segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A mulher mais poderosa do mundo

«A mulher mais poderosa do mundo», foi o título de capa da edição americana da «National Geographic» de Dezembro passado. No interior, a revista trata o tema profissionalmente. Documentou-se e convence: mesmo descontando milagres e aparições, o poder da Mãe de Jesus chega a definir a identidade de povos inteiros. Nem sequer a rainha de Inglaterra se compara! Notícia que deixou os leitores norte-americanos impressionados e teve grande eco na imprensa.

Na viagem ao México, Francisco brincou com o assunto: até os mexicanos ateus se identificam com a mensagem de Nossa Senhora em Guadalupe. Quanto mais ele, Papa! Na viagem de ida anunciou: «O meu desejo mais íntimo é ficar a olhar para a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, um mistério que se estuda, estuda, estuda e continua sem explicação... é uma coisa de Deus». 

O Papa referia-se a algumas características daquela imagem que ainda hoje não se conseguem imitar, mas o importante para ele era ficar a olhá-la e saber-se olhado. O santuário percebeu o recado e colocou-lhe uma cadeira em frente da imagem, para que o Papa se demorasse ali, quase sozinho. Quando os jornalistas lhe perguntaram o que tinha estado a rezar durante aquele tempo todo, Francisco desvendou uma ponta, mas guardou o resto: «...as coisas que um filho diz à sua querida mãe são um segredo!».

Na escala anterior, em Cuba, o Papa tinha-se deparado com outro sinal impressionante do poder de Maria. É uma longa história, com passagem por Portugal: o ícone de Nossa Senhora de Kazan que o Patriarca Kirill ofereceu ao Papa.

A imagem original, pintada em data incerta, esteve vários séculos no mosteiro de Kazan e dela se fizeram muitas reproduções, em igrejas espalhadas pela Rússia. Despareceu em 1209, nas guerras, e foi recuperada em 1579, nos escombros de um incêndio, em circunstâncias miraculosas. Tornou-se então a referência da Rússia, a salvadora da pátria: primeiro contra os polacos; depois contra os suecos; a seguir contra Napoleão. 

A imagem tornou-se o ícone da família do Czar e Pedro o Grande colocou uma cópia na catedral dedicada a Nossa Senhora de Kazan, em São Petersburgo, a nova capital. Esta catedral também tem uma história curiosa. Nalgumas fotografias, parece a praça de S. Pedro em Roma, com a colunata e a basílica, e a intenção era mesmo essa, como expressão do anseio de a Rússia se unir novamente à Igreja católica. A Igreja ortodoxa protestou com todas as forças contra aquela arquitectura, mas o Czar foi mais teimoso.

A imagem foi roubada da catedral em 1904 e por isso os comunistas já não lhe deitaram a mão, limitaram-se a destruir os outros exemplares e arrasar as respectivas igrejas, ou destiná-las a instalações sanitárias e funções ridículas. Só conservaram a catedral de São Petersburgo, para Museu do Ateísmo. Ao cabo de clandestinidades várias, o ícone escapou da União Soviética e foi parar às mãos de comerciantes oportunistas. A associação católica «Exército Azul» (azul, cor de Nossa Senhora) resgatou-o colocou-o na capela bizantino-russa da «Domus Pacis» (Casa da Paz), junto ao santuário de Fátima, à espera de ser devolvida aos russos. 

Em 1993, depois da queda do muro de Berlim, foi para Roma, onde o Papa João Paulo II a guardou com grande devoção no seu gabinete, com a intenção de a levar pessoalmente à Rússia. Infelizmente, a igreja ortodoxa russa rejeitou todas as tentativas de o Bispo de Roma visitar o país.

Em 1997, ao tornar-se pública alguma documentação da II Guerra Mundial, soube-se que Elias, então Metropolita russo no Líbano, tinha enviado uma missiva a Stalin, levada em mão pelo próprio Chefe do Estado-Maior da Armada Vermelha, a contar-lhe uma visão: Stalin devia libertar o clero da prisão e deixar que o ícone de Kazan fosse levado em procissão em várias cidades. 

O receio supersticioso de Stalin explica o chamado «período religioso» (entre 1941 e 1942) e o ter atribuído ao Metropolita Elias o prémio Stalin, «por serviços eminentes à União Soviética e à causa do socialismo». Elias não quis receber dinheiro do ditador e entregou-o para ajuda aos órfãos da guerra; derrotados os nazis, Stalin esqueceu o «período religioso».

Em 2004, João Paulo II desistiu de esperar pela oportunidade de visitar a Rússia e enviou uma delegação para entregar o ícone ao Patriarca ortodoxo, como sinal do desejo de unidade. A delegação foi acolhida, mas a oferta foi desvalorizada: a primitiva pintura tinha-se perdido, aquela era só uma cópia, talvez a roubada da catedral de São Petersburgo; afinal, o Papa só devolvia aos ortodoxos o que já lhes pertencia...

Tanta coisa mudou entretanto que Kirill, actual Patriarca de todas as Rússias, escolheu justamente uma cópia dessa imagem para a oferecer ao Papa Francisco, como «expressão de unidade».

José Maria André in Correio dos Açores, 28-II-2016


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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Cardeal Patriarca de Lisboa abençoa a cidade com o Santo Lenho

D. Manuel Clemente abençoou a cidade de Lisboa com uma relíquia da Santa Cruz, durante a Procissão do Senhor dos Passos da Graça. Esta é a procissão mais antiga de Portugal, acontecendo todos os anos, ininterruptamente, desde 1587.


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Umberto Eco: de católico a ateu - Vittorio Messori

Vittorio Messori, jornalista famoso em matérias relacionadas com a Santa Sé, entrevistou em tempos Umberto Eco. A entrevista focou-se sobretudo no facto de Umberto Eco ter deixado de ser Católico.

Agora, depois de Eco morrer, Messori escreveu um texto sobre essa entrevista.

Fica marcada a forma como Umberto Eco encarava a morte. Ao contrário de muitos católicos, que não aceitam a doutrina da Igreja, Umberto sabia que não iria mudar a sua opinião diante de Deus após a morte - antes pelo contrário, iria mantê-la para sempre. E isto é precisamente o que acontece: quem não acreditou em Deus até morrer, não passará a acreditar depois de morrer.

O intelectual formado no culto cristão que aterrou numa posição relativista:


Encontrando-o, entrevistando-o, lendo-o, não posso fugir a uma espécie de lamento. Justamente porque lhe admirava muito a inteligência, a cultura, o estilo, a ironia, o savoir vivre, senti (e disse-lhe também uma vez, recebendo um sorriso enigmático), senti a tristeza do crente diante de um homem que falava da sua "definitiva apostasia" de qualquer fé religiosa, a começar obviamente pela Católica. Um jovem que foi dirigente da Giac, a juventude de acção católica, um homem que aprendeu na universidade pelos crentes antigos e modernos, um homem de comunhão diária e confissão semanal e que escolheu São Tomás para a sua tese, pensando na fé a defender e não num título a conquistar.

E eis que, em vez do extraordinário apologeta do catolicismo, do polémico cintilante  que os crentes teriam recebido como um dom, eis que do ateneu de Turim, sai o Umberto liberal. Um Eco que se tornou apologeta sim, mas primeiro do agnosticismo e depois - como admitiu - de um relativismo ateu (nomina nuda tenemus [nada temos além dos nomes]), decidido com a habitual ligeireza de uma aparência distraída, mas na realidade impenetrável. A desilusão não me impediu, no que me toca, de sentir afecto sincero e agora tristeza porque não teremos mais piadas como aquela que lhe ouvi dizer no nosso primeiro encontro: «Se Pascal habitasse no meu condomínio, falar-nos-íamos com educação, mas não nos daríamos muito. Se, pelo contrário, no meu andar estivesse Tomás de Aquino, ao jantar jogaríamos à bisca mas acabaríamos por discutir, à procura de argumentos um contra o outro [andare per avvocati]. E talvez ele me denunciasse à Digos (forças secretas italianas) por suspeita de terrorismo»

Por umas minhas Perguntas sobre o cristianismo (o título do livro que lancei com muitas entrevistas, sobretudo com ex-crentes, para perceber as suas razões), passámos juntos uma tarde milanesa que aproveitei não para falar genericamente de cultura, mas de fé, de vida e de morte. Pedi-lhe a ele, que conduzia o discurso em direcção à filosofia, que deixasse os esquemas verbais e que fosse ao concreto. A decisão por Deus ou contra Deus vem mais da de uma questão existencial do que de argumentações teóricas. Por que motivos (assumindo que seja capaz de decifrá-los) uma pessoa abraçava o Evangelho - e com tanto fervor - como o jovem Eco, decide retirar a sua esperança de Cristo? Parecia-me, com todo o respeito, que os argumentos da sua resposta não fugiam à suspeita de terem sido elaborados a posteriori para racionalizar uma repulsa que vinha do coração e da vida, mais do que da razão. Disse-lhe eu. E ele respondeu com sinceridade: «Concedo-lhe de bom grado que qualquer 'prova' ou raciocínio serve apenas para nos convencer daquilo de que já estamos convencidos. É verdade: o aspecto racional não chega para explicar a minha história. Mas também não é suficiente o aspecto biográfico.»

«Outros que tiveram uma vivência parecida com a minha permaneceram crentes. A mim parece-me que a perda da fé foi como uma interrupção de um circuito eléctrico. As causas verdadeiras, profundas? Quem sabe?» Falámos da morte: um drama que, disse-me, vivera na carne, desde quando o seu pai morreu de um modo inesperado. «Passaram tantos anos desde então, mas penso nisso todos os dias. Não procuro, à Freud, vingar-me do meu pai, mas vingá-lo. Também vem daqui o que me tornei profissionalmente. Eu, um coleccionador de honras, como disse alguém? Não, uma pessoa que quer dar aos seus filhos a satisfação que eu esperava ter tido como seu filho e que não tive.» Então perguntei-lhe, onde está o seu pai? Onde estão todos os mortos? Onde iremos nós também? Resposta: «Para além daquelas portas de bronze é o caos, a confusão.»

«Mas talvez também esteja o Nada ou um deserto plano e desolado, sem fim.» A morte, lembrei-o, é a decisão por excelência, aberta a muitas saídas possíveis. E se tivessem razão aqueles que dizem que será Jesus o Cristo a vir ao nosso encontro? Não pareceu hesitar, como quem já pensou nisso muitas vezes: «Oiça, se por acaso esse Nazareno existir mesmo e quiser pôr-me um processo, digo-lhe mais ou menos as coisas que lhe estou a dizer a si: pensei assim e assim e cheguei à conclusão que não serás tu a esperar-me. Penso que poderemos chegar a caminhos razoáveis. Se pelo contrário for o Deus cruel e vingativo de certas seitas protestantes, então é melhor não ter nada a ver com ele. Ele que me mande então para o inferno onde ao menos há boa gente». Uma pausa e depois: «Mas veja que estou convencido que se Deus existisse mesmo, seria o de São Tomás, com quem discutiria na vida, mas que era um homem com quem, apesar de tudo, se podia argumentar sobre as coisas que importam.» Ora, parece que Umberto Eco «sabe». E ao respeito que merece da parte de todos por uma vida tão activa, os crentes, com discrição em relação às convicções, acrecentaram uma oração diante do túmulo diante do qual - com coerência, sem hipocrisia - não se quis uma presença religiosa.

Vittorio Messori in Corriere della Sera


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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Pensas que a caridade é facultativa?

Pensas que a caridade é facultativa? Que não se trata de uma lei, mas de um simples conselho? Bem gostaria que fosse assim. Mas assusta-me o lado esquerdo de Deus, esse lado para onde Ele mandou os cabritos, aos quais não censurou o facto de terem roubado, pilhado, cometido adultérios ou perpetrado outros delitos deste tipo, mas o facto de não terem honrado a Cristo na pessoa dos seus pobres. 

Por isso, se me julgais dignos de alguma atenção, servos de Cristo, seus irmãos e co-herdeiros, visitemos a Cristo, alimentemos a Cristo, tratemos as feridas de Cristo, honremos a Cristo, não só sentando-O à nossa mesa como Simão, não só ungindo-O com perfumes como Maria, não só dando-Lhe sepulcro como José de Arimateia, não só provendo o necessário para a sua sepultura como Nicodemos, não só, finalmente, oferecendo-Lhe ouro, incenso e mirra como os magos. 

Mas, uma vez que o Senhor do universo prefere a misericórdia ao sacrifício (cf Mt 9,13), uma vez que a compaixão tem muitos mais valor que a gordura de milhares de cordeiros, ofereçamos a misericórdia e a compaixão na pessoa dos pobres que hoje na terra são humilhados, de modo que, ao sairmos deste mundo, sejamos recebidos nas moradas eternas (cf Lc 16,9) pelo mesmo Cristo, Nosso Senhor, a quem seja dada glória pelos séculos dos séculos.

S. Gregório de Nazianzo in Sermão 14, sobre o amor aos pobres


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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Belíssima ordenação de 20 sacerdotes na Coreia do Sul



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Zika, o 'mal menor' e as freiras do Congo - uma explicação

Muito se tem escrito e falado sobre a pequena resposta que o Papa Francisco deu a bordo do avião da Aeromexico para Roma sobre o uso de anticoncepcionais e o vírus Zika.

Muitos ficaram escandalizados por o Papa ter usado uma história que, aparentemente, não aconteceu. Para estas pessoas, pelos vistos, o Papa também devia ser infalível em história. Escândalo verdadeiro seria se o Papa tivesse contradito a Fé ou a Moral mas, como tentarei mostrar, não foi esse o caso.

Escrevi, pouco depois da entrevista, um texto onde abordei precisamente este assunto:


No dia seguinte, um leitor amigo, sacerdote, disse-me que o Papa dizia ainda mais uma coisa que reforçava o meu argumento.

Vejam o texto original:
"Papa Francesco: L’aborto non è un “male minore”. E’ un crimine. E’ fare fuori uno per salvare un altro. E’ quello che fa la mafia. E’ un crimine, è un male assoluto. Riguardo al “male minore”: evitare la gravidanza è un caso – parliamo in termini di conflitto tra il quinto e il sesto comandamento. Paolo VI - il grande! - in una situazione difficile, in Africa, ha permesso alle suore di usare gli anticoncezionali per i casi di violenza. (...)
Invece, evitare la gravidanza non è un male assoluto, e in certi casi, come in quello che ho menzionato del Beato Paolo VI, era chiaro. Inoltre, io esorterei i medici che facciano di tutto per trovare i vaccini contro queste due zanzare che portano questo male: su questo si deve lavorare… Grazie."
Vejam agora o último parágrafo traduzido para português (com um negrito adicional):
Pelo contrário, evitar a gravidez não é um mal absoluto, e em alguns casos, como naquele que mencionei do Beato Paulo VI, era claro. Nos outros, exortarei aos médicos que façam tudo para encontrar as vacinas contra estes dois mosquitos que transportam este mal: deve-se trabalhar sobre isto.
Ora, o Santo Padre não está a comparar o caso das freiras no Congo com o caso do vírus Zika. Como expliquei no texto anterior, a resposta oficial do Papa foi apenas que não se podia recorrer nunca ao aborto.

Para mostrar um caso extremo em que se pode optar por um "mal menor", o Santo Padre referiu o caso das freiras no Congo. Eram mulheres entregues a Cristo, numa vida de celibato, que corriam um grave risco de serem violadas. Neste caso o Papa Francisco admitiu (julgando seguir Paulo VI) que as freiras podiam tomar anticoncepcionais, para não engravidarem. Nos outros casos, o Papa diz outra coisa completamente diferente. Nos outros, os médicos que façam tudo para resolver problema, porque (acrescento eu) não se pode usar anticoncepcionais.

Notem agora uns aspectos menores que se seguiram à entrevista. A resposta que o Papa deu mesmo, que está online em vídeo, não foi igual, palavra-por-palavra, ao texto que está no site da Santa Sé. Na verdade, não foi tão claro como o texto oficial que transcrevi aqui, ainda que deva (e possa) ser interpretado da mesma maneira. Mas se estão ambos na mesma língua, porque é que o texto oficial da Santa Sé está ligeiramente diferente das palavras usadas pelo Papa? Parece-me que o texto oficial pretendia tornar as coisas mais claras, sem alterar o significado do que o Papa disse.

Por outro lado, o Pe. Federico Lombardi SJ, director da Sala de Imprensa da Santa Sé, veio dar uma interpretação não tão clara do que o Papa disse. Segundo o Pe. Lombardi, o Santo Padre disse que "o contraceptivo e o preservativo, em particulares casos de emergência e gravidade, podem também ser objecto de um discernimento de consciência sério". Mas o Pe. Lombardi não disse que o caso do vírus Zika era um caso destes. Antes pelo contrário, usou outros exemplos. Voltou a mencionar o caso das freiras do Congo e referiu também uma resposta do Papa Bento XVI na entrevista Luz do Mundo. Nesta entrevista o Papa Bento disse que "podem haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização".

As freiras no Congo

Parece que o caso citado pelo Papa Francisco e reforçado pelo Pe. Lombardi sobre os comentários de Paulo VI nunca aconteceu. Não há nenhuma fonte de informação que indique, mesmo que superficialmente, que o Beato Paulo VI tenha feito alguma vez na vida este comentário. Como a história já andava em circulação há algum tempo é o caso típico de um "mito urbano". É bastante provável que tenha sido assim que o Papa Francisco soube dela.

Para perceberem, recomendo que leiam o texto do jornalista Sandro Magister:

Paul VI and the Nuns Raped in the Congo. What the Pope Never Said

Apesar do Papa Paulo VI nunca ter feito este comentário, houve de facto um caso em que as autoridades da Igreja Católica no Congo deram autorização às freiras para tomar a pílula. (Uau, este é mesmo um caso diferente do vírus Zika - qual a polémica?)

As freiras estavam sob risco altíssimo de sofrerem violação, e as autoridades da Igreja permitiram que tomassem hormonas que as impedisse de fazer ovulação. Assim evitariam uma das consequências de um acto terrível de violência. Esta história está contada no livro Rape within marriage: a moral analysis delayed (1985) do Pe. Edward Bayer (pgs. 82 e 83).

As autoridades eclesiásticas do Congo não têm a mesma autoridade que o Bispo de Roma. Mas agora o Papa Francisco usou este exemplo. Mesmo que a história esteja mal contada, o Santo Padre usou-a para explicar uma ideia. Em ciência usam-se mesmo histórias inventadas para discutir leis da Física (as famosas experiências mentais de Einstein). Portanto a questão é, será que o Papa está errado na sua ideia? Será que os contraceptivos neste caso são um 'mal menor' a ser utilizado?

O caso do mal menor

Para perceber isto, é importante saber que 'mal menor' tem vários significados. Muitas vezes usamos o termo 'mal menor' para designar algo que não é mal nenhum. Por exemplo, perder uma hora de estudo para ajudar os avós numa necessidade urgente. Não estudar uma hora, normalmente, não é mal nenhum. Nem maior nem menor.

No entanto, em Teologia Moral, 'mal menor' é uma designação técnica. Aplica-se às situações em que se faz um mal para evitar outro mal maior. Mas a doutrina da Igreja ensina que nunca é lícito fazer o mal. Por exemplo, uma pessoa não pode abortar nunca, independentemente do mal que venha de tal gravidez. Reparem que o próprio Papa Francisco disse isto. Significa que mesmo quando uma rapariga violada fica à espera de bebé, não deve nunca abortar. É uma situação dramática mas que felizmente a Igreja está preparada, com instituições e boas pessoas, para ajudar estas mães. A doutrina do 'mal menor' está muito bem explicada na encíclica do Papa São João Paulo II, Veritatis Splendor (1993).

Um dos exemplos onde esta doutrina fica explícita é no caso de matarmos alguém que nos está a atacar. Pode parecer que este é um acto de homicídio, pois matámos o atacante. E o homicídio não se pode cometer nunca. Mas a doutrina da Igreja (e qualquer especialista em moral, mesmo não Católico) explica que este não foi um acto de homicídio, mas sim um acto de legítima defesa. A legítima defesa pode ter como consequência a morte de alguém, mas não é moralmente classificada como um homicídio. Na legítima defesa não há um mal menor a ser cometido, porque não houve homicídio nenhum.

No caso das freiras do Congo é exactamente a mesma coisa. Ao usarem a pílula, estas freiras estavam a cometer um acto de legítima defesa e não a evitar a gravidez durante o acto conjugal. Estavam a impedir que o esperma do violador se unisse aos seus óvulos. Como disse Janet Smith, elas estavam "a repelir um violador e toda a sua fisicalidade". Para se perceber isto melhor recomendo a leitura do artigo da Janet Smith, uma teóloga americana, especialista em Teologia do Corpo e autora dos livros Humanae Vitae: A Generation Later e Why Humanae Vitae Was Right: A Reader:

Contraception, Congo Nuns, Choosing the Lesser Evil, and Conflict of Commandments

Ou seja, o 'mal menor' usado pelo Papa Francisco não é o termo técnico da teologia, mas o que usamos na linguagem vulgar. Isto não nos devia surpreender, pois quando é para falar de teologia o Papa Francisco, um Papa que quer estar próximo dos mais simples, normalmente usa poucas palavras. Recomenda sim a leitura do Catecismo.

Preservativos: podem-se usar ou não?

Enfim, o recurso aos contraceptivos pode ser feito alguma vez? O Beato Paulo VI ensinou claramente que não, na encíclica Humanae Vitae. Disse o Papa que é "de excluir toda a acção que, ou em previsão do acto conjugal, ou durante a sua realização, ou também durante o desenvolvimento das suas consequências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação". Mais ainda, continuou o Papa, "não se podem invocar, como razões válidas (...) o mal menor".

A mim parece-me que o acto de violação não é um acto conjugal. Quem seriam então os "cônjuges"? Sendo assim, nem sequer faz sentido aplicar aqui essa afirmação Humanae Vitae. O que a Igreja ensina é isto: a violação é má e deve ser impedida. O mesmo se diz sobre as afirmações do Papa Bento sobre o uso dos preservativos no caso da prostituição. O que a Igreja ensina é que a prostituição é má e deve ser impedida.

Recomendo vivamente a leitura dos artigos já citados neste texto e também de uma nota da Congregação da Doutrina da Fé sobre este assunto:

Note on the banalization of sexuality

Já agora, a Igreja diz que os casais podem sim evitar a gravidez: abstendo-se de terem relações sexuais.

Com tanta discussão sobre este assunto, pode parecer que a Igreja é feita de normas morais e rígidas, que era precisamente aquilo que o Papa Francisco queria evitar. Na verdade, é uma pena que de uma entrevista com tantas outras respostas, apenas tenha chegado ao público a resposta sobre o vírus Zika. Além disso, os ensinamentos morais da Igreja têm apenas um objectivo: ajudar e ensinar os homens a serem verdadeiramente felizes. Como disse S. João Paulo II, a Igreja coloca-nos assim diante do Esplendor da Verdade.

Nuno CB


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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

domingo, 21 de fevereiro de 2016

D. Athanasius Schneider fala sobre alguns temas "quentes"

A MISSA "TRIDENTINA"
RC: Vossa Excelência é muito conhecida por celebrar a Missa "Tridentina" por todo o mundo. Quais são, segundo Vossa Excelência, as lições mais profundas que se aprendem ao dar a Missa "Tridentina", como padre e como bispo, e que outros padres e bispos podem esperar receber ao celebra- la?
D. Athanasius Schneider: As lições mais profundas que aprendi ao celebrar o Rito Tradicional foram estas: Sou apenas um simples instrumento de uma acção sobrenatural muitíssimo sagrada, cujo principal celebrante é Cristo, o Eterno Sumo Sacerdote. Sinto que durante a celebração da Missa perdi de certa forma a minha liberdade individual, uma vez que as palavras e gestos são prescritos até nos mais ínfimos pormenores e não posso descartá-los. Sinto profundamente no meu coração que sou apenas um servo e um ministro, que embora tenha livre arbítrio, com fé e amor, cumpro não a minha vontade, mas a vontade de Outro.
O Rito Tradicional e mais que milenar da Santa Missa, que nem o Concílio de Trento modificou porque o Ordo Missae antes e depois do Concílio eram quase idênticos, proclama e poderosamente evangeliza a Incarnação e a Epifania da indescritível santidade imensa de Deus, que na liturgia como "Deus connosco" e "Emanuel" se torna tão pequeno e perto de nós. O Rito Tradicional da Missa é uma obra de arte e, ao mesmo tempo, uma proclamação do Evangelho, que realiza o trabalho da nossa salvação.
RC: Se o Papa Bento está certo ao dizer que o Rito Romano existe (ainda que estranhamente) em duas formas em vez de uma, porque razão é que ainda não é exigido que os seminaristas estudem e aprendam a Missa Tridentina como parte do seu plano de estudos do seminário? Como pode um pároco da Igreja Romana não saber ambas as formas do único Rito da sua Igreja? E como é que é possível que seja negada a tantos Católicos a Missa Tradicional e os respectivos sacramentos se é uma forma igual?
D. Athanasius Schneider: De acordo com a intenção do Papa Bento XVI, e as normas claras da Instrução Universae Ecclesiae, todos os seminaristas Católicos devem saber a forma tradicional da Missa e ser capazes de a celebrar. O mesmo documento diz que esta forma é um tesouro para toda a Igreja - e portanto para todos os fiéis.
O Papa João Paulo II fez um apelo urgente a todos os bispos para acomodar generosamente o desejo dos fiéis em relação à celebração do Rito Tradicional da Missa. Quando os clérigos e bispos põem entraves ou restringem a celebração da Missa Tradicional, não estão a obedecer ao que o Espírito Santo diz à Igreja, e estão a agir de um modo muito anti pastoral. Não se comportam como os detentores do tesouro da liturgia, que não lhes pertence, uma vez que são só os administradores.
Ao negar a celebração da Missa Tradicional ou ao obstruir e a discriminar, comportam-se como um administrador infiel e caprichoso que, contrariamente às instruções do pai da casa - tem a despensa trancada ou como uma madrasta má que dá às crianças uma dose deficiente. É possível que esses clérigos tenham medo do grande poder da verdade que irradia da celebração da Missa Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho.

A RÚSSIA AINDA NÃO EXPLICITAMENTE CONSAGRADA
RC: Há muitos ortodoxos russos onde Vossa Excelência vive. Aleksandr de Astana ou alguém do Patriarcado de Moscovo perguntou a Vossa Excelência acerca do recente Sínodo ou sobre o que está a acontecer à Igreja sob Francisco? Interessam-se sequer?
D. Athanasius Schneider: Os Prelados Ortodoxos, com os quais contacto, geralmente não estão bem informados acerca das disputas internas na Igreja Católica, ou pelo menos nunca falaram comigo desses assuntos. Ainda que não reconheçam a primazia jurisdicional do Papa, veem mesmo assim o Papa no primeiro cargo hierárquico da Igreja, do ponto de vista na ordem do protocolo.
RC: Estamos apenas a um ano do centenário de Fátima. A Rússia não foi, indiscutivelmente, consagrada ao Coração Imaculado de Maria e certamente não foi convertida. A Igreja, embora impoluta, está numa desordem completa - talvez ainda pior que durante a Heresia Ariana. Irão as coisas ficar ainda piores antes que melhorem e como devem os verdadeiros Católicos fiéis preparar-se para o que aí vem?
D. Athanasius Schneider: Temos de acreditar firmemente: A Igreja não é nossa, nem do Papa. A Igreja é de Cristo e só Ele a detém e lidera infalivelmente mesmo nos períodos mais negros de crise, como de facto está a nossa situação.
É uma mostra do Divino carácter da Igreja. A Igreja é essencialmente um mistério, um mistério sobrenatural, e não podemos aproximarmo-nos dela como fazemos a um partido político ou uma sociedade puramente humana. Ao mesmo tempo, a Igreja é humana e no seu nível humano está actualmente a sofrer uma dolorosa paixão, participando na Paixão de Cristo.
Podemos pensar que a Igreja nos nossos dias está a ser flagelada como foi Nosso Senhor, está a ser despida como foi Nosso Senhor na décima estação da Via Sacra. A Igreja, nossa Mãe, está atada por cordas não só pelos inimigos da Igreja, mas também por alguns dos colaboradores das classes do clero, e até mesmo do alto clero.
Todos os bons filhos da Mãe Igreja, como corajosos soldados, devem tentar soltar esta Mãe - com as armas espirituais de defesa e proclamação da verdade, promovendo a liturgia tradicional, adoração Eucarística, a cruzada do Santo Terço, a batalha contra o pecado na sua vida particular e aspirar à santidade.

Temos de rezar para que o Papa consagre explicitamente a Rússia ao Imaculado Coração de Maria com brevidade, para que então Ela possa vencer, como a Igreja rezou desde a antiguidade:"Alegrai-vos, ó Virgem Maria, porque sozinha derrotastes todas as heresias do mundo inteiro" (Gaude, Maria Virgo, cunctas haereses sola interemisti in universo mundo).

O resto da entrevista exclusiva ao blog católico Rorate Caeli pode ser lida aqui (em inglês): 
http://rorate-caeli.blogspot.com/2016/02/exclusive-bishop-athanasius-schneider.html


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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A incrível entrevista do Papa Francisco no voo do México

Independentemente do que têm dito sobre a entrevista do Papa no voo do México para Roma, esta entrevista merece ser lida e podem encontrar aqui o original.

A verdade é que muitos Católicos se assustam ao ler os comentários do Papa. Pior ainda, julgam-no ao duvidarem da sua doutrina. Correm linhas e linhas sobre isto em certos blogs e sites de notícias: The Most Confusing Papal Interview Ever. Só acrescenta à enorme confusão que os media têm estado a criar, como sempre fizeram com os comentários de qualquer Papa. 

Mas foi uma entrevista magnífica, que qualquer Católico devia imprimir e guardar em casa para ler quando duvidar da rectidão doutrinal do Santo Padre. Como Católicos devíamos ler o que o Papa Francisco diz com olhos de caridade e de compreensão, sem a mínima influência dos media. Não nos podemos esquecer que ele é o Papa, Vigário de Cristo na terra. 

SEIS ideias da entrevista que o Papa deu, para além do Donald Trump e dos preservativos:

1. O Papa Bento XVI foi um herói no combate contra a pedofilia, já mesmo enquanto Cardeal.

2. O aborto é sempre mau, independentemente das circunstâncias (isto é, é um mal absoluto).

3.  O que o Papa Francisco diz sobre os homossexuais é o que diz o Catecismo da Igreja Católica (palavras do próprio Papa).

4. Há ainda diferenças doutrinais entre Ortodoxos e Católicos.

5. Ter uma relação amorosa com uma mulher que não a esposa é pecado.

6. Talvez saia a exortação da Família antes da Páscoa (há quem diga que sai no dia de S. José).


Por fim, um pequeno esclarecimento sobre o que o Papa disse sobre os preservativos:

1. No aborto nunca há mal menor.

2. Foi para explicar o mal menor que o Papa falou dos preservativos.

O comentário já não tinha nada a ver com o Zika.
Todos conhecemos o Papa Francisco. Tenta mostrar sempre o lado bom.
Ao dizer que o aborto não podia ser mal menor, o Papa tentou lembrar-se de um caso em que pode haver um mal menor.
Não passava pela cabeça do Santo Padre sugerir o preservativo para evitar o Zika (ou a SIDA, etc.), como vêem no exemplo que o Papa deu, já a seguir.

3. Em casos de violação de freiras, o Papa permitiu que as freiras usassem (elas próprias) anti-concepcionais.

4. Já o Papa Bento XVI tinha falado que compreendia o uso de preservativo da parte de homens prostitutos, na entrevista Luz do Mundo.

Deixo aqui a tradução inglesa do Catholic News Agency (que tem um erro, como verão em baixo):
Pope Francis: Abortion is not the lesser of two evils. It is a crime. It is to throw someone out in order to save another. That’s what the Mafia does. It is a crime, an absolute evil. On the ‘lesser evil,’ avoiding pregnancy, we are speaking in terms of the conflict between the fifth and sixth commandment. Paul VI, a great man, in a difficult situation in Africa, permitted nuns to use contraceptives in cases of rape.
Don’t confuse the evil of avoiding pregnancy by itself, with abortion. Abortion is not a theological problem, it is a human problem, it is a medical problem. You kill one person to save another, in the best case scenario. Or to live comfortably, no?  It’s against the Hippocratic oaths doctors must take. It is an evil in and of itself, but it is not a religious evil in the beginning, no, it’s a human evil. Then obviously, as with every human evil, each killing is condemned. 
On the other hand, avoiding pregnancy is not an absolute evil. In certain cases, as in this one [o Papa não disse "as in this one", vejam no original em baixo], or in the one I mentioned of Blessed Paul VI, it was clear. I would also urge doctors to do their utmost to find vaccines against these two mosquitoes that carry this disease. This needs to be worked on. 
E aqui o original:
Papa Francesco: L’aborto non è un “male minore”. E’ un crimine. E’ fare fuori uno per salvare un altro. E’ quello che fa la mafia. E’ un crimine, è un male assoluto. Riguardo al “male minore”: evitare la gravidanza è un caso – parliamo in termini di conflitto tra il quinto e il sesto comandamento. Paolo VI - il grande! - in una situazione difficile, in Africa, ha permesso alle suore di usare gli anticoncezionali per i casi di violenza. 
Non bisogna confondere il male di evitare la gravidanza, da solo, con l’aborto. L’aborto non è un problema teologico: è un problema umano, è un problema medico. Si uccide una persona per salvarne un'altra – nel migliore dei casi – o per passarsela bene. E’ contro il Giuramento di Ippocrate che i medici devono fare. E’ un male in sé stesso, ma non è un male religioso, all’inizio, no, è un male umano. Ed evidentemente, siccome è un male umano – come ogni uccisione – è condannato. 
Invece, evitare la gravidanza non è un male assoluto, e in certi casi, come in quello che ho menzionato del Beato Paolo VI, era chiaro. Inoltre, io esorterei i medici che facciano di tutto per trovare i vaccini contro queste due zanzare che portano questo male: su questo si deve lavorare… Grazie.
 Nuno CB

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A contracepção hormonal provoca efeitos profundos no cérebro

Um artigo no jornal de medicina Frontiers veio demonstrar os possíveis efeitos da contracepção hormonal no cérebro humano, sugerindo que os efeitos podem ser muito mais profundos do que antes se pensava, e convocando a comunidade científica a dedicar mais pesquisas nesta área.

“Os contraceptivos hormonais estão no mercado há mais de 50 anos e são usados por 100 milhões de mulheres em todo o mundo,” escreveram Belinda A. Pletzer e Hubert H. Kerschbaum, neuropsicólogos austríacos da Universidade Paris-Lodron, em Salzburgo. “Enquanto esteróides endógenos vêm sendo associados, de maneira convincente, a alterações na estrutura, função e performance cognitiva do cérebro, os efeitos dos esteróides sintéticos contidos nos contraceptivos hormonais têm sido muito pouco estudados.”

Com base nos poucos dados científicos existentes e controlando mudanças neurológicas e comportamentais nos usuários de contraceptivos hormonais, os autores afirmam que “esteróides sintéticos podem acarretar efeitos masculinizadores assim como feminizadores no cérebro e no comportamento.”

“Nós concluímos que há uma grande necessidade de estudos mais sistemáticos, especialmente sobre as mudanças estruturais, funcionais e cognitivas no cérebro provocadas pelo uso de contraceptivos hormonais,” escrevem Pletzer e Kerschbaum.

“Mudanças na estrutura e na química do cérebro provocam mudanças na cognição, na emoção e na personalidade e consequentemente em comportamentos observáveis,” continuou a dupla. “Se uma maioria de mulheres faz uso de contraceptivos hormonais, tais mudanças comportamentais podem causar uma alteração na dinâmica social. Como a pílula é o principal instrumento de controlo populacional, é preciso descobrir o que ela faz ao nosso cérebro.”

Pletzer e Kerschbaum chamaram à contracepção hormonal “experimento global” e observaram que, enquanto a ingestão de esteróides e hormonais por atletas é considerada “doping” e condenada pela sociedade, quando mulheres ou adolescentes que desejam reduzir os riscos de uma gravidez fazem a mesma coisa esse comportamento não é só tolerado, mas é até mesmo encorajado; e a jovens cada vez mais jovens, a despeito da falta de dados científicos a respeito da segurança do seu uso.

“Adolescentes começam a tomar contraceptivos hormonais cada vez mais cedo, muitas vezes pouco depois da puberdade,” escreve a dupla. “E, no entanto, a maioria das pesquisas sobre acções dos esteróides no cérebro concentra-se na terapia de reposição hormonal pós-menopausa.”

Uma preocupação especial de Pletzer e Kershbaum é o facto de que a maioria dos estudos neurológicos não leva em conta se as mulheres fazem uso de métodos hormonais de contracepção.

“Tradicionalmente, a pesquisa médica, assim como a psicológica, focava-se em participantes do sexo masculino, porque se suspeitava que as flutuações hormonais ao longo do ciclo menstrual afectavam os resultados – e estavam de facto certas,” escreveram. “Hoje, um grande número de mulheres participa de estudos científicos. E, embora os participantes que estejam fazendo uso de medicação sejam excluídos, os estudos dificilmente restringem as usuárias de contracepção hormonal.”

Depois de analisar os dados disponíveis sobre o impacto cognitivo dos contraceptivos hormonais, os cientistas encontraram indícios de que as drogas alteram fundamentalmente a maneira como as mulheres processam e reagem à informação. Citando uma série de estudos que mostram diferenças na comunicação verbal, memórias, lembranças emocionais e até mesmo na escolha de companheiros de usuárias de contraceptivos, concluíram que é possível que as drogas “causem uma reorganização estrutural no cérebro.” Observaram também que alguns estudos vincularam a contracepção hormonal a transtornos de humor de origem química como depressão, ansiedade, fadiga, sintomas de neurose, compulsão e cólera.

Em face da seriedade da evidência revelada com base em uma quantidade relativamente pequena de dados, Pletzer e Kershbaum chamaram atenção para a necessidade de uma investigação mais exaustiva dos efeitos dos contraceptivos hormonais em adolescentes, e fizeram um apelo aos pesquisadores de todas as áreas da medicina a que levem em consideração essa variável comum

“Em primeiro lugar, concluímos que há uma grande procura por estudos suplementares sobre como contraceptivos hormonais afectam o cérebro, desde o nível molecular até o comportamental,” escreveram os autores. “Portanto, estudos futuros que pretenderem investigar o funcionamento “normal” do cérebro deverão restringir o uso de contraceptivos hormonais entre os participantes.”

“Como o número de mulheres que usa contraceptivos orais aumenta constantemente, ao passo que a idade do primeiro uso de contraceptivo é cada vez menor, as alterações correspondentes na personalidade e no comportamento social implicam consequências significativas para a sociedade”, concluem os autores.

Kirsten Andersen in Notifam


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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Vladimir Putin, Viktor Orban e o monograma IHS

Vladimir Putin, Presidente da Rússia, recebeu em Moscovo Viktor Orbán, Primeiro-Ministro da Hungria. Muito se poderia escrever sobre o encontro entre dois dos políticos mais mal-amados pela União Europeia, mas a curiosidade aqui é outra. 

Se repararem, entre os dois políticos, encontra-se o monograma IHS. Trata-se de uma referência muito antiga, datada do séc. III, ao Santíssimo Nome de Jesus. Em grego aquelas são as primeiras três letras da palavra Jesus (Ἰησοῦς), ou seja 'Ἰησ'. Mais tarde o monograma foi adaptado para latim, significando 'Iesus Hominum Salvator' (Jesus Salvador dos Homens).

No Ocidente foi bastante usado por grandes santos, como: S. Bernardo de Claraval, Beato João Colombini, S. Vicente Ferrer, S. Bernardino de Siena e S. Inácio de Loyola.

Hoje em dia não estamos habituados a ver símbolos cristãos nos encontros entre os políticos do Ocidente. O politicamente correcto não permite. Ao menos estes dois não sofrem dessa doença.


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Um Santo do século XX fala de Misericórdia

Deus não se cansa de perdoar

A sagrada Escritura adverte que até o justo cai sete vezes. Sempre que leio estas palavras, a minha alma estremece com um forte abalo de amor e de dor. Uma vez mais, vem o Senhor ao nosso encontro, com essa advertência divina, para nos falar da sua misericórdia, da sua ternura, da sua clemência, que nunca acabam. Estai seguros: Deus não quer as nossas misérias, mas não as desconhece e conta precisamente com essas debilidades para que nos façamos santos.

Um abalo de amor, dizia-vos. Considero a minha vida e, com sinceridade, vejo que não sou nada, que não valho nada, que não tenho nada, que não posso nada; mais: que sou o nada! Mas Ele é o tudo e, ao mesmo tempo, é meu, e eu sou d'Ele, porque não me repele, porque se entregou por mim. Contemplastes amor maior?

E um abalo de dor, pois examino a minha conduta e assombro-me perante o conjunto das minhas negligências. Basta-me examinar as poucas horas decorridas desde que me levantei hoje, para descobrir tanta falta de amor, de correspondência fiel. Penaliza-me deveras este meu comportamento, mas não me tira a paz. Prostro-me diante de Deus e exponho-lhe claramente a minha situação. Logo tenho a segurança da sua assistência e oiço no fundo do meu coração o que ele me repete devagar: meus es tu!. Sabia - e sei - como és; para a frente!

Não pode ser de outra maneira. Se acorrermos continuamente a pôr-nos na presença do Senhor, aumentará a nossa confiança, ao comprovarmos que o seu Amor e o seu chamamento permanecem actuais: Deus não se cansa de nos amar. A esperança demonstra-nos que, sem Ele, não conseguimos realizar nem o mais pequeno dever; e com ele, com a sua graça, cicatrizarão as nossas feridas; revestir-nos-emos da sua fortaleza para resistir aos ataques do inimigo e melhoraremos. Em resumo: a consciência de que somos feitos de barro ordinário há-de servir-nos, sobretudo, para afirmarmos a nossa esperança em Cristo Jesus.

S. Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, 215.



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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Papa Francisco contra as ideologias destruidoras da Família

 
Hoje vemos e experimentamos, em várias frentes, como a família está a ser fragilizada e está a ser posta em discussão. Julgando-a um modelo já ultrapassado e sem lugar nas nossas sociedades, e, a pretexto de modernidade, favorece-se cada vez mais um sistema baseado no modelo do isolamento. E vão-se inoculando nas nossas sociedades – e dizem-se sociedades livres, democráticas, soberanas! – vão-se inoculando colonizações ideológicas que as destroem e acabamos por ser colónias de ideologias destruidoras da família, da célula da família, que é a base de toda a sociedade sã.

Sem dúvida, viver em família não é sempre fácil e, muitas vezes, é doloroso e árduo. Contudo, como disse já mais de uma vez (referindo-me à Igreja, mas penso que se possa aplicar também à família), prefiro uma família ferida que cada dia procura harmonizar o amor, a uma família e sociedade adoentada pelo confinamento e ou a comodidade do medo de amar. Prefiro uma família que procura uma vez e outra recomeçar a uma família e sociedade narcisista e obcecada com o luxo e o conforto. 

«Quantos filhos tendes?» «Nenhum; não temos porque, claro, gostamos de sair nas férias, fazer turismo, queremos comprar uma quinta». O luxo e a comodidade; e os filhos ficam para trás. E, quando quisestes ter um…, já o tempo tinha passado. Que grande dano faz isto. 

Prefiro uma família com o rosto cansado pelos sacrifícios à família com rostos maquilhados que não se entendem de ternura e compaixão. Prefiro um homem e uma mulher, como o senhor Aniceto e a esposa, com o rosto enrugado pelas lutas de todos os dias, que, passados mais de cinquenta anos, continuam a amar-se, como se vê; e o filho aprendeu a lição pois fazem vinte e cinco anos de casados. Estas são as famílias! Há pouco perguntei ao senhor Aniceto e à sua senhora, quem teve mais paciência nestes cinquenta e tantos anos: «Os dois, padre». Com efeito na família, para se chegar ao que eles chegaram, é preciso ter paciência, amor, é preciso perdoar-se. 

«Mas, padre, uma família perfeita nunca discute!» Mentira! Até é conveniente que discutam de vez em quando, e, se voar algum prato, não tenham medo. O único conselho é que não terminem o dia sem fazer a paz; porque, se acabam o dia em guerra, vão acordar já em guerra fria, e a guerra fria é muito perigosa na família, porque vai escavando por debaixo das rugas da fidelidade conjugal. Obrigado pelo testemunho de se amarem durante mais de cinquenta anos. Muito obrigado!

in Encontro com as Famílias - Estádio “Víctor Manuel Reyna” (México) - 15.II.2016


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40 DIAS PELA VIDA - Lisboa 2016

Portugal acolhe pela terceira vez a iniciativa internacional 40 Days for Life.

Um dos pontos que o Papa Francisco assinou com o Patriarca Ortodoxo de Moscovo pedia "a todos que respeitem o direito inalienável à vida. Milhões de crianças são privadas da própria possibilidade de nascer no mundo. A voz do sangue das crianças não nascidas clama a Deus (cf. Gn 4, 10)".

Noutras ocasiões o Papa mostrou-se preocupado com cada um dos abortos que acontecem, mas também com a enorme frequência com que acontecem no mundo todo. Também em Portugal é assim.

Ter um filho é um drama para muitas mulheres, especialmente para pessoas que vivem em condições tão difíceis que nem conseguimos imaginar. Impedir que elas abortem implica também arranjar soluções para as suas vidas, alguém que as apoie incondicionalmente em todas as suas dificuldades. Felizmente em Portugal existem associações de acolhimento e apoio a todas as mães que quiserem: www.apoioavida.pt

Mas, para fazer as coisas acontecerem, um Cristão sabe que acima de tudo é preciso rezar. Isso é que provoca a verdadeira solução de todos os problemas. Rezar por todos os dramas relacionados com o aborto, pelas crianças que morrem e pelas mães que sofrem. Com a oração não só estamos a ajudar a resolver o problema, como estamos a ajudar da melhor maneira.

Os 40 Dias pela Vida em Portugal já começaram no dia 10 de Fevereiro e termina no dia 20 de Março. São precisos voluntários. Além de ser uma incrível Obra de Misericórdia, é uma excelente oportunidade de levar amigos mais afastados de Deus a rezar e a aperceberem-se de um dos maiores problemas da nossa sociedade. Mesmo amigos não Católicos.
Inscrevam-se online e levem amigos: www.40diaspelavida.org.

Ficam aqui os testemunhos dos primeiros dias deste ano e um filme para perceberem a dimensão desta iniciativa em todo o mundo.
Dia 2:
Hoje ainda a clínica não tinha aberto já estavam nove mulheres à porta de entrada para abortar.  Ultimamente os dias de maior movimento são as quartas e quintas feiras.  De terça a quinta é quando os médicos espanhóis vêm para realizar os abortos. 
As mulheres de hoje não tinham muita vontade de ser abordadas.  Um missionário das mãos erguidas conseguiu falar com três.  Uma delas vinha acompanhar a filha que ainda não tinha chegado, foi muito amável mas quando a filha chegou com o pai por sinal dentro de um Porsche,  berrou com o voluntário e não o deixou aproximar -se da filha grávida. 
Outra mulher disse que não tinha de nenhuma maneira possibilidades de ficar com este bebé e recusou qualquer ajuda.  
Outra,  veio só fazer a ecografia para datar a gravidez e marcar o aborto.  Tem uma filha de 6 anos e um bebé de 5 meses. Diz que é muito nova e não pode ter já outro filho. Mas ficou de pensar estes dias... 
Dia 7:
Hoje entre as 9 e as 11 da manhã entraram 11 mulheres para abortar.  São muitas mas ainda assim menos que quartas e quintas feiras onde no mesmo período há quase o dobro das mulheres.  
Hoje nesse período ninguém quis falar nem ouvir.  O companheiro da única mulher que ouviu nesse período veio depois ameaçar o voluntário das Mãos Erguidas que a tinha abordado dizendo que ia fazer queixa à polícia e que a próxima vez lhe partia a cara...  Enfim nada que não tenha já acontecido muitas outras vezes. 
Desde o início desta campanha apenas tivemos voluntários em 13 turnos de oração, quando noutros anos no mesmo período tínhamos tido 70 turnos cobertos... 
No entanto o número de abortos não diminuiu muito pelo contrário. 
Enfim consola-nos a promessa de várias dezenas de Jovens que virão participar nesta campanha embora ainda não saibamos os dias certos.
Para amanhã [17.Fev] ainda não temos voluntários para nenhum turno. Alguém se anima? Por favor inscrições para www.40diaspelavida.org.  
Filme internacional:



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