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼
ResponderEliminarMeu caro Bernardo, julgo que anda a haver uma grande confusão, o Canal Panda não tem quaisquer conteúdos que possam ferir suscetibilidades, a sua programação é bastante didática digo porque o acompanho com o meu filho diariamente e nunca la vi nada polémico. tem havido ultimamente bastante polémica com o Biggs por causa de uma série Shin Chan. Acho que devemos ter algum cuidado em não misturar os dois canais, pelo que sei o Biggs jão não tem sequer a denominação Panda no nome tendo já há alguns anos ficado só como Canal Biggs mesmo para separar bem as águas. Obrigado Paulo
ResponderEliminarAntes de nada, acho que me é obrigatório congratulá-lo pelo interesse do crescimento correto dos seus filhos, já é quase raro ver a maioria dos pais a sequer preocuparem-se com estas coisas que muitos devem considerar "mínimas" ou pouco importantes.
ResponderEliminarTenho 18 anos e posso dizer que a minha infância, no que toca à televisão, foi sempre muito ligada tanto ao Panda como ao Panda Biggs, e havia sempre um ou dois programas que de facto eram muitas das vezes o ponto alto do dia, até porque na altura nada de mais acontecia.
À medida que fiz a transição de um para o outro, que foi basicamente quando o Biggs foi anunciado, eu senti uma diferença massiva nos conteúdos de um canal para o outro; na minha cabeça, o Canal Panda já era para bebés.
Agora que acabei por "esquecer" estes canais da minha televisão e depois de ler o desabafo fiquei verdadeiramente com uma dúvida. O que é que, especificamente, torna os desenhos animados que o Canal Panda possuí em "lixo?" De novo, questiono honestamente porque, e até o autor o mencionou, está a tentar não especificar demasiado, mas acho que a este nível era necessário uma opinião mais... formulada, por falta de melhores termos.
Na minha altura, quando tinha idade (ou maturidade, se calhar é mais isso) para ver o Canal Panda, eu achei a maior parte dos desenhos animados bastante aptos para crianças e em geral promoviam tudo o que tinha mencionado. Devemos alvejar o bem e não o mal, histórias e guiões interessantes e tudo mais que já mencionou.
A minha questão fica aqui: O que é que o autor queria de facto saber? Os programas são demasiado x, y ou z? Adorava perceber o ponto de vista para eu, também, formular uma opinião mais bem dirigida e consistente.
Boa tarde, permitam me esclarecer uma questão que me parece importante.
ResponderEliminarExistem 2 canais distintos . O Panda pretende atingir um target dos 3/7 anos e o Biggs , que nada tem a ver com o Panda a não se pertencer á mesma empresa , pretende atingir um target dos 8 /14 14 anos.
A GFK , empresa que mede as audiencias em Portugal divide da seguinte quanto à faixa etária da seguinte forma - 4/1 anos - 15/24 ,25/34 , 35/44 , 45/54 , 55/64 e + 75 anos. Mas voltando ao assunto que gostaria de abordar, tudo isto começou e não no canal PANDA mas a propósito do canal BIGGS ( 8/14a nos ) porque a direcção de programas tomou a decisão de editar em 3 episódios, de uma serie japonesa, alguns segundos, de uma cena. 2 personagens femininas davam um beijo. Foi uma decisão , consciente e adequada. Ora acontece que há um grupo de fans, que ao que parece vão dos 18 aos 40 anos ?!e adoram esta serie, que entendeu que houve uma atitude homofóbica e daí, comentou em todo o lado e criticou veementemente, esta decisão, assumida pelo canal como uma decisão editorial. A partir daí têm passaram a ver tudo e a comentar tudo, extrapolando uma cena de um outro conteúdo Japonês, que esta classificado para 7/14 , mas tem talvez uma particularidade menos interessante, que é o facto do personagem principal, ser uma criança de 7 anos demasiado irreverente. Este mesmo grupo, alegadamente nunca se irá inibir de criticará a vossa educação, a vossa escolha religiosa, a vossa postura, mas se for necessário incentiva á confusão, e provoca instabilidade. incluindo misturando canais , que não se misturam. são distintos. Têm públicos alvos diferentes. As crianças, e eu tenho conhecimento em casa, adoram o canal PANDA e se puderem informem se com quem sabe e percebam que esta agitação faz parte de um processo de manipulação, de perturbação e aproveitamento. A vida , no dia a dia, e o mundo como está apresenta nos uma realidade dura, de guerra, de horror, de escândalos, de perda de identidade e de valores. Temos de estar preocupados com o que vemos, o que deixamos ver, o que partilhamos e de forma securizante proteger as nossas crianças. Sem duvida. Percebam e entendam e expliquem a força da manipulação Não retirando o facto de que há muita coisa a ter que ser revista em TV , e outras plataformas, mas esta surge de uma alegada irritação desnecessária e agressiva contra uma decisão tomada. Alegando que foi feita por motivos homofóbicos.
No meu caso, foi ao contrário, apenas soube do caso do beijo depois da cena que vi, e que creio ter gerado esta opinião: enfermeiras (adultas, portanto, e que deviam ser referências para os pequenos) a ver e mais do que ver um ... anus de um rapaz, personagem da história...
EliminarNada a ver com homofobia. Lixo, ou pior.