segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Ano novo, ano bom - Pe.Gonçalo Portocarrero de Almada

A propósito de uma efeméride significativa do seu longo pontificado, o Beato João Paulo II foi confrontado com as impressionantes estatísticas relativas ao seu ministério petrino. Eram às dezenas as suas encíclicas, às centenas os países visitados, aos milhares os fiéis que tinha recebido e aos milhões os quilómetros percorridos na ânsia de levar a todo o mundo, literalmente, a Boa Nova do Evangelho. Qualquer um se poderia ter sentido ufano ante aqueles resultados, que atestavam, com rigor matemático, um imenso trabalho. Qualquer pessoa teria ficado satisfeita por um tão positivo saldo. 

Contudo, o Papa Wojtyla não se impressionou com a grandeza dos números, nem se deixou seduzir pela magnanimidade da obra realizada. E, por isso, num murmúrio, que mais parecia uma oração, interrogou-se: “Sim, é verdade tudo isso, mas… Terei eu amado o bastante?!” Esse seu comentário humilde fazia eco, sem dúvida, ao ensinamento paulino: “Ainda que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e tivesse toda a fé, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, não serei nada” (1Cor 13, 2). 

A única realidade verdadeiramente importante, a única que de nós depende e da qual depende a nossa salvação, é a caridade. Não o amor que os outros nos têm, mas o que nós damos, ou não, àqueles que são o nosso próximo, ou seja, o nosso caminho para o céu. Santo Agostinho dizia: “Pondus meus, amor meus”, isto é, valho o que amo, porque cada um de nós não vale o que vale o seu dinheiro, a sua saúde, o seu poder ou a sua inteligência, mas o seu amor. “Ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres e entregasse o meu corpo às chamas, se não tiver caridade, não valho nada” (1Cor 13, 3).

O ano novo só será bom se for, efectivamente, um tempo vivido na graça d’ Aquele que, sendo Deus, é, sobretudo, amor. Santo e feliz 2013!


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Frase do dia

"Para evitar as pequenas transgressões diárias, humilhe-se, humilhe-se, humilhe-se sempre!" 

S. Pio de Pietrelcina


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domingo, 30 de dezembro de 2012

Discurso do Papa à Cúria: a Nova Evagelização

Dito isto, gostava de chegar ao segundo grande tema que, desde Assis até ao Sínodo sobre a Nova Evangelização, permeou todo o ano que chega ao fim: a questão do diálogo e do anúncio. Comecemos pelo diálogo. No nosso tempo, para a Igreja, vejo principalmente três campos de diálogo, onde ela deve estar presente lutando pelo homem e pelo que significa ser pessoa humana: o diálogo com os Estados, o diálogo com a sociedade – aqui está incluído o diálogo com as culturas e com a ciência – e, finalmente, o diálogo com as religiões. Em todos estes diálogos, a Igreja fala a partir da luz que a fé lhe dá. Ao mesmo tempo, porém, ela encarna a memória da humanidade que, desde os primórdios e através dos tempos, é memória das experiências e dos sofrimentos da humanidade, onde a Igreja aprendeu o que significa ser homem, experimentando o seu limite e grandeza, as suas possibilidades e limitações.

A cultura do humano, de que ela se faz garante, nasceu e desenvolveu-se a partir do encontro entre a revelação de Deus e a existência humana. A Igreja representa a memória do que é ser homem defronte a uma civilização do esquecimento que já só se conhece a si mesma e só reconhece o próprio critério de medição. Mas, assim como uma pessoa sem memória perdeu a sua identidade, assim também uma humanidade sem memória perderia a própria identidade. Aquilo que foi dado ver à Igreja, no encontro entre revelação e experiência humana, ultrapassa sem dúvida o mero âmbito da razão, mas não constitui um mundo particular que seria desprovido de interesse para o não-crente.

Se o homem, com o próprio pensamento entra na reflexão e na compreensão daqueles conhecimentos, estes alargam o horizonte da razão e isto diz respeito também àqueles que não conseguem partilhar a fé da Igreja. No diálogo com o Estado e a sociedade, naturalmente a Igreja não tem soluções prontas para as diversas questões. Mas, unida às outras forças sociais, lutará pelas respostas que melhor correspondam à justa medida do ser humano. Aquilo que ela identificou como valores fundamentais, constitutivos e não negociáveis da existência humana, deve defendê-lo com a máxima clareza. Deve fazer todo o possível por criar uma convicção que possa depois traduzir-se em acção política.

Na situação actual da humanidade, o diálogo das religiões é uma condição necessária para a paz no mundo, constituindo por isso mesmo um dever para os cristãos bem como para as outras crenças religiosas. Este diálogo das religiões possui diversas dimensões. Há-de ser, antes de tudo, simplesmente um diálogo da vida, um diálogo da acção compartilhada. Nele, não se falará dos grandes temas da fé – se Deus é trinitário, ou como se deve entender a inspiração das Escrituras Sagradas, etc. –, mas trata-se dos problemas concretos da convivência e da responsabilidade comum pela sociedade, pelo Estado, pela humanidade. Aqui é preciso aprender a aceitar o outro na sua forma de ser e pensar de modo diverso. Para isso, é necessário fazer da responsabilidade comum pela justiça e a paz o critério basilar do diálogo. Um diálogo, onde se trate de paz e de justiça indo mais além do que é simplesmente pragmático, torna-se por si mesmo uma luta ética sobre a verdade e sobre o ser humano; um diálogo sobre os valores que são pressupostos em tudo. Assim o diálogo, ao princípio meramente prático, torna-se também uma luta pelo justo modo de ser pessoa humana.

Embora as escolhas básicas não estejam enquanto tais em discussão, os esforços à volta duma questão concreta tornam-se um percurso no qual ambas as partes podem encontrar purificação e enriquecimento através da escuta do outro. Assim estes esforços podem ter o significado também de passos comuns rumo à única verdade, sem que as escolhas básicas sejam alteradas. Se ambas as partes se movem a partir duma hermenêutica de justiça e de paz, a diferença básica não desaparecerá, mas crescerá uma proximidade mais profunda entre eles.

Hoje em geral, para a essência do diálogo inter-religioso, consideram fundamentais duas regras:
1ª) O diálogo não tem como alvo a conversão, mas a compreensão. Nisto se distingue da evangelização, da missão.
2ª) De acordo com isso, neste diálogo, ambas as partes permanecem deliberadamente na sua identidade própria, que, no diálogo, não põem em questão nem para si mesmo nem para os outros.

Estas regras são justas; mas penso que assim estejam formuladas demasiado superficialmente. Sim, o diálogo não visa a conversão, mas uma melhor compreensão recíproca: isto é correcto. Contudo a busca de conhecimento e compreensão sempre pretende ser também uma aproximação da verdade. Assim, ambas as partes, aproximando-se passo a passo da verdade, avançam e caminham para uma maior partilha, que se funda sobre a unidade da verdade.

Quanto a permanecer fiéis à própria identidade, seria demasiado pouco se o cristão, com a sua decisão a favor da própria identidade, interrompesse por assim dizer por vontade própria o caminho para a verdade. Então o seu ser cristão tornar-se-ia algo de arbitrário, uma escolha simplesmente factual. Nesse caso, evidentemente, ele não teria em conta que a religião tem a ver com a verdade. A propósito disto, eu diria que o cristão possui a grande confiança, mais ainda, a certeza basilar de poder tranquilamente fazer-se ao largo no vasto mar da verdade, sem dever temer pela sua identidade de cristão. Sem dúvida, não somos nós que possuímos a verdade, mas é ela que nos possui a nós: Cristo, que é a Verdade, tomou-nos pela mão e, no caminho da nossa busca apaixonada de conhecimento, sabemos que a sua mão nos sustenta firmemente.

O facto de sermos interiormente sustentados pela mão de Cristo torna-nos simultaneamente livres e seguros. Livres: se somos sustentados por Ele, podemos, abertamente e sem medo, entrar em qualquer diálogo. Seguros, porque Ele não nos deixa, a não ser que sejamos nós mesmos a desligar-nos d’Ele. Unidos a Ele, estamos na luz da verdade.


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Um abraço neste ponto de encontro!




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sábado, 29 de dezembro de 2012

Discurso do Papa à Cúria: O perigo da ideologia de género

A grande alegria, com que se encontraram em Milão famílias vindas de todo o mundo, mostrou que a família, não obstante as múltiplas impressões em contrário, está forte e viva também hoje; mas é incontestável – especialmente no mundo ocidental – a crise que a ameaça até nas suas próprias bases. Impressionou-me que se tenha repetidamente sublinhado, no Sínodo, a importância da família para a transmissão da fé como lugar autêntico onde se transmitem as formas fundamentais de ser pessoa humana. É vivendo-as e sofrendo-as, juntos, que as mesmas se aprendem. Assim se tornou evidente que, na questão da família, não está em jogo meramente uma determinada forma social, mas o próprio homem: está em questão o que é o homem e o que é preciso fazer para ser justamente homem. 

Os desafios, neste contexto, são complexos. Há, antes de mais nada, a questão da capacidade que o homem tem de se vincular ou então da sua falta de vínculos. Pode o homem vincular-se para toda a vida? Isto está de acordo com a sua natureza? Ou não estará porventura em contraste com a sua liberdade e com a auto-realização em toda a sua amplitude? Será que o ser humano se torna-se ele próprio, permanecendo autónomo e entrando em contacto com o outro apenas através de relações que pode interromper a qualquer momento? Um vínculo por toda a vida está em contraste com a liberdade? Vale a pena também sofrer por um vínculo? A recusa do vínculo humano, que se vai generalizando cada vez mais por causa duma noção errada de liberdade e de auto-realização e ainda devido à fuga da perspectiva duma paciente suportação do sofrimento, significa que o homem permanece fechado em si mesmo e, em última análise, conserva o próprio «eu» para si mesmo, não o supera verdadeiramente. Mas, só no dom de si é que o homem se alcança a si mesmo, e só abrindo-se ao outro, aos outros, aos filhos, à família, só deixando-se plasmar pelo sofrimento é que ele descobre a grandeza de ser pessoa humana. Com a recusa de tal vínculo, desaparecem também as figuras fundamentais da existência humana: o pai, a mãe, o filho; caem dimensões essenciais da experiência de ser pessoa humana.

Num tratado cuidadosamente documentado e profundamente comovente, o rabino-chefe de França, Gilles Bernheim, mostrou que o ataque à forma autêntica da família (constituída por pai, mãe e filho), ao qual nos encontramos hoje expostos – um verdadeiro atentado –, atinge uma dimensão ainda mais profunda. Se antes tínhamos visto como causa da crise da família um mal-entendido acerca da essência da liberdade humana, agora torna-se claro que aqui está em jogo a visão do próprio ser, do que significa realmente ser homem. Ele cita o célebre aforismo de Simone de Beauvoir: «Não se nasce mulher; fazem-na mulher – On ne naît pas femme, on le devient». Nestas palavras, manifesta-se o fundamento daquilo que hoje, sob o vocábulo «gender - género», é apresentado como nova filosofia da sexualidade. De acordo com tal filosofia, o sexo já não é um dado originário da natureza que o homem deve aceitar e preencher pessoalmente de significado, mas uma função social que cada qual decide autonomamente, enquanto até agora era a sociedade quem a decidia. Salta aos olhos a profunda falsidade desta teoria e da revolução antropológica que lhe está subjacente. 

O homem contesta o facto de possuir uma natureza pré-constituída pela sua corporeidade, que caracteriza o ser humano. Nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um facto pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria. De acordo com a narração bíblica da criação, pertence à essência da criatura humana ter sido criada por Deus como homem ou como mulher. Esta dualidade é essencial para o ser humano, como Deus o fez. É precisamente esta dualidade como ponto de partida que é contestada. Deixou de ser válido aquilo que se lê na narração da criação: «Ele os criou homem e mulher» (Gn 1, 27). Isto deixou de ser válido, para valer que não foi Ele que os criou homem e mulher; mas teria sido a sociedade a determiná-lo até agora, ao passo que agora somos nós mesmos a decidir sobre isto. Homem e mulher como realidade da criação, como natureza da pessoa humana, já não existem. O homem contesta a sua própria natureza; agora, é só espírito e vontade. A manipulação da natureza, que hoje deploramos relativamente ao meio ambiente, torna-se aqui a escolha básica do homem a respeito de si mesmo. Agora existe apenas o homem em abstracto, que em seguida escolhe para si, autonomamente, qualquer coisa como sua natureza. 

Homem e mulher são contestados como exigência, ditada pela criação, de haver formas da pessoa humana que se completam mutuamente. Se, porém, não há a dualidade de homem e mulher como um dado da criação, então deixa de existir também a família como realidade pré-estabelecida pela criação. Mas, em tal caso, também a prole perdeu o lugar que até agora lhe competia, e a dignidade particular que lhe é própria; Bernheim mostra como o filho, de sujeito jurídico que era com direito próprio, passe agora necessariamente a objecto, ao qual se tem direito e que, como objecto de um direito, se pode adquirir. Onde a liberdade do fazer se torna liberdade de fazer-se por si mesmo, chega-se necessariamente a negar o próprio Criador; e, consequentemente, o próprio homem como criatura de Deus, como imagem de Deus, é degradado na essência do seu ser. Na luta pela família, está em jogo o próprio homem. E torna-se evidente que, onde Deus é negado, dissolve-se também a dignidade do homem. Quem defende Deus, defende o homem.


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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Frase do dia

"É forte quem persevera no cumprimento do que entende dever fazer, segundo a sua consciência; quem não mede o valor de uma tarefa exclusivamente pelos benefícios que recebe, mas pelo serviço que presta aos outros. O homem forte às vezes sofre, mas resiste; talvez chore, mas traga as lágrimas. Quando a contradição aumenta, não se curva." 

S. Josemaria Escrivá (Amigos de Deus, 77)


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terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Missa da Noite de Natal 2012 - Papa Bento XVI

A beleza deste Evangelho não cessa de tocar o nosso coração: uma beleza que é esplendor da verdade. Não cessa de nos comover o facto de Deus Se ter feito menino, para que nós pudéssemos amá-Lo, para que ousássemos amá-Lo, e, como menino, Se coloca confiadamente nas nossas mãos. Como se dissesse: Sei que o meu esplendor te assusta, que à vista da minha grandeza procuras impor-te a ti mesmo. Por isso venho a ti como menino, para que Me possas acolher e amar.

Sempre de novo me toca também a palavra do evangelista, dita quase de fugida, segundo a qual não havia lugar para eles na hospedaria. Inevitavelmente se põe a questão de saber como reagiria eu, se Maria e José batessem à minha porta. Haveria lugar para eles? E recordamos então que esta notícia, aparentemente casual, da falta de lugar na hospedaria que obriga a Sagrada Família a ir para o estábulo, foi aprofundada e referida na sua essência pelo evangelista João nestes termos: «Veio para o que era Seu, e os Seus não O acolheram» (Jo 1, 11). Deste modo, a grande questão moral sobre o modo como nos comportamos com os prófugos, os refugiados, os imigrantes ganha um sentido ainda mais fundamental: Temos verdadeiramente lugar para Deus, quando Ele tenta entrar em nós? Temos tempo e espaço para Ele? Porventura não é ao próprio Deus que rejeitamos? Isto começa pelo facto de não termos tempo para Deus. Quanto mais rapidamente nos podemos mover, quanto mais eficazes se tornam os meios que nos fazem poupar tempo, tanto menos tempo temos disponível. E Deus? O que diz respeito a Ele nunca parece uma questão urgente. O nosso tempo já está completamente preenchido.

Mas vejamos o caso ainda mais em profundidade. Deus tem verdadeiramente um lugar no nosso pensamento? A metodologia do nosso pensamento está configurada de modo que, no fundo, Ele não deva existir. Mesmo quando parece bater à porta do nosso pensamento, temos de arranjar qualquer raciocínio para O afastar; o pensamento, para ser considerado «sério», deve ser configurado de modo que a «hipótese Deus» se torne supérflua. E também nos nossos sentimentos e vontade não há espaço para Ele. Queremo-nos a nós mesmos, queremos as coisas que se conseguem tocar, a felicidade que se pode experimentar, o sucesso dos nossos projectos pessoais e das nossas intenções. Estamos completamente «cheios» de nós mesmos, de tal modo que não resta qualquer espaço para Deus. E por isso não há espaço sequer para os outros, para as crianças, para os pobres, para os estrangeiros.

A partir duma frase simples como esta sobre o lugar inexistente na hospedaria, podemos dar-nos conta da grande necessidade que há desta exortação de São Paulo: «Transformai-vos pela renovação da vossa mente» (Rm 12, 2). Paulo fala da renovação, da abertura do nosso intelecto (nous); fala, em geral, do modo como vemos o mundo e a nós mesmos. A conversão, de que temos necessidade, deve chegar verdadeiramente até às profundezas da nossa relação com a realidade. Peçamos ao Senhor para que nos tornemos vigilantes quanto à sua presença, para que ouçamos como Ele bate, de modo suave mas insistente, à porta do nosso ser e da nossa vontade. Peçamos para que se crie, no nosso íntimo, um espaço para Ele e possamos, deste modo, reconhecê-Lo também naqueles sob cujas vestes vem ter connosco: nas crianças, nos doentes e abandonados, nos marginalizados e pobres deste mundo.

Na narração do Natal, há ainda outro ponto que gostava de reflectir juntamente convosco: o hino de louvor que os anjos entoam depois de anunciar o Salvador recém-nascido: «Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens do seu agrado». Deus é glorioso. Deus é pura luz, esplendor da verdade e do amor. Ele é bom. É o verdadeiro bem, o bem por excelência. Os anjos que O rodeiam transmitem, primeiro, a pura e simples alegria pela percepção da glória de Deus. O seu canto é uma irradiação da alegria que os inunda. Nas suas palavras, sentimos, por assim dizer, algo dos sons melodiosos do céu. No canto, não está subjacente qualquer pergunta sobre a finalidade; há simplesmente o facto de transbordarem da felicidade que deriva da percepção do puro esplendor da verdade e do amor de Deus. Queremos deixar-nos tocar por esta alegria: existe a verdade; existe a pura bondade; existe a luz pura. Deus é bom; Ele é o poder supremo que está acima de todos os poderes. Nesta noite, deveremos simplesmente alegrar-nos por este facto, juntamente com os anjos e os pastores.

E, com a glória de Deus nas alturas, está relacionada a paz na terra entre os homens. Onde não se dá glória a Deus, onde Ele é esquecido ou até mesmo negado, também não há paz. Hoje, porém, há correntes generalizadas de pensamento que afirmam o contrário: as religiões, mormente o monoteísmo, seriam a causa da violência e das guerras no mundo; primeiro seria preciso libertar a humanidade das religiões, para se criar então a paz; o monoteísmo, a fé no único Deus, seria prepotência, causa de intolerância, porque pretenderia, fundamentado na sua própria natureza, impor-se a todos com a pretensão da verdade única.

É verdade que, na história, o monoteísmo serviu de pretexto para a intolerância e a violência. É verdade que uma religião pode adoecer e chegar a contrapor-se à sua natureza mais profunda, quando o homem pensa que deve ele mesmo deitar mão à causa de Deus, fazendo assim de Deus uma sua propriedade privada. Contra estas deturpações do sagrado, devemos estar vigilantes. Se é incontestável algum mau uso da religião na história, não é verdade que o «não» a Deus restabeleceria a paz. Se a luz de Deus se apaga, apaga-se também a dignidade divina do homem. Então, este deixa de ser a imagem de Deus, que devemos honrar em todos e cada um, no fraco, no estrangeiro, no pobre. Então deixamos de ser, todos, irmãos e irmãs, filhos do único Pai que, a partir do Pai, se encontram interligados uns aos outros.

Os tipos de violência arrogante que aparecem então com o homem a desprezar e a esmagar o homem, vimo-los, em toda a sua crueldade, no século passado. Só quando a luz de Deus brilha sobre o homem e no homem, só quando cada homem é querido, conhecido e amado por Deus, só então, por mais miserável que seja a sua situação, a sua dignidade é inviolável. Na Noite Santa, o próprio Deus Se fez homem, como anunciara o profeta Isaías: o menino nascido aqui é «Emmanuel – Deus-connosco» (cf. Is 7, 14). E verdadeiramente, no decurso de todos estes séculos, não houve apenas casos de mau uso da religião; mas, da fé no Deus que Se fez homem, nunca cessou de brotar forças de reconciliação e magnanimidade. Na escuridão do pecado e da violência, esta fé fez entrar um raio luminoso de paz e bondade que continua a brilhar.

Assim, Cristo é a nossa paz e anunciou a paz àqueles que estavam longe e àqueles que estavam perto (cf. Ef 2, 14.17). Quanto não deveremos nós suplicar-Lhe nesta hora! Sim, Senhor, anunciai a paz também hoje a nós, tanto aos que estão longe como aos que estão perto. Fazei que também hoje das espadas se forjem foices (cf. Is 2, 4), que, em vez dos armamentos para a guerra, apareçam ajudas para os enfermos. Iluminai a quantos acreditam que devem praticar violência em vosso nome, para que aprendam a compreender o absurdo da violência e a reconhecer o vosso verdadeiro rosto. Ajudai a tornarmo-nos homens «do vosso agrado»: homens segundo a vossa imagem e, por conseguinte, homens de paz.

Logo que os anjos se afastaram, os pastores disseram uns para os outros: Coragem! Vamos até lá, a Belém, e vejamos esta palavra que nos foi mandada (cf. Lc 2, 15). Os pastores puseram-se apressadamente a caminho para Belém – diz-nos o evangelista (cf. 2, 16). Uma curiosidade santa os impelia, desejosos de verem numa manjedoura este menino, de quem o anjo tinha dito que era o Salvador, o Messias, o Senhor. A grande alegria, de que o anjo falara, apoderara-se dos seus corações e dava-lhes asas.

Vamos até lá, a Belém: diz-nos hoje a liturgia da Igreja. Trans-eamus – lê-se na Bíblia latina – «atravessar», ir até lá, ousar o passo que vai mais além, que faz a «travessia», saindo dos nossos hábitos de pensamento e de vida e ultrapassando o mundo meramente material para chegarmos ao essencial, ao além, rumo àquele Deus que, por sua vez, viera ao lado de cá, para nós. Queremos pedir ao Senhor que nos dê a capacidade de ultrapassar os nossos limites, o nosso mundo; que nos ajude a encontrá-Lo, sobretudo no momento em que Ele mesmo, na Santa Eucaristia, Se coloca nas nossas mãos e no nosso coração.

Vamos até lá, a Belém! Ao dizermos estas palavras uns aos outros, como fizeram os pastores, não devemos pensar apenas na grande travessia até junto do Deus vivo, mas também na cidade concreta de Belém, em todos os lugares onde o Senhor viveu, trabalhou e sofreu. Rezemos nesta hora pelas pessoas que actualmente vivem e sofrem lá. Rezemos para que lá haja paz. Rezemos para que Israelitas e Palestinianos possam conduzir a sua vida na paz do único Deus e na liberdade. Peçamos também pelos países vizinhos – o Líbano, a Síria, o Iraque, etc. – para que lá se consolide a paz. Que os cristãos possam conservar a sua casa naqueles países onde teve origem a nossa fé; que cristãos e muçulmanos construam, juntos, os seus países na paz de Deus.

Os pastores apressaram-se… Uma curiosidade santa e uma santa alegria os impelia. No nosso caso, talvez aconteça muito raramente que nos apressemos pelas coisas de Deus. Hoje, Deus não faz parte das realidades urgentes. As coisas de Deus – assim o pensamos e dizemos – podem esperar. E todavia Ele é a realidade mais importante, o Único que, em última análise, é verdadeiramente importante. Por que motivo não deveríamos também nós ser tomados pela curiosidade de ver mais de perto e conhecer o que Deus nos disse? Supliquemos-Lhe para que a curiosidade santa e a santa alegria dos pastores nos toquem nesta hora também a nós e assim vamos com alegria até lá, a Belém, para o Senhor que hoje vem de novo para nós. Amen.


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Jesus nasceu aqui

Basílica da Natividade - Belém



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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Para que o Menino Jesus nasça no teu coração




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Conto de Natal - João César das Neves

Não sei bem o que aconteceu. Foi uma espécie de ataque, que me atirou paralisado para esta cama de hospital. Ouvi há pouco o médico dizer à minha mulher que há hipóteses de eu sobreviver.

Ainda de manhã me levantei cheio de vigor e dinamismo, pleno de ocupações e projectos. Agora estou aqui, prostrado, inútil, vegetativo. Não sei o que foi, mas sei que não consigo falar nem mexer o lado direito. Tenho dores não sei bem onde. A minha tentativa de sorrir deu um esgar que assustou a enfermeira. Acabou tudo, mesmo que haja hipóteses de sobreviver. A minha vida, se ainda lhe posso chamar assim, mudou para sempre. Ou melhor, a vida que eu tinha acabou.

Foi então que me lembrei da pergunta que decidira fazer sempre: "Senhor, o que é que Tu queres disto?" Foi há anos que, perante novidades e acasos que me sucedem, quis ver tudo a partir de Deus. Qual a atitude que Ele quer que eu tome agora? Esta pergunta salvou-me de muitas situações difíceis, onde a minha mesquinhez me ia meter em sarilhos. As coisas vistas de cima ficam muito diferentes. S.Paulo disse que "tudo concorre para o bem dos que amam a Deus" (Rm 8, 28). Do ponto de vista de Deus as coisas são sempre boas, belas, grandes. O Senhor do universo tem sempre uma saída, uma solução, um projecto grandioso ligado a tudo o que faz. O que é que o Senhor quer disto?

Aqui, mais até que nos problemas do emprego ou perplexidades de família, a pergunta parece fazer todo o sentido. Esta cama de hospital é tão inesperada e surpreendente que tem de ter uma razão. O Senhor podia ter-me levado, mas não levou. Não me quis levar. A minha vida acabou mas eu continuo aqui. Porquê? Devo ser preciso para algo. Ou isto tem lógica, ou então nada tem.

Mas que pode o Senhor querer de um paralítico? Qual a tarefa que me compete? O que pretende o Senhor disto? Ser testemunha d'Ele aqui, claro. O Senhor precisa agora de alguém neste sítio e mandou-me a mim. A resposta é a mesma que eu tinha ouvido tantas vezes: "Nada temas, continua a falar e não te cales, porque Eu estou contigo e ninguém porá as mãos em ti para te fazer mal, pois tenho um povo numeroso nesta cidade" (Act 18, 9-10). Ser sua testemunha aqui, paralítico na cama. É isso mesmo. Ainda me falta mais isso, antes de o Senhor me levar.

O meu sofrimento, paciência, alegria na adversidade testemunharão uma presença diferente. "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me. Pois, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá-la" (Lc 9, 23-24). A minha cruz agora é a paralisia, as dores. Já foi o desemprego, a falência, o insulto, agora é a cama de hospital. Ligada à Mangedoura e Calvário é testemunha e presença salvadora, de mim e outros, neste sítio.

Mas como? Não consigo falar e mal me posso mexer. As visitas, doentes e pessoal do hospital não entendem o que penso, não ouvem o que digo, não percebem o que sinto. Não pode ser isso. Uma testemunha precisa de meios para testemunhar. Mesmo cheio de boas intenções e propósitos elevados, ninguém dará por eles. Quando ninguém ouve, como se pode ser apóstolo?

Então percebi. Um consegue ouvir-me. Para Ele falo. S. Inácio disse: "O homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e mediante isto salvar a sua alma" (Exercícios Espirituais, 23). Nesta cama não tenho préstimo como servidor, nada posso dizer ou testemunhar, mas posso louvar e reverenciar o Senhor. Neste Natal devia haver falta de quem glorificasse a Deus neste canto do mundo, e por isso Ele me mandou vir. Para a harmonia do universo é preciso que alguém louve a divindade aqui, agora. É isso que o Senhor quer. Essa é a minha tarefa. A última tarefa da minha vida.

Louvar a Deus, paralítico mudo numa cama de hospital no tempo de Natal. Aquilo que os Anjos e os Santos fazem no Céu, que os coros fazem nas igrejas, que em todo o mundo se ouve nesta noite, eu tenho de o fazer aqui. Isso fará deste Natal o mais feliz da minha vida. O último.


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sábado, 22 de dezembro de 2012

Papa contra a "identidade do género" - Aura Miguel

Após a queda das grandes ideologias políticas, surge agora uma outra, a ideologia hedonista, que se reflecte a vários níveis, incluindo esta "identidade de género". Não é a primeira vez que o Papa critica a chamada “ideologia de género”. A expressão de Bento XVI reflecte as sucessivas denúncias da Santa Sé, sobretudo nos fóruns internacionais, a começar pelas Nações Unidas.

Durante as Conferências Mundiais da ONU no Cairo (sobre População e Desenvolvimento, 1994) e em Pequim (sobre a Mulher, 1995) a Santa Sé opôs-se à estratégia mundial sobre conceitos relativos à orientação sexual e à chamada “identidade de género”.


Nessa altura em Pequim a maioria dos Estados membros da ONU – incluindo Portugal – votou favoravelmente a substituição da palavra “sexo” pela palavra “género”, considerada mais abrangente. É que sexo só pode ser feminino ou masculino, enquanto género inclui cinco tipos: masculino, feminino, homossexual masculino, homossexual feminino e híbrido.


Esta terminologia está hoje em vigor e Bento XVI tem vindo a denunciá-la como reflexo da crise antropológica do próprio homem. Com frequência o Papa tem defendido uma ecologia do humano, contra a manipulação da natureza – quer no ambiente, quer na identidade do homem e da mulher. Após a queda das grandes ideologias políticas, surge agora uma outra, a ideologia hedonista que se reflecte a vários níveis, incluindo esta “identidade de género”.


Bento XVI acrescentou hoje que “está em jogo a visão do próprio ser e o que significa ser homem”. Na raiz está “uma noção errada de liberdade que recusa vínculos de qualquer tipo, incluindo o sexo com que se nasceu. Quando, na verdade, não é o homem mas é Deus quem define a natureza da pessoa humana.” 


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O Natal do Ano da Fé - Pe.Gonçalo Portocarrero de Almada

Quando o Bernardo e o Nuno nasceram, vieram ao mundo dois príncipes, porque filhos de Deus. Mas aqueles que os geraram não eram verdadeiramente seus pais. Se o fossem, não os teriam abandonado à nascença.

A deficiência profunda do Bernardo e a exigência de não separar os dois gémeos ditou uma história triste, que se escreve na penosa via-sacra dos diversos serviços por que foram passando e em que, não obstante a dedicação do pessoal da instituição, não encontraram nunca uma verdadeira família, nem o calor de um lar.
Pessoas houve que se interessaram pelos irmãos, mas porque não eram aqueles que estavam chamados a ser os seus verdadeiros pais, declinaram sempre a eventualidade da adopção. Mais pesava, decerto, a despesa e o incómodo de acarretar o inválido, do que a satisfação de os ter e de lhes dar o aconchego de uma casa. Mais pôde o egoísmo do que o amor.

Os anos foram passando e, à medida que o Nuno e o Bernardo cresciam, diminuíam as hipóteses de um seu acolhimento por uma família adoptiva. E aumentavam os riscos sociais inerentes a uma não integração familiar.

Mas Deus escreve direito por linhas tortas e nunca abandona os seus filhos e, por isso, deu a conhecer a existência e a triste sorte dos gémeos ao Rodrigo e à Helena, já com um filho mas impossibilitados de mais geração. E, para o casal, foi amor ao primeiro sinal.

Apesar da sua disponibilidade, não foi fácil conseguir as necessárias autorizações para a adopção dos gémeos. A Helena e o Rodrigo tiveram que travar uma verdadeira batalha contra a morosidade das entidades sociais, a burocracia dos organismos estatais, o cepticismo e a desconfiança dos responsáveis pela tutela dos menores institucionalizados e um sem-fim de obstáculos de toda a espécie que, diariamente, durante meses de ansiedade e sofrimento, puseram à prova a sua resistência psicológica e espiritual. Se houve quem, entre os seus familiares e amigos mais próximos, os apoiasse neste seu propósito, também não lhes faltaram incrédulas reticências e veladas críticas, disfarçadas de prudência: Afinal, para quê complicar a vida?! 

Mas, contra toda a esperança, esperaram em Deus e mais pôde o seu amor ao Bernardo e ao Nuno. Mais pôde a sua fé. Ontem vi e abençoei a nova família: que alegria se espelhava nos rostos daquelas duas crianças que, finalmente, encontraram os seus verdadeiros pais! Que alegria no primogénito, enriquecido pelo dom dos seus dois novos irmãos! Que alegria também nos olhos cansados do Rodrigo e da Helena, felizes na dupla experiência daquela sua nova paternidade e maternidade, que nasce directamente da sua fé e do seu amor a Deus!

O Natal do Ano da Fé vai ser diferente para esta família. Como há mais gente em casa, vai haver mais trabalho e não haverá tantos presentes para cada um. Será talvez mais sóbria a ceia, à conta da crise que pesa sobre o remediado orçamento familiar, agravado com as despesas inerentes à nova situação. Mas, finalmente, haverá Natal nos corações daqueles dois príncipes que, depois de tão longo exílio e dolorosa peregrinação pelos desertos do egoísmo humano, descobriram por fim, graças à estrela da fé de seus verdadeiros pais, a grandíssima alegria do amor de Deus, feito vida nossa no dom do seu Filho, Jesus*. Santo Natal!

* A história é real mas os nomes, como é óbvio, são fictícios.


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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Advent Gangam Style




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Frase do dia

"O tempo gasto para a glória de Deus e para a saúde da alma nunca é desperdiçado." 

S. Pio de Pietrelcina


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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Frase do dia

"O maior sacrifício é o que fazemos no ambiente doméstico." 

S. Pio de Pietrelcina


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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Ninguém tem mais amor




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Bento XVI e o Farmville - Pe.Gonçalo Portocarrero de Almada

Andam por aí alguns improvisados teólogos muito preocupados e com razão: então não é que, no seu último livro, o Papa Bento XVI, se calhar à conta da lei do arrendamento, deu ordem de despejo do presépio à vaca e ao burro?! Há quem diga também, talvez ao abrigo da generosa ideologia da igualdade de género, que a vaca afinal era boi. Mas o burro, por mais que lhe chamem jumento, de burro não passa. E ainda bem.

Este burburinho dos diabos – e nunca melhor dito! – seria irrelevante se não fosse a maldosa intenção de perverter o que Joseph Ratzinger afirma no último volume da sua magnífica trilogia sobre Jesus de Nazaré. Pior ainda: pretende-se infundir nos ânimos menos avisados a ideia de que nada é certo, nem histórico, nos relatos bíblicos do nascimento de Cristo, e portanto tudo se pode pôr ou tirar, ao gosto do freguês. Se tudo fosse discutível, o Natal não passaria na realidade de uma piedosa lenda, de um conto digno dos irmãos Grimm ou, à conta da vaca e do burro, de uma fábula à La Fontaine.

Desenganem-se os agitadores das consciências cristãs. Bento XVI não brinca ao Farmville com o presépio de Nosso Senhor e por isso, muito embora afirme que os relatos evangélicos não referem – nem neguem, acrescente-se – a presença das duas bestas, entende que a mesma se justifica em termos hermenêuticos, bíblicos e da mais genuína tradição católica. Ao ponto de concluir que por isso “nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento”. Também diz, como a Igreja sempre disse e a ciência histórica confirma, que é verdadeiro e real o nascimento de Jesus Cristo, o filho de Deus e da Virgem Maria, esposa de José, em Belém de Judá, há pouco mais de 2 mil anos.

Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade… e aos burros do costume, que, também este ano, poderão contemplar, embora sem nada compreender, a encantadora beleza do Natal.


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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Quem quiser ser o primeiro entre vós... - S.João Crisóstomo

Ao cobiçar os primeiros lugares, os mais altos cargos e as honras mais elevadas, os dois irmãos, Tiago e João, queriam, na minha opinião, ter autoridade sobre os outros. É por isso que Jesus Se opõe à sua pretensão deles, e põe a nu os seus pensamentos secretos dizendo-lhes: «Quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos.» 

Por outras palavras: «Se ambicionais o primeiro lugar e as maiores honras, procurai o último lugar, aplicai-vos a tornar-vos os mais simples, os mais humildes e os mais pequenos de todos. Colocai-vos atrás dos outros. Tal é a virtude que vos trará a honra a que aspirais. Tendes junto a vós um exemplo notável: 'Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por todos' (Mc 10,45). Eis como obtereis glória e celebridade. Olhai para Mim: Eu não procuro honras nem glória e, no entanto, o bem que faço é infinito.»

Bem sabemos que, antes da Incarnação de Cristo e da Sua vinda a este mundo, tudo estava perdido e corrompido; mas, depois de Ele Se ter humilhado, tudo restabeleceu. Aboliu a maldição, destruiu a morte, abriu o paraíso, acabou com o pecado, escancarou as portas do céu para levar para lá as primícias da nossa humanidade. Propagou a fé em todo o mundo. Expulsou o erro e restabeleceu a verdade. Fez subir a um trono real as primícias da nossa natureza. Cristo é o autor de bens infinitamente numerosos, que nem a minha palavra nem nenhuma palavra humana poderiam descrever. Antes da Sua vinda a este mundo só os anjos O conheciam; mas, depois de Ele Se ter humilhado, toda a raça humana O reconheceu.


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Frase do dia

"Tudo passa. Somente Deus fica na alma, se ela soube amar bem." 

S. Pio de Pietrelcina


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domingo, 16 de dezembro de 2012

O Padre que está a revolucionar Marselha

"Levar a Deus todas as almas que seja possível". O padre Michel Marie Zanotti Sorkine tomou esta frase a sério, e é o seu principal o objectivo como sacerdote.

É o que está a fazer depois de ter transformado uma igreja a ponto de fechar e de ser demolida na paróquia com mais vida de Marselha. O mérito é ainda maior dado que o templo está no bairro com uma enorme presença de muçulmanos numa cidade em que menos de 1% da população é católica praticante.

Foi um músico de sucesso 
A chave para este sacerdote que antes foi músico de éxito em cabarés de Paris e Montecarlo é a "presença", tornar Deus presente no mundo de hoje. As portas da sua igreja estão abertas de par em par o dia inteiro e veste de batina porque "todos, cristãos ou não, têm direito a ver um sacerdote fora da igreja".

Na Missa: de 50 a 700 assistentes 
O balanço é impressionante. Quando em 2004 chegou à paróquia de S. Vicente de Paulo no centro de Marselha a igreja estava fechada durante a semana e a única missa dominical era celebrada na cripta para apenas 50 pessoas.

Segundo o que conta a primeira coisa que fez foi abrir a igreja todos os dias e celebrar no altar-mor. Agora a igreja fica aberta quase todo o dia e é preciso ir buscar cadeiras para receber todos os fiéis. Mais de 700 todos os domingos, e mais ainda nas grandes festas. Converteu-se num fenómeno de massas não só em Marselha mas em toda a França, com reportagens nos meios de comunicação de todo o país, atraídos pela quantidade de conversões.

Um novo 'cura de Ars' numa Marselha agnóstica 
Uma das iniciativas principais do padre Zanotti Sorkine para revitalizar a fé da paróquia e conseguir a afluência de pessoas de todas as idades e condições sociais é a confissão. Antes da abertura do templo às 8h00 da manhã já há gente à espera à porta para poder receber este sacramento ou para pedir conselho a este sacerdote francês.

Os fregueses contam que o padre Michel Marie está boa parte do dia no confessionário, muitas vezes até depois das onze da noite. E se não está lá, anda pelos corredores ou na sacristia consciente da necessidade de que os padres estejam sempre visíveis e próximos, para ir em ajuda de todo aquele que precisa.

A igreja sempre aberta 
Outra das suas originalidades mais características é a ter a igreja permanentemente aberta. Isto gerou críticas doutros padres da diocese mas a ele assegura que a missão da paróquia é "permitir e facilitar o encontro do homem com Deus" e o padre não pode ser um obstáculo para que isso aconteça.

O templo deve favorecer a relação com Deus 
Numa entrevista a uma televisão disse estar convencido de que "se hoje em dia a igreja não está aberta é porque de certa maneira não temos nada a propor, que tudo o que oferecemos já acabou. No nosso caso em que a igreja está aberta todo o dia, há gente que vem, praticamente nunca tivemos roubos, há gente que reza e garanto que a igreja se transforma num instrumento extraordinário que favorece o encontro entre a alma e Deus".

Foi a última oportunidade para salvar a paróquia 
O bispo mandou-o para esta paróquia como último recurso para a salvar, e fê-lo de modo literal quando lhe disse que abrisse as portas. "Há cinco portas sempre abertas e todo o mundo pode ver a beleza da casa de Deus". 90.000 carros e milhares de transeuntes passam e vêem a igreja aberta e com os padres à vista. Este é o seu método: a presença de Deus e da sua gente no mundo secularizado.

A importância da liturgia e da limpeza 
E aqui está outro ponto chave para este sacerdote. Assim que tomou posse, com a ajuda de um grupo de leigos renovou a paróquia, limpou-a e deixou-a resplandecente. Para ele este é outro motivo que levou as pessoas a voltarem à igreja: "Como é podemos querer que as pessoas acreditem que Cristo vive num lugar se esse lugar não estiver impecável, é impossível."

Por isso, as toalhas do altar e do sacrário têm um branco imaculado. "É o pormenor que faz a diferença. Com o trabalho bem feito damos conta do amor que manifestamos às pessoas e às coisas". De maneira taxativa assegura que "estou convicto que quando se entra numa igreja onde não está tudo impecável é impossível acreditar na presença gloriosa de Jesus".

A liturgia torna-se o ponto central do seu ministério e muitas pessoas sentiram-se atraídas a esta igreja pela riqueza da Eucaristia. "Esta é a beleza que conduz a Deus", afirma.

As missas estão sempre cheias e incluem procissões solenes, incenso, cânticos bem cantados... Tudo ao detalhe. "Tenho um cuidado especial com a celebração da Missa para mostrar o significado do sacrifício eucarístico e a realidade da sua Presença". "A vida espiritual não é concebível sem a adoração do Santíssimo Sacramento e sem um ardente amor a Maria", por isso introduziu a adoração e o terço diário, rezado por estudantes e jovens.

Os sermões são também muito aguardados e, inclusive, os paroquianos põem-nos online. Há sempre uma referência à conversão, para a salvação do homem. Na sua opinião, a falta desta mensagem na Igreja de hoje "é talvez uma das principais causas de indiferença religiosa que vivemos no mundo contemporâneo". Acima de tudo clareza na mensagem evangélica. Por isso previne quanto à frase tão gasta de que "vamos todos para o céu". Para ele esta é uma "música que nos pode enganar", pois é preciso lutar, a começar pelo padre, para chegar até ao Paraíso.

O padre da batina 
Se alguma coisa distingue este sacerdote alto num bairro de maioria muçulmana é a batina, que veste sempre, e o terço nas mãos. Para ele é primordial que o padre ser descoberto pelas pessoas. "Todos os homens, a começar por aquela pessoa que entra numa igreja, tem direito de se encontrar com um sacerdote. O serviço que oferecemos é tão essencial para a salvação que o ver-nos deve ser tangível e eficaz para permitir esse encontro".

Deste modo, para o padre Michel o sacerdote é sacerdote 24 horas por dia. "O serviço deve ser permanente. Que pensaríamos de um marido que a caminho do escritório de manhã tirasse a aliança?".

Neste aspecto é muito insistente: "quanto àqueles que dizem que o traje cria uma distância é porque não conhecem o coração dos pobres para quem o que se vê diz mais do que o que se diz".

Por último, lembra um pormenor relevante. Os regimes comunistas a primeira coisa que faziam era eliminar o traje eclesiástico sabendo a importância que tem para a comunicação da fé. "Isto deve fazer pensar a Igreja de França", acrescenta.

No entanto, a sua missão não se realiza apenas no interior do templo. É uma personalidade conhecida em todo o bairro, também pelos muçulmanos. Toma o pequeno almoço nos cafés do bairro, aí conversa e com os fiéis e com pessoas que não praticam. Ele chama a isso a sua pequena capela. Assim conseguiu já que muitos vizinhos sejam agora assíduos da paróquia, e tenham convertido esta igreja de São Vicente de Paulo numa paróquia totalmente ressuscitada.

Uma vida peculiar: cantor em cabarés A vida do padre Michel Marie foi agitada. Nasceu em 1959 e tem origem russa, italiana e da Córsega. Aos 13 anos perdeu a mãe, o que lhe causou uma "fractura devastadora" que o levou a unir-se ainda mais a Nossa Senhora.

Com um grande talento musical, apagou a perda da mãe com a música. Em 1977 depois de ter sido convidado a tocar no café Paris de Montecarlo mudou-se para a capital onde começou a sua carreira de compositor e cantor em cabarés. No entanto, o apelo de Deus foi mais forte e em 1988 entrou na ordem dominicana por devoção a S. Domingos. Esteve com eles quatro anos, e perante o fascínio por S. Maximiliano Kolbe passou epla ordem franciscana, onde permanceu quatro anos.

Foi em 1999 quando foi ordenado sacerdote para a diocese de Marselha com quase quarenta anos. Além da música, que agora dedica a Deus, também é escritor de êxito, tendo publicado já seis livros, e ainda poeta.  
in Religion en Liberdad


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sábado, 15 de dezembro de 2012

Viver bem - João César das Neves

Os portugueses sempre souberam viver bem. Neste tempo de crise é bom recordar isto. Temos um clima excepcional, paisagens deslumbrantes, a melhor culinária, fruta, queijos e vinhos únicos, bons divertimentos, fé sólida, hábitos afáveis e forte camaradagem, um povo sereno e esperançoso.

Mesmo quando éramos um país pobre e atrasado sabíamos viver bem e hoje que somos ricos e preocupados continuamos a saber viver. Por isso é tão triste que quase desapareça por cá um dos maiores prazeres da vida.

Há poucas coisas nesta Terra que sejam melhores do que ter um rancho de filhos à volta da mesa a rir. Quando vêem isso, um homem e uma mulher sentem algo indefinível, único, incomparável. Esta é uma das principais razões por que os portugueses vivem tão bem, pois até na choupana mais pobre se pode sentir este prazer sublime.

Hoje cada vez menos. Não se diga que a causa disso é a maldita austeridade, que apaga o riso ou força a ausência. A verdadeira razão veio da prosperidade balofa, que nos trouxe à crise, e desfez os casais, reduziu a prole, gerou a esterilidade e o aborto.

Quando a fartura regressar e nós voltarmos a viver, bem como sempre, mas de novo com facilidade, esse prazer particular não regressa. A mesa passará a ser farta, mas as cadeiras permanecem vazias.

A questão é importante, não apenas em si mesma, mas também pelos efeitos. É que as cadeiras vazias de filhos põem em risco a dimensão das futuras gerações e até a sobrevivência dos portugueses. O que seria uma pena para o mundo, porque eles sempre souberam viver bem.


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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Oração à Senhora do Advento - Pe. José Tolentino Mendonça

Avé Maria, Senhora do Advento. A misericórdia de Deus esplende em ti.
Bendita és tu entre as mulheres. No teu seio amadurece a manhã. 
Ó Mãe propícia leve, magnífica e atenta aos amplos pátios da nossa solidão. 
És aquela que melhor apascenta a turbulenta forma da nossa sede.
Roga por nós que atravessamos o mundo agora, roga por nós que atravessamos esta hora.


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Dia de S. João da Cruz

"Que mais queres, ó alma, e que mais procuras fora de ti, se dentro de ti tens as tuas riquezas, os teus deleites, a tua satisfação? O teu Amado, Aquele que a tua alma deseja e busca? Rejubila-te e alegra-te no teu recolhimento interior com Ele, pois o tens tão perto."


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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Um conto de Natal: "Vidas que se cruzam"

- Nunca mais chega a nossa vez… - disse suspirando o mais novo dos três irmãos, chamado Benjamim.
Ao seu lado estava só o irmão mais velho, porque o irmão do meio tinha ficado em casa a trabalhar.
- Eu bem te disse para não virmos no último dia. Agora temos de esperar. - respondeu-lhe o Rafael.
À frente deles seguia uma fila quase interminável de gente. Os que estavam à frente e atrás também suspiravam com impaciência. Havia centenas de caras novas que tinham vindo de longe para a inscrição.
Toda a cidade estava num alvoroço.
E o mais incrível é que só havia duas pessoas para atender aquele povo todo.
Como é que é possível? – desabafava o Ben, nome pelo qual o Benjamim era conhecido junto dos familiares e amigos.
Já passada a hora do almoço, os dois irmãos acordaram que um deles sairia da fila para comprar algum alimento nas redondezas para comerem. Rafael, por ser o irmão mais velho, era quem transportava sempre a sacola com os pertences e com o dinheiro.
Não provinham de famílias ricas. Muito pelo contrário, trabalhavam arduamente e tudo o que podiam, poupavam para terem qualquer “coisinha”. Mas naquela situação tinham mesmo de gastar dinheiro. Havia necessidade de se alimentarem porque depois de estarem despachados das suas inscrições ainda tinha de ir trabalhar.
Noah, o irmão do meio, já se tinha recenseado e já os tinha avisado que se preparassem para o elevado tempo de espera. Para ele nada é atribulado porque é serenidade em pessoa. Àquela hora do dia devia estar próximo de casa, a trabalhar na agricultura.
Rafael, pedindo licença aos restantes da fila para não perder o lugar, deslocou-se ao comerciante mais próximo para ali comprar peças de fruta bem como trazer água.
Ao chegar próximo do comerciante da fruta, percebeu que também teria de esperar.
- Oh meu Deus, mas este é um dia para pores à prova a minha mansidão? – praguejou com humildade.
Foi durante a espera para comprar os alimentos que se apercebeu que o individuo que estava à sua frente se mantinha inquieto. Tinha bom ar e trazia a lei impressa em filactérios e tinha a cabeça tapada.
- Shalom irmão. Vejo que está impaciente. Posso ajudá-lo nalguma coisa? – perguntou-lhe afavelmente o Rafael.
Shalom significa paz e era a forma daqueles judeus se cumprimentarem.
- Shalom. Acabei de chegar à cidade com a minha mulher para nos recensearmos mas estou preocupado com o tempo que vamos ter de esperar. Ela está grávida. Não sei se aguentará muito tempo. – respondeu-lhe hesitantemente o homem.
- Não se preocupe. Depois de comerem, beberem e de recuperarem do cansaço, colocar-vos-ei à frente na fila, onde eu e o meu irmão estamos – disse-lhe o Rafael.
O homem mostrou-se agradecido.
Após ser atendido, o homem deslocou-se para baixo de uma Oliveira, onde a sua esposa o esperava aproveitando a sombra.
Assim que Rafael arrumou a fruta num saco de pano e tinha a vasilha cheia de água, chamou-os para o acompanharem.
Chegados à fila das inscrições, Rafael teve de procurar Ben. Para sua grande surpresa, o seu irmão estava prestes a ser atendido. Aconteceu que face à dramática quantidade de pessoas que esperavam para o recenseamento, foram colocadas mais três pessoas a atender.
- Ben, este casal de irmãos precisa de ser atendido antes de nós. A mulher está quase a dar à luz.
Ben, como Rafael já previa, em nada se opôs. Ambos tinham um coração generoso. Quem colocou oposição foram os que se encontravam atrás deles, mas que logo se acalmaram quando perceberam que apenas ia haver uma troca de pessoas: o homem e a mulher por ele e o irmão.
Assim se recenseou o casal, não tendo que esperar quase nada, e os dois irmãos, em nada arrependidos pela boa ação, duas horas depois.
Chegados à sua residência, mesmo ao final da tarde, deslocaram-se até às planícies verdejantes que circundavam a casa para se encontrarem com o Noah. Como tinham estado fora quase todo o dia, o irmão tentava revezá-los no trabalho com o gado, mas era difícil substituir os seus dois irmãos.
Depois de o encontrarem e de lhe contarem a espera que tiveram para se recensearem, os três concordaram pernoitar naquele sítio para que o gado se pudesse alimentar e recuperar do dia quase todo fechado no curral. Não era a primeira vez que o faziam.
Foi próximo da meia-noite que os três acordaram sobressaltados pelo longínquo cantar de um galo de som possante. Estava desalmado o coitado do bicho e fora das suas horas próprias de cucuritar ao amanhecer.
Recostados e atentos ao repetir do cântico do galo, voltaram a sobressaltar-se com um clarão vindo da direção das suas costas. Muito assustados, de imediato se puseram de pé e se viraram para trás. Tremiam de medo porque nunca tinham visto nada assim. A luz provinha de um moço forte e de aspeto autoritário.
Dirigindo-se a eles, disse-lhes com voz forte:
- Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo. Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura. (Lc. 2, 10-13)
Eles perceberam que quem lhes falava era um anjo.
Repentinamente juntou-se ao anjo uma multidão de outros anjos de aspeto forte e que entoavam louvores a Deus.
A luz suavemente foi perdendo intensidade e acabou por desvanecer-se, deixando novamente o local escuro.
Os três irmãos ficaram extasiados com a visão. Assim permaneceram uns minutos até que o mais calmo dos irmãos disse:
- Temos de encontrar o Menino para também nós prestarmos os nossos louvores.
Subiram a colina e logo encontraram uma escavação na rocha com luz, onde outrora descansaram enquanto o gado comia.
Aproximando-se, os corações do Rafael e do Ben logo se alegraram ao reconhecer a Sagrada Família. Noah alegrou-se também, reconhecendo pelo rosto dos irmãos o que estes lhe tinham contado antes.
Não muito habituados a cordiais homenagens, espreitaram o Menino frágil, deitado na estrutura onde os animais costumam comer a palha. Felicitaram de imediato os pais e em silêncio ajoelharam-se para agradecer a oportunidade de presenciarem aquele momento.
A partir daquele dia passaram a festejar o nascimento de Deus à meia-noite com orações de agradecimento e mais tarde, muitos outros, com a celebração da Missa do Galo.


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Frase do dia

"Sempre que começam aplausos na liturgia, devido a algum acontecimento humano, é um sinal certo de que a essência da liturgia desapareceu totalmente e foi substituída por uma espécie de entretenimento religioso." 

Cardeal Ratzinger in Introdução ao Espírito da Liturgia 


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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Frase do dia

"Queridos amigos, é com alegria que entro em contacto convosco via twitter. Obrigado pela resposta generosa. De coração abençoo-vos a todos."  

Primeiro tweet do Papa Bento XVI, 12/12/2012


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O primeiro tweet do Papa




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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

8 de Dezembro. Praça de Espanha. Roma




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Só pode Amar quem Odiar - Pe. Nuno Serras Pereira

Nos dias que correm é difícil encontrar um cristão que tenha uma noção adequado de Quem é Deus no Seu Amor. E o que mais assombra é que a insistência na Misericórdia Infinita do Senhor seja o motivo ou o meio pelo qual se vem a ter essa ideia distorcida do Amor Trinitário. No entanto, se considerarmos que o anúncio da Misericórdia habitualmente não é acompanhado da proclamação de outras verdades Reveladas tais como a Justiça, e a Ira Divina, a exigência de conversão, com a consequente emenda de vida, a necessidade da penitência, da perseverança, da fidelidade até ao fim, repararemos que não há razão alguma para ficarmos assarapantados.

Além disso, calar o que é o Amor, a Sua Santidade, ou seja, a incompatibilidade absoluta com o mal e o pecado; silenciar as Suas exigências, o Seu zelo pela nossa perfeição e salvação eterna é atraiçoar esse mesmo Amor. O Amor se o é o realmente tem, por isso mesmo, uma enfuriação contra todo o desamor, um verdadeiro ódio ou detestação daquilo que a Ele se opõe, estorvando os Seus desígnios de Redenção de cada pessoa humana. Daí que o Antigo Testamento (AT) afirme o ódio de Deus ao mal, narre as Suas tremebundas invectivas, O mostre rugindo fúrias contra o pecado.

Estas passagens que infundem pavor levaram alguns, entre os quais se destaca Marcião, a separar o Antigo do Novo Testamento (NT), como se naquele não estivesse latente, aquilo que neste se torna patente; chegando ao excesso herético de afirmarem a existência de dois deuses, sendo que o do AT era mau e o do NT, pelo contrário, bom. Contra esta interpretação distorcida se levantaram os Evangelistas e a demais Igreja nascente. Há um só Deus, infinitamente benigno, que Se Revela tanto na Antiga como na Nova Aliança, que Se fez homem, nascido da Virgem Maria, pelo poder do Espírito Santo, foi crucificado, ressuscitou, ascendeu ao Céu e de novo há-de vira a julgar os vivos e os mortos. Jesus Cristo, nosso Redentor e Juiz, é a Chave de leitura, o critério definitivo e irrenunciável de interpretação da Sagrada Escritura, pois n’ Ele o Pai disse-nos tudo, Ele é a plenitude da Revelação.

Jesus Cristo “que passou fazendo o bem e exorcizando todos os que eram oprimidos pelo diabo”, Revelou-Se-nos como O poderoso guerreiro, O militante infatigável, O pelejador constante contra satanás e contra o pecado, em que ele nos tinha escravizados, para nos Libertar para a verdadeira Liberdade, que é a Comunhão de Vida e Amor com Ele. E, deste modo nos mostrou, contrariamente ao que hoje se presume, que não é possível fazer o bem sem combater denodadamente o mal e o pecado.

Que o amor a Deus, o único amor do qual todo o outro amor brota, e se corrompido nele se purifica, implique necessariamente um horror e abominação do pecado é ensinamento expresso deste Senhor infinitamente benevolente e benfazejo quando, por exemplo, proclama: Ninguém pode servir a dois senhores: ou há-de odiar a um e amar o outro, ou há-de apegar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro (Cf. Mt 6, 24; Lc 16, 13). Também nos adverte que se não nos convertermos pereceremos imprevistamente de modo semelhante aos galileus chacinados por Pilatos ou os jerosolimitanos esmagados pela derrocada da torre de Siloé (Lc 13, 2-5).

Será, possivelmente, da meditação desta passagem que terá surgido a oração que os nossos antepassados rezaram durante séculos implorando a Deus que os livrasse de uma morte súbita e imprevista. Esta súplica insistente e confiante brotava de uma consideração do peso da eternidade à luz da qual era vista esta vida. Para estes cristão o problema não era tanto a morte biológica, mas o Juízo de Deus, no qual se joga o destino eterno. De facto, o Mesmo Juiz que diz a uns “ … vinde benditos de Meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo … ” (Mt 25, 34) é o Mesmo que impera a outros “Retirai-vos de Mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado a satanás e aos seus anjos.” (Lc 25, 41).

A Igreja, Cristo em nós, continuado e Presente na História de todos os tempos, durante séculos e séculos, apresentou o rosto de Jesus Cristo, Deus humanado, na Sua completude de Juiz Justo e Misericordioso. Era habitual, por exemplo, no púlpito, na pregação, no sermão, não só exaltar a Majestade Gloriosa de Deus, enaltecer as Suas obras, recordar os Seus prodígios em nosso favor, persuadir-nos do Seu Amor mas também trovejar cóleras contra o pecado, bramir iracundamente contra o derrancamento dos costumes, tendo como intento mover as almas ao arrependimento, em vista de uma confissão feita bem, que pudesse restabelecer a comunhão de vida e de amor com o Senhor, e com o próximo (além disso, ao desmascarem os ardis do Maligno e as manhas da natureza humana, possibilitavam o reconhecimento da culpa própria, e com ela a consciência de serem livres, e não meras vítimas inermes determinadas pelas circunstâncias).

Deste modo, os penitentes aproximavam-se confundidos e temerosos, com grande atrição, dos sacerdotes para receberem a absolvição de seus pecados mortais, sendo-lhes assim perdoadas as penas eternas, devidas aos mesmos. Porém, no confessionário quem os acolhia não era já o rosto severo e rigoroso do Apocalipse, mas sim a face jubilosa, jucunda, transbordante de misericórdia, do Pai do filho pródigo. Este encontro conseguia frequentemente mover o penitente à contrição perfeita, isto é, a um arrependimento não já nascido do santo temor de Deus mas sim do santo amor.

Será recto e justo dispensar o modo como Deus nos falou na Sagrada Escritura, na Tradição da Igreja, enfim nos Seus Santos, ou seja, naqueles que Ele fez participantes da Sua Santidade? Haverá ainda muitos cristãos que saibam que o pecado existe? E conheça a gravidade do mesmo? Que acredite no Inferno? Que saiba o que é o bem e o que é o mal? Que os saiba distinguir? Que não os troque?

Será ainda possível designar o mal e o pecado pelos seus nomes sem que as pessoas se sintam agredidas, em vez de agradecidas pela verdade/amor que lhes é comunicado? Seja como for, a verdade permanece: é impossível amar sem odiar. E não se pode praticar o bem sem combater o mal.


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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Frase do dia

"Reflecte então na magnífica recompensa que te é prometida pela tua generosidade: a morada eterna. Que bom negócio! Que negócio extraordinário! Compramos a imortalidade com dinheiro; trocamos os bens perecíveis deste mundo por uma morada eterna no céu! 

Se vós, os ricos, tendes sabedoria, aplicai-vos a este comércio. Por que vos deixais fascinar por diamantes e esmeraldas, por casas que o fogo devora, que o tempo faz desmoronar, que um tremor de terra derruba? Aspirai apenas a viver nos céus e a reinar com Deus. Um homem, um pobre dar-vos-á esse reino."  

S. Clemente de Alexandria


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