domingo, 31 de janeiro de 2021

A oração e a pureza estiveram sempre presentes na vida de D. Bosco

D. Bosco rezava sempre. Nele, a união com Deus era contínua. Quem se aproximava dele percebia logo estar diante de um serafim. Era-o tal quando rezava de joelhos; era-o ao celebrar a Santa Missa; era-o no caminhar grave e sereno; tal era quando nas conversações sabia elevar-se a Deus por mais comum que fosse o argumento sem que por isso se tornasse enfadonho ou aborrecido; fazia-o com uma naturalidade incrível. 

A sua palavra, os seus gestos, a sua atitude, em suma, qualquer acção de D. Bosco respiravam uma candura e um aroma tão virginal que arrebatava e edificava a quem quer que se aproximasse dele, fosse embora um desencaminhado. O ar angélico que lhe transparecia no rosto tinha um atractivo especial para conquistar os corações. Dos seus lábios jamais saiu uma palavra que se pudesse taxar de menos própria. 

No seu exterior evitava qualquer gesto ou qualquer movimento que parecesse mundano. Quem o conheceu nos momentos mais íntimos de sua vida, o que achou nele de mais extraordinário foi sem dúvida a suma atenção que sempre usou na prática dos mais vivos cuidados para não lesar a modéstia. 

"Estou absolutamente convencido – declara o Cónego Berrome – que D. Bosco conduziu à tumba a estola da inocência baptismal. Lia-se a virtude da castidade no seu olhar, na sua atitude, na sua palavra e em todos os seus actos; bastava fixá-lo para sentir o perfume desta virtude."

V. Sinistrero in 'Dom Bosco nos guia à Pureza' (Niterói: Escolas Profissionais Salesianas, 1940, pp. 120-124)


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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

As Verdadeiras Amizades - São Francisco de Sales

Ah! quanto é bom amar já na Terra o que se amará no Céu e aprender a amar aqui estas coisas como as amaremos eternamente na vida futura. Não falo simplesmente do amor cristão, que devemos ao nosso próximo, todo e qualquer que seja, mas aludo à amizade espiritual, pela qual duas, três ou mais pessoas comunicam mutuamente as suas devoções, bons desejos e resoluções por amor de Deus, tornando-se um só coração e uma só alma.

Com toda a razão podem cantar então as palavras de David: "Oh! quão bom e agradável é habitarem juntamente os irmãos!" Sim, Filoteia, porque o bálsamo precioso da devoção está sempre a passar dum coração para o outro através duma contínua e mútua participação; de tal modo que se pode dizer que Deus lançou sobre esta amizade a sua bênção, por todos os séculos dos séculos.

Todas as outras amizades são como as sombras desta e os seus laços são frágeis como o vidro, ao passo que estes corações ditosos, unidos em espírito de devoção, estão presos por uma corrente toda de ouro. Filoteia, todas as tuas amizades sejam desta natureza, isto é, todas aquelas que dependem da tua livre escolha, porque não deves romper nem negligenciar as que a natureza e outros deveres te obrigam a manter, como em relação aos teus pais, parentes, benfeitores e vizinhos.
Hás de ouvir que não se deve consagrar afecto particular ou amizade a ninguém, porque isto ocupa demais o coração, distrai o espírito e causa ciúmes; mas é um mau conselho, porque, se muitos autores sábios e santos ensinam que as amizades particulares são muito nocivas aos religiosos, não podemos, no entanto, aplicar o mesmo princípio a pessoas que vivem no meio do mundo — e há aqui uma grande diferença.

Num mosteiro onde há fervor, todos visam o mesmo fim, que é a perfeição do seu estado, e por isso a manutenção das amizades particulares não pode ser tolerada ai, para precaver que, procurando alguns em particular o que é comum a todos, passem das particularidades aos partidos.

Mas no mundo é necessário que aqueles que se entregam à prática da virtude se unam por uma santa amizade, para mutuamente se animarem e conservarem nesses santos exercícios. Na religião os caminhos de Deus são fáceis e planos e os que ai vivem se assemelham a viajantes que caminham numa bela planície, sem necessitar de pedir a mão em auxílio. Mas os que vivem no meio do mundo, onde há tantas dificuldades a vencer para ir a Deus, parecem-se com os viajantes que andam por caminhos difíceis, escabrosos e escorregadios, precisando sustentar-se uns nos outros para caminhar com mais segurança.

Não, no mundo nem todos têm o mesmo fim e o mesmo espírito e dai vem a necessidade desses laços particulares que o Espírito Santo forma e conserva nos corações que lhe querem ser fiéis. Concedo que esta particularidade forme um partido, mas é um partido santo, que somente separa o bem do mal: as ovelhas das cabras, as abelhas dos zangões, separação esta que é absolutamente necessária.

Em verdade não se pode negar que Nosso Senhor amava com um amor mais terno e especial a S. João, a Marta, a Madalena e a Lázaro, seu irmão, pois o Evangelho o dá a entender claramente. Sabe-se que S. Pedro amava ternamente a S. Marcos e a Santa Petronila, como S. Paulo ao seu querido Timóteo e a Santa Tecla.

S. Gregório Nazianzeno, amigo de São Basílio, fala com muito prazer e ufania da sua íntima amizade, descrevendo-a do modo seguinte: "Parecia que em nós havia uma só alma, para animar os nossos corpos, e que não se devia mais crer nos que dizem que uma coisa é em si mesma tudo quanto é e não numa outra; estávamos, pois, ambos em um de nós e um no outro. Uma única e a mesma vontade unia-nos nos nossos propósitos de cultivar a virtude, de conformar toda a nossa vida com a esperança do Céu, trabalhando ambos unidos como uma só pessoa, para sair, já antes de morrer, desta Terra perecedora."

Santo Agostinho testemunha que Santo Ambrósio amava a Santa Mónica unicamente devido às raras virtudes que via nela e que ela mesma estimava este santo prelado como um anjo de Deus.

Mas para quê deter-te tanto tempo numa coisa tão clara? S. Jerónimo, Santo Agostinho, S. Gregório, S. Bernardo e todos os grandes servos de Deus tiveram amizades particulares, sem dano algum para a sua santidade.

S. Paulo, repreendendo os pagãos pela corrupção de suas vidas, acusa-os de gente sem afecto, isto é, sem amizade de qualidade alguma. S. Tomás de Aquino reconhecia, com todos os bons filósofos, que a amizade é uma virtude e entende a amizade particular, porque diz expressamente que a verdadeira amizade não pode se estender a muitas pessoas.

A perfeição, portanto, não consiste em não ter nenhuma amizade, mas em não ter nenhuma que não seja boa e santa.

in Filoteia, Introdução à Vida Devota (Cap. XIX)


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Tentações sacerdotais

Os Padres, Bispos, Cardeais e Papas, são vasos de barro, que trazem em si um tesouro Imenso, Infinito. Como vasos de argila são frágeis, facilmente quebradiços e sujeitos a muitas e tremendas tentações. Estas, como se sabe não são pecado, aliás, no Pai-nosso não pedimos a Deus que nos livre das tentações (embora todos têm a estricta obrigação moral de não se colocar em ocasião delas), imploramos sim que não nos deixe cair nelas, isto é, que nos conceda o Seu auxílio, a Sua Graça, para as vencermos, e não pecarmos.
 
Há tentações claras, diria evidentes, que de tão manifestas poderão ser repudiadas prontamente e com veemência. Outras, porém, são mais subtis, como que disfarçadas, seduzindo com grandes aparências de bem.
 
Uma muita perigosa é a do narcisismo. O narcisismo pode encontrar-se em muitos tipos de sacerdotes, quer nos impropriamente chamados avançados ou progressistas quer nos inadequadamente apelidados de tradicionalistas. Os primeiros, procurarão sobressair pelas celebrações litúrgicas criativas, por homilias fantasiosas, de mentalidade secularista, e declarações bombásticas desenquadradas, ou mesmo à margem, da Doutrina da Igreja, da Sagrada Escritura e da Tradição. 

Os segundos, que gostam muito de ser vistos, pelo contrário, buscam distinguir-se por celebrações cuidadas e devotas, regozijando-se com a admiração e elogios dos fiéis. Como os primeiros, embora de forma oposta, preocupam-se em fazer homilias que possam ser apreciadas, como que aplaudidas. Em vez de procurarem que as pessoas depois do sermão saiam insatisfeitas consigo próprias - arrependidas de seus pecados e empenhando-se por uma conversão cada vez maior -, esforçam-se para que os fiéis saiam muito satisfeitos e contentes com o pregador.
 
Todos os que padecem de narcisismo, embora de modos contraditórios, procuram a singularidade, não suportando passar despercebidos.
 
Outras tentações muito insidiosas, e que frequentemente vão juntas, são a do medo e a do “carreirismo” eclesiástico. Não poucos Padres e Párocos receosos de perderem as Paróquias ou os títulos que adquiriram querem fazer figura diante dos seus Bispos independentemente de se eles estão certos ou errados nas questões Doutrinais-Disciplinares. 

Assim, são capazes de escrever artigos ou fazer homilias advogando aquilo em que não acreditam e contra as suas consciências, por exemplo, darem a Comunhão a Pecadores públicos obstinados, com a desculpa esfarrapada de que não veem as pessoas a quem A distribuem. Não contentes com a desfaçatez hipócrita barram, recorrendo a falsas razões, a Celebração Eucarística a outros Padres, que seguindo o Magistério perene da Igreja e a Sua Sagrada Tradição se recusam a ser cúmplices facilitando os sacrilégios.
 
E o Padre ou Padres que são sistematicamente excluídos por estas razões e outras semelhantes, que deve fazer? Evidentemente, dar Graças a Deus e agradecer-lhe muito do fundo do coração que a Sua Providência Bendita lhe tenha concedido esta Graça da de poder viver e experimentar a humilhação. De facto, ninguém se torna humilde de não padecer humilhações.
 
À honra de Cristo. Ámen.

Padre Nuno Serras Pereira


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quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Perdão

Cristo pede-nos duas coisas: que condenemos os nossos pecados e perdoemos os dos outros, e que façamos a primeira coisa por causa da segunda, que será então mais fácil, pois aquele que pensa nos seus pecados será menos severo para com o seu companheiro de miséria. E perdoar não apenas por palavras mas «do fundo do coração», para que não se vire contra nós o ferro com que cremos trespassar os outros. 

Que mal te pode fazer o teu inimigo, que se possa comparar com aquele que fazes a ti próprio? Se te deixas levar pela indignação e pela cólera, serás ferido, não pela injúria que ele te fez, mas pelo ressentimento com que ficas.

Não digas: «Ele ultrajou-me, ele caluniou-me, ele causou-me inúmeros males.» Quanto mais disseres que ele te fez mal, mais demonstras que ele te fez bem, pois deu-te oportunidade de te purificares dos teus pecados. 

Deste modo, quando mais ele te ofende, mais hipóteses te dá de obteres de Deus o perdão dos teus pecados. Porque, se quisermos, ninguém poderá prejudicar-nos; até os nossos inimigos nos prestam um grande serviço. Reflecte portanto nas vantagens que obténs de uma injúria suportada com humildade e doçura.

São João Crisóstomo in 'Homilia sobre São Mateus, nº61'


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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Sacrifício Infantil ao longo da História



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Gens Cornelia

Desde há muitos séculos, a Igreja continua a celebrar no dia 26 de Janeiro a memória de uma mulher que morreu nessa data em Belém no ano 404. Chamava-se Paula, nascida em Roma 57 anos antes (5 de Maio de 347), da estirpe dos Cornelia, uma família da mais alta nobreza romana, que deu ao Império romano mais homens de Estado que qualquer outra na história de Roma. Com 16 anos, Paula casou-se com Toxotius, um senador ilustre, com quem teve cinco filhos: quatro filhas (Blesila, Paulina, Eustóquia, Rufina) e um filho, Toxotius, com o mesmo nome do pai.

Paula e o marido possuíam uma cultura invulgar. Ele descendia de gerações de jurisconsultos célebres e ela, no meio do luxo em que foi educada, teve oportunidade de estudar. Sabemos da história com algum pormenor porque S. Jerónimo, que a conheceu bem, escreveu a sua biografia («Epitaphium sanctae Paulae»).

O palácio onde viviam, no centro de Roma, situava-se onde existem hoje a igreja e os edifícios de San Girolamo della Carità. No antigo palácio se hospedou S. Jerónimo quando esteve em Roma e, na construção actual, viveu S. Filipe de Neri no século XVI, funcionaram durante vários séculos uma obra assistencial e um importante centro cultural (célebre sobretudo no âmbito da música) e encontram-se hoje a igreja de S. Jerónimo da Caridade e a biblioteca central da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, confiadas ao Opus Dei.

No seu enorme palácio, por onde passava meia Roma, Paula conheceu alguns cristãos e ainda mais nas suas viagens, refastelada num trono carregado em ombros por uma comitiva de escravos. Em particular, conheceu Marcela, também de ascendência nobre, uma mulher de qualidades extraordinárias, em cuja casa se reuniam muitas senhoras, em obras de assistência, de estudo e de oração. Paula, cada vez mais amiga de Marcela e de todo o grupo, decide converter-se. Quando o marido morre, tinha Paula 32 anos, muda-se praticamente para o palácio de Marcela, onde o grupo vivia com grande austeridade, que surpreendia a cidade de Roma. Que umas nobres romanas fossem viver naquelas condições causou furor e escândalo violento.

Foi Marcela quem apresentou Paula a S. Jerónimo, chegado a Roma em 382, com os bispos de Salamina e de Antioquia, chamado pelo Papa S. Dâmaso, para rever a tradução latina da Bíblia, participar num concílio e o ajudar nalgumas tarefas. Paula compreendeu o alcance do trabalho de revisão das traduções e foi essa a razão de S. Jerónimo e os dois companheiros se terem hospedado em casa de Paula nos três anos que viveram em Roma.

Em 385, um mês depois de S. Jerónimo regressar à Terra Santa, Paula parte com a filha Eustóquia para seguirem lá uma vida monástica austera. Em Belém, fundam dois mosteiros, um de homens e outro de mulheres, que deixaram uma grande marca espiritual e cultural e foram centros de acolhimento de gente necessitada.

O convento foi completamente destruído pelas hordas de assaltantes que aterrorizavam a Terra Santa, tiveram de fugir, mas voltaram e recomeçaram.

Paula e a filha, além de dominarem o grego e o latim, estudaram hebraico a fundo para colaborarem com S. Jerónimo na tradução e no comentário teológico da Bíblia. Trabalhavam também na execução de cópias manuscritas dos textos, que eram enviadas de Belém para todo o mundo. Ao mesmo tempo, tiveram êxito numa tarefa difícil: embora santo, o grande Jerónimo era um pessimista inveterado, de trato muito azedo com todos, e o conselho delas foi providencial para lhe corrigir o mau génio.

A amiga Marcela continuou em Roma, trocando cartas com Paula, que lhe contava notícias dos conventos de Belém e não desistia de a tentar convencer a ir ter com elas à Terra Santa.

A filha Blesila casou-se com um nobre, enviuvou passados 7 meses e levou uma vida desleixada até que, pela oração da mãe, se converteu e se juntou ao grupo de cristãs em casa de Marcela. Paulina casou-se com Pamáquio, um senador da estirpe dos Camilli, modelo de patrício cristão. Eustóquia acompanhou a mãe, como se disse, e sucedeu-lhe como abadessa do convento feminino. Rufina morreu de parto, muito nova. O filho Toxotius também se converteu e uma das suas filhas juntou-se ao convento de Belém e acompanhou S. Jerónimo no leito de morte.

Quando Paula morreu, no tal dia 26 de Janeiro de 404, colocaram o corpo na basílica da Natividade, em Belém. Participou no funeral todo o episcopado da Palestina, juntamente com os monges e as monjas dos conventos, muitos cristãos e uma multidão imensa de pobres; contam os relatos que a afluência foi impressionante. Anos depois, a filha Eustóquia foi sepultada ao lado da mãe e, ao lado delas, sepultaram S. Jerónimo, o antigo sábio irrascível mudado em sábio simpático.

A Igreja canonizou Marcela, Paula, Eustóquia, Blesila e Jerónimo. Tão diferentes, tão amigos.

José Maria C.S. André


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Padre Brancos em Cartago



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domingo, 24 de janeiro de 2021

O mais santo acto de religião

"Sabe, cristão, que a Missa é o mais santo acto de religião. Tu não consegues fazer nada que glorifique mais a Deus, não há nada pelo qual a tua alma lucre mais do que pela tua devoção a assistir à Missa e assistir à mesma o maior numero de vezes possível."

São Pedro Julião Eymard (1868) é conhecido hoje como o Apóstolo da Eucaristia devido ao seu grande amor por Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento. Como fundador de um instituto religioso na sua terra natal, França, e um proponente da Comunhão e da adoração Eucarística frequentes, devemos refletir nas suas palavras sobre a Santa Missa. 

Em todas as missas nós somos participantes no mesmo acto da nossa própria redenção. Pensemos sobre isto por um momento. O Bispo Fulton Sheen relembrou-nos que a Missa é o “acto de coroação do culto cristão” e que, no altar, é reencontrada a memória da Sua Paixão. Nós estamos lá, no Calvário, sempre que vamos à Missa. Quando o sacerdote oferece o Santo Sacrifício do Filho ao Pai, nós participamos unindo as nossas orações com as dele, oferecendo-as também a Deus. 

É óbvio pelo declínio geral visto nas presenças na Missa durante as últimas quatro décadas que poucos compreendem esta dimensão sobrenatural da sagrada liturgia. Demasiados católicos simplesmente não percebem o que está a acontecer na Missa. Aqueles de nós que escrevem sobre o assunto com regularidade fazem-no com esta verdade infeliz em mente. 

Restaurar a ideia do sagrado, instigando uma compreensão do sentido sobrenatural da Missa e reconhecendo que a Missa é, de facto, a “coroação do culto cristão” e “o mais santo acto de religião” não é somente um problema intelectual. A catequese é mais do que transmitir uma ideia; é também experienciar conhecimento. A ignorância sobre a Missa é uma falha litúrgica e de catequese. Lex orandi, lex credendi. 

Como podemos imaginar, outros famosos santos da Santa Madre Igreja, escreveram sobre a verdade e o poder da Missa. São Francisco de Assis disse uma vez: "Os Homens deviam tremer, o mundo devia abanar, todo o Céu devia ser profundamente movido quando o Filho de Deus aparece no altar nas mãos do padre."

Mas há uma pergunta que nos devemos fazer: Nós trememos? Vemos com o olhar da fé que o Filho de Deus está mesmo ali nas mãos do padre? Ou a verdade sobrenatural da Santa Missa está muitas vezes escondida dos nossos olhos, obstruída por inovações profanas e minimalismos puritanos?

A aversão pós-conciliar à beleza, ao tiro, à música sagrada, ao espaço sagrado e até à reverência formou uma geração de Católicos. Infelizmente a lição aprendida por muitos destas liturgias banais e antropocêntricas, foi a de que a Missa, longe de ser o mais santo acto de religião, era algo que fazemos mais por nós do que por Deus. 

Isto leva-nos ao ressurgimento da Missa tradicional durante os últimos anos, a qual é muitas vezes chamada Missa em latim ou Forma Extraordinária do Rito Romano. Ela permanece na modernidade, trazendo beleza e tradição quando tantos dentro e fora da Igreja não a têm. Muito dos fiéis têm descoberto uma maneira de adorar a Deus que transcende uma era específica, uma cultura ou preconceitos culturais. Beleza, silencio, consistência, confiança, universalidade… Tudo o que tantas vezes está ausente da sociedade é exatamente aquilo que encontramos na Missa antiga. 

É importante relembrar que o Sacrifício da Missa é oferecido para quatro fins: adoração, reparação, acção de graças e súplica. Quando assistimos devotamente à sagrada liturgia nós estamos a preencher cada um destes quatro fins. Redescobrir este entendimento mais profundo da nossa participação na Missa, a ideia de assistir verdadeiramente à Missa, deve ser levada em consideração. 

“Tu não consegues fazer nada que glorifique mais a Deus, não há nada pelo qual a tua alma lucre mais do que pela tua devoção a assistir à Missa e assistir à mesma o maior numero de vezes possível.” 

É importante perceber o que São Pedro Julião Eymard, um padre do século XIX, poderia querer dizer quando se referiu a assistir à Missa de forma devota. Não se trata de participar como hoje se entende o sentido da palavra. Nem é o movimento e a ocupação tão frequentemente encontrados na liturgia pós-conciliar. Mais do que isso, o santo está a falar da acção interior por parte dos fiéis; uma coisa muito mais fácil de discernir quando mais reverente e tradicional for a Missa. É a diferença entre estar e fazer. 

Abordando este mesmo assunto em 2008, o Cardeal Malcom Ranjith da Congregação Para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos disse: “Este tipo de participação na cação de Cristo, o Sumo Sacerdote, requere de nós nada menos do que uma atitude de total absorção n’Ele… Participação ativa, portanto, não é dar lugar a qualquer activismo mas a uma assimilação integral e total na pessoa de Cristo, que é verdadeiramente o Sumo Sacerdote daquela eterna e ininterrupta celebração da liturgia celestial.” 

Para entrarmos verdadeiramente na Missa devemos reconhecer a profundidade sobrenatural da sagrada liturgia. Para assistir devotamente não podemos ter medo das implicações. Isto não é uma questão de ver quais as funções litúrgicas que podem ser ampliadas para envolver os leigos; temos de transcender essa compreensão correctiva da participação. Em vez disso, a discussão deve ser sobre a melhor maneira de glorificar a Deus e lucrar almas. 

Brian Williams in Liturgy Guy 


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sábado, 23 de janeiro de 2021

Bispos americanos criticam veementemente Biden por defender o aborto

A Conferência Episcopal dos Bispos Norte-Americanos emitiu um comunicado como resposta à defesa que o Presidente, Joe Biden, tinha feito do "direito" ao aborto, no dia em que se comemoravam 48 anos do julgamento 'Roe vs Wade':

«É profundamente perturbador e trágico que qualquer Presidente elogie e se comprometa a consagrar uma decisão do Supremo Tribunal que nega aos nascituros o seu direito humano e civil mais básico, o direito à vida, sob o disfarce eufemístico de um serviço de saúde. 

Aproveitamos esta oportunidade para lembrar a todos os católicos que o Catecismo afirma: 

"Desde o primeiro século, a Igreja tem afirmado o mal moral de cada aborto voluntário. Este ensino não mudou e permanece imutável." 

Os funcionários públicos são responsáveis ​​não apenas pelas suas crenças pessoais, mas também pelos efeitos de suas acções públicas. A elevação do aborto, com o Roe vs Wade, ao estatuto de direito protegido, e a sua eliminação das restrições estaduais, pavimentou o caminho para a morte violenta de mais de 62 milhões de crianças inocentes por nascer e para o facto de inúmeras mulheres passarem pela dor da perda, abandono e violência.

Instamos veementemente o Presidente a rejeitar o aborto e a promover uma ajuda que defenda a vida às mulheres e às comunidades necessitadas.»


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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Comunicado da Conferência Pessoal de um Padre Normal

Uma vez que o actual Código de Direito Canónico finaliza com a afirmação de que a lei suprema da Igreja é a Salvação das Almas, esta Conferência, em virtude da actual situação pandémica, urge, em nome da Santa Obediência que não se posponha, de modo nenhum, o Santo Baptismo. Este, sendo possível administre-se, no máximo, no dia seguinte ao nascimento. 


De facto, a Doutrina da Igreja sempre afirmou que o Baptismo é necessário à Salvação (Eterna e Sobrenatural). Apesar de nos dias de hoje vários teólogos problematizarem S. Tomás no que diz respeito ao Limbo, o Magistério da Igreja limita-se a dizer que as crianças que não são baptizadas devem ser entregues à Misericórdia Divina. Por outras palavras, não existe no Ensinamento da Igreja nenhuma afirmação de que as crianças não baptizadas poderão ir para o Céu.

 

Sendo assim seria de uma temeridade monstruosa negar ou procrastinar o Baptismo de qualquer criança, ainda para mais em tempos de uma pandemia considerada de extrema gravidade.

 

O Baptismo essencialmente é um mergulho na Morte de Cristo para com Ele Ressuscitar como Filho de Deus, Templo vivo do Espírito Santo, membro do Corpo Místico de Cristo e incorporado à Sua Igreja. Ora para que este Milagre prodigioso aconteça basta a presença de um Padre ou de um Diácono, os pais, ou pelo menos um deles (ou o pai ou a mãe) e, sendo possível, um padrinho ou uma madrinha.

 

A festa com a família os amigos poderá ser feita em qualquer outra altura. Seria bom que ela iniciasse com uma Missa de Acção de Graças que implorasse também todas as Graças para a criança e sua família.

 

À honra de Cristo. Ámen.


Padre Nuno Serras Pereira



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quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Concílio de Trento definiu dogmaticamente que na Igreja Católica há 7 Ordens

Sessão XXIII
Celebrada no tempo do Sumo Pontífice Pio IV, em 15 de Julho de 1563

Cap. II - Das sete Ordens

Sendo o ministério tão santo do sacerdócio, uma coisa divina, foi oportuno para que se pudesse exercer com maior dignidade e veneração que, na constituição ajustada e perfeita da Igreja, houvessem muitas e diversas graduações de ministros, que servissem por ofícios ao sacerdócio, distribuídos de modo que os que estivessem distinguidos com a tonsura clerical, fossem ascendendo das menores para as maiores ordens, pois não somente menciona a Sagrada Escritura claramente os sacerdotes, e também os diáconos, ensinando com gravíssimas palavras que coisas especiais se haverão de ter presentes para que sejam ordenados, e a partir do mesmo princípio da Igreja, se sabe que estiveram em uso, ainda que não em igual graduação, os nomes das ordens seguintes e os ministérios peculiares de cada uma delas a saber: do subdiácono, acólito, exorcista, leitor e ostiário ou porteiro, pois os Padres e sagrados concílios enumeram o subdiácono entre as ordens maiores, e achamos também neles com grande frequência, menção das ordens inferiores.

Cân. II - Se alguém disser que não existe na Igreja Católica, além do sacerdócio, outras ordens maiores e menores, pelas quais, como por certos graus, se ascenda ao sacerdócio, seja excomungado.


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Espanha: Crucifixo removido da via pública e colocado no lixo

Este foi o triste que fim dado hoje à "Cruz de las Descalzas de Aguilar de la Frontera". Este crucifixo encontrava-se à porta do Convento das Carmelitas Descalças desde 1939, ano em que acabou a Guerra Civil Espanhola.

A decisão foi do 'Ayuntamento de Aguilar', que disser ser necessário remodelar aquele espaço e o crucifixo não seria compatível com a nova disposição daquela praça. Obviamente uma desculpa para retirar dali o maior dos símbolos cristãos - ainda para mais com um tamanho considerável - e colocá-lo no lixo, como se pode ver na segunda imagem.
"In hoc signo vinces"





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terça-feira, 19 de janeiro de 2021

10 Razões pelas quais é tão difícil tornar-se Católico

É difícil tornar-se Católico? 

Eu já falei com mais ou menos entre 50 a 100 ministros protestantes que se tornaram Católicos ou que estão a pensar entrar em comunhão plena com a Igreja Católica. A maior parte são anglicanos ou presbiterianos. Poucos luteranos.

Com o passar dos anos, fui juntando as "dez grandes" coisas que ou causam dor ou levam uma pessoa a dizer "Não obrigado", à Igreja Católica.

#10 Submissão teológica
É difícil dizer serviam ("Servirei"). A teologia já não é "o que eu penso". Requer uma submissão da mente. Ao mesmo tempo, isto é uma libertação da mente. Ainda assim, é difícil dizer a si próprio: "Eu não percebo completamente o tesouro dos méritos, mas submeto a minha razão à razão da Igreja."

#9 Sacerdotes
Os sacerdotes Católicos não são como os ministros protestantes. Em termos relativos, eles são mais distantes que o clero protestante, embora por boas razões, algumas vezes. Um protestante tem a experiência de um ministro a sorrir sempre que o vê, que decora o seu nome e geralmente a muda o seu caminho para criar uma ligação pessoal. Isto raramente acontece no Catolicismo. Eu admito isto - magoa um bocado o meu orgulho. Eu gostava de ser cumprimentado e aclamado pelo pastor depois da Missa. É de humildade fazer parte das massas na Missa.

Os ministros protestantes normalmente têm congregações mais pequenas e mais competição entre si. Assim sendo, é muito mais provável que o ministro diga, "Hey, 'bora ao Starbucks esta semana para falar sobre a tua fé."

Claro, eu conheço dúzias de sacerdotes Católicos que de facto se dão a conhecer a um nível pessoal mas, em grande parte, os sacerdotes Católicos esticam-se menos. Consequentemente, o acesso pessoal é mais raro. E, para ser honesto, fico contente por saber que os meus sacerdotes estão a ouvir confissões e a ir para o hospital a toda a hora. Estão assim a usar muito melhor o seu tempo do que quando estão a beber um café caro comigo.

#8 Liturgia
Começo a pensar que não há nada tão controverso como a liturgia da Igreja Católica. Está no centro de tudo.

Eu gosto de liturgias bonitas e exactas. Os rapazes de altar a virar-se num instante e a fazer um ângulo recto de 90 graus à volta do altar. Latim. Canto gregoriano. Genuflexões sincronizadas. Sinais da cruz bem definidos. O corporal dobrado da maneira certa (para cima e não para baixo!). Devem ter adivinhado. Eu assisto vou à Missa Tradicional.

No entanto, não é assim em todo o lado. Há algumas liturgias fantásticas e algumas liturgias não tão fantásticas. Às vezes, potenciais convertidos vão a uma liturgia não tão fantástica, com muitas rúbricas quebradas e excentricidades. É difícil para muitos deles - especialmente se vêm de uma forma de protestantismo mais litúrgica. Não sei qual a melhor maneira de responder a este problema. Tudo o que sei é que é um problema.

#7 Lidar com o matrimónio, o divórcio, a homossexualidade, a contracepção e o aborto
Algumas pessoas têm casamentos irregulares, vivem estilos de vida homossexuais ou gozam dos confortos da contracepção. É doloroso permitir que o vosso divórcio e novo casamento seja examinado pelo tribunal do Bispo. É embaraçoso falar de um "estilo de vida". Não é fácil imaginar ter uma carrinha cheia de lugares no carro ou ter que repensar a vasectomia.

Nalguns casos as pessoas têm que voltar a pensar num aborto que ocorreu décadas atrás. Este tipo de coisas cortam fundo no coração e fazem-nos sofrer. Tudo isto é compreensível e penso que estas coisas deviam ser tratadas com cuidado e compaixão. Se são potenciais convertidos, rezem e procurem um bom padre com quem possam falar em confidência.

Digo também, por experiência pessoal, que a cura de uma boa confissão é cerca de 100 vezes mais poderosa que qualquer vergonha ou medos associados com problemas passados. Penso que outros concordariam.

#6 Desconfortos financeiros
Se são clérigos então estão a preparar-se para perder a vossa grande pensão, os grandes benefícios de saúde, os fundos descricionários e o vosso salário. Eu já passei por isso e é duro. É como se não tivessem sido treinados para fazer alguma coisa que seja comerciável. Duvido que alguma pessoa vos pague para escreverem sermões para eles ou para liderar um pequeno grupo de estudo da Bíblia. Isto sem dizer que a maior parte dos ministros passam por um grande corte nos pagamentos quando se tornam Católicos. O dinheiro para sustentar a família vai-se abaixo. Normalmente começam a ter mais crianças. E, além disso, começam a pagar a educação na paróquia - mais outro tiro no bolso.

#5 Confusão vocacional
Foi difícil, no início, admitir que o meu sacerdócio anglicano era inválido. Eu não era sacerdote há muito tempo, mas ouvia confissões, ungia os moribundos, etc. O que é que eu estava a fazer? O que estava Deus a fazer? Porque é que Deus me deixava actuar sacramentalmente em pessoas que estavam profundamente afligidas? Ainda não sei como "classificar" esses actos ministeriais.

Penso que outros futuros convertidos lutam com estas mesmas ideias. Mesmo se sendo leigos, pensam sobre as suas funções passadas como professores da escola dominical, mentores, líderes de estudo da bíblia, conselheiros, etc.

#4 Ser ridicularizado e considerado estranho por não-Católicos
A família e os amigos não percebem. Mesmo quando tentam perceber, nunca vão apreciar as frustrações, os estudos e a procura de coração que está por trás do tornar-se Católico. Alguns Anglicanos ainda me chamam "Padre", o que me faz sentir desconfortável. Outros escreveram coisas terríveis sobre mim. Nunca fui tão atacado por mais nada senão isto na minha vida.

A tensão normalmente aparece com os pais e irmãos. Até já ouvi falar de convertidos cujas heranças lhes foram cortadas por se terem tornado "Romanos".

#3 Ser ridicularizados e considerado estranhos por Católicos
Isto pode parecer estranho, mas alguns Católicos desconfiam dos que se convertem ao Catolicismo. Aparecem em duas formas. Tipo A é o Católico de berço que tem tudo organizado e suspeita que o convertido seja um cripto-protestante, sem prática nos modos próprios de ser Católico. Se o novo Católico reza de improviso, então diz "Nós não fazemos assim." Se o convertido cita a Escritura para dizer alguma coisa, eles também franzem os olhos sobre isto.

Alguns Católicos também pensam que ajuda ridicularizar o meu passado como não-Católico, como se isso de alguma forma me validasse como "um deles".  Alguns Católicos simplesmente gostam imenso de ouvir convertidos a dizer mal da sua antiga fé. Isto coloca o convertido numa posição estranha.

Tipo B é o Católico de berço que está menos comprometido com as coisas próprias da fé Católica. Eles vêem os convertidos cheios de zelo como uma ameaça. Estes convertidos preocupam-se demasiado com os dogmas e a verdade. E isto leva-nos ao obstáculo número dois...

#2 Catequese para adultos 
A catequese para adultos deve ter sido inventada para que cada conversão à Igreja Católica pareça, de algum modo, milagrosa. Isto porque a Catequese para adultos é normalmente dirigida ou organizada por alguém que é um Católico "tipo B" descrito em cima. Estas pessoas não parecem perceber o quão zelosos podem ser estes convertidos. Os catequistas salientam mais a parte dos "sentimentos" do Catolicismo e não a parte da "ortodoxia" do Catolicismo, para grande desgosto dos convertidos que já tiveram demasiados apelos protestantes aos seus sentimentos.

É impressionante quantas pessoas "desistem" na catequese para adultos. E também é impressionante quantos conseguem passar. Conheço muitas pessoas que tiveram experiências de catequeses para adultos maravilhosas, mas conheço muitas mais que tiveram que defender a fé Católica enquanto faziam a catequese.

Para assegurar que não magoo ninguém, saúdo e aplaudo todos os grandes catequistas de catequese para adultos que existem por aí. Sei que andam por aí e estamo-vos agradecidos! Continuem o bom trabalho.

#1 Orgulho
Não sei como dizer isto de uma forma espirituosa, mas o orgulho tem o primeiro lugar. Num certo ponto da vida, senti que era demasiado bom para todas aquelas pessoas que respeitavam o Menino Jesus de Praga. Tenho vergonha de o admitir, mas aí está. Porquê aderir a uma religião onde as pessoas pintam imagens de Nossa Senhora de Guadalupe nos capôs dos seus lowriders [carro típico americano]? (Eu cresci no Texas...) Um cavalheiro protestante uma vez disse-me que não podia ser Católico porque era "uma religião das massas". Eu perguntei-lhe o que é que ele queria dizer com isso e o termo "Mexicanos" estava implícito na sua resposta.

Estar contra a religião das massas e imigrantes é ser snob.

Simplesmente é mais giro ir a uma mega-igreja evangélica que tenha uma piscina, um campo de basket, apresentações powerpoint e uma fantástica "equipa de louvor". Às vezes gostava que as nossas homilias tivessem  boas referências culturais ou finais de cortar a respiração. No entanto, isto não é o mais comum na homilia de paróquias. 

Taylor Marshall


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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

A (falsa) liberdade de imprensa

Continuemos agora essas considerações sobre a liberdade de exprimir pela palavra ou na imprensa tudo o que se quer. Sem dúvida, se esta liberdade não é temperada pela boa medida, se ela ultrapassa os limites e a medida, uma tal liberdade, evidentemente, não é um direito, pois o direito é uma faculdade moral. E como nós já dissemos e devemos sempre repetir, seria absurdo pensar que essa faculdade pertence naturalmente e sem distinção nem discernimento à verdade e à mentira, ao bem e ao mal. 

A verdade, o bem, pode-se propagá-lo no Estado com uma liberdade prudente para que um maior número seja beneficiado; mas as doutrinas falsas, peste mortal para as inteligências, os vícios que corrompem os corações e os costumes, é justo que a autoridade pública os reprima com diligência, para impedir que o mal se estenda e corrompa a sociedade. 

E as maldades das mentes licenciosas que redundam em opressão da multidão ignorante não devem ser menos punidas pela autoridade das leis que qualquer atentado da violência cometido contra os fracos. E essa repressão é tanto mais necessária quanto mais indefesa é a grande maioria da população, impossibilitada de se defender contra esses artifícios do estilo ou as subtilezas da dialéctica, principalmente quando tudo isso excita as paixões. 

Dêem a todos a licença ilimitada de falar e escrever e nada mais será sagrado e inviolável, nada será poupado, nem mesmo estas verdades primeiras, estes princípios naturais que devemos considerar como um nobre património comum a toda a humanidade. A verdade é assim invadida pelas trevas e nós assistimos, como tantas vezes, ao fácil estabelecimento e à plena dominação dos erros os mais perniciosos e os mais diversos.

Papa Leão XIII in Encíclica 'Libertas Praestantissimum' (20.VI.1888)


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sábado, 16 de janeiro de 2021

Os mártires de Marrocos, enviados por São Francisco para converterem os muçulmanos

Em 1219, São Francisco de Assis enviou em missão para Marrocos seis dos seus mais destemidos frades menores, apaixonados do Evangelho, precursores de todos os missionários portugueses, lançados ao mar tenebroso e à conquista dos povos para Cristo obedecendo ao mandato do Infante de Assis em serviço do Rei dos reis, Jesus Cristo:

"Meus Filhos, o Senhor disse-me que vos mande aos sarracenos a lhes pregar a fé e a combater a lei de mafoma. Eu vou também a outras terras trabalhar na salvação dos infiéis. Sede prestos a cumprir a vontade do Senhor. Entre vós conservai a paz, a concórdia e a caridade. Sede humildes na tribulação e imitai a Jesus Cristo na pobreza na castidade de na obediência. Ponde as vossas esperanças em Deus, ele vos sustentará e vos guiará. Aquele que vos envia, Ele mesmo velará por vós vos inspirará o que houverdes de dizer." Ajoelharam e S. Francisco concluiu: “Desça sobre vós a benção de Deus Pai, como desceu sobre os Apóstolos Ele vos acompanhe e fortifique nas tribulações. Não temais nada porque Deus está convosco. Ide em Nome do Senhor."

E lá foram os obedientes frades de origem italiana: Vital, Berardo, Otão (sacerdotes), Pedro (Diácono), Acúrsio e Adjuto (Leigos). 

Foram recebidos em Coimbra pela rainha D. Urraca, mulher de Afonso II que então reinava em Portugal. Continuaram para Alenquer onde se apresentaram à infanta D. Sancha, filha de D. Sancho primeiro e irmã do rei D. Afonso II, fundadora do primeiro convento franciscano em Portugal. Seguiram viagem e depois de passarem em Lisboa, chegaram a Sevilha. Aí ficaram uma semana, finda a qual foram à mesquita, precisamente no dia em que os mouros festejavam Maomé e começaram a pregar a doutrina de Jesus e denunciando que o profeta Maomé não passava de uma idolatria. Corridos à pancada para fora da mesquita, passaram a Marrocos, onde começam a percorrer as ruas pregando o nome de Jesus e, quando vêem aproximar-se o Miramolim Aboidil, com mais ânimo continuaram a proclamar a mensagem cristã. 

O Miramolim mandou-os prender e ficaram numas masmorras vinte dias sem comer nem beber. Uma vez libertos, apressaram-se em retomar a sua missão. Decretada mais uma vez a sua morte, o Sultão encarrega o seu filho Abosaide de os prender e decapitar. É chegado então, e definitivamente o momento tão desejado por estes frades, finalmente o martírio pelo nome de Jesus iria por fim acontecer. Foi realmente uma morte violenta a destes cinco frades. 

São açoitados e, atados de mãos e pés, arrastam-nos de um lado para o outro com cavalos e em seguida, sobre seus corpos descarnados deixam cair azeite a ferver, continuando depois a arrastá-los pelo chão mas desta vez sobre vidros e cacos espalhados pelo chão. O Miramolim ainda os tentou com dinheiro e mulheres. Mas não havia nada a fazer e o Miramolim dizia então que só a espada poderia calar aqueles homens decididos e firmes no que diziam. “O nossos corpos miseráveis estão nas tuas mãos sob a tua autoridade, mas as nossas almas estão nas mãos de Deus. 

Com a sua ira no limite, o Miramolim pegou na sua cimitarra a acabou com a vida daqueles cinco frades, rachando-lhes o crânio ao meio e depois decepando-lhes as cabeças. Era o ano de 1220. Dia 16 de Janeiro. Cedo acabou a tarefa missionária daqueles cinco frades, mas a sua voz continua a ecoar por toda a terra e a sua mensagem até aos confins do mundo. Os Mártires de Marrocos foram canonizados pelo Papa Sisto IV em 1481.


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Faz sentido adiar o Baptismo por causa da Covid-19?

Tem havido bastante controvérsia sobre se - por razões de saúde - devem ser adiados os Baptismos. 

O Catecismo da Igreja Católica explica que o Baptismo é necessário como meio para a salvação da alma:

«1257. O próprio Senhor afirma que o Baptismo é necessário para a salvação. Por isso, ordenou aos seus discípulos que anunciassem o Evangelho e baptizassem todas as nações. O Baptismo é necessário para a salvação de todos aqueles a quem o Evangelho foi anunciado e que tiveram a possibilidade de pedir este sacramento. A Igreja não conhece outro meio senão o Baptismo para garantir a entrada na bem-aventurança eterna.»

Por isso mesmo, a Igreja Católica sempre enviou missionários para o Mundo inteiro, em ordem a que todas as pessoas pudessem conhecer Jesus Cristo e receber o Baptismo.  

E é também por causa da importância fulcral desse sacramento que o Código de Direito Canónico urge os pais a baptizarem os filhos nas primeiras semanas de vida:

«Cân. 867 — § 1. Os pais têm obrigação de procurar que as crianças sejam baptizadas dentro das primeiras semanas; logo após o nascimento, ou até antes deste, vão ter com o pároco, peçam-lhe o sacramento para o filho e preparem-se devidamente para ele.
§ 2. Se a criança se encontrar em perigo de morte, seja baptizada sem demora.»

Num baptismo apenas são necessárias as seguintes pessoas: sacerdote (em condições normais), baptizando e padrinhos. No caso de ser uma criança, os pais, ou pelo menos  o Pai ou a Mãe. 

Sendo necessárias tão poucas pessoas, não se percebe que um baptismo seja adiado por causa da Covid-19. Especialmente tendo em conta de quão importante é esse sacramento para a salvação das almas, que é a suprema lei da Igreja.

João Silveira


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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Absoluta tranquilidade da alma e perfeita pureza de coração

O objectivo último do monge e a perfeição do coração consistem numa perseverança ininterrupta na oração. Tanto quanto é dado à fragilidade humana, trata-se de um esforço em direcção a uma absoluta tranquilidade da alma e a uma perfeita pureza de coração. É por esta razão que devemos afrontar os trabalhos corporais e procurar por todos os meios a verdadeira contrição do coração, com uma constância que não desfaleça. 

Para ter o fervor e a pureza que deve ter, a oração exige uma fidelidade total no que respeita aos seguintes aspectos. Em primeiro lugar, uma libertação completa de todas as inquietações relacionadas com este mundo; não pode haver assunto algum ou qualquer interesse que não deva ser totalmente excluído. Do mesmo modo, renunciar à maledicência, à coscuvilhice, à palavra vã e à zombaria. Acima de tudo, suprimir definitivamente as perturbações da cólera e da tristeza. Fazer morrer em si todo o desejo carnal e o apego ao dinheiro.

Após esta purificação, que assegura a pureza e a simplicidade, há que lançar o fundamento inquebrantável de uma humildade profunda, capaz de sustentar a torre espiritual que se pretende que chegue ao Céu. 

Por fim, para que sobre ela repouse o edifício espiritual das virtudes, é preciso proibir à alma toda a dispersão em divagações e pensamentos fúteis. Então, um coração purificado e livre começa pouco a pouco a elevar-se até à contemplação de Deus e à intuição das realidades espirituais.

S. João Cassiano in Conferências, n°9; SC 34 


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quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Canal Senza Pagare no Telegram

Queridos leitores, o Senza Pagare já se encontra no Telegram: https://t.me/senzapagareblog

Além disso, estamos também no Instagram, com publicações diferentes: https://www.instagram.com/senzapagareblog

O blog continua banido do Facebook, e de todas as redes socais detidas por essa empresa. Até agora, esse acto não foi explicado nem justificado.

Paz e Bem


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quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Madre Angélica contra a "Igreja liberal"

Neste vídeo, a corajosa Madre Angélica explica os erros do catolicismo liberal, que tenta destruir a verdadeira Igreja Católica, fundada por Jesus Cristo.


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Expressão da Liberdade

1. A liberdade de expressão para o ser realmente deve ser uma expressão da liberdade. A liberdade é um “órgão” espiritual que, ao contrário do que muitos pensam, não é indiferente ou neutro perante a realidade, mas sim inclinado ou orientado para a verdade e o bem. A liberdade é a capacidade de se auto-determinar na realização do bem. É certo que em virtude do pecado original, do pecado do mundo (o “ambiente” de pecado) e do pecado actual (o de cada um) esta inclinação encontra resistências, enganos, ilusões, podendo distorcer-se e perverter-se. Por isso, aquilo que é essencialmente uma revelação da dignidade da pessoa no seu decidir e agir pode ser usado para a degradar e corromper. 

Daqui se costuma concluir que “a liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade do outro”. Não conheço a origem deste dito, nem o seu significado genuíno. Mas a formulação, tal como soa, não me parece feliz. De facto, somente a coexistência de liberdades favorece, nutre e vivifica a liberdade de cada um. E uma vez que cada pessoa só se realiza humanamente enquanto é responsável pelo seu decidir e agir, importa exercitar-se na tolerância para com os indivíduos que erram ou caiem (afinal, de algum modo, todos nós) na sua demanda da verdade e do bem. A liberdade de expressão é então um reconhecimento da dignidade da pessoa, uma possibilidade de se auto-comunicar, de contribuir para o bem comum, de aprendizagem, de correcção, de se enriquecer acolhendo os outros na sua auto-doação, pela expressão.

2. Se a liberdade de cada um se afirma na coexistência de liberdades isso significa que estas são entre si co-responsáveis, que, na sua relação, são o húmus que sustenta e possibilita a realização em plenitude da liberdade de cada qual. Por isso, cada um é responsável pelo bem comum, isto é, pelo bem de todos e de cada um, pela liberdade de todos e de cada um. Assim, quem transforma a liberdade de expressão, exorbitando-a, em vontade de poder (na acepção negativa desta expressão), escraviza-se à idolatria de si mesmo – ao procurar dominar os outros, a sua deles liberdade, destrói a seiva que alimenta a sua, acabando por fenecer. Ao mutilar a relação essencial do seu eu com a verdade e o bem na sua entrega aos outros, ao isolar-se, ao ensoberbecer-se, é manipulado pelo caos, tornando-se “missionário” da desagregação, da dissolução, da morte.

Compreende-se, pois, que a liberdade tenha de se defender recorrendo ao direito natural, isto é, à verdade universal, (que por sê-lo é a todos acessível) reconhecida pela razão, capaz de critério e de discernimento justos. O direito positivo, que não pode opor-se ao direito natural sob pena de se transformar na expressão dos interesses dos mais fortes, deve usar as suas capacidades de modo a potencializar as liberdades garantindo a coexistência das mesmas.

3. Compete, pois, ao direito dissuadir, prevenir e punir os abusos da liberdade de expressão. Que num estádio de futebol, por exemplo, alguém grite falsamente que há uma bomba, gerando o pânico, com todas as consequências que daí podem advir é claramente um abuso da liberdade de expressão. Também é evidente que a publicitação do consumo de droga constitui um atentado à liberdade. Reivindicar a liberdade de expressão para incitar ao sexo, fora de um contexto de amor verdadeiro e irrevogável, é claramente um abuso de quem tem poderosos interesses económicos e uma agenda tenebrosa. O direito deve salvaguardar a moralidade pública (o que consta aliás das nossas leis, embora sejam letra morta), porque esta é fonte de liberdade. 

Do mesmo modo que não é um atentado à liberdade de expressão impedir a publicitação do incesto, da pedofilia ou do consumo de droga, também os grandes meios de comunicação social, por exemplo, que nos dias de hoje são dotados de um poder imenso de modelar e manipular as consciências deviam ser sujeitos a um rigoroso escrutínio jurídico que os penalizasse duramente pelos sistemáticos atentados à dignidade e à liberdade das pessoas. Tanto mais que estas, abandonadas a si mesmas, não têm possibilidade nem capacidade de defesa adequadas ás injustiças de que são vítimas. Em nome da liberdade de expressão estes poderosíssimos meios recorrem habitualmente a uma censura selectiva, ignorando sistematicamente o que não convém aos seus objectivos, e distorcem acontecimentos e opiniões, sem que uma grande multidão dos receptores, possa sequer ter disso consciência.

Num conluio entrecruzado de interesses económicos, políticos/ideológicos e comunicacionais a vontade de poder manipula inclusive os instrumentos jurídicos - elaborados para garantir a liberdade de expressão e prevenir os seus abusos -, para perseguir e silenciar todos aqueles que legitima e responsavelmente se exprimem contra a tirania da mentalidade dominante opondo-se ao totalitarismo que subjuga e aliena a liberdade.

Padre Nuno Serras Pereira


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terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Sobre o novo documento do Papa Francisco: leitoras e acólitas

Com o seu último motu proprio, Spiritus Domini, o Papa Francisco abriu os ministérios laicais às mulheres. O Cân. 230 do Código de Direito Canónico, que dizia:

"Os leigos do sexo masculino, possuidores da idade e das qualidades determinadas por decreto da Conferência episcopal, podem, mediante o rito litúrgico, ser assumidos de modo estável para desempenharem os ministérios de leitor e de acólito; porém, a colação destes ministérios não lhes confere o direito à sustentação ou remuneração por parte da Igreja."

Passou a dizer:

"Os leigos que tiverem a idade e as aptidões determinadas com decreto pela Conferência Episcopal..."

Os ministérios laicais foram introduzidos na Igreja pelo Papa Paulo VI, em 1972, com o motu proprio proprio Ministeria quædam. Com este documento, Paulo VI acabou, pura e simplesmente, com as 4 ordens menores que existiam na Igreja desde os primeiros séculos: Ostiário, Leitor, Exorcista e Acólito. Acabou também com a primeira das ordens maiores - Subdiaconado - mantendo apenas as ordens maiores do Diaconado e Presbiteriado (Sacerdócio). 

A entrada na vida clerical - que acontecia com a tonsura, seguida das 4 ordens menores e 3 maiores para quem tivesse vocação sacerdotal - passou, assim, a acontecer apenas quando se é ordenado diácono. Antes disso apenas existem os tais ministérios laicais, que são formas estáveis de servir na liturgia, seja como leitor ou acólito.

Desde que foram criados, estes ministérios tinham sido apenas acessíveis aos homens, porque implicam o serviço dentro do presbitério (a parte que rodeia o altar). Aconteceu que por abuso, como é tão usual nos últimos 60 anos da Igreja, as mulheres começaram também a desempenhar essas funções. Depois de anos e anos de abuso, este motu proprio veio permitir que essas funções fossem realizadas de modo estável, segundo a lei.

Uma situação análoga aconteceu com a possibilidade de receber a Sagrada Comunhão na mão. Os ensinamentos da Igreja eram muito claros e bem-justificados, em relação à obrigação de receber a Comunhão na boca. Acontece que décadas de abusos nos países do centro da Europa, nomeadamente: Holanda, Bélgica e Alemanha, fizeram com o Papa Paulo VI escrevesse um documento (Memoriale Domini em 1969) a recomendar a comunhão na boca mas a tolerar a comunhão na mão, onde já estivesse a acontecer de facto e onde as Conferências Episcopais o permitissem. 

Resultado: 50 anos depois a comunhão na mão é praticamente obrigatória e a comunhão na boca praticamente proibida. 

Está visto que, hoje em dia, a desobediência, não só às autoridades eclesiais actuais mas ao que a Igreja fez durante séculos e séculos, compensa. O motu proprio Spiritus Domini é mais uma prova disso.

João Silveira


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