sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Hoje é o último dia do ano - Rui Corrêa d'Oliveira

Sou levado por um impulso natural a olhar para trás,
revisitando os momentos que deixaram marca na minha vida
e a olhar para frente, carregando de desejos o ano que começa.

Neste dia, recebo e envio, frases feitas de prosperidade e venturas.
Estou certo que não faltará sinceridade em todas elas,
mas... sabe-me a pouco.

O que o meu coração deseja mesmo, para mim e para os outros,
não cabe nem se satisfaz neste significado social de prosperidade.

Eu quero muito mais, porque eu fui feito para muito mais,
fui talhado para o infinito, fui marcado pelo desejo de plenitude.

Esta aparente loucura, é completamente verdadeira,
comum a todos os homens, crentes e não-crentes,
porque é um desejo totalmente humano.

Reconhecer esta verdade em mim
é a melhor maneira de entrar no Novo Ano.

Grande é o Deus que fez grande o desejo do meu coração.


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"Deus tornou-se um de nós para se fazer próximo de cada um"



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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Condutor de burro condenado por conduzir bêbado

"Posso deixar de conduzir o burro, mas o vinho não deixo", disse um agricultor de Celorico da Beira, depois de ter sido detido pela GNR. Jorge Rodrigues, 34 anos, foi apanhado pelos militares a conduzir um burro com uma carroça atrelada enquanto estava bêbedo.

Depois de ter soprado no balão e acusado uma taxa de álcool de 3,26 gramas por litro de sangue, o homem teve de amarrar o burro a uma árvore e acompanhar os militares ao posto da GNR. A seguir, foi posto em liberdade e voltou para casa, para junto da mulher, Conceição, de 54 anos, até ser julgado. Quando foi presente ao juiz, em Setembro, Jorge ainda soltou um desabafo: "Se for para a cadeia, bebo-lhes o vinho todo." Mesmo assim, o tribunal não se compadeceu e obrigou-o a pagar uma multa de 250 euros.

Além disso, o agricultor de Celorico ficou proibido de conduzir veículos a motor durante quatro meses e recebeu duas coimas, por contra-ordenações ao Código da Estrada. Uma por não trazer iluminação na carroça, outra por conduzir fora de mão. Por não ter dinheiro, Jorge Rodrigues vai fazer trabalho a favor da comunidade. No final da leitura da sentença, contou que estava aberto a todo o tipo de  trabalho. "Menos no cemitério", avisou.  
in ionline


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Onde entregar roupa para sem-abrigo (Comunidade Vida e Paz)

Contactando numa base diária com cerca de 480 pessoas que, ao contrário de nós, não têm onde lavar as suas roupas nem roupas limpas à disposição, é frequente distribuirmos o vestuário que nos chega à instituição, sobretudo no Inverno, em que um par de meias e uma coberta podem ser a diferença entre a vida e a morte. Se tem roupas e cobertas que possa partilhar connosco, p.f. entregue ou envie para a nossa sede:

A/C Voluntariado
Rua Domingos Bomtempo, nº 7 (Alvalade)
1700 - 142 Lisboa

Não contamos com apoios públicos para as 28 800 sandes e 1920 litros de leite que distribuimos todos os meses. Por isso, dependemos da iniciativa de benfeitores particulares e empresariais / institucionais para a confecção das ceias. Leite e quaisquer alimentos que possam ser usados como recheio de sandes (queijo, fiambre, enchidos, compotas, salsichas, atum, etc) são sempre bem-vindos e podem ser entregues ou enviados para a morada acima. As entregas podem ser feitas entre as 9h e as 21h, todos os dias (incluindo fins-de-semana).

O envio de bens não líquidos pode ser feito através da Embalagem Solidária dos CTT, cujos portes de envio são totalmente gratuitos, no âmbito do seu Projecto de Luta Contra a Pobreza.


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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

“Para obedecer, é preciso humildade” - S. Josemaria Escrivá

Quando tiveres de mandar, não humilhes: procede com delicadeza; respeita a inteligência e a vontade de quem obedece. (Forja, 727)

Muitas vezes fala-nos Deus através doutros homens e pode acontecer que, à vista dos defeitos dessas pessoas ou pensando que não estão bem informadas ou que talvez não tenham entendido todos os dados do problema, surja uma espécie de convite a não obedecermos.

Tudo isso pode ter um significado divino, porque Deus não nos impõe uma obediência cega, mas uma obediência inteligente, e temos de sentir a responsabilidade de ajudar os outros com a luz do nosso entendimento. Mas sejamos sinceros connosco próprios: examinemos em cada caso se o que nos move é o amor à verdade ou o egoísmo e o apego ao nosso próprio juízo. Quando as nossas ideias nos separam dos outros, quando nos levam a quebrar a comunhão, a unidade com os nossos irmãos, é sinal certo que não estamos a actuar segundo o espírito de Deus.

Não o esqueçamos: para obedecer, repito, é preciso humildade. Vejamos de novo o exemplo de Cristo. Jesus obedece, e obedece a José e a Maria. Deus veio à Terra para obedecer, e para obedecer às criaturas. São duas criaturas perfeitíssimas – Santa Maria, Nossa Mãe; mais do que Ela só Deus; e aquele varão castíssimo, José. Mas criaturas. E Jesus, que é Deus, obedecia-lhes! Temos de amar a Deus, para amar assim a sua vontade, e ter desejos de responder aos chamamentos que nos dirige através das obrigações da nossa vida corrente: nos deveres de estado, na profissão, no trabalho, na família, no convívio social, no nosso próprio sofrimento e no sofrimento dos outros homens, na amizade, no empenho de realizar o que é bom e justo...  
(Cristo que passa, 17)


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Eis o método de ensino pós-iluminista



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domingo, 26 de dezembro de 2010

Destaques da homilia do Papa Bento XVI na Missa do galo





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Puer natus est nobis



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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Nota da congregação para a Doutrina da Fé sobre o preservativo

Por ocasião da publicação do livro-entrevista de Bento XVI, «Luz do Mundo», foram difundidas diversas interpretações não correctas, que geraram confusão sobre a posição da Igreja Católica quanto a algumas questões de moral sexual. Não raro, o pensamento do Papa foi instrumentalizado para fins e interesses alheios ao sentido das suas palavras, que aparece evidente se se lerem inteiramente os capítulos onde se alude à sexualidade humana. O interesse do Santo Padre é claro: reencontrar a grandeza do projecto de Deus sobre a sexualidade, evitando a banalização hoje generalizada da mesma.

Algumas interpretações apresentaram as palavras do Papa como afirmações em contraste com a tradição moral da Igreja; hipótese esta, que alguns saudaram como uma viragem positiva, e outros receberam com preocupação, como se se tratasse de uma ruptura com a doutrina sobre a contracepção e com a atitude eclesial na luta contra o HIV-SIDA. Na realidade, as palavras do Papa, que aludem de modo particular a um comportamento gravemente desordenado como é a prostituição (cf. «Luce del mondo», 1.ª reimpressão, Novembro de 2010, p. 170-171), não constituem uma alteração da doutrina moral nem da praxis pastoral da Igreja.

Como resulta da leitura da página em questão, o Santo Padre não fala da moral conjugal, nem sequer da norma moral sobre a contracepção. Esta norma, tradicional na Igreja, foi retomada em termos bem precisos por Paulo VI no n.º 14 da Encíclica Humanae vitae, quando escreveu que «se exclui qualquer acção que, quer em previsão do acto conjugal, quer durante a sua realização, quer no desenrolar das suas consequências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação». A ideia de que se possa deduzir das palavras de Bento XVI que seja lícito, em alguns casos, recorrer ao uso do preservativo para evitar uma gravidez não desejada é totalmente arbitrária e não corresponde às suas palavras nem ao seu pensamento. Pelo contrário, a este respeito, o Papa propõe caminhos que se podem, humana e eticamente, percorrer e em favor dos quais os pastores são chamados a fazer «mais e melhor» («Luce del mondo», p. 206), ou seja, aqueles que respeitam integralmente o nexo indivisível dos dois significados - união e procriação - inerentes a cada acto conjugal, por meio do eventual recurso aos métodos de regulação natural da fecundidade tendo em vista uma procriação responsável.

Passando à página em questão, nela o Santo Padre refere-se ao caso completamente diverso da prostituição, comportamento que a moral cristã desde sempre considerou gravemente imoral (cf. Concílio Vaticano II, Constituição pastoral Gaudium et spes, n.º 27; Catecismo da Igreja Católica, n.º 2355). A recomendação de toda a tradição cristã - e não só dela - relativamente à prostituição pode resumir-se nas palavras de São Paulo: «Fugi da imoralidade» (1 Cor 6, 18). Por isso a prostituição há-de ser combatida, e os entes assistenciais da Igreja, da sociedade civil e do Estado devem trabalhar por libertar as pessoas envolvidas.

A este respeito, é preciso assinalar que a situação que se criou por causa da actual difusão do HIV-SIDA em muitas áreas do mundo tornou o problema da prostituição ainda mais dramático. Quem sabe que está infectado pelo HIV e, por conseguinte, pode transmitir a infecção, para além do pecado grave contra o sexto mandamento comete um também contra o quinto, porque conscientemente põe em sério risco a vida de outra pessoa, com repercussões ainda na saúde pública. A propósito, o Santo Padre afirma claramente que os preservativos não constituem «a solução autêntica e moral» do problema do HIV-SIDA e afirma também que «concentrar-se só no preservativo significa banalizar a sexualidade», porque não se quer enfrentar o desregramento humano que está na base da transmissão da pandemia. Além disso é inegável que quem recorre ao preservativo para diminuir o risco na vida de outra pessoa pretende reduzir o mal inerente ao seu agir errado. Neste sentido, o Santo Padre assinala que o recurso ao preservativo, «com a intenção de diminuir o perigo de contágio, pode entretanto representar um primeiro passo na estrada que leva a uma sexualidade vivida diversamente, uma sexualidade mais humana». Trata-se de uma observação totalmente compatível com a outra afirmação do Papa: «Este não é o modo verdadeiro e próprio de enfrentar o mal do HIV».

Alguns interpretaram as palavras de Bento XVI, recorrendo à teoria do chamado «mal menor». Todavia esta teoria é susceptível de interpretações desorientadoras de matriz proporcionalista (cf. João Paulo II, Encíclica Veritatis splendor, nn.os 75-77). Toda a acção que pelo seu objecto seja um mal, ainda que um mal menor, não pode ser licitamente querida. O Santo Padre não disse que a prostituição valendo-se do preservativo pode ser licitamente escolhida como mal menor, como alguém sustentou. A Igreja ensina que a prostituição é imoral e deve ser combatida. Se alguém, apesar disso, pratica a prostituição mas, porque se encontra também infectado pelo HIV, esforça-se por diminuir o perigo de contágio inclusive mediante o recurso ao preservativo, isto pode constituir um primeiro passo no respeito pela vida dos outros, embora a malícia da prostituição permaneça em toda a sua gravidade. Estas ponderações estão na linha de quanto a tradição teológico-moral da Igreja defendeu mesmo no passado.

Em conclusão, na luta contra o HIV-SIDA, os membros e as instituições da Igreja Católica saibam que é preciso acompanhar as pessoas, curando os doentes e formando a todos para que possam viver a abstinência antes do matrimónio e a fidelidade dentro do pacto conjugal. A este respeito, é preciso também denunciar os comportamentos que banalizam a sexualidade, porque - como diz o Papa - são eles precisamente que representam a perigosa razão pela qual muitas pessoas deixaram de ver na sexualidade a expressão do seu amor. «Por isso, também a luta contra a banalização da sexualidade é parte do grande esforço a fazer para que a sexualidade seja avaliada positivamente e possa exercer o seu efeito positivo sobre o ser humano na sua totalidade» («Luce del mondo», p. 170).


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É o que dá a liberalização do aborto...



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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Os três “P” e São Jack, o Estripador - P.Gonçalo Portocarrero

Quando havia padres e polícias com fartura, dizia-se que a capital do Minho era a cidade dos três “p” porque, aos dois digníssimos ofícios já citados, havia que acrescentar a impropriamente chamada “mais antiga profissão do mundo”. A polémica, a propósito da entrevista concedida por Bento XVI, também se poderia designar pelos três “p” que a resumem: Papa, preservativos e prostitutos.

Quanto ao Papa, já está tudo dito, mas talvez não seja ocioso recordar que, sempre que Bento XVI se refere a temas de moral sexual, os media prestam-lhe uma enorme atenção, que não lhe dispensam quando apela para causas maiores, como a paz, a pobreza, a fome ou a perseguição dos cristãos na Ásia, por exemplo. Dir-se-ia que algumas pessoas, que têm o seu importantíssimo umbigo um pouco descaído, não querem outra coisa deste Papa e da Igreja que não seja uma bênção para os seus maus costumes ou, pelo menos, um condescendente silêncio para as suas vidas licenciosas.

Em relação aos preservativos, pouco mais há a dizer. Do ponto de vista moral, nada mudou, nem podia mudar. Mas os falsos profetas embandeiraram em arco, para saudarem o que o Papa não disse, mas eles gostariam que tivesse dito. Há quem pense que, mais do que a lei de Deus, a doutrina da Igreja ou a palavra do Papa, o que importa é a opinião pública, que manipulam a seu bel-prazer. E, fatal, como o destino, há sempre alguns pusilânimes que caiem no logro, muito embora há muito se tenha dito que nada de novo há debaixo do sol.

A grande novidade é a utilização, por um Papa, do termo “prostituto”, porque deve ter sido a primeira vez que tal aconteceu. Aliás, o uso do preservativo só foi tolerado em relação aos profissionais desse degradante ofício, não porque uma tal prática possa ser moralmente aceite, mas porque, em certos casos, pode impedir um mal maior, como seria o contágio de uma doença mortal.

Se o entrevistador tivesse questionado Bento XVI sobre um “serial killler” que hesitasse entre utilizar a bomba atómica ou um punhal, é provável que o Santo Padre dissesse que, nesse contexto, seria preferível a segunda hipótese porque, mesmo sendo moralmente condenável, seria socialmente menos prejudicial. Uma bomba atómica pode causar milhares de vítimas, num só instante, enquanto um consciencioso e diligente criminoso que mate à navalhada, só consegue realizar, no mesmo espaço de tempo, uns quantos homicídios.

Claro que, se Bento XVI expressasse publicamente este óbvio veredicto moral, é certo e sabido que, de imediato, as televisões e jornais noticiariam “cum gáudio magno” que, finalmente, o Papa aprovava o esfaqueamento de inocentes, prática antiquíssima e muito na moda em certos ambientes, mas que sectores mais conservadores da Igreja ainda repudiam. E a “boa” notícia – que abriria finalmente as portas da Igreja a muitos profissionais do crime, que dela estão actualmente excluídos – seria decerto festejada pela máfia, pela camorra, pelos terroristas, pelos narcotraficantes e em todas as prisões, pelo menos com o mesmo regozijo com que se supõe que foram recebidas as recentes declarações sobre o preservativo nos prostíbulos masculinos, únicos antros em que o seu uso, ainda que ilegítimo, foi tolerado.

Por ter feito o grande favor de usar uma faca, e não uma arma mais mortífera, a humanidade deveria estar agradecida ao benemérito assassino em série que, em pleno século XIX, semeou o terror em Londres. Se pega a moda de confundir o mal tolerado com o bem permitido, quem sabe se, na próxima visita pontifícia à Grã-Bretanha, não se exige ao Santo Padre que canonize Jack, o estripador?!


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Para quem não conhece o 'google documents'



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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Conto de Natal - João César das Neves

Pedro estava a uma mesa do bar, bebendo uma cerveja e angustiando-se por causa da dívida ao banco. Era como se toda a maldita crise mundial se concentrasse na próxima prestação e na falta de dinheiro para a pagar. Onde arranjá- -lo? Então ouviu dizer:

- Porque é que não fazes como na outra?

Pedro levantou os olhos e viu um homem de barba à mesa do lado, que sorria e olhava para ele. Perante o olhar confuso do jovem, o homem explicou:

- Estás preocupado com a dívida. Porque não fazes como na outra dívida?

- Outra?! Qual outra?

- Tu recebeste dinheiro do banco e, como sabes que não é teu, preocupas-te em pagá-lo. Mas também recebestes dois braços, duas pernas, uma cabeça e um coração, recebestes um chão para pisar, ar para respirar, comida para comer, uma família que te ama, uma carreira e amigos. Um dia recebestes tudo isso, sem saberes de onde, e um dia tudo te vai ser tirado, tal como no dinheiro do banco. A situação é exactamente paralela. Porque é que ligas ao empréstimo da moeda e não ao empréstimo da vida?

Pedro estava mais confuso que nunca.

- Tu, que não acreditas que Deus existe...

- Isso não é verdade! - interrompeu Pedro.

- Ah! Está bem. Há muitos que acham que o banco não existe e têm direito a todo o empréstimo que receberam por causa de umas coisas a que chamam "leis da física e da natureza". Esses agem como se fossem donos disto, sem perceberem que não controlam nada. São os mais tontos de todos. Então tu acreditas que Deus existe mas não te liga nenhuma.

- Também, não é verdade!

- Está bem! É que existem alguns que acreditam na existência do banco, mas pensam que, desde que paguem de vez em quando uma comissãozita, nunca vão precisar de tratar dos juros e devolver o capital. Têm um pacto de não agressão com Deus e vivem respeitosamente à parte. Esses terão uma surpresa ainda mais desagradável que os primeiros. Então tu não pertences a nenhum destes dois grupos. Quer dizer que és do pior dos três: aqueles que acreditam que Deus existe, que Ele liga ao mundo, mas não lhe ligam a Ele. Os piores são os fariseus - disse o homem, com cara enjoada.

Pedro pensou em protestar, mas preferiu ficar calado, a ver o que aconteceria. O homem continuou.

- Tudo o que tu tens, do teu cérebro à tua mulher, passando pelo sistema solar e o teu emprego, não é, nem nunca foi, teu. É do seu verdadeiro dono e foi-te confiado durante um bocadinho de tempo. Mais: como sabes bem, não se trata de um único empréstimo feito ao nascer que se paga na morte, porque estás permanentemente a receber novos benefícios. Mesmo que vás pagando os juros pontualmente, a tua dívida vital aumenta todos os dias exponencialmente. Pior de tudo, a única forma de pagar os juros é com a própria dívida, porque, se pensares bem, vês que nada tens de teu. Tudo depende de Outro.

- Por isso, a questão central da vida - continuou o homem - não é cumprir regras, ser bonzinho, preocupar-se com os outros. É ser realista e compreender que devemos tudo. Tudo o que somos e temos, devemo-lo a Outrem. A única forma verdadeira de viver é numa total e profunda dependência deste Deus que nos dá tudo. É isso que é ser religioso. Por isso somos bons. Os que vêem a religião como um conjunto de deveres, um código moral ou ritos, costumes, amizades são piores que os ateus honestos. Foi com esses que Ele mais discutiu. Nunca ouviste dizer que antes de tudo deves "amar a Deus sobre todas as coisas"? Amar! Amar mesmo! E sobre todas as coisas. Onde é que leste que bastava "amar o próximo como a si mesmo"? O problema central da vida é a dívida absoluta, esmagadora, totalitária que temos perante o banco divino. Que, felizmente, nos ama mais a nós que nós próprios.

- Não sei se o meu prior gostaria dessa sua comparação de Deus com um banco! - disse Pedro a rir.

- Achas? Nunca ouviste ler: "O reino dos céus é... como um homem que, tendo de viajar para o exterior, chamou os seus escravos e lhes confiou os bens. A um deu cinco talentos, a outro dois e ao terceiro um, segundo a capacidade de cada um."? (Mt 25, 14-15)


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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O deserto - Beato Charles de Foucauld

É preciso passar pelo deserto e aí permanecer para receber a graça de Deus; é lá que nos esvaziamos, que extraímos de nós tudo o que não é de Deus e que esvaziamos completamente esta pequena casa da nossa alma para deixar todo o espaço apenas para Deus. Os judeus passaram pelo deserto, Moisés viveu lá antes de receber a sua missão, São Paulo e São João Crisóstomo prepararam-se no deserto. [...] 

É um tempo de graça, é um período pelo qual toda a alma que quer produzir frutos tem necessariamente de passar. Ela precisa deste silêncio, deste recolhimento, deste esquecimento de todo o criado, no meio dos quais Deus estabelece o Seu reino e forma nela o espírito interior: a vida íntima com Deus, a conversa da alma com Deus na fé, na esperança e na caridade. Mais tarde, a alma produzirá frutos exactamente na medida em que o homem interior se tiver formado nela (Ef 3, 16). [...]


Não se dá o que se não tem e é na solidão, nesta vida apenas e só com Deus, neste recolhimento profundo da alma que esquece tudo para viver exclusivamente em união com Deus, que Deus Se dá inteiramente àquele que se dá assim a Ele. Dai-vos inteiramente somente a Ele [...] e Ele Se dará inteiramente a vós. [...] Vede São Paulo, São Bento, São Patrício, São Gregório Magno e tantos outros, quão longos tempos de recolhimento e de silêncio! Subi mais acima: olhai para São João Baptista, olhai para Nosso Senhor. Nosso Senhor não tinha necessidade disso, mas quis dar-nos o exemplo.

in Carta ao Pe. Jerónimo


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Só Cristo salva o Homem



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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Santo do dia - S.João da Cruz

Modo para chegar ao Tudo
Para chegares ao que não sabes,
Hás de ir por onde não sabes.
Para chegares ao que não gozas,
Hás de ir por onde não gozas.
Para vires ao que não possuis,
Hás de ir por onde não possuis.
Para vires a ser o que não és,
Hás de ir por onde não és.

Modo de possuir tudo
Para vires a saber tudo,
Não queiras saber coisa alguma.
Para vires a gozar tudo,
Não queiras gozar coisa alguma.
Para vires a possuir tudo,
Não queiras possuir coisa alguma.
Para vires a ser tudo,
Não queiras ser coisa alguma.

Modo para não impedir o tudo
Quando reparas em alguma coisa,
Deixas de arrojar-te ao tudo.
Porque para vires de todo ao tudo,
Hás de deixar de todo ao tudo.
E quando vieres a tudo ter,
Hás de tê-lo sem nada querer.
Porque se queres ter algo em tudo,
Não tens puro em Deus teu tesouro.

Indício de que se tem tudo
Nesta desnudez acha o espírito
sua quietação e descanso,
porque, nada cobiçando, nada
o impele para cima e nada
o oprime para baixo, porque
está no centro de sua humildade;
pois quando cobiça alguma coisa
nisto mesmo se fatiga.


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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Natal no Iraque - Aura Miguel

Imagine-se, de hoje a 15 dias, sem poder sair de casa para ir à Igreja celebrar o Natal. E que, mesmo dentro casa, reunido com a sua família e amigos, poderá perder a vida… só pelo simples facto de ser cristão. Pois é disso mesmo que, neste momento, têm medo os católicos iraquianos.

Hisham tem 29 anos e já recebeu duas ameaças de morte, por se recusar a abandonar o país. Wasim, com 67 anos, sente-se isolado e pensa seriamente em emigrar para a Síria, com medo que raptem a sua filha, jovem universitária. Shimoun, com 25 anos, continua a ter pesadelos desde o ataque sangrento à catedral e tenta resistir às pressões da família para emigrar para a Jordânia. Senah, com 69 anos, vive em Bagdad e é uma professora reformada.

Testemunha que a sua vida se resume a duas palavras: medo e esperança. Medo, por causa da Al-Qaeda e das suas milícias, que há muito definiram os cristãos como alvo a abater, e esperança pelo amor que tem à terra onde nasceu e pelo pedido que, nestes dias, fez chegar até nós.

“Este Natal será uma grande provação para os cristãos que aqui ficaram”, disse ela. “Peço aos nossos irmãos no estrangeiro que não se esqueçam de nós. Precisamos muito de sentir a vossa companhia”.


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Modernices



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Um pensamento simples - G.K. Chesterton

Muitos homens retornariam à fé e moral dos velhos tempos se conseguissem alargar as suas mentes o suficiente. É principalmente estreiteza mental que os mantém na rotina da negação. Mas esse alargamento é facilmente mal-entendido, porque a mente deve se alargar para perceber as coisas simples; ou mesmo as coisas auto-evidentes. Precisa-se de um esforço de imaginação para perceber os objectos óbvios contra um fundo óbvio; e especialmente os objectos grandes contra um fundo grande. Há sempre o tipo de homem que não consegue perceber nada excepto uma mancha na carpete, pois não consegue perceber a carpete. E isso tende à irritação, que ele pode perceber e transformar numa rebelião. Então há o tipo de homem que percebe somente a carpete, talvez porque seja uma carpete nova. Isso é mais humano, mas pode estar manchado de vaidade e mesmo vulgaridade. Há o homem que pode ver somente a sala acarpetada; e isso tenderá a isolá-lo demais das outras coisas, especialmente dos quartos dos empregados. Finalmente, há o homem com larga imaginação, que não se consegue sentar num cómodo acarpetado, ou mesmo no quarto de despejo, sem perceber, a todo o momento, o contorno de toda a casa contra seu fundo aborígene de terra e céu. Ele, compreenden que o tecto foi feito, desde o início, como uma protecção contra o sol ou a neve, e a porta contra o frio ou a lama, saberá melhor que o restante dos homens – e não pior – as regras internas. Ele saberá melhor que o primeiro homem que não deve haver mancha na carpete. Mas ele saberá, diferentemente do primeiro homem, porque há uma carpete.

Ele considerará da mesma maneira uma nódoa ou mancha nos registos de sua tradição ou credo. Não a explicará ingenuamente; não a desprezará. Ao contrário, ele a verá de maneira muito simples; mas ele também a verá de maneira muito ampla; e contra um fundo de coisas amplas. Fará o que seus críticos nunca farão, de forma alguma; ele verá as coisas óbvias e fará as perguntas óbvias. Pois quanto mais eu leio a crítica religiosa moderna, especialmente a que se refere à minha própria religião, mais me impressiono com a acanhada concentração e a incapacidade imaginativa de considerar o problema como um todo. Li recentemente uma condenação muito moderada de práticas católicas, vinda dos EUA, onde as condenações estão longe de ser moderadas. Ela toma a forma, de maneira geral, de um enxame de questões, perguntas que eu estaria muito disposto a responder. Contudo, estou vivamente consciente das grandes questões que não foram formuladas.

E sinto, acima de tudo, este facto simples e esquecido; que se certas acusações são ou não são verdadeiras em relação aos católicos, elas são inquestionavelmente verdadeiras em relação aos demais. Nunca ocorre ao crítico fazer algo tão simples quanto comparar o que é o católico com o que é não-católico. Uma coisa que nunca parece passar pela sua mente, quando ele discute o que é a Igreja, é a simples questão do que seria do mundo sem ela. O resto está aqui.


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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mais uma vez a ciência ganha à ética



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Frase do dia

"Os bispos têm o dever de emitir um juízo moral também sobre coisas que afectam a ordem política, quando o exigirem os direitos humanos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas." 

Papa Bento XVI


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