A Quaresma passou e chegou a Semana Santa. Naquele ano, o amor de Cristo inflamou o coração do santo Rei mais do que nunca. Às vezes, passava a noite inteira contemplando as dores que Nosso Senhor sofreu para nos redimir; dormia tão pouco que os seus nobres, preocupados, chegaram a dizer-lhe que deveria cuidar melhor de si mesmo e não pôr assim a sua saúde em perigo. Afinal, a sua última doença ainda era bastante recente.
O Rei deixou-os falar e, quando terminaram, respondeu com um sorriso: “Se eu não vigiasse, como é que vocês poderiam dormir com confiança?” E, assim, continuou as suas longas vigílias.
Chegou a Quinta-Feira da Última Ceia. Era costume, no palácio, dar diariamente as mesmas iguarias servidas na mesa real a todos os pobres que apareciam, e D. Fernando III, muitas vezes, servia a refeição pessoalmente e preparava os pratos. Isso foi feito com tanta alegria e graça que ele conquistou os seus corações. Mas naquela Quinta-Feira Santa, ao entrar na sala onde os pobres esperavam, chamou doze, um a um, os mais velhos e mais esfarrapados de todos, e fê-los sentar num comprido banco de madeira, que ficava junto à parede. Então, ordenou a um servo: “Gil, vá e traga-me uma tina com água morna e uma toalha, a mais limpa e branca que puder encontrar”.
O jovem foi buscar o que havia sido pedido, esforçando-se no caminho para tentar adivinhar o que o Rei queria. A mesma perplexidade foi vista nos rostos dos nobres. O que é que ele vai fazer? Fernando, entretanto, com um semblante alegre, conversava com os mendigos, que exageravam com grande detalhe os seus muitos sofrimentos.
Gil voltou com a tina e uma toalha branca e limpa. O Rei despiu o manto, o cinturão da espada e o sobretudo. Depois, levantou a sua túnica; enrolou as mangas até o cotovelo; pegou na toalha e colocou-a em volta da cintura. Então, pegou na bacia e ajoelhou-se diante do primeiro velho e começou a lavar, com as suas mãos reais, tão limpas e belas, aqueles pés repulsivos que talvez nunca tivessem visto outra água senão a das poças sujas da rua.
A acção do rei deixou a todos sem palavras e paralisados. Quando recuperaram, muitos deles tinham lágrimas de emoção nos olhos. Os pobres irromperam em bênçãos para o Rei mais humilde já conhecido pelo Cristianismo. Mas Fernando disse-lhes que o que realmente deveria surpreendê-los é que Deus lavou os nossos pecados com Seu Sangue. Isto disse com convicção do fundo do seu coração. Na verdade, ele mal parecia ciente do que estava a dizer ou de que estava no salão do palácio.
Naquele momento, ele esqueceu que era o Rei; o mundo inteiro havia desaparecido; apenas permaneceu um Cenáculo onde o Seu Senhor e Rei Jesus Cristo se ajoelhou diante de doze pobres pecadores e lavou os seus pés; ele parecia ouvir as palavras daquele mandamento de amor humilde: “Exemplum dedit vobis, ut et vos ita faciatis.”
in nobility.org
Que belíssimo exemplo de humildade para nós, miseráveis pecadores soberbos!
ResponderEliminarO que mais me impressiona nestes relatos também é a humildade e, sobretudo, a capacidade que estas pessoas tinham de interiorizar os Ensinamentos Divinos e de os pôr em prática, literalmente, sem respeitos humanos...
ResponderEliminarNa verdade, a Sociedade mudou MUITO: relembremos que não são Clérigos, nem pessoas do Povo!
E batendo na mesma tecla: "O que aconteceu, realmente, ao HOMEM?
Porque, apesar de haver tantas obras de caracter Social--e não duvido da sua generosidade-- a dimensão Espiritual quase não existe...E talvez por isso, os frutos sejam quase nulos.
Boa noite
ResponderEliminarDesculpe a ignorância, mas isto foi com o nosso D. Fernando? Este homem que seguiu assim Jesus Cristo foi um rei de Portugal?
muito obrigada pela história e pela resposta
Uma Santa Páscoa.