quarta-feira, 11 de junho de 2025

Começam hoje as Têmporas do Pentecostes

As Têmporas são celebrações litúrgicas tradicionais da Igreja Católica, originalmente instituídas para santificar o ano civil e agradecer a Deus pelos frutos da terra. Elas ocorrem quatro vezes ao ano, marcando as mudanças das estações, e são conhecidas como “Quatro Têmporas”. As Têmporas de Pentecostes — também chamadas de Têmporas de Verão no hemisfério norte — possuem características muito singulares por acontecerem dentro da Oitava de Pentecostes, também conhecida como Oitava do Espírito Santo.

As Têmporas nasceram em Roma e, desde a Antiguidade, eram celebradas na Quarta-Feira, Sexta-Feira e Sábado. Nos primeiros séculos, esses dias não eram vistos prioritariamente como penitenciais, mas como uma preparação espiritual para o longo percurso até o fim do ano eclesiástico. O Papa São Leão Magno, por exemplo, via o jejum dessas Têmporas como uma preparação útil e necessária, mais do que uma simples expiação de pecados.

Com o tempo, especialmente a partir da Idade Média, as Têmporas de Pentecostes passaram a ser marcadas por práticas penitenciais, como jejum e abstinência de carne, além de serem tradicionalmente ligadas à ordenação de novos sacerdotes. A liturgia desses dias, no entanto, apresenta uma situação única: fazia-se penitência durante uma grande festa, pois a Oitava de Pentecostes é um tempo de júbilo pelo dom do Espírito Santo, com uso de paramentos vermelhos e canto do Glória, algo incomum para períodos penitenciais.

O Sábado das Têmporas era um dia normalmente utilizado para conferir as quatro ordens menores e três ordens maiores aos seminaristas.


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sábado, 7 de junho de 2025

Oração ao Espírito Santo escrita pelo Cardeal Newman

Querido Senhor,
Ajudai-me a espalhar a Vossa fragrância onde quer que eu vá.
Inundai a minha alma com o Vosso Espírito e com a Vossa vida.
Penetrai e possuí todo o meu ser, tão completamente, que toda a minha alma seja uma irradiação de Vós.

Brilhai através do meu ser e mostrai-Vos de tal forma em mim, que cada alma que eu encontre possa sentir a Vossa presença.
Que elas ergam o olhar e não me vejam, mas apenas a Vós Senhor.
Ficai comigo para que eu comece a brilhar como Vós e brilhe de tal forma que seja a luz dos outros.

A luz, ó Senhor, virá toda de Vós, nenhuma será minha, sereis Vós a brilhar diante dos outros através de mim.
Permiti pois que Vos louve da forma que Vós mais amais, brilhando sobre aqueles que Vos rodeiam.
Deixai que Vos pregue sem pregar, não por palavras mas pelo meu exemplo, pela força do entendimento, pela influência simpática daquilo que faço, como prova do amor que o meu coração sente por Vós. Ámen

São Henry Newman


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quinta-feira, 5 de junho de 2025

Médico deixou de fazer abortos quando S. Tomás de Aquino lhe apareceu em sonhos

Stojan Adasevic é actualmente o principal líder pró-vida na Sérvia, mas durante 26 anos foi o ginecologista abortista mais prestigiado na Belgrado comunista. Estima-se que tenha feito no mínimo 48 mil abortos. Chegou a fazer 35 abortos por dia.

Os livros de medicina do regime comunista diziam que o aborto era simplesmente remover um pedaço de tecido. Os ultra-sons, que permitem ver o feto, apareceram nos anos 80, mas não mudaram a sua opinião. No entanto, uma noite ele começou a ter pesadelos. Sonhou com um belo campo cheio de crianças e jovens, dos 4 aos 24 anos, brincando e rindo, mas que fugiam dele aterrorizados. Um homem vestido com um hábito preto e branco olhava-o atentamente, em silêncio.

O sonho repetiu-se várias vezes e em cada noite o médico acordava com suores frios. Uma noite, ele perguntou ao homem de preto e branco como se chamava. "O meu nome é Tomás de Aquino, " disse o homem no sonho. Adasevic, formado nas escolas comunistas, nunca tinha ouvido falar do grande santo dominicano, e não reconheceu o nome. "Por que não me perguntas quem são estas crianças? Mataste-as com os teus abortos, disse-lhe Tomás.

Adasevic acordou, impressionado, e decidiu não fazer mais abortos. Mas naquele dia veio ao seu hospital um primo com a sua namorada, grávida de quatro meses, para fazer o seu 9º aborto, o que é bastante frequente nos países do bloco soviético. O médico concordou. Em vez de remover o feto membro a membro, decidiu esmaga-lo e removê-lo como uma massa. No entanto, o coração do bebê saiu ainda a bater. Adasevic percebeu então que tinha acabado de matar um ser humano.

Ele informou o hospital que não faria mais abortos. Nenhum médico na Jugoslávia se tinha recusado a abortar. Eles cortaram o seu salário pela metade, despediram a sua filha, não permitiram que o seu filho entrasse na faculdade. Será que o Estado socialista não tinha pago seus estudos para servir o povo? Não estava a sabotar o Estado? Após dois anos nesta luta, estava prestes a desistir, mas sonhou novamente com Tomás de Aquino. "És um bom amigo, persevera", disse o homem de preto e branco.

Adasevic comprometeu-se com grupos pró-vida. Conseguiu que a televisão jugoslava passasse duas vezes o documentário “O Grito Silencioso” (The Silent Scream), feito por outro famoso ex- abortista, Dr. Bernard Nathanson. No início dos anos 90, o movimento pró-vida conseguiu ainda que fosse aprovado no parlamento um decreto de proteção dos não-nascidos, mas o presidente Milosevic recusou-se a assiná-lo. Depois, Milosevic conduziu à guerra civil os mesmos jugoslavos que tinham abortado os seus filhos aos milhares. O Dr. Adasevic publicou o seu testemunho em revistas e jornais na Europa Oriental, como a revista russa " Liubitie Drug Druga". 

in
  La Razón


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Padre James Martin censurado

O Padre James Martin, um jesuíta promotor de comportamentos sexuais desviados e desviantes, deixou de ser orador na cerimónia de final de ano da Holy Family University.

A TFP Action conseguiu recolher mais de 11 mil assinaturas contra a presença do Padre Martin na cerimónia; e tinha planeado rezar-se o terço durante a mesma.

Graças à resistência dos leigos, as ovelhas ficaram a salvo de mais um lobo que as quer enganar. Resta saber até quando a Santa Sé vai permitir o ministério de sacerdotes que defendem publicamente ideologias contra a doutrina Católica.


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quarta-feira, 4 de junho de 2025

Santa Teresa de Ávila e a Santa Missa

Uma vez, Santa Teresa de Ávila estava abismada com a bondade de Deus e perguntou-Lhe: "Como Vos posso agradecer?" O Senhor respondeu: "Ouve uma Missa."


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terça-feira, 3 de junho de 2025

São Carlos Luanga e companheiros, mártires da santa pureza

Hoje é dia de São Carlos Luanga e companheiros, os mártires do Uganda. Eram pagens na corte do Reino do Buganda, no séc. XIX. Como fosse o Rei atraído pela depravação, convidou-os a ter com ele comportamentos contra a natureza humana.

Os mártires, sendo católicos, imediatamente se recusaram e disseram que não iriam cometer esses pecados (Nota: segundo a doutrina católica, os pecados sexuais contra a natureza clamam aos Céus por vingança). Enfurecido pela recusa, o soberano mandou-os matar com a maior crueldade possível.

Nestes tempo de confusão, especialmente neste mês de Junho, peçamos a intercessão dos mártires do Uganda para que a nossa sociedade volte a perceber o que é um homem e uma mulher: feitos um para o outro para que da união indissolúvel entre os dois sejam gerados e educados - com muito amor - os filhos que Deus quiser enviar.


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segunda-feira, 2 de junho de 2025

13 novos diáconos para a Fraternidade Sacerdotal de São Pedro









Em Lindberg, na Alemanha, Mons. Wolfgang Haas ordenou diáconos para a FSSP na Europa: três franceses, dois portugueses, dois polacos, um austríaco, um croata, um húngaro, um italiano, um sueco e um checo.

Rezemos por eles, especialmente pelo Duarte e o Miguel.

 



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Junho, mês do Sagrado Coração de Jesus




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domingo, 1 de junho de 2025

Círio Pascal é apagado na Missa da Ascensão de Nosso Senhor, após ser lido o evangelho

Depois de 40 dias aceso, desde a vigília Pascal, o círio é apagado, depois da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo aos Céus.

Estamos na recta final do tempo Pascal, que terminará daqui a uma semana, no Domingo de Pentecostes.

Vídeo: Dr. Peter Kwasniewski


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Primeiro Sermão na Ascensão do Senhor - São Leão Magno

1. Cristo ressuscitado aparece e a dúvida dos discípulos confirma a fé 

Hoje, caríssimos, completam-se os quarenta dias santificados, dispostos segundo um plano sagrado e empregados para nossa instrução, a contar da bem-aventurada e gloriosa ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, quando o poder divino reergueu no terceiro dia o verdadeiro templo de Deus, destruído pela impiedade dos judeus. O Senhor prolonga a sua presença corporal durante este espaço de tempo, para munir das provas necessárias a fé na sua ressurreição. 

A morte de Cristo turbara muito os corações dos discípulos; certo torpor de desconfiança havia-se insinuado nos espíritos opressos de tristeza, por causa do suplício da cruz, do último suspiro e do sepultamento do corpo exânime. Por isso, quando as santas mulheres, como narra a história evangélica, anunciaram que a pedra havia sido rolada do túmulo, o sepulcro estava vazio e os anjos tinham testemunhado que o Senhor vivia, as suas palavras pareceram aos apóstolos e aos outros discípulos uma espécie de delírio. 

O Espírito de verdade não teria permitido que tal hesitação e vacilação proveniente da fraqueza humana penetrassem na mente dos seus pregadores, se aquela trépida solicitude, a dúvida e a curiosidade, não lançassem os fundamentos da nossa fé. Por meio dos apóstolos eram socorridas as nossas perturbações e os nossos perigos. Por eles aprendíamos como vencer as calúnias dos ímpios e os argumentos da sabedoria terrena. Vendo, instruíram-nos; ouvindo, ensinaram-nos; tocando, confirmaram-nos. Demos graças pela economia divina e pela necessária lentidão dos nossos santos pais! Duvidaram para que não duvidássemos nós. 

2. Importantes acções de Cristo nesses dias 

Não passaram inutilmente, caríssimos, os dias decorridos entre a ressurreição e a ascensão do Senhor, mas neles se corroboram grandes sacramentos, foram revelados profundos mistérios. Neles eliminou-se o medo da morte cruel e manifestou-se a imortalidade não apenas da alma, mas também a do corpo. Neles, pelo sopro do Senhor, infundiu-se o Espírito Santo nos apóstolos todos; ao bem-aventurado apóstolo Pedro, com primazia, foi entregue após as chaves do reino, o cuidado das ovelhas do Senhor. 

Nesses dias, o Senhor juntou-se como terceiro companheiro aos dois discípulos em viagem (Lc 24,15) e para expelir as trevas da nossa dúvida, censura a lentidão destes temerosos e hesitantes. Os seus corações iluminados concebem a chama da fé; de tépidos tornam-se ardentes ao explicar-lhes o Senhor as Escrituras. Na fracção do pão abrem-se os olhos dos convivas. Muito mais felizes esses olhos que se abrem e vêem manifesta a glória da natureza do Senhor do que os dois primeiros membros do género humano que verificaram a confusão causada pela própria prevaricação. 

3. As chagas confirmam os corações vacilantes dos discípulos 

Entre esses e outros milagres, quando os discípulos estavam agitados por trepidantes cogitações, o Senhor apareceu no meio deles, dizendo-lhes: “Paz a vós!” (Lc 24,36; Jo 20,26). Para dissipar as opiniões que eles revolviam no coração (julgavam ver um espírito e não um corpo), repreendeu os juízos discordantes da verdade, apresentou aos olhos dos que duvidavam as cicatrizes que lhe restavam da crucificação nas mãos e nos pés, e convidou-os a tocá-las cuidadosamente. 

No intuito de se curarem as feridas dos corações descrentes, foram conservados os sinais dos cravos e da lança, de modo que acreditassem, não por crença dúbia, mas com firme conhecimento, que haveria de partilhar o trono de Deus Pai aquela natureza que havia jazido no sepulcro. 

4. A ascensão enche de alegria aqueles que a morte fizera tímidos e a ressurreição deixara na dúvida 

Durante o tempo, caríssimos, decorrido entre a ressurreição e a ascensão do Senhor, a Providência de Deus estabeleceu, ensinou e insinuou diante dos olhos e dos corações dos seus, que reconhecessem ter o Senhor Jesus Cristo verdadeiramente ressuscitado, como verdadeiramente havia nascido, sofrido e morrido. Os bem-aventurados apóstolos e todos os discípulos, atemorizados com a morte na cruz e de fé oscilante na ressurreição, de tal modo se fortaleceram com a evidência da verdade que a subida do Senhor aos céus não somente não os entristeceu, mas ao contrário encheu-os de grande alegria (Lc 24,52). 

E, em verdade, grande e inefável motivo de júbilo era elevar-se, na presença duma santa multidão, uma natureza humana acima da dignidade de todas as criaturas celestes, ultrapassar as ordens angélicas e subir mais alto que os arcanjos, e nem assim atingir o termo da sua ascensão senão quando, assentada junto do eterno Pai, fosse associada ao trono de glória daquele a cuja natureza estava unida no Filho. A ascensão de Cristo, portanto, é nossa exaltação e para lá onde precedeu a glória da Cabeça, é atraída também a esperança do Corpo. Exultemos, caríssimos, repletos de gáudio e alegremo-nos com piedosa acção de graças! 

Hoje não só fomos firmados como possuidores do paraíso, mas até penetramos com Cristo no mais alto dos céus, tendo obtido, pela inefável graça de Cristo, muito mais do que perdêramos por inveja do diabo. Aqueles que o virulento inimigo expulsou da felicidade da habitação primitiva, o Filho de Deus, tendo-os incorporado a si, colocou-os à direita do Pai. Ele, que vive e reina com o Pai na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.


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sábado, 31 de maio de 2025

Salve Rainha foi escrita por um monge beneditino cego e quase paralítico

Sempre que rezamos o Terço, recordamos, de algum modo, o Beato Herman de Reichenau, autor da oração 'Salve Rainha'. 

Herman nasceu a 18 de Julho de 1013, filho do conde de Altshausen. Nasceu deformado, com palato fendido e sérios problemas nas costas, talvez espinha bífida, ou esclerose lateral amiotrófica ou atrofia muscular espinal. Seja qual fosse o problema, falava e andava com enorme dificuldades. Ainda criança, caiu doente de poliomielite, mas milagrosamente sobreviveu. Seguindo as práticas da época, quando completou sete anos, os seus pais colocaram-no no mosteiro beneditino de Reichenau, que fica isolado numa ilha do Lago Constança, no Sul da Alemanha. Foi onde Herman passou o resto da sua vida.

Ali começou a estudar teologia e o mundo. Aos vinte anos tornou-se monge. Como não podia ajudar em nenhuma tarefa, passava os dias a rezar e estudar. Dele temos obras sobre geometria, aritmética, astronomia e teoria musical. Como historiador, compilou e organizou relatos, que até então estavam dispersos, sobre os primeiros séculos da Igreja, incluindo a vida de Jesus Cristo e dos seus discípulos, e também um martiriológio dos cristãos sob domínio romano. Era fluente em várias línguas, incluindo o árabe, grego e latim; escreveu poesias e construía instrumentos musicais e astronómicos, em especial o astrolábio, um enorme avanço científico na época que viria a ser fundamental nas grandes navegações. Como compositor, temos ainda hoje os ofícios a São Gregório Magno, Santa Afra e São Wolfgang. 

Nos últimos anos de vida ficou cego. Foi nesta época que compôs o Salve Regina, um canto gregoriano para ser utilizado na Liturgia das Horas e Festas Marianas. E

Faleceu no dia 24 de Setembro de 1054, aos 41 anos, de pleurite. A morte foi narrada assim pelo seu discípulo Bertoldo: Quando finalmente Deus decidiu livrar a sua alma da tediosa prisão do mundo, Herman foi atacado pela pleurisia, tendo sofrido terrível e continuadamente durante os seus últimos dez dias. Numa manhã, após a Santa Missa, perguntei-lhe se se sentia melhor. Ele respondeu que havia pensado muito sobre o bem e o mal, e todas as coisas que ainda pretendia escrever, mas que o mundo futuro, a vida eterna era muito mais desejável, e que já era hora de partir. E assim foi. 

O seu corpo foi enterrado no túmulo da sua família, que se perdeu com o tempo. Algumas das suas relíquias encontram-se em Zurique. Herman foi beatificado em 1863 pelo Papa Pio IX.

in 'Tesouros da Igreja Católica'


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Verdadeira festa no Céu: Nossa Senhora coroada Rainha

"Por fim, a Assunção chega ao seu auge: a coroação de Nossa Senhora como Rainha dos Anjos e dos Santos, do Céu e da Terra, pela Santíssima Trindade. Houve então uma verdadeira festa no Céu. Ela foi coroada por ser Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filha do Padre Eterno e Esposa do Divino Espírito Santo!"[1]

Afirma S. Luís Maria Grignion de Montfort que, "no Céu, Maria dá ordens aos Anjos e aos bem-aventurados. Para recompensar a sua profunda humildade, Deus Lhe deu o poder e a missão de povoar de Santos os tronos vazios, que os anjos apóstatas abandonaram e perderam por orgulho. E a vontade do Altíssimo, que exalta os humildes (Lc. I, 52), é que o Céu, a Terra e o Inferno se curvem, de bom ou mau grado, às ordens da humilde Maria".

Quando o Filho de Deus entreabriu o Céu para descer até nós, foi Maria que Lhe serviu de porta. Maria é a porta do Céu, porque todos os que nele entram, fazem-no seguindo a Jesus, por meio de Maria. A Terra, que o pecado de Adão havia separado do Céu, reconciliou-se com este pela intercessão de Maria, que nos deu Jesus. É por essa porta que todas as nossas orações chegam até Deus, e é por meio d'Ela que obtemos as graças necessárias para a nossa salvação. Maria humilde: escrava de Deus e serva dos homens.

Toda a devoção a Maria termina em Jesus, tal como o rio que se lança ao mar. Nossa Senhora é aquela que do Céu reina sobre as almas cristãs, a fim de que haja a salvação: “É impossível que se perca quem se dirige com confiança a Maria e a quem Ela acolher” ( diz-nos Santo Anselmo).

"Maria é a rainha do Céu e da terra, por graça, como Cristo é Rei por natureza e por conquista" (diz S. Luís Maria Grignion de Montfort). O reinado de Maria semelhante e em perfeita coincidência com o Reino de Jesus Cristo não é temporal nem terreno, mas é um reino eterno e universal. "[E]sta realeza da Mãe de Deus se faz concreta no amor e no serviço a seus filhos, em seu constante velar pelas pessoas e suas necessidades." - diz o Papa Bento XVI.

"(...) Maria é rainha, por ter dado a vida a um Filho, que no próprio instante da sua concepção, mesmo como homem, era rei e senhor de todas as coisas, pela união hipostática da natureza humana com o Verbo. Por isso muito bem escreveu S. João Damasceno: "Tornou-se verdadeiramente senhora de toda a criação, no momento em que se tornou Mãe do Criador"."[3]

"Dessas premissas se pode argumentar: Se Maria, na obra da salvação espiritual, foi associada por vontade de Deus a Jesus Cristo, princípio de salvação, e o foi quase como Eva foi associada a Adão, princípio de morte, podendo-se afirmar que a nossa redenção se realizou segundo uma certa "recapitulação", pela qual o género humano, sujeito à morte por causa duma virgem, salva-se também por meio duma virgem; se, além disso, pode-se dizer igualmente que esta gloriosíssima Senhora foi escolhida para Mãe de Cristo "para lhe ser associada na redenção do género humano", e se realmente "foi ela que – isenta de qualquer culpa pessoal ou hereditária, e sempre estreitamente unida a seu Filho – o ofereceu no Gólgota ao eterno Pai, sacrificando juntamente, qual nova Eva, os direitos e o amor de mãe em benefício de toda a posteridade de Adão, manchada pela sua desventurada queda" poder-se-á legitimamente concluir que, assim como Cristo, o novo Adão, deve-se chamar rei não só porque é Filho de Deus mas também porque é nosso redentor, assim, segundo certa analogia, pode-se afirmar também que a bem-aventurada virgem Maria é rainha, não só porque é Mãe de Deus mas ainda porque, como nova Eva, foi associada ao novo Adão."[4]

"Procurem pois todos, e agora com mais confiança, aproximar-se do trono da misericórdia e da graça, para pedir à nossa Rainha e Mãe socorro na adversidade, luz nas trevas, conforto na dor e no pranto; e, o que é mais, esforcem-se por se libertar da escravidão do pecado, e prestem ao ceptro régio de tão poderosa Mãe a homenagem duradoura da devoção filial. Frequentem as multidões de fiéis os seus templos e celebrem-lhe as festas; ande nas mãos de todos a piedosa coroa do terço; e reúna a recitação dele – nas igrejas, nas casas, nos hospitais e nas prisões – ora pequenos grupos, ora grandes assembleias, para cantarem as glórias de Maria."[5] (No entanto,) "[n]em presuma alguém ser filho de Maria, digno de se acolher à sua poderosíssima protecção, se a exemplo dela não é justo, manso e casto, e não mostra verdadeira fraternidade, evitando ferir e prejudicar, e procurando socorrer e dar ânimo."[6]

"Em algumas regiões da terra, não falta quem seja injustamente perseguido por causa do nome cristão e se veja privado dos direitos divinos e humanos da liberdade. Para afastar tais males, nada conseguiram até hoje justificados pedidos e reiterados protestos. A esses filhos inocentes e atormentados volva os seus olhos de misericórdia, cuja luz dissipa nuvens e serena tempestades, a poderosa Senhora dos acontecimentos e dos tempos, que sabe vencer a maldade com o seu pé virginal. Conceda-lhes poderem em breve gozar a devida liberdade e cumprir publicamente os deveres religiosos. E, servindo a causa do Evangelho – com o seu esforço concorde e egrégias virtudes, de que no meio de tantas dificuldades dão exemplo – concorram para o fortalecimento e progresso das sociedades terrestres."[7]

"Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus veio ao mundo e por ela também deverá Jesus reinar no mundo."[8] "Se, como é certo, o conhecimento e o Reino de Cristo chegarem ao mundo, isto será necessária consequência do conhecimento e do reino da Santíssima Virgem Maria".[9] "Por fim, o meu Imaculado Coração Triunfará".[10] Que venha o Reino de Maria, para que assim venha o Reino de Jesus Cristo!
  
Ad Iesum Per Mariam!

PF

Notas:
 

[1] Meditações dos Primeiros Sábados - Pe. António de Almeida Fazenda, SJ
[3] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 33
[4] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 36
[5] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 46
[6] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 47
[7] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 48
[8] S. Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria, p. 1
[9] S. Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria, p.13
[10] Irmã Lúcia dos Santos, Terceira Parte do Segredo de Fátima, Tuy, 3-1-1944


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sexta-feira, 30 de maio de 2025

Começa hoje a Novena ao Espírito Santo (Pentecostes)

A novena do Espírito Santo é a mais antiga de todas, porque foi vivida por Maria Santíssima e pelos Santos Apóstolos no Cenáculo, entre muitos prodígios, visto que Espírito Santo desceu exactamente 10 dias após a Ascensão de Nosso Senhor aos Céus. 

Lembremos de que ao Divino Paráclito é atribuído especialmente o dom do amor. Convém, portanto, que nesta novena consideremos o grande valor do amor divino. Em primeiro lugar, o amor é aquele fogo que inflamou todos os santos a fazerem grandes coisas por Deus. Se quisermos também ficar abrasados, apliquemo-nos sempre, mas em particular nestes dias, à oração, que é a fornalha onde o fogo do amor divino se acende.

Nesta novena rezaremos as meditações de S. Afonso Maria de Ligório.

1. Oração Preparatória para todos os dias:

Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis, e acendei neles o fogo do vosso amor.
V. Enviai, Senhor, o vosso Espírito e tudo será criado.
R. E renovareis a face da Terra.

Oremos: Ó Deus, que instruís os corações de Vossos fiéis com a Luz do Espírito Santo, fazei que saibamos apreciar rectamente todas as coisas, segundo o mesmo Espírito, e possamos gozar sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Ámen.

2. Meditação de cada dia (ver abaixo)

3. Pai Nosso, Avé Maria, Glória 

4. Antífona final:

V. A graça do Espírito Santo ilumine os nossos sentidos e o nosso coração.
R. Ámen.

1º Dia (27 de Maio)
Et apparuerunt illis dispertitae liguae, tanquam ignis 

“E apareceram sobre eles repartidos como que línguas de fogo” (At 2, 3)

I – Deus ordenou na antiga Lei que o fogo ardesse continuamente no seu altar. Diz São Gregório que os altares de Deus são nossos corações, onde Ele quer que o fogo de seu santo amor arda sem cessar. Por isso o Eterno Pai, não satisfeito em ter-nos dado Jesus Cristo, seu Filho, para nos salvar por sua Morte, quis dar-nos ainda o Espírito Santo, para que habitasse em nossas almas, e as conservasse continuamente abrasadas de amor.

Jesus mesmo declarou que descera à Terra exactamente para inflamar com este fogo sagrado nossos corações, e que seu único desejo era vê-lo acesso: “Vim lançar fogo à Terra e que coisa Eu quero senão que se acenda?” (Lc 12, 49). Eis aqui porque, esquecendo as injúrias e ingratidões dos homens, logo que subiu ao Céu, nos enviou o Espírito Santo. – Assim, ó Redentor amadíssimo, na vossa glória, como nos vossos sofrimentos e humilhações, nos amais sempre?

Pela mesma razão o Espírito Santo quis aparecer no Cenáculo sob forma de línguas de fogo: “E apareceram sobre eles repartidos como que línguas de fogo.” (At 2,3). Por isso também a Igreja nos faz rezar com estas palavras: “O Senhor, fazei que o vosso divino Espírito nos inflame com o fogo que Jesus Cristo veio trazer sobre a Terra, e que desejou tão ardentemente ver brilhar nela.” – Foi este amor o fogo que inflamou os santos a fazerem grandes coisas por Deus: amar os inimigos, a desejar os desprezos, a despojar-se de todos os bens terrenos e a abraçar com alegria os tormentos e a morte. O amor não pode ficar ocioso e nunca diz: Basta. A alma que ama a Deus, quanto mais faz por seu amado, mais quer fazer ainda para mais lhe agradar e ganhar mais e mais a sua afeição.

II – O Espírito Santo acende o fogo do amor divino por meio da meditação: “Na minha meditação se acenderá o fogo.” (Sl 38,4). Se então, desejamos arder em amor para com Deus, amemos a oração; ela é a feliz fornalha em que o coração se abrasa neste ardor celeste.

Meu Deus, até aqui nada tenho feito por Vós, que tão grandes coisas fizeste por mim. Ah! Quanto a minha frieza deve mover-Vos a rejeitar-me! Peço-Vos, ó Espírito Santo: Aquecei o que está frio. Livrai-me de minha frieza e inspirai-me um grande desejo de Vos agradar. Renuncio a todas as minhas satisfações, e antes quero morrer do que Vos dar o menor desgosto. – Aparecestes sob a forma de línguas de fogo; consagro-Vos minha língua, para que não Vos ofenda mais. Ó Deus, Vós me destes a língua para Vos louvar, e dela tenho me servido para Vos ultrajar e levar os outros também a Vos ofender! Arrependo-me de toda minha alma.

Ah! Pelo amor de Jesus Cristo, que na sua vida Vos honrou tanto com a língua, faça com que de agora em diante não cesse de Vos honrar, celebrando Vossos louvores, invocando-Vos muitas vezes, falando da Vossa bondade e do amor infinito que mereceis. Amo-Vos meu soberano bem; amo-Vos Deus de amor. – Ó Maria Santíssima, sois Vós a Esposa fidelíssima do Espírito Santo; obtende este fogo divino.

2º Dia (28 de Maio)
Ilumina oculos meos, me unquam obdormiam in morte 

“Ilumina os meus olhos, para que eu não durma jamais na morte” (Ps 12, 4)

I – Um dos maiores danos que nos causou o pecado de Adão, é o obscurecimento da nossa razão pelo efeito das paixões que nos ofuscam o espírito. Mui desgraçada é a alma que se deixa dominar por alguma paixão! A paixão é uma nuvem, um véu, que nos impede de ver a verdade. Como pode fugir do mal aquele que não o conhece? E este obscurecimento da nossa razão aumenta em proporção ao número dos nossos pecados.

Mas o Espírito Santo é também chamado Lux Beatissima, com seus esplendores divinos, não só abrasa o nosso coração em seu santo amor, como também dissipa as nossas trevas e nos faz conhecer a vaidade dos bens terrenos, o valor dos eternos, a importância da salvação, o preço da graça, a bondade de Deus, o amor infinito que Ele merece e o imenso amor que nos tem.

“O homem animal não percebe as coisas que são do Espírito de Deus.” (1Cor 2, 14). O homem chafurdado no lamaçal dos prazeres mundanos pouco percebe as verdades da fé. Eis por que o infeliz tem amor ao que devia odiar, e odeia ao que devia amar. Santa Maria Madalena de Pazzi exclamava: O amor não é conhecido! O amor não é amado! Santa Teresa dizia igualmente que Deus não é amado porque não é conhecido. Os santos pediam a Deus sem cessar luz e mais luz: enviai Vossa luz; dissipai minhas trevas; abri meus olhos, porque sem sermos esclarecidos não podemos evitar o abismo, nem encontrar a Deus.

II – Como fruto desta meditação tomemos a resolução de invocar várias vezes o Espírito Santo nas dificuldades que encontramos não somente nos negócios espirituais da alma, mas também nas corporais, especialmente nos de mais graves consequências. Lembremo-nos, porém, que Deus não nos comunicará as suas luzes sempre imediatamente; as mais das vezes se servirá, para tal fim, dos nossos superiores e pais espirituais que ele deixou como seus representantes na Terra: “Quem vos ouve a mim ouve. Quem vos despreza, a mim despreza.” (Lc 10,16).

Santo e divino Espírito, creio que sois verdadeiramente Deus, com o Pai e o Filho. Adoro-Vos e reconheço-Vos como autor de todas as luzes com as quais me fizeste conhecer o mal que fiz ofendendo-Vos, e quanto sou obrigado a amar-Vos. Dou-vos graças e me arrependo sumamente de Vos ter ofendido. Merecia que me abandonasses nas minhas trevas, mas vejo que ainda não me abandonaste.

Ó Espírito eterno, continuai a esclarecer-me e fazei-me conhecer sempre melhor Vossa bondade infinita e dê-me força para Vos amar no futuro de todo meu coração. Ajuntai graça a graça, para que eu fique docemente unido a Vós e obrigado a amar se não a Vós. Eu Vo-lo suplico pelos merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amo-Vos ó meu soberano bem, amo-Vos mais que a mim mesmo. Quero ser todo Vosso; recebei-me e não permitais que me separe de Vós. – Ó Maria, minha Mãe, assisti-me sempre com Vossa intercessão.


3º Dia (29 de Maio)
Qui biberit ex aqua, quam ego dabo ei, non sitiet in aeternum 
“Aquele que beber da água que eu lhe der, não terá jamais sede” (Jo 4, 13)

I – O amor é também chamado fonte de água viva. O nosso Redentor disse à mulher samaritana: “Aquele que beber da água que Eu lhe der jamais terá sede.” (Jo 4, 13). O amor é, pois, uma água que mata a sede; aquele que ama Deus sinceramente, não busca nem deseja coisa alguma fora de Deus; porque em Deus encontra todos os bens. Assim, contente em possuir Deus, repete sempre na alegria de seu coração: “Meu Deus e meu tudo!” Ó meu Deus! Vós sois meu único bem. Mas Deus queixa-se de muitas almas que vão mendigar junto das criaturas alguns miseráveis e curtos prazeres, e O abandonam, Bem infinito e fonte de todas as alegrias: “Eles abandonaram a mim que sou fonte de água viva, e cavaram para si cisternas que não podem reter água.” (Jr 2, 13).

Ai está, porque o Senhor que nos ama, e deseja ver-nos contentes, nos clama a todos: “Se alguém tem sede, venha a Mim.” (Jo 7, 37). Quem deseja a verdadeira felicidade, venha a Mim, dar-lhe-ei o Espírito Santo, que o fará feliz, nesta vida e na outra: sentirá correr do seu seio rios de água viva, como os profetas anunciaram.

Aquele, pois, que crê em Jesus Cristo, e o ama, será enriquecido de tantas graças, que do seu coração, ou da sua vontade, que é como seio da alma, fluirão fontes de santas virtudes, que o ajudarão não apenas a conservar a própria vida, mas ainda a comunica-las a outros. A água misteriosa, de que nos fala Nosso Senhor, é precisamente o Espírito Santo, o amor substancial que Jesus nos prometeu enviar após a sua Ascensão: “Isto lhes disse a respeito do Espírito Santo, que haviam de receber os que cressem Nele; porque ainda o Espírito não fora dado, por não ter sido ainda Jesus glorificado.” (Jo 7, 39).


II – A chave que nos abre os canais dessa água desejável é a oração, pela qual obtemos todos os bens em virtude da divina promessa: “Pedi e recebereis.” (Jo 16, 24). Somos cegos, pobres e fracos, mas a oração nos consegue a luz, a riqueza e a força da graça. Com a oração podemos tudo, dizia São Teodoreto. Aquele que ora recebe tudo que deseja. Deus quer dar-nos as suas graças, mas quer que as peçamos.

“Senhor, dai-me desta água.” (Jo 4,15). Meu Jesus, dir-Vos-ei como a Samaritana, dai-me desta água do Vosso santo amor, que me faça esquecer a Terra e viver só para Vós, ó Amável infinito. Regai o que é seco. Minha alma é Terra seca, que não produz senão abrolhos e espinhos do pecado; Ah! Inundai-me com as águas da vossa graça, para que produza algum fruto para Vossa glória, antes que a morte me arrebate deste mundo. Ó fonte de água viva! Ó Bem supremo! Quantas vezes Vos deixei pelas águas lodosas desta Terra, que me privaram de Vosso amor! Ah! Quisera eu ter morrido antes de Vos ofender! Mas no futuro, não quero buscar nada senão Vós somente. Ó meu Deus, socorrei e fazei que Vos seja fiel. Maria Santíssima, minha esperança, cobri-me sempre com Vosso manto.

4º Dia (30 de Maio)
Fluat ut ros eloquium meum, quasi imber super herbam 

“Distilem como orvalho as minhas palavras, como chuva sobre a erva” (Dt 32, 2)

I – Por duas razões o amor é chamado orvalho. Primeiro, porque torna a alma fecunda em bons desejos e boas obras; segundo, porque tempera o ardor das más inclinações e tentações. Se queremos receber este orvalho celestial, apliquemo-nos à oração mental e nunca deixemos de a fazer, ao menos uma vez por dia. Um quarto de hora de meditação basta para apagar o fogo do ódio ou do amor desordenado, por ardente que seja. Ao contrário, a quem não ama a oração, é moralmente impossível vencer as paixões.

A Igreja manda-nos pedir ao Espírito Santo, que purifique nossos corações e os torne fecundos por seu salutar orvalho: Sancti Spiritus corda nostra mundet infusio, et sui roris intima aspersione foecundet. O amor faz a alma fecunda em bons desejos, santas resoluções e boas obras: tais são as flores e os frutos da graça do Espírito Santo. – O amor é chamado também orvalho, porque tempera o ardor das más inclinações e tentações. Por isso se diz do Espírito Santo que Ele modera o ardor e refrigera – “In aestu temperies, dulce refrigerium”.

Este salutar orvalho desce sobre nossos corações durante a oração. Um quarto de hora de meditação basta para apagar o fogo do ódio ou do amor desordenado, por ardente que seja. A santa meditação é a adega misteriosa de que fala a Esposa dos Cantares: Introduxit me rex in cellam vinariam, ordinavit in me caritatem (!) – “O rei me introduziu na sua adega, ordenou em mim a caridade”. Aí é que nos enchemos da caridade bem ordenada, pela qual amamos ao próximo como a nós mesmos, e a Deus sobre todas as coisas. Quem ama a Deus, ama a oração, e a quem não ama a oração, é moralmente impossível vencer as próprias paixões.

II – Para que não sejamos oprimidos pelos ardores das más inclinações, e afim de que o Espírito Santo possa fertilizar as nossas almas com o orvalho dos seus dons, tomemos hoje a forte resolução de fazer cada dia ao menos uma meia hora de oração mental. São João Crisóstomo compara a oração mental a uma fonte no meio de um jardim; porque sem ela todas as virtudes murcham, ao passo que com ela se conservam frescas e amenas, e se aperfeiçoam constantemente.

Assim como quem sai de um jardim faz um ramalhete das flores que mais o encantam, assim, segundo o aviso de São Francisco de Sales, devemos ao sair da meditação compor um como que ramalhete dos pensamentos que mais nos impressionaram, e durante o dia avivá-los de tempos a tempos, mesmo durante as nossas ocupações.

Ó santo e divino Espírito, não quero mais viver para mim mesmo; em Vos amar e agradar quero empregar tudo que me resta da vida. Com este fim Vos peço que me concedais o dom da oração mental. Vinde a meu coração, e ensinai-me Vós mesmo a praticá-la como se deve. Dai-me a força de não deixá-la por tédio no tempo da aridez; dai-me o espírito de oração, isto é, a graça de sempre orar e de fazer aquelas orações que sejam mais agradáveis ao vosso divino Coração. – Por meus pecados me havia perdido; mas por tantos sinais de vossa ternura, reconheço que quereis a minha salvação e santificação. Quero santificar-me para Vos agradar e amar mais a vossa infinita bondade. Amo-Vos, ó meu soberano Bem, meu amor, meu tudo, e porque Vos amo, dou-me todo a Vós. – Ó Maria, minha esperança, protegei-me.

5º Dia (31 de Maio)
In pace in idipsum dormiam et requiescam 

“Em paz dormirei nele mesmo e repousarei” (Ps 4, 9)

I – O efeito principal do amor é unir a vontade da pessoa que ama, à do objecto amado, tanto na prosperidade como na adversidade. Para uma alma que ama a Deus, consolar-se nas humilhações, dores e perdas que sofre, basta saber que o Senhor quer vê-la suportar tal pena. Dizendo somente: Assim o quer meu Deus, acharemos a paz e o contentamento no meio das tribulações e sob o peso da cruz.

O amor se chama: In labore requies, in fletu solatium – “Alívio nas penas, consolação nas lágrimas”. O amor é um repouso que recreia, porque o ofício principal do amor é unir a vontade da pessoa que ama, à do ser amado. Para consolar-se de todas as humilhações que recebe, dores que sofre, perdas que padece, uma alma que ama a Deus, só precisa conhecer a vontade de seu amado que deseja vê-la suportar tal pena.

Dizendo somente: Assim o quer meu Deus, ela acha paz e contentamento no meio de todas as tribulações. Esta é a paz divina que transcende todos os prazeres dos sentidos: Pax Dei, quae exsuperat omnem sensum. Santa Maria Madalena de Pazzi sentia-se inundada de alegria só com o pronunciar das palavras: vontade de Deus.

II – Nesta vida cada um deve levar sua cruz; mas, diz Santa Teresa: A cruz é dura para quem a arrasta, não, porém, para aquele que a abraça. Assim é que o Senhor sabe ao mesmo tempo ferir e curar, segundo a expressão de Jó: Vulnerat et medetur. Por sua doce unção, o Espírito Santo torna suave e amável até os opróbrios e tormentos. – Ita, Pater, quoniam sic fuit placitum ante te – “Sim, meu Pai, seja, feita a vossa vontade”. Assim orou Jesus Cristo e nós também devemos repetir estas palavras do Salvador todas as vezes que a adversidade nos visitar: Sim meu Pai, assim seja, porque é vossa vontade. Quando trememos sob ameaça de alguma desgraça temporal, repitamos sempre: “Fazei, ó meu Deus: aceito desde já tudo que fizerdes. Protesto que quero viver onde Vós quiserdes, sofrer tudo o que quiserdes e morrer quando quiserdes”. É também utilíssimo oferecer-se muitas vezes a Deus no decurso do dia, como o fazia Santa Teresa.

Ah! meu Deus, quantas vezes, para fazer a minha própria vontade, contrariei a vossa e cheguei a desprezá-la. Disto me aflijo mais que de todos os males. De aqui em diante quero de todo o coração amar-vos e obedecer-vos. Loquere, Domine, quia audit servus tuus – “Falai, Senhor, vosso servo vos escuta”. Dizei o que quereis de mim; quero fazer em tudo a vossa santa vontade. Este será para sempre o meu santo desejo, pois sois o meu único amor. Ajudai a minha fraqueza, ó Espírito Santo. Vós sois a mesma bondade; como, portanto, posso amar outro tesouro senão a vós? Conjuro-vos, atraí para vós, pela doçura de vosso amor, todos os afectos do meu coração. Renuncio a tudo para dar-me a vós sem reserva.

“Recebei, Senhor, toda a minha liberdade. Aceitai a minha memória, a minha inteligência e toda a minha vontade. Tudo o que tenho e possuo fostes vós que me destes; venho vo-Lo restituir e tudo entregar ao vosso beneplácito. Dai-me somente o vosso amor E a vossa graça e rico serei, nada mais vos peço”. – Faço o mesmo pedido a vós, ó Mãe do Belo Amor, Maria, e espero que mo obtenhais pela vossa poderosa intercessão.

6º Dia (1 de Junho)
Fortis est ut mors dilectio 

“O amor é forte como a morte” (Cant 8, 6)

I – Quanto se trata de agradar ao objecto amado, o amor vence tudo; não há dificuldade que resista ao amor; porque, aquele que ama, não sente o sofrimento, ou se o sente, o ama. O sinal, pois, mais certo para conhecer se uma pessoa ama deveras a Deus é a sua fidelidade na adversidade como na prosperidade. Dizemos que amamos a Deus, mas até agora que fizemos por ele? Como suportamos as cruzes que nos manda para nosso bem?

Assim como não há força criada que resista à morte, assim não há dificuldades que não ceda ao ardor de uma alma amante. Quando se trata de agradar ao objecto amado, o amor vence tudo, perdas, desprezos, dores. Nada é bastante duro para resistir ao fogo do amor, diz Santo Agostinho: Nihil tam durum, quod non amoris igne vincatur. O sinal mais certo, pois, para conhecer se uma pessoa ama deveras a Deus, é sua fidelidade em amar na adversidade como na prosperidade.

Dizia São Francisco de Sales que Deus é tão amável quando nos aflige, como quando nos consola, porque faz tudo por amor e até quando mais nos aflige nesta vida é que nos testemunha mais o seu amor. São João Crisóstomo julgava São Paulo mais feliz nos ferros que arrebatado ao terceiro céu.

II – Também os santos mártires se regozijavam no meio dos tormentos e agradeciam ao Senhor como um grande favor que lhes dispensava o terem que sofrer por seu amor. E os outros santos, que não acharam tiranos para os atormentar, tornaram-se carrascos de si mesmos pelas penitências com que se castigaram, afim de se fazerem agradáveis a Deus. Aquele que ama, diz Santo Agostinho, não sente sofrimento, ou se o sente, o ama: In eo quod amatur, aut non laboratur, aut ipse labor amatur.

Ó Deus da minha alma, digo que vos amo; mas que faço por vosso amor? Nada. É então um sinal de que não vos amo, ou vos amo muito pouco. Meu Jesus, enviai-me o Espírito Santo, que me venha dar a força de sofrer e fazer alguma coisa por vosso amor antes de minha morte. Ah! Meu amado Redentor, não permitais que eu morra neste estado de frieza e ingratidão em que eu tenho vivido até hoje. Concedei-me a graça de amar os sofrimentos, depois de tantos pecados que me tornaram digno do inferno.

Ó meu Deus, todo bondade e todo amor, desejais habitar em minha alma onde tantas vezes vos expulsei; vinde, estabelecei nesta vossa morada, dominai nela e fazei-a toda vossa. Amo-vos, ó meu Senhor, e já que vos amo, comigo estais, como São João afirma: Qui manet in caritate, in Deo manet, et Deus in eo – “Aquele que mora no amor permanece em Deus e Deus nele”. Se, pois, estais comigo, aumentai em mim as chamas de vosso amor, fortificai as cadeias que me prendem a vós, afim de que eu suspire somente por vós, busque somente a vós, e assim unido convosco, não me separe jamais do vosso amor. Ó meu Jesus, quero ser vosso, todo vosso. – Ó minha Advogada e Rainha, Maria, alcançai-me o santo amor e a perseverança.

7º Dia (2 de Junho)
Ego rogabo Patrem, et alium Paraclitum dabit vobis, ut maneat vobiscum in aeternum 

 “Rogarei a meu Pai, e ele vos enviará outro Consolador, afim de que more sempre convosco” (Jo 14, 16)

I – É esta a magnífica promessa de Jesus Cristo em favor daquele que O ama: Se me amais, rogarei ao Pai, e ele vos enviará o Espírito Santo, afim de que more sempre convosco. Deus, portanto, habita na alma que O ama. Lembremo-nos, porém, de que Deus é cheio de zelos. Quer habitar só na alma, e não está contente, se não o amamos de todo o coração e queremos dividir o nosso amor entre ele e as criaturas.

O Espírito Santo é chamado Hóspede das almas: “Dulcis hospes animae”. É o efeito da magnífica promessa de Jesus Cristo em favor daquele que O ama: “Se me amais, guardai os meus mandamentos; e rogarei ao Meu Pai, e Ele vos enviará outro consolador, o Espírito Santo, afim de que more sempre convosco: “Ut maneat vobiscum in aeternum”. Sim, sempre, porque o Espírito Santo não desampara nunca uma alma, a não ser que seja expulso por ela: “Non deserit, nisi deseratur”.

Deus portanto, habita em toda a alma de que é amado; mas declara não ficar satisfeito, se não o amamos de todo o nosso coração. Escreve Santo Agostinho, que o senado romano se recusou a admitir Jesus Cristo no número dos deuses, dizendo que Ele é um Deus soberbo que quer ser adorado com exclusividade. Isto é verdade: Nosso Senhor não aceita rival num coração que O ama; quer habitar nele só e ser amado mais que todos. Se Ele não se vê amado acima só, tem, por assim dizer, segundo a expressão de São Tiago, zelos das criaturas com que é dividido esse coração, que ele deseja só para si: “Ad invidiam concupiscit vos Spiritus qui habitat in vobis”. Numa palavra, como diz São Jerónimo: Jesus é um Deus cheio de zelos: Zelotypus est Iesus.

II – É este o motivo porque o Esposo celeste louva a alma que, semelhante à rola, vive na solidão escondida do mundo: “Pulchrae sunt genae tuae, sicut turturis”. Não quer que o mundo tenha parte no amor desta alma, deseja-a toda inteira para si. Se ele ainda louva a sua Esposa, chamando-a jardim fechado – Hortus conclusus, soror mea sponsa – , é porque ela não deixa entrar em seu coração nenhum afecto terreno. Ah! Jesus não merece todo o nosso amor? “Totum tibi dedit, nihil sibi reliquit”, diz São João Crisóstomo: Ele nos deu tudo, o seu sangue e a sua vida; mais do que isto não podia nos dar.

Se queremos que Deus habite em nossa alma com a plenitude de sua graça, consagremo-la hoje de novo toda inteira e sem reserva a seu serviço e repitamos esta nossa consagração muitas vezes durante o dia, especialmente na oração mental, na santa comunhão e na visita ao Santíssimo Sacramento.

Lembremo-nos de que há três meios principais pelos quais uma alma se pode dar toda a Deus. Primeiro, evitar todas as faltas deliberadas, ainda que pequenas, e para este fim reprima o mais insignificante desejo desordenado e mortifique a satisfação dos sentidos. Segundo, escolher, entre as coisas boas, a melhor, que mais agrade a Deus. Terceiro, aceitar com paz e gratidão, das mãos do Senhor, tudo o que mortifica o nosso amor próprio e em particular os desprezos. Lembremo-nos de que tem mais valor aos olhos de Deus um desprezo sofrido em paz e por amor a Ele, do que mil mortificações e mil práticas.

Ó meu Deus, bem vejo que me quereis todo para Vós. Tanta vezes Vos expulsei da minha alma. Mesmo assim não Vos dedignais de nela entrar e unir-Vos a mim. Ah! Tomai agora posse de todo o meu ser; dou-me inteiramente a vós. Aceitai-me, ó meu Jesus, e não permitais que eu viva de agora em diante um instante sequer sem vosso amor. Vós me buscais, e eu não busco senão a Vós. Quereis minha alma, e ela só Vos quer a Vós. Vós me amais, e eu também vos amo; e já que me amais, prendei-me tão perfeitamente convosco, que não me aparte mais de vós. – Ó Rainha do céu e minha querida Mãe, Maria, em vós ponho minha confiança.

8º Dia (3 de Junho)
Super omnia autem caritatem habete, quod est vinculum perfectionis 

“Acima de tudo, tende e caridade, que é o vínculo da perfeição” (Col 3, 14)

I – Antes da vinda de Jesus Cristo, os homens afastavam-se de Deus, e aferrados à Terra, recusavam unir-se ao seu Criador. Mas nosso amável Senhor enviou-nos o Espírito Santo, afim de que, assim como Ele é o vínculo indissolúvel que une o Pai ao Verbo Eterno, assim una nossas almas a Deus pelo amor. Procuremos, pois, estar fortemente ligados por este vínculo de perfeição, e não correremos mais risco de nos afastar de Deus. Antes de tudo, porém, é necessário que livremos nosso coração de todos os laços que o prendem ao mundo.

Assim como o Espírito Santo, amor incriado, é o laço indissolúvel que une o Pai e o Verbo Eterno, assim é este mesmo Espírito que une nossas almas a Deus. A caridade, diz Santo Agostinho, é uma virtude que nos une a Deus: Caritas est virtus coniungens nos Deo. Daí este grito de alegria de São Lourenço Justiniano: Ó Amor, tu és então um vínculo de tal maneira forte, que pudeste encadear um Deus e uni-Lo a nossas almas! O caritas, quam magnum est vinculum tuum, quo Deus ligari potuit! – Os laços do mundo são laços de morte, mas os de Deus são laços de vida e salvação: Vincula illius alligatura salutares. Porquanto são vínculos de amor, e o amor nos une a Deus, nossa única e verdadeira vida.

Antes da vinda de Jesus Cristo os homens separavam-se de Deus; aferrados à Terra, recusavam unir-se ao seu Criador; mas o Senhor, cheio de ternura, os atraiu a si pelos laços de amor, como tinha prometido por Oséas: In funiculis Adam traham eos, in vinculis caritatis – “Eu os atrairei com cordas de Adão, com os vínculos da caridade”. Estes laços são os seus benefícios: luzes, apelos ao seu amor, promessas do paraíso; mais é sobretudo o dom que nos fez de Jesus Cristo no sacrifício da cruz e no Sacramento do altar, e enfim, o dom de Espírito Santo. Por isso exclama o Profeta: Solve vincula colli tui, captiva filia Sion – “Rompe as cadeias de teu pescoço, filha cativa de Sião”. Ó alma, criada para o céu, desfaz-te dos laços da Terra para te unires a Deus pelos laços do santo amor.

II – Caritatem habete, quod est vinculum perfectionis – “Tende a caridade, que é o vínculo da perfeição”. O amor é um laço que reúne todas as virtudes, e torna a alma perfeita. Daí a seguinte palavra de Santo Agostinho: Ama, et fac quod vis – Ama a Deus e faze o que queres, porque quem ama a Deus tem cuidado de evitar tudo que causa desgosto ao objecto do seu amor e procura agradar-lhe em tudo.

Dulcíssimo Jesus, muito me haveis obrigado a amar-Vos; muito Vos custou obter o meu amor. Ingratíssimo seria eu, se Vos amasse pouco, ou dividisse o meu coração entre Vós e as criaturas, depois que por mim derramastes vosso sangue e sacrificastes vossa vida! Quero desapegar-me de tudo, e por em Vós só todos os meus afectos. Muito fraco sou para executar esta resolução; Vós, que me a inspirais, dai-me a força de a cumprir.

Amadíssimo Jesus meu, feri meu pobre coração com a suave seta do vosso amor, para que não cesse de arder no desejo de Vos possuir e consumir-me de amor para convosco. A Vós procure sempre, a Vós só deseje, a Vós ache sempre. Ó meu Jesus, só a Vós quero e nada mais. Fazei com que eu repita sempre durante a minha vida, e sobretudo na hora da minha morte: Meu Jesus, só a Vós quero e nada mais. – Ó Maria, minha Mãe, fazei com que de hoje em diante eu não queira senão a Deus.

9º Dia (4 de Junho)
Infinitus thesaurus est hominibus; quo qui usi sunt, participes facti sunt amicitiae Dei 

“Ela é um tesouro infinito para os homens; do qual os que usaram têm sido feitos participantes da amizade de Deus” (Sap 7, 14)

I – O coração humano está sempre procurando bens capazes de torná-lo feliz. Enquanto se dirige às criaturas para os obter, nunca se satisfaz, por mais que receba. Ao contrário, um coração que só quer a Deus, acha logo a felicidade, porque o Senhor lhe satisfará todos os desejos e o fará contente mesmo no meio das maiores tribulações. Felizes de nós, se conhecemos o grande tesouro do amor divino e procuramos obtê-lo a todo custo, desapegando-nos das coisas criadas!

O amor é o tesouro de que fala o Evangelho, o qual nos cumpre adquirir a custo de tudo mais. A razão é porque ele é realmente aquele bem infinito que nos faz participante da amizade de Deus. Aquele que acha Deus, acha tudo que pode desejar: Delectare in Domino, et dabit tibi petitiones cordis tui – “Deleita-te no Senhor, e Ele te concederá as petições do teu coração”. O coração humano está sempre procurando bens capazes de torná-lo feliz. Enquanto se dirige às criaturas para os obter, nunca se satisfaz, por mais que receba. Ao contrário, um coração que só quer a Deus, Deus lhe satisfará todos os desejos. Quais são com efeito os homens mais felizes da Terra, senão os santos? E porque? Porque só querem e buscam a Deus.

Estando um príncipe a caçar, vi um solitário percorrendo a floresta, e perguntou-lhe o que fazia nesse deserto. Mas vós, Senhor, retorquiu logo o anacoreta, que vindes buscar aqui? – Eu, acudiu o príncipe, ando em busca de caças – E eu, tornou o solitário, busco a Deus.

O tirano que martirizou São Clemente de Ancira, ofereceu-lhe ouro e pedras preciosas para conseguir que ele renegasse a Jesus Cristo; mas o santo, dando um profundo suspiro, exclamou: Pois que! Um Deus posto em paralelo com um pouco de lama! – Feliz de quem conhece o tesouro do divino amor e procura obtê-lo! Quem o conseguir, despojar-se-á por si mesmo de tudo, para não possuir senão a Deus. “Quando o fogo pega na casa”, dizia São Francisco de Sales, “lançam-se todos os utensílios pela janela”. E o Padre Segneri, o moço, grande servo de Deus, tinha costume de dizer: “O amor divino é um roubador que nos tira todos os afectos terrenos ao ponto de exclamarmos então: Senhor, que desejo senão a vós?” Deus cordis mei, et pars mea Deus in aeternum – “Deus de meu coração, e a minha porção, Deus, para sempre”.

II – Ó mundanos insensatos, exclama Santo Agostinho, ó homens, aonde ides para contentar o vosso coração? Bonum quod quaeritis, ab ipso est. Aproximai-vos de Deus, recuperai a sua graça, buscai o seu amor, porque só Ele pode dar-vos a felicidade que andais procurando – Nós ao menos não sejamos tão insensatos, e como nos exorta o mesmo santo Doutor, de hoje em diante, busquemos unicamente o amor de Deus, busquemos o único bem, no qual estão encerrados todos os outros: Quaere unum bonum, in quo sunt omnia bona. Mas não podemos achar este bem, sem renunciar a todo o afecto pelas coisas da Terra, como o ensina Santa Teresa: Desapega o teu coração das criaturas e acharás a Deus.

Meu Deus, no passado não foi a Vós que busquei, mas busquei a mim mesmo e às minhas satisfações; e por elas me apartei de Vós, que sois o Bem supremo. Mas Jeremias me consola, assegurando-me que sois só bondade para os que Vos buscam – Bonus est Dominus animae quaerenti illum. Amadíssimo Senhor meu, compreendo o mal que fiz deixando-Vos, e arrependo-me de todo o coração. Vejo que sois um tesouro de valor infinito; não querendo deixar inútil esta luz, renuncio a tudo, e escolho-Vos para único bem dos meus afectos.

Ó meu Deus, meu amor, meu tudo, por vós suspiro. Vinde, ó Espírito Divino, e com o santo fogo do vosso amor, consumi em mim todo o afecto de que não sois o objecto. Fazei-me todo vosso, e que tudo vença para Vos agradar. Ó Maria, minha advogada e Mãe, ajudai-me com as vossas orações.


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quinta-feira, 29 de maio de 2025

Solenidade da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo

"Dominus Iesus, postquam locutus est eis, assumptus est in Coelum, et sedet a dextris Dei"
"O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus"
Mc 16, 19

I. O lugar que competia a Jesus ressuscitado era o Céu, que é a morada das almas e dos corpos bem-aventurados. Quis Jesus, todavia, permanecer quarenta dias sobre a terra e aparecer repetidas vezes a seus discípulos para os certificar da sua ressurreição e instruí-los nas coisas relativas à sua Igreja: Loquens de regno Dei (1) – “Falando do reino de Deus”. 

Tendo desempenhado esta nobre missão, quis o Senhor, antes de deixar a terra, mostrar-se mais uma vez aos apóstolos em Jerusalém; e depois de lhes exprobrar suavemente a sua dureza, por não acreditarem na sua ressurreição, ordenou-lhes que fossem para o Monte das Oliveiras, o lugar onde tinha começado a sua Paixão, afim de que compreendessem que o verdadeiro caminho para ir ao Céu é o dos sofrimentos. Depois, cercado de cento e vinte pessoas, repetiu-lhes mais uma vez o que já lhes havia ordenado, especialmente que fossem pregar o Evangelho pelo mundo inteiro; feito o que o divino Redentor levantou as mãos e os abençoou.

Em seguida, como medita São Boaventura (2), Jesus abraça a sua santíssima Mãe e aperta-a contra o coração, anima e conforta os seus discípulos, que, entre lágrimas, Lhe beijam os pés e com as mãos levantadas e o semblante extraordinariamente majestoso e amável, coroado e vestido como rei, se eleva lentamente ao Céu, levando em sua companhia as numerosíssimas almas justas, livradas do limbo. – A esta vista todos os presentes ajoelham novamente e Jesus mais uma vez os abençoa. Afinal uma nuvem subtrai o divino Triunfador à sua vista, e Jesus vai sentar-se à direita do Pai, onde não cessa de ser nosso medianeiro e advogado.

Avivemos a nossa fé, e contemplemos o júbilo que a entrada triunfal de Jesus causou no paraíso: alegremo-nos com o nosso divino Chefe e unamos os nossos afectos aos de Maria Santíssima e dos santos discípulos.

II. Como a águia ensina os seus filhos a voarem, assim, no mistério de hoje, Jesus Cristo nos exorta a elevar o nosso vôo e acompanhá-Lo ao Céu, senão com o corpo, ao menos com os afectos. Desprendamos os nossos corações da terra, e suspiremos pela pátria celeste, onde se acha a nossa felicidade: esperando, como diz o Apóstolo, a adopção de filhos de Deus, a redenção de nosso corpo (3). 

Entretanto, tenhamos sempre diante dos olhos os exemplos da vida mortal do Senhor; imitando a sua humildade e mansidão, o seu espírito de mortificação, a sua caridade e o seu zelo pela glória divina. – Numa palavra, despojamo-nos do homem velho, revestindo-nos das virtudes de Jesus Cristo, que são como que o manto, que, à imitação de Elias, ele deixou para seus discípulos, quando subiu ao Céu.

Para vencermos todas as dificuldades que se encontram no caminho do Senhor, recordemos muitas vezes a grande verdade que os anjos ensinaram hoje aos discípulos, que, arrebatados, olhavam o Céu, para o qual acabava de subir o seu amado mestre: Jesus Cristo voltará um dia à terra com a mesma majestade e glória, como Juiz dos vivos e dos mortos: Sic veniet, quemadmodum vidistis eum euntem in coelum (4).

Meu querido Redentor Jesus, regozijo-me pelo vosso triunfo glorioso e rogo-vos que arranqueis de meu coração todo o afecto aos bens miseráveis desta terra, para não suspirar senão pelos do paraíso, que vós merecestes para mim pela vossa paixão. – A mesma graça peço de Vós, ó Pai Eterno. “Concedei-me que, assim como creio firmemente que vosso Filho unigénito e nosso Redentor subiu hoje ao Céu, assim possa continuamente morar ali com o meu espírito e os meus desejos.” (5) – Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima. (*VIII 643.)

Santo Afonso Maria de Ligório in 'Meditações para todos os dias do ano'
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(1) Act. 1, 3.
(2) Med. vit. Chr.
(3) Rom. 8, 23.
(4) Act. 1, 11.
(5) Or. festi. curr.


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