terça-feira, 19 de maio de 2020

Rugby, Terrorismo ou Martírio?

Um texto satírico sobre a placagem e consequente detenção infligidas pela GNR e seguranças privados a um fiel católico que ousou entrar no Santuário de Fátima com uma imagem de Nossa Senhora, no passado dia 12 de Maio.

Entrei na sala da televisão, vi, era de noite e sem iluminação, meia dúzia de homens envergando fatos pretos corriam atrás de um outro que levava alguma coisa nas mãos, um deles faz uma placagem derrubando o portador, os restantes mocharam em cima dele. Interroguei-me, pensando em voz alta, um jogo de rugby, à noite, sem iluminação com gente janota?!

Logo os meus confrades me esclareceram, com a sua caridade proverbial sempre pronta a ensinar os ignorantes, que não se tratava de um desafio desportivo, mas que, aqueles que eu tomava como desportistas eram afinal seguranças e GNRs no Santuário de Fátima que deste modo manso e amigável detiveram um terrorista que queria infectar Nossa Senhora, na Capelinha das Aparições, com o Sars coV 2. De facto, só ali em Fátima se concedia um tratamento tão benigno - sendo assim um exemplo para todo o mundo -, uma vez que em qualquer outro lugar seria imediatamente metralhado e abatido, a tão sacrílego e blasfemo terrorista.

Ora, como todos sabem, a minha cabeça está sempre atarantada e avariada, e a minha insanidade é pública. Daí que me tenha posto a magicar sobre a decisão de usar vários milhares de agentes de segurança - nunca imaginei que a Igreja tivesse tanto poder em Portugal! - para garantir a “distância social”, impedindo todo e qualquer acesso ao Santuário, com excepção dos eleitos. E, claro, como atrasado mental que sou fiquei extremamente perplexo e confuso com a enorme e visível “intimidade social” das forças de segurança com o terrorista. 

Aturdido com este turbilhão de impressões, assarapantado por ideias desencontradas, guerreando-se entre si, resolvi-me a fazer uma vigília pela noite dentro até que o sol despontasse. E foi nessa solidão, nesse deserto, que experimentei algo como se fora uma epifania, uma revelação: aqueles seguranças, pelo seu grande amor a Nossa Senhora de Fátima, deram a vida, ignorando a “distância social”, por Ela para que não fosse contagiada.

Padre Nuno Serras Pereira

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