A declaração de Paris é um documento escrito por um grupo de verdadeiros intelectuais - entre os quais se incluem, e.g., Roger Scruton e Robert Spaemann - que se encontrou na capital francesa. Estes juntaram-se por causa da sua preocupação comum pelo futuro da Europa, que caminha para o abismo.
A declaração é um manifesto de adesão à "verdadeira Europa". O resultado final recebe o nome de "Uma Europa na qual podemos acreditar" ou Declaração de Paris. Uma chamada de atenção para um entendimento e reconhecimento renovados do verdadeiro génio da Europa. Um convite e um apelo aos povos da Europa para recuperar o que de melhor a nossa tradição tem para oferecer e para construir em conjunto um nobre e esperançoso futuro.
Apresentamos aqui alguns excertos desse documento:
Uma falsa Europa ameaça-nos
A Europa, em toda a sua riqueza e grandeza, está ameaçada por uma falsa visão de si própria. Esta falsa Europa imagina-se ser o apogeu da nossa civilização, mas ela, na verdade, vai confiscar-nos as nossas pátrias. Essa visão errada remete para exageros e distorções de virtudes que são autenticamente europeias, ao mesmo tempo que demonstra cegueira quanto aos seus próprios vícios.
Ao caucionar uma leitura enviesada e caricatural da nossa História, esta falsa Europa transporta consigo, intrinsecamente, infundados preconceitos quanto ao nosso passado. Os seus porta-estandarte são órfãos voluntários, que concebem a sua condição – de apátrida – como uma nobre proeza. Sob este ponto de vista, essa falsa Europa incensa-se a si mesma por ser a precursora de uma comunidade universal, que não é nem comunidade, nem universal.
As raízes cristãs nutrem a Europa
A verdadeira Europa afirma a igual dignidade de cada indivíduo, qualquer que seja o seu sexo, o seu estatuto ou a sua raça. Tal advém igualmente das nossas raízes cristãs. As nossas serenas virtudes estão inegavelmente vinculadas à nossa herança cristã: imparcialidade, compaixão, misericórdia, reconciliação, luta pela manutenção da paz, caridade.
O cristianismo revolucionou a relação entre o homem e a mulher, valorizando o amor e a fidelidade recíprocos, de uma forma jamais vista até então. Os laços do casamento permitem ao homem e à mulher florescerem, em comunhão. A maior parte dos sacrifícios que fazemos são-no em benefício do nosso cônjuge e dos nossos filhos. Este espírito de abnegação constitui igualmente uma contribuição cristã para a Europa que amamos.
O multiculturalismo não funciona
Esta falsa Europa congratula-se pelo seu empenho, sem precedente, em favor da causa da igualdade. Afirma promover a não discriminação e a inclusão de todas as raças, religiões e identidades. Neste domínio, houve um verdadeiro progresso, mas um utópico afastamento da realidade acabou por se impor. Ao longo da geração anterior, a Europa perseguiu um grande projecto multiculturalista.
Exigir ou sequer encorajar a assimilação de muçulmanos, recém-chegados, aos nossos usos e costumes, para não falar da nossa religião, foi considerado como uma enorme injustiça. O nosso compromisso com a igualdade, dizem-nos, exige a renúncia a qualquer pretensão de que a nossa cultura seja tida como superior. Paradoxalmente, o empreendimento multiculturalista europeu, que nega as raízes cristãs da Europa, utiliza abusivamente o ideal cristão de caridade universal, de uma forma exagerada e insustentável. Exige dos europeus um grau de abnegação digno da santidade.
Denunciamos a colonização das nossas pátrias e o desaparecimento da nossa cultura como a maior concretização do século XXI, um acto colectivo de auto-sacrifício, em favor do advento de uma suposta nova comunidade global de paz e prosperidade."
A educação necessita duma reforma
Cremos que a Europa tem uma história e uma cultura dignas de serem conservadas e mantidas. As nossas universidades, no entanto, têm amiúde traído a nossa herança cultural. Devemos reformar os programas educativos para encorajar a transmissão da nossa cultura comum em vez de doutrinar os mais jovens para uma cultura de repúdio. Os professores e os tutores a todos os níveis têm um dever para com a memória histórica. Deveriam sentir-se orgulhosos da sua função enquanto ponte entre as gerações do passado e as gerações vindouras.
Devemos renovar a alta-cultura da Europa, definindo o sublime e o belo como padrão, rejeitando a degeneração das artes numa forma de propaganda política. Isto requerer o surgimento de uma nova geração de mecenas. As empresas e as burocracias têm-se mostrado pobres patronos das artes.
O casamento e as famílias são essenciais
O casamento é o fundamento da sociedade civil e constitui a base da harmonia entre os homens e as mulheres. Trata-se de um vínculo íntimo organizado em torno da manutenção de um lar durável e da criação dos filhos. Afirmamos que os nossos papéis mais fundamentais em sociedade enquanto seres humanos são os de pais e de mães.
O casamento e os filhos estão intrinsecamente ligados a toda a concepção e desenvolvimento pleno do ser humano. Os filhos exigem o sacrifício daqueles que os fazem vir ao mundo. Este sacrifício é nobre e deve ser honrado. Apoiamos políticas sociais prudentes que encorajam e reforçam o casamento, os nascimentos e a educação infantil. Uma sociedade que fracassa no acolhimento dos seus próprios filhos não tem futuro.
Devemos assumir as nossas responsabilidades
Neste momento, pedimos que todos os europeus se unam a nós, na rejeição da utópica fantasia de um mundo multicultural sem fronteiras. Amamos, na justa medida, as nossas pátrias e procuramos transmitir aos nossos filhos todas as coisas nobres que recebemos como património nosso.
Enquanto europeus, partilhamos também uma herança comum, uma herança que nos pede que vivamos em paz como uma Europa das nações. Renovemos a soberania nacional, recuperemos a dignidade de uma responsabilidade política partilhada para o bem e o futuro da Europa.