Comunicado Oficial
UNA VOCE PORTUGAL
1. A Una Voce Portugal acolheu
com tristeza, no passado dia 16 de julho, Festa de Nossa Senhora do Carmo, o Motu Proprio “Traditionis Custodes”, do
Santo Padre, o Papa Francisco. Subscrevemos integralmente o comunicado da Fœderatio Internationalis Una Voce,
Federação da qual a Una Voce Portugal
é associada.
2. A Una Voce Portugal tem desenvolvido um
esforço, em particular no último ano, de articulação com os Bispos portugueses
no sentido do estabelecimento formal de novos grupos de fiéis ou a consolidação
de outros já existentes, em diversas dioceses, para que possam ter acesso
pacífico e regular ao usus antiquior do Rito Romano, sempre num espírito
filial e de união. Este esforço baseia-se no interesse de muitos fiéis que já
haviam manifestado esse ensejo, e tem tido o propósito de formalizar o
estabelecimento de novos grupos, seja absolutamente novos, seja além de algum
queporventura já exista formalmente.
3. Neste sentido, não ficámos
surpreendidos com as novas normas que fazem recair sobre os Bispos
responsabilidades acrescidas. Com efeito, na prática é o que já estava a
acontecer em Portugal, uma vez que, nos últimos tempos, com alguma eventual excepção,
nunca houve verdadeira aplicação prática das normas que se encontravam vertidas
no Motu Proprio “Summorum Pontificum”, do
Papa Bento XVI, que eram particularmente respeitadoras tanto da capacidade de
discernimento in loco dos párocos como dos direitos dos fiéis, tal como
se encontram recebidos no Código de Direito Canónico vigente, nomeadamente no
cânone 214.
4. Por este motivo, lamentamos que o
ensejo pela aplicação estrita do mais recente Motu Proprio não se houvesse já verificado aquando e após a publicação
do Motu Proprio “Summorum Pontificum”,
desatendido e desobedecido de forma continuada e ostensiva ao longo dos últimos
14 anos, em tantas paróquias e dioceses e, em Portugal, na maioria delas,
sempre que a solicitação era legitimamente apresentada pelos leigos ou por quem
os representasse, mesmo que todos os requisitos da lei papal e universal se
encontrassem preenchidos.
5. Rejeitamos terminantemente a acusação relativa a uma eventual rejeição
ou negação do Concílio Vaticano II e seus documentos. Recordamos, aliás, que a Una Voce é uma associação de fiéis
leigos que, vivendo no seu tempo, mantêmsempre o propósito de estar unidos à
Santa Madre Igreja e ao seu Magistério. Neste sentido, importa também recordar
o que diz a constituição conciliar “Sacrosanctum
Concilium” sobre a sagrada liturgia, por exemplo, em relação ao uso do
latim e do Gregoriano nos sacros ritos.
6. Não existe unidade sem verdade, e, na
Igreja, a unidade só pode assentar nela, segundo a Fé católica integral e o
respeito pela tradição. Fora da verdade, não existe obediência capaz de
vincular. A única possibilidade que resta é a da resistência, defendendo a
verdade através da acção litúrgica, e não abdicando de uma liturgia que a
tradição confirmou e em nada faz decrescer a completa e reverente expressão e
transmissão da verdade da fé. Da mesma
forma que Roma falou duas vezes, nada impede que, no futuro, fale uma terceira.
A Missa tradicional - cuja antiguidade imemorial está mais que provada -
permanecerá,nunc et semper!Foi essa mesma antiguidade que São Pio V
conseguiu compreender, detectando-lhe a catolicidade da tradição em que
assentava, e por isso respeitando até ritos mais recentes, desde que perdurassem
há mais de 200 anos. Ao contrário de nós, Deus não envelhece e não abandona nem
a sua obra, nem quem Lhe presta preito de louvor em “odor de suavidade”,
segundo a tradição da Igreja, sem nada que se lhe aponte de desrespeito do
sagrado, da fé e do reverente culto devido a Deus.
7. Consideramos alarmante e ficamos
apreensivos com a atitude de culpabilização e descrédito movida contra os fiéis
católicos que amam a liturgia antiga, alegando que forçaram o Papa a tomar
estas medidas. Sendo a união o objectivo, é estranho que as medidas aplicadas
sejam de exclusão e de fomento de divisão.
8. A Una Voce Portugal não deixa
de se regozijar com muitas notícias que tem recebido, de todo o mundo, sobre a
continuação da celebração da Missa tradicional em paróquias, apostolados e
locais de culto de inúmeras dioceses e sobre tantos Bispos que mostraram uma
atitude de verdadeira unidade, acolhendo paternalmente os fiéis na sua
diversidade, por contraste a tantos que, noutras dioceses, se vêem relegados a
uma inflexível e irracionalmarginalização. Da mesma forma, alegramo-nos com as
notícias do aumento do número de fiéis na assistência a essas mesmas Missas.
Não deixamos de lamentar, é claro, as notícias também chegadas sobre proibições
de Missas em algumas partes do mundo e as consequências que isso trará a tantas
almas.
9. A Una Voce Portugal não esquece todos os sacerdotes, seminaristas e
consagrados que dependem dos institutos e sociedades tradicionais e que agora
podem estar apreensivos sobre o seu futuro, ao verem comprometido o futuro de
tantas iniciativas em torno da Missa segundo o usus antiquior, apesar de
as mesmas estarem claramente a contribuir grandemente para a “nova
evangelização”, a apreensão de quantos têm no coração o zelo pelas almas e que
vêem tristemente cerceado um instrumento de verdade, louvor, fiel e profunda
espiritualidade e beleza que tão grandes resultados tem trazido para as almas.
Referimo-nosnomeadamente à Fraternidade Sacerdotal de São Pedro, ao Instituto
Cristo-Rei Sumo Sacerdote e ao Instituto do Bom Pastor, os quais contam já com
tantos seminaristas portugueses: a todos
eles manifestamos e sublinhamos publicamente todo o nosso apoio e a garantia de
que poderão sempre contar com aUna Voce Portugal.
10. Não esquecemos também todos os
sacerdotes e seminaristas diocesanos que celebram, estão a aprender ou desejam
aprender a celebrar no usus antiquior;
animamos a todos a perseverarem nos seus esforços e no apostolado que fazem,
que será sempre frutífero. Estamos sempre disponíveis para ajudar em tudo o que
pudermos ser úteis.
11. A Una Voce Portugal compromete-se, por
último, a ser incansável na defesa e promoção da Tradição da Santa Igreja
Católica e dos Seus ritos e liturgia em Portugal e da liberdade que assiste a
todos os fiéis de se unirem para viver deste modo a sua Fé, apoiando as
paróquias e grupos que já existem, bem como todos os demais que se queiram
constituir, e assim prosseguindo aqueles que são os objectivos da Federação Internacional Una Voce desde
a sua constituição formal, em 1967.
“Combati o
bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.”
UNA VOCE PORTUGAL
www.unavoce.pt
Cfr.
ponto 36. § 1.” Deve conservar-se o uso do latim nos ritos latinos, salvo o
direito particular” e ponto 116 “A Igreja reconhece como canto próprio da
liturgia romana o canto gregoriano; terá este, por isso, na acção litúrgica, em
igualdade de circunstâncias, o primeiro lugar”.