"A vasta maioria dos livros de assuntos científicos que se publicaram na Europa nos séculos XV e XVI está em latim. (...)
O latim foi a língua universal da ciência até muito tarde. O aparecimento de obras em vernáculo no século XVI foi raro (...).
Alguns historiadores supuseram que o uso do latim fora um deliberado processo corporativo dos letrados, destinado a dificultar o acesso ao saber; nesta medida o uso do vernáculo seria uma "rebeldia", uma "libertação". Mas esta visão, em parte inspirada numa leitura marxista da história, que coloca o erudito contra o homem prático, é de um esquematismo que hoje em dia quase ninguém aceita.
A principal razão que explica a longa sobrevivência do latim como língua-franca da ciência reside na natureza essencialmente supranacional da actividade científica. No caso da matemática, esta longevidade foi excepcionalmente longa, muito para além do século XVI.
Com a excepção da França, quase todos os europeus continuaram a eleger o latim para a publicação das suas obras matemáticas muito tempo depois de os vernáculos já terem ganho grande implantação. Assim o fizeram Euler, os Bernoulli, Gauss, durante todo o século XVIII e princípios do XIX. Nos anos 40 do século XIX, Jacobi publicava em latim, e mesmo em 1876, quando o alemão e o francês dominavam, Riemann ainda publicava trabalhos em latim."
Henrique Leitão, O Livro Científico dos Séculos XV e XVI: notas sobre a situação portuguesa
4 comentários:
O inglês substituiu o latim. Bom ou mau?
O Tony Carreira substituiu Bach. Bom ou mau?
Bach nunca tocou no picnicão.
Uma mancha na sua carreira que jamais será apagada.
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