Um
texto satírico sobre a placagem e consequente detenção infligidas pela GNR e
seguranças privados a um fiel católico que ousou entrar no Santuário de Fátima
com uma imagem de Nossa Senhora, no passado dia 12 de Maio.
Entrei na sala da televisão, vi, era de noite e sem iluminação, meia dúzia de homens envergando fatos pretos corriam atrás de um outro que levava alguma coisa nas mãos, um deles faz uma placagem derrubando o portador, os restantes mocharam em cima dele. Interroguei-me, pensando em voz alta, um jogo de rugby, à noite, sem iluminação com gente janota?!
Logo os meus confrades me
esclareceram, com a sua caridade proverbial sempre pronta a ensinar os
ignorantes, que não se tratava de um desafio desportivo, mas que, aqueles que
eu tomava como desportistas eram afinal seguranças e GNRs no Santuário de
Fátima que deste modo manso e amigável detiveram um terrorista que queria
infectar Nossa Senhora, na Capelinha das Aparições, com o Sars coV 2. De facto,
só ali em Fátima se concedia um tratamento tão benigno - sendo assim um exemplo
para todo o mundo -, uma vez que em qualquer outro lugar seria imediatamente
metralhado e abatido, a tão sacrílego e blasfemo terrorista.
Ora, como todos sabem, a
minha cabeça está sempre atarantada e avariada, e a minha insanidade é pública.
Daí que me tenha posto a magicar sobre a decisão de usar vários milhares de
agentes de segurança - nunca imaginei que a Igreja tivesse tanto poder em
Portugal! - para garantir a “distância social”, impedindo todo e qualquer
acesso ao Santuário, com excepção dos eleitos. E, claro, como atrasado mental
que sou fiquei extremamente perplexo e confuso com a enorme e visível “intimidade social” das forças de segurança com o terrorista.
Aturdido com este turbilhão
de impressões, assarapantado por ideias desencontradas, guerreando-se entre si,
resolvi-me a fazer uma vigília pela noite dentro até que o sol despontasse. E
foi nessa solidão, nesse deserto, que experimentei algo como se fora uma epifania,
uma revelação: aqueles seguranças, pelo seu grande amor a Nossa Senhora de
Fátima, deram a vida, ignorando a “distância social”, por Ela para que não
fosse contagiada.
Padre Nuno Serras Pereira
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