domingo, 31 de março de 2013

Domingo da Ressurreição: Jesus venceu

Passado o Sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram perfumes para irem embalsamar Jesus. Partindo no primeiro dia da semana, de manhã cedo, chegaram ao sepulcro quando o sol já era nascido. Assim começa São Marcos a narração do sucedido naquela madrugada de há dois mil anos, na primeira Páscoa cristã. 

Jesus tinha sido sepultado. Aos olhos dos homens, a Sua vida e a Sua mensagem tinham terminado com o mais rotundo fracasso. Os Seus discípulos, confusos e atemorizados, tinham-se dispersado. As próprias mulheres que vão fazer um gesto piedoso, perguntam umas às outras:quem nos tirará a pedra da entrada do sepulcro? "No entanto, faz notar São Josemaria, continuam... Tu e eu, como andamos de vacilações? Temos esta decisão santa, ou temos de confessar que sentimos vergonha ao contemplar a decisão, a intrepidez, a audácia destas mulheres?". 


Cumprir a Vontade de Deus, ser fiéis à lei de Cristo, viver coerentemente a nossa fé, pode parecer às vezes muito difícil. Apresentam-se obstáculos que parecem insuperáveis. No entanto, não é assim. Deus vence sempre. 


A epopeia de Jesus de Nazaré não termina com a Sua morte ignominiosa na Cruz. A última palavra é a da Ressurreição gloriosa. E os cristãos, no Baptismo, morremos e ressuscitamos com Cristo; mortos para o pecado e vivos para Deus. «Oh Cristo! — dizemos com o Santo Padre João Paulo II — como não Lhe agradecer pelo dom inefável que nos ofereces esta noite! O mistério da Tua Morte e Ressurreição infunde-se na água baptismal que acolhe o homem velho e carnal e o torna puro com a própria juventude divina» (Homilia, 15-IV-2001). 


Hoje a Igreja, cheia de alegria, exclama: este é o dia que o Senhor fez: alegremo-nos e rejubilemos! Grito de júbilo que se prolongará durante cinquenta dias, ao longo do tempo pascal, como um eco das palavras de São Paulo: posto que ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde está Cristo sentado à direita de Deus. Ponde todo o coração nos bens do céu, não nos da terra; porque morreram e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus


É lógico pensar — e assim o considera a Tradição da Igreja — que Jesus Cristo, uma vez ressuscitado, apareceu em primeiro lugar à Sua Santíssima Mãe. O facto de que não apareça nos relatos evangélicos, com as outras mulheres, é — como assinala João Pulo II — um indício de que Nossa Senhora já se tinha encontrado com Jesus.  


«Esta dedução ficaria confirmada também — acrescenta o Papa — pelo dado de que as primeiras testemunhas da ressurreição, por vontade de Jesus, foram as mulheres, as que permaneceram fiéis ao pé da Cruz e, portanto, mais firmes na fé» (Audiência, 21-V-1997). Só Maria tinha conservado plenamente a fé, durante as horas amargas da Paixão; por isso é natural que o Senhor Lhe aparecesse em primeiro lugar. 


Temos que permanecer sempre junto da Virgem, mas mais ainda no tempo de Páscoa, e aprender d’Ela. Com que ânsias tinha esperado a Ressurreição! Sabia que Jesus tinha vindo salvar o mundo e que, portanto, devia padecer e morrer; mas sabia também que não podia ficar sujeito à morte, porque Ele é a Vida. 


Uma boa forma de viver a Páscoa consiste em esforçarmo-nos por fazer os outros participantes da vida de Cristo, cumprindo com primor o mandamento novo da caridade, que o Senhor nos deu na véspera da Sua Paixão: nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. Cristo ressuscitado repete-no-lo agora a cada um. Diz-nos: amai-vos de verdade uns aos outros, esforçai-vos todos os dias por servir os outros, estai pendentes dos mais pequenos pormenores, para fazer a vida agradável aos que convivem convosco. 


Mas voltemos ao encontro de Jesus com a Sua Santíssima Mãe. Que contente estaria a Virgem, ao contemplar aquela Humanidade Santíssima — carne da Sua carne e vida da Sua vida — plenamente glorificada! Peçamos-Lhe que nos ensine a sacrificarmo-nos pelos outros sem o fazermos notar, sem esperar sequer que nos agradeçam; que tenhamos fome de passar inadvertidos, para assim possuir a vida de Deus e comunicá-la a outros. Hoje dirigimos-Lhe o Regina Caeli, saudação própria do tempo pascal. Rainha do céu alegrai-vos, aleluia. / Porque Aquele que mereceste trazer em vosso ventre, aleluia. / Ressuscitou como disse, aleluia. / Rogai por nós a Deus, aleluia. / Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria, aleluia. / Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia.
D.Javier Echevarría


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O misterioso caso do sepulcro vazio - Pe. Gonçalo Portocarrero

Hércule Poirot alisou o bigode e fez cara de caso e, valha a redundância, o caso não era para menos. Sentados à sua volta estavam, entre outros, os melhores detectives de todos os tempos: Sherlock Holmes, na companhia do indefectível Dr. Watson, Miss Marple, Arsène Lupin e ainda – pasme-se! – o Padre Brown. Poirot levantou-se, pigarreou e disse:

- Madame, messieurs. Estamos aqui para resolver o maior enigma da história da humanidade. O único caso que nenhum detective, até hoje, conseguiu resolver pela razão e que só as célulazinhas cinzentas de todos nós poderão solucionar: o misterioso caso do sepulcro vazio!

Feita esta introdução, naquele tom cerimonioso e um pouco pedante que era próprio do detective belga, o inspector Japp deu a conhecer o caso: um homem, de pouco mais de trinta anos, fora morto e sepultado, tendo sido depois colocados guardas à entrada do sepulcro. Ao terceiro dia, sem que ninguém tivesse violado a sepultura, o corpo desaparecera misteriosamente.

Sherlock Holmes, que não se separava nunca da sua lupa, garantiu aos presentes que ninguém tinha entrado no sepulcro, durante o tempo decorrido entre a morte e o desaparecimento do cadáver, porque não havia quaisquer pegadas. O Dr. Watson, por sua vez, asseverou que a certidão de óbito era clara e conclusiva quanto à morte, provocada por colapso cardíaco fulminante, depois de longa agonia.

Teria o corpo sido roubado pelos familiares ou amigos do defunto? – alvitrou Arsène Lupin. Mas a hipótese não tinha cabimento, uma vez que foram eles próprios que descobriram a sua ausência. Outros seus amigos estavam tão confiantes de que lá estava o cadáver, que tinham regressado à sua terra de origem, supondo tudo definitivamente acabado. Mesmo que alguns quisessem roubar o corpo, não teriam podido faze-lo, dada a existência de guardas armados, impedindo o acesso.

E se tivessem sido os próprios soldados a retirar o corpo? Arriscavam a própria vida e não ganhavam nada com isso – acrescentou o Capitão Hastings, o fiel colaborador de Poirot. Aliás, foram os próprios guardas que, para não serem responsabilizados pelo desaparecimento, puseram a correr o rumor de que, enquanto dormiam, tinham sido os amigos do morto que tinham roubado o cadáver. O que, como é óbvio, não podiam saber se, efectivamente, estavam a dormir!

- Elementar, meu caro Hastings! – disse Sherlock Holmes.

- E a senhora, Miss Marple, que tem a dizer? – perguntou Hércule Poirot.

- Bem, há um aspecto que ainda não foi referido mas que não escapou à minha intuição feminina. No sepulcro, depois de desaparecido o cadáver, encontrou-se no chão a mortalha, que estava vazia, por assim dizer. Parecia como se o corpo dela se tivesse libertado, sem que ninguém o tivesse tirado de lá! Estranho, não é?!

- Sem dúvida! A propósito do sudário – acrescentou Poirot – é curioso que nele tenha ficado gravada uma imagem, apenas esboçada, da vítima.

- Não foi pintada – acrescentou Japp – mas impressa, como se um objecto incandescente tivesse atravessado o pano. Dir-se-ia uma explosão de luz e de energia extraordinária …

No canto da sala, o Padre Brown parecia alheado da discussão. Desgranara já as contas do rosário, que levava sempre no bolso da sotaina puída. A bem dizer, não sabia porque estava ali, entre os maiores detectives mundiais, ele que era apenas um pobre pároco de aldeia. Passara nesse dia várias horas a confessar e, por isso, estava cansado. Distraidamente abriu o velho breviário, recheado de pagelas, e leu, como que num murmúrio: «Porque procurais entre os mortos Aquele que está vivo?» (Lc 24, 5). E um raio de alegria e de esperança iluminou o mundo. Santa Páscoa! in jornal i


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Aleluia! Cristo ressuscitou!

A morte foi vencida! Fomos salvos pelo Amor! Aleluia!


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sábado, 30 de março de 2013

Esta é a noite

Exsúltet iam angélica turba cælórum:
exsúltent divína mystéria:
et pro tanti Regis victória tuba ínsonet salutáris.

Gáudeat et tellus, tantis irradiáta fulgóribus:
et ætérni Regis splendóre illustráta,
tótius orbis se séntiat amisísse calíginem.

Lætétur et mater Ecclésia,
tanti lúminis adornáta fulgóribus:
et magnis populórum vócibus hæc aula resúltet.

[Quaprópter astántes vos, fratres caríssimi,
ad tam miram huius sancti lúminis claritátem,
una mecum, quæso,
Dei omnipoténtis misericórdiam invocáte.
Ut, qui me non meis méritis
intra Levitárum númerum dignátus est aggregáre,
lúminis sui claritátem infúndens,
cérei huius laudem implére perfíciat.]
[V/ Dóminus vobíscum.
R/ Et cum spíritu tuo.]
V/ Sursum corda.
R/ Habémus ad Dóminum.
V/ Grátias agámus Dómino Deo nostro.
R/ Dignum et iustum est.
Vere dignum et iustum est,
invisíbilem Deum Patrem omnipoténtem
Filiúmque eius unigénitum,
Dóminum nostrum Iesum Christum,
toto cordis ac mentis afféctu et vocis ministério personáre.
Qui pro nobis ætérno Patri Adæ débitum solvit,
et véteris piáculi cautiónem pio cruóre detérsit.
Hæc sunt enim festa paschália,
in quibus verus ille Agnus occíditur,
cuius sánguine postes fidélium consecrántur.
Hæc nox est,
in qua primum patres nostros, fílios Israel
edúctos de Ægypto,
Mare Rubrum sicco vestígio transíre fecísti.
Hæc ígitur nox est,
quæ peccatórum ténebras colúmnæ illuminatióne purgávit.
Hæc nox est,
quæ hódie per univérsum mundum in Christo credéntes,
a vítiis sæculi et calígine peccatórum segregátos,
reddit grátiæ, sóciat sanctitáti.
Hæc nox est,
in qua, destrúctis vínculis mortis,
Christus ab ínferis victor ascéndit.
Nihil enim nobis nasci prófuit,
nisi rédimi profuísset.
O mira circa nos tuæ pietátis dignátio!
O inæstimábilis diléctio caritátis:
ut servum redímeres, Fílium tradidísti!
O certe necessárium Adæ peccátum,
quod Christi morte delétum est!
O felix culpa,
quæ talem ac tantum méruit habére Redemptórem!
O vere beáta nox,
quæ sola méruit scire tempus et horam,
in qua Christus ab ínferis resurréxit!
Hæc nox est, de qua scriptum est:
Et nox sicut dies illuminábitur:
et nox illuminátio mea in delíciis meis.
Huius ígitur sanctificátio noctis fugat scélera, culpas lavat:
et reddit innocéntiam lapsis
et mæstis lætítiam.
Fugat ódia, concórdiam parat
et curvat impéria.
In huius ígitur noctis grátia, súscipe, sancte Pater,
laudis huius sacrifícium vespertínum,
quod tibi in hac cérei oblatióne solémni,
per ministrórum manus
de opéribus apum, sacrosáncta reddit Ecclésia.
Sed iam colúmnæ huius præcónia nóvimus,
quam in honórem Dei rútilans ignis accéndit.
Qui, lícet sit divísus in partes,
mutuáti tamen lúminis detrimenta non novit.
Alitur enim liquántibus ceris,
quas in substántiam pretiósæ huius lámpadis
apis mater edúxit.
O vere beáta nox,
in qua terrénis cæléstia, humánis divína iungúntur!
Orámus ergo te, Dómine,
ut céreus iste in honórem tui nóminis consecrátus,
ad noctis huius calíginem destruéndam,
indefíciens persevéret.
Et in odórem suavitátis accéptus,
supérnis lumináribus misceátur.
Flammas eius lúcifer matutínus invéniat:
ille, inquam, lúcifer, qui nescit occásum.
Christus Fílius tuus,
qui, regréssus ab ínferis, humáno géneri serénus illúxit,
et vivit et regnat in sæcula sæculórum.
R/ Amen.


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Sábado Santo: Silêncio e Conversão

Hoje é dia de silêncio na Igreja: Cristo jaz no sepulcro e a Igreja medita, admirada, o que fez por nós este Senhor nosso. Guarda silêncio para aprender do Mestre, ao contemplar o Seu corpo destroçado. 

Cada um de nós pode e deve unir-se ao silêncio da Igreja. E ao considerar que somos responsáveis por essa morte, esforçamo-nos para que guardem silêncio as nossas paixões, as nossas rebeldias, tudo o que nos afaste de Deus. Mas sem estarmos meramente passivos; é uma graça que Deus nos concede quando lha pedimos diante do Corpo morto do Seu Filho, quando nos empenhamos em tirar da nossa vida tudo o que nos afaste d’Ele. 


O Sábado Santo não é um dia triste. O Senhor venceu o demónio e o pecado e dentro de poucas horas vencerá também a morte com a Sua gloriosa Ressurreição. Reconciliou-nos com o Pai celestial; já somos filhos de Deus! É necessário que façamos propósitos de agradecimento, que tenhamos a segurança de que superaremos todos os obstáculos, sejam do tipo que forem, se nos mantemos bem unidos a Jesus pela oração e os sacramentos. 


O mundo tem fome de Deus, embora muitas vezes não o saiba. As pessoas desejam que se lhes fale desta realidade gozosa — o encontro com o Senhor — e para isso estão os cristãos. Tenhamos a valentia daqueles dois homens — Nicodemos e José de Arimateia — que durante a vida de Jesus Cristo mostravam respeitos humanos, mas que no momento definitivo se atrevem a pedir a Pilatos o corpo morto de Jesus, para lhe dar sepultura. Ou a daquelas mulheres santas que, quando Cristo é já um cadáver, compram aromas e vão embalsamá-lo, sem terem medo dos soldados que guardam o sepulcro. 


À hora da debandada geral, quando toda a gente se sentiu com direito a insultar, a rir-se e a zombar de Jesus, eles vão dizer: dá-nos esse Corpo, que nos pertence. Com que cuidado o desceriam da Cruz e iriam olhando para as Suas Chagas! Peçamos perdão e digamos, com palavras de São Josemaria Escrivá: subirei com eles ao pé da Cruz, apertarei o Corpo frio, cadáver de Cristo, com o fogo do meu amor..., retirar-lhe-ei os cravos com os meus desagravos e mortificações..., envolvê-Lo-ei com o pano novo da minha vida limpa e enterrá-Lo-ei no meu peito de rocha viva, donde ninguém m’O poderá arrancar, e aí, Senhor, descansai! 


Compreende-se que colocassem o corpo morto do Filho nos braços da Mãe, antes de lhe dar sepultura. Maria era a única criatura capaz de Lhe dizer que entende perfeitamente o Seu Amor pelos homens, pois não foi Ela a causa dessas dores. A Virgem Puríssima fala por nós; mas fala para nos fazer reagir, para que experimentemos a Sua dor, feita uma só coisa com a dor de Cristo. 


Retiremos propósitos de conversão e de apostolado, de nos identificarmos mais com Cristo, de estar totalmente pendentes das almas. Peçamos ao Senhor que nos transmita a eficácia salvadora da Sua Paixão e Morte. Consideremos o panorama que se nos apresenta pela frente. As pessoas que nos rodeiam, esperam que os cristãos lhes descubram as maravilhas do encontro com Deus. É necessário que esta Semana Santa — e depois todos os dias — sejam para nós um salto de qualidade, pedir ao Senhor que se meta totalmente nas nossas vidas. É preciso transmitir a muitas pessoas a Vida nova que Jesus Cristo nos conseguiu com a Redenção. 


Socorramo-nos de Santa Maria: Virgem da Soledade, Mãe de Deus e Mãe nossa, ajuda-nos a compreender — como escreve São Josemaria — que é preciso fazer da nossa vida a vida e a morte de Cristo. Morrer pela mortificação e penitência, para que Cristo viva em nós pelo Amor. E seguir então os passos de Cristo, com afã de corredimir todas as almas. Dar a vida pelos outros. Só assim se vive a vida de Jesus Cristo e nos fazemos uma só coisa com Ele.
D.Javier Echevarría


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sexta-feira, 29 de março de 2013

Sexta-Feira Santa: Cristo na Cruz

Hoje queremos acompanhar Cristo na Cruz. Recordo umas palavras de São Josemaria Escrivá, numa Sexta-feira Santa. Convidava-nos a reviver pessoalmente as horas da Paixão; da agonia de Jesus no Horto das Oliveiras até à flagelação, a coroação de espinhos e a morte na Cruz. Dizia:Ligada a omnipotência de Deus por mão humana, levam o meu Jesus de um lado para outro, entre insultos e empurrões da plebe

Cada um de nós há-de ver-se no meio daquela multidão, porque foram os nossos pecados a causa da imensa dor que se abate sobre a alma e o corpo do Senhor. Sim, cada um leva Cristo, convertido em objecto de chacota, de um lado para o outro. Somos nós que, com os nossos pecados, reclamamos aos gritos a Sua morte. E Ele, perfeito Deus e perfeito Homem, deixa fazer. Tinha-o predito o profeta Isaías: maltratado, não abriu a boca; como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda diante dos tosquiadores


É justo que sintamos a responsabilidade dos nossos pecados. É lógico que estejamos muito agradecidos a Jesus. É natural que procuremos a reparação, porque à nossas manifestações de desamor, Ele responde sempre com um amor total. Neste tempo de Semana Santa, vemos o Senhor como que mais próximo, mais semelhante aos Seus irmãos os homens... Meditemos umas palavras de João Paulo II: Quem crê em Jesus leva a Cruz em triunfo, como prova indubitável de que Deus é amor... Mas a fé em Cristo jamais se dá por descontada. O mistério pascal, que revivemos durante os dias da Semana Santa, é sempre actual (Homilia, 24-III-2002). 


Peçamos a Jesus, nesta Semana Santa, que desperte na nossa alma a consciência de sermos homens e mulheres verdadeiramente cristãos, para que vivamos cara a Deus e, com Deus, cara a todas as pessoas. 


Não deixemos que o Senhor leve sozinho a Cruz. Acolhamos com alegria os pequenos sacrifícios diários. 


Aproveitemos a capacidade de amar, que Deus nos concedeu, para concretizar propósitos, mas sem ficarmos num mero sentimentalismo. Digamos sinceramente: Senhor, nunca mais! Nunca mais! Peçamos com fé que nós e todas as pessoas da terra descubramos a necessidade de ter ódio ao pecado mortal e de aborrecer o pecado venial deliberado, que tantos sofrimentos causou ao nosso Deus. 


Que grande é o poder da Cruz! Quando Cristo é objecto de escárnio e de zombaria para todo o mundo; quando está no Madeiro sem desejar arrancar os cravos; quando ninguém daria um cêntimo pela Sua vida, o bom ladrão — um como nós — descobre o amor de Cristo agonizante e pede perdão. Hoje estarás comigo no Paraíso. Que força tem o sofrimento, quando se aceita junto de Nosso Senhor! É capaz de retirar — das situações mais dolorosas — momentos de glória e de vida. Esse homem que se dirige a Cristo agonizante, encontra a remissão dos seus pecados, a felicidade para sempre. 


Nós temos que fazer o mesmo. Se perdemos o medo à Cruz, se nos unimos a Cristo na Cruz, receberemos a Sua graça, a Sua força, a Sua eficácia. E encher-nos-emos de paz. 


Ao pé da Cruz descobrimos Maria, Virgem fiel. Peçamos-Lhe, nesta Sexta-feira Santa, que nos empreste o Seu amor e a Sua fortaleza, para que também nós saibamos acompanhar Jesus. Dirigimo-nos a Ela com umas palavras de São Josemaria Escrivá, que ajudaram milhões de pessoas.Diz: minha Mãe — tua, porque és seu por muitos títulos — que o teu amor me ate à Cruz do teu Filho; que não me falte a Fé, nem a valentia, nem a audácia, para cumprir a vontade do nosso Jesus.
D.Javier Echevarría


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quinta-feira, 28 de março de 2013

Quinta-Feira Santa: Instituição da Eucaristia

A liturgia de Quinta-feira Santa é riquíssima de conteúdo. É o dia grande da instituição da Sagrada Eucaristia, dom do Céu para os homens; o dia da instituição do sacerdócio, nova prenda divina que assegura a presença real e actual do Sacrifício do Calvário em todos os tempos e lugares, tornando possível que nos apropriemos dos seus frutos. 

Aproximava-se o momento em que Jesus ia oferecer a Sua vida pelos homens. Era tão grande o Seu amor, que na Sua Sabedoria infinita encontrou modo de ir e de ficar, ao mesmo tempo. São Josemaria Escrivá, ao considerar o comportamento dos que se vêm obrigados a deixar a família e a casa, para ganhar o sustento noutras paragens, comenta que o amor do homem recorre a um símbolo: os que se despedem trocam uma recordação, talvez uma fotografia... Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem, não deixa um símbolo, mas a realidade: fica Ele próprio. Irá para o Pai, mas permanecerá com os homensSob as espécies do pão e do vinho está Ele, realmente presente: com o seu Corpo, o seu Sangue, a sua Alma e a Sua Divindade.

Como corresponderemos a esse amor imenso? Assistindo com fé e devoção à Santa Missa, memorial vivo e actual do Sacrifício do Calvário. Preparando-nos muito bem para comungar, com a alma bem limpa. Visitando com frequência Jesus oculto no Sacrário. 


Na primeira leitura da Missa, recorda-se-nos o que Deus estabeleceu no Velho Testamento, para que o povo israelita não esquecesse os benefícios recebidos. Descendo a muitos detalhes: desde como devia ser o cordeiro pascal, até aos pormenores que tinham que cuidar para recordar o trânsito do Senhor. Se isso se prescrevia para comemorar uns factos, que eram apenas uma imagem da libertação do pecado operada por Jesus Cristo, como deveríamos comportar-nos agora, quando fomos verdadeiramente resgatados da escravidão do pecado e feitos filhos de Deus! 


É esta a razão pela qual a Igreja nos inculca um grande esmero em tudo o que se refere à Eucaristia. Assistimos ao Santo Sacrifício todos os Domingos e festas de guarda, sabendo que estamos a participar numa acção divina? 


São João relata que Jesus lavou os pés aos discípulos, antes da Última Ceia. Temos que estar limpos, na alma e no corpo, para nos aproximamos a recebê-Lo com dignidade. Para isso deixou-nos o sacramento da Penitência. 

 
Comemoramos também a instituição do sacerdócio. É um bom momento para rezar pelo Papa, pelos Bispos, pelos sacerdotes e para pedir que haja muitas vocações no mundo inteiro. Pedi-lo-emos melhor na medida em que tenhamos mais convívio com esse nosso Jesus, que instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio. Vamos dizer com total sinceridade, o que repetia São Josemaria Escrivá: Senhor, põe no meu coração o amor com que queres que Te ame


Na cena de hoje não aparece fisicamente a Virgem Maria, embora se encontrasse em Jerusalém naqueles dias; encontramo-la de manhã ao pé da Cruz. Mas já hoje, com a Sua presença discreta e silenciosa, acompanha muito de perto o Seu Filho, em profunda união de oração, de sacrifício e de entrega. João Paulo II assinala que, depois da Ascensão do Senhor ao Céu, participaria assiduamente nas celebrações eucarísticas dos primeiros cristãos. E acrescenta o Papa: aquele corpo entregue como sacrifício e presente nos sinais sacramentais, era o mesmo corpo concebido no Seu seio! Receber a Eucaristia devia significar, para Maria, como se acolhesse de novo no Seu seio o coração que tinha batido em uníssono com o Seu (Ecclesia de Eucharistia, 56). 


Também agora a Virgem Maria acompanha Cristo em todos os sacrários da terra. Pedimos-Lhe que nos ensine a ser almas de Eucaristia, homens e mulheres de fé segura e de piedade rija, que se esforçam por não deixar Jesus sozinho. Que saibamos adorá-Lo, pedir-Lhe perdão, agradecer os Seus benefícios, fazer-Lhe companhia. D.Javier Echevarría


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Mais um mártir na estrada de Damasco



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quarta-feira, 27 de março de 2013

Primeira Audiência Geral do Papa Francisco

Irmãos e irmãs, bom dia!

Tenho o prazer de acolher-vos nesta minha primeira Audiência Geral. Com grande reconhecimento e veneração acolho o “testemunho” das mãos do meu amado predecessor Bento XVI. Depois da Páscoa retomaremos as catequeses do Ano da Fé. Hoje gostaria de concentrar-me um pouco sobre a Semana Santa. Com o Domingo de Ramos iniciamos esta Semana – centro de todo o Ano Litúrgico – na qual acompanhamos Jesus durante a sua Paixão, Morte e Ressurreição.

Mas o que pode querer dizer viver a Semana Santa para nós? O que significa seguir Jesus no seu caminho no Calvário para a Cruz e a ressurreição? Na sua missão terrena, Jesus percorreu os caminhos da Terra Santa; chamou 12 pessoas simples para que permanecessem com Ele, compartilhando o seu caminho, e para que continuassem a sua missão; escolheu-as entre o povo cheio de fé nas promessas de Deus. Falou a todos, sem distinção, aos grandes e aos humildes, ao jovem rico e à pobre viúva, aos poderosos e aos indefesos; levou a misericórdia e o perdão de Deus; curou, consolou, compreendeu; deu esperança; a todos levou a presença de Deus que se interessa por cada homem e cada mulher, como faz um bom pai e uma boa mãe para cada um de seus filhos. 

Deus não esperou que fôssemos a Ele, mas foi Ele que se moveu para nós, sem cálculos, sem medidas. Deus é assim: Ele dá sempre o primeiro passo, Ele move-se na nossa direcção. Jesus viveu a realidade quotidiana do povo mais comum: comoveu-se diante da multidão que parecia um rebanho sem pastor; chorou diante do sofrimento de Marta e Maria pela morte do irmão Lázaro; chamou um cobrador de impostos como seu discípulo; sofreu também a traição dum amigo. Nele, Deus deu-nos a certeza de que está connosco, no meio de nós. “As raposas – disse Ele – têm as suas tocas e as aves do céu os seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8, 20). Jesus não tem casa porque a sua casa é o povo, somos nós, a sua missão é abrir a todos as portas de Deus, ser a presença do amor de Deus.

Na Semana Santa vivemos o ápice deste momento, deste plano de amor que percorre toda a história da relação entre Deus e a humanidade. Jesus entra em Jerusalém para cumprir o último passo, no qual reassume toda a sua existência: doa-se totalmente, não tem nada para si, nem mesmo a vida. Na Última Ceia, com os seus amigos, compartilha o pão e distribui o cálice “por nós”. O Filho de Deus oferece-se a nós, entrega nas nossas mãos o seu Corpo e o seu Sangue, para estar sempre connosco, para morar no meio de nós. E no Monte das Oliveiras, como no processo diante de Pilatos, não oferece resistência, doa-se; é o Servo sofredor profetizado por Isaías que se despojou até a morte (cfr Is 53,12).


Jesus não vive este amor que conduz ao sacrifício de modo passivo ou como um destino fatal; é certo que  não esconde a sua profunda inquietação humana diante da morte violenta, mas confia plenamente no Pai. Jesus entregou-se voluntariamente à morte para corresponder ao amor de Deus Pai, em perfeita união com a sua vontade, para demonstrar o seu amor por nós. Na cruz Jesus “amou-me e entregou-se a si mesmo” (Gal 2,20). Cada um de nós pode dizer: amou-me e entregou-se a si mesmo por mim. Cada um pode dizer este “por mim”.

O que significa tudo isto para nós? Significa que este é também o meu, o teu, o nosso caminho. Viver a Semana Santa seguindo Jesus não somente com a emoção do coração; viver a Semana Santa seguindo Jesus quer dizer aprender a sair de nós mesmos, para ir ao encontro dos outros, para ir para as periferias da existência, mover-nos primeiro para os nossos irmãos e as nossas irmãs, sobretudo aqueles mais distantes, aqueles que são esquecidos, aqueles com maior necessidade de compreensão, de consolação, de ajuda. Há tanta necessidade de levar a presença viva de Jesus misericordioso e rico de amor!

Viver a Semana Santa é entrar sempre mais na lógica de Deus, na lógica da Cruz, que não é antes de tudo aquela da dor e da morte, mas aquela do amor e da doação de si que traz vida. É entrar na lógica do Evangelho. Seguir, acompanhar Cristo, permanecer com Ele exige um “sair”, sair. Sair de si mesmo, de um modo cansado e rotineiro de viver a fé, da tentação de fechar-se nos próprios padrões que terminam por fechar o horizonte da acção criativa de Deus. Deus saiu de si mesmo para vir ao meio de nós, colocou a sua tenda entre nós para nos trazer a sua misericórdia, que salva e dá esperança. Também nós, se desejamos segui-Lo e permanecer com Ele, não devemos contentar-nos em permanecer no recinto das 99 ovelhas, devemos “sair”, procurar com Ele a ovelha perdida, aquela mais distante. Lembrem-se bem: sair de nós mesmos como Deus saiu de si mesmo em Jesus e Jesus saiu de si mesmo por todos nós.

Alguém poderia dizer-me: “Mas, padre, não tenho tempo”, “tenho tantas coisas a fazer”, “é difícil”, “o que posso fazer com as minhas poucas forças, também com o meu pecado, com tantas coisas?”. Sempre nos contentamos com alguma oração, com uma Missa dominical distraída e não constante, com qualquer gesto de caridade, mas não temos esta coragem de “sair” para levar Cristo. Somos um pouco como Pedro. Assim que Jesus fala de paixão, morte e ressurreição, de doação de si, de amor para todos, o Apóstolo afasta-o e repreende-o. Aquilo que diz Jesus perturba os seus planos, parece inaceitável, coloca em dificuldade as seguranças que se havia construído, a sua ideia de Messias. E Jesus olha para os discípulos e dirige a Pedro talvez uma das palavras mais duras dos Evangelhos: “Afasta-te de mim, Satanás, porque os teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens” (Mc 8, 33). 

Deus pensa sempre com misericórdia: não se esqueçam disso. Deus pensa sempre com misericórdia: é o Pai misericordioso! Deus pensa como o pai que espera o retorno do filho e vai ao seu encontro, vê-lo vir quando ainda é distante…O que isto significa? Que todos os dias ia ver se o filho retornava a casa: este é o nosso Pai misericordioso. É o sinal que o esperava de coração no terraço de sua casa. Deus pensa como o samaritano que não passa próximo à vítima olhando por outro lado, mas socorre-a sem pedir nada em troca; sem perguntar se ele era judeu, se era pagão, se era samaritano, se era rico, se era pobre: não pergunta nada. Não pergunta essas coisas, não pergunta nada. Vai em seu auxílio: assim é Deus. Deus pensa como o pastor que dá a sua vida para defender e salvar as ovelhas.

A Semana Santa é um tempo de graça que o Senhor nos dá para abrir as portas do nosso coração, da nossa vida, das nossas paróquias – que pena tantas paróquias fechadas! – dos movimentos, das associações, e “sair” de encontro aos outros, fazer-nos próximos para levar a luz e a alegria da nossa fé. Sair sempre! E isto com amor e com a ternura de Deus, no respeito e na paciência, sabendo que nós colocamos as nossas mãos, os nossos pés, o nosso coração, mas em seguida é Deus que os orienta e torna fecunda cada acção nossa.

Desejo que todos vivam bem estes dias, seguindo o Senhor com coragem, levando em nós mesmos um rasgo do seu amor a quantos encontrarmos.


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terça-feira, 26 de março de 2013

Terça-Feira Santa: Como é a nossa Fé?

O Evangelho da Missa termina com o anúncio de que os Apóstolos deixariam Cristo sozinho durante a Paixão. A Simão Pedro que, cheio de presunção, afirmava: darei a minha vida por Ti, o Senhor respondeu: darás a tua vida por Mim? Em verdade, em verdade te digo: Não cantará o galo sem que Me tenhas negado três vezes.

Poucos dias passados cumpriu-se a previsão. No entanto, poucas horas antes, o Mestre tinha-lhes dado uma lição clara, como que para os preparar para os momentos de obscuridade que se avizinhavam.

Sucedeu no dia a seguir à entrada triunfal em Jerusalém. Jesus e os Apóstolos tinham saído muito cedo de Betânia e, com a pressa, talvez não tivessem comido nada. O caso é que, como relata São Marcos, o Senhorsentiu fome. E vendo de longe uma figueira que tinha folhas, aproximou-se para ver se encontrava alguma coisa nela; mas quando lá chegou não encontrou senão folhas, porque não era tempo de figos. Então disse à figueira: "Nunca mais ninguém coma fruto de ti!". Os discípulos ouviram-n‘O.

Ao entardecer regressaram à aldeia. Devia ser já uma hora avançada e não repararam na figueira amaldiçoada. Mas no dia seguinte, Terça-feira, ao voltar de novo a Jerusalém, todos contemplaram aquela árvore antes frondosa, que tinha os ramos despidos e secos. Pedro fê-lo notar a Jesus:Mestre, olha, a figueira que amaldiçoaste secou. Jesusrespondeu-lhes: "TendeemDeusEm verdade vos digo que qualquer de vós que diga a este monte: arranca-te e atira-te ao mar, sem duvidar no seu coração, mas acreditando que se fará o que diz, ser-lhe-á concedido".

Durante a Sua vida pública, para realizar milagres, Jesus pedia uma só coisa: fé. A dois cegos que Lhe suplicavam a cura, tinha-lhes perguntado: acreditais que posso fazer isso? — Sim, Senhor, responderam-Lhe. Então tocou-lhes nos olhos dizendo: faça-se em vós conforme a vossa fé. E abriram-se-lhes os olhos. E os Evangelhos contam que, em muitos lugares, não realizou prodígios, porque faltava fé às pessoas.

Também nós temos de nos interrogar: como é a nossa fé? Confiamos plenamente na palavra de Deus? Pedimos na oração o que necessitamos, seguros de o obter se for para o nosso bem? Insistimos nas súplicas o tempo que for preciso, sem desanimarmos?

São Josemaria Escrivá comentava esta cena do Evangelho. «Jesus — escreve — aproxima-se da figueira: aproxima-se de ti e aproxima-se de mim. Jesus, com fome e sede de almas. Da Cruz clamou: sitio! ( Jo 19, 28), tenho sede. Sede de nós, do nosso amor, das nossas almas e de todas as almas que Lhe devemos levar, pelo caminho da Cruz, que é o caminho da imortalidade e da glória do Céu».

Aproximou-se da figueira e não encontrou nela senão folhas (Mt 21, 19). Isto é lamentável. É isto que acontece na nossa vida? Acontece que tristemente falta fé, vibração de humildade e não aparecem sacrifícios nem obras?

Os discípulos maravilharam-se diante do milagre, mas de nada lhes serviu; poucos dias depois negariam o seu Mestre. A fé deve informar a vida inteira. «Jesus Cristo põe esta condição», prossegue São Josemaria: «que vivamos da fé, porque depois seremos capazes de remover os montes. E há tantas coisas que remover... no mundo e, em primeiro lugar, no nosso coração. Tantos obstáculos à graça! Fé, pois; fé com obras, fé com sacrifício, fé com humildade».

Maria, com a sua fé, tornou possível a obra da Redenção. João Paulo II afirma que no centro deste mistério, no mais vivo deste assombro da fé, se encontra Maria, Mãe soberana do Redentor (Redemptoris Mater, 51). Ela acompanha constantemente todos os homens pelos caminhos que conduzem à vida eterna. A Igreja, escreve o Papa, contempla Maria profundamente arraigada na história da humanidade, na eterna vocação do homem segundo o desígnio providencial que Deus predispôs eternamente para ele; vê-a maternalmente presente e participante nos múltiplos e complexos problemas que acompanham hoje a vida dos indivíduos, das famílias e das nações; vê-a a socorrer o povo cristão na luta incessante entre o bem e o mal, para que "não caia" ou, se cair, "se levante" (Redemptoris Mater, 52).

Maria, Mãe nossa: consegue-nos, com a tua poderosa intercessão, uma fé sincera, uma esperança segura, um amor ardente. D.Javier Echevarría


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Frase do dia

"Quem se queixa ou murmura não é um cristão perfeito, nem sequer um bom cristão."

S. João da Cruz


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Miserando atque elegendo - D. Nuno Brás

É óbvio que um novo estilo entrou no Vaticano com a eleição do Papa Francisco. É o estilo próprio de um pastor, que vem de longe, escolhido para suceder ao Apóstolo Pedro. Não é um estilo vazio, simplista, para quem tudo é igual a tudo, e tanto faz escolher o bem e o mal ou, até, não escolher nada.

Muitos têm sido os comentadores que sublinham a diferença deste novo estilo, sobretudo a partir de pequenas coisas: o Papa Francisco foi à Casa do Clero, onde se tinha hospedado, retirou os seus haveres e pagou a conta; mas Bento XVI, no dia seguinte à sua eleição, também foi, sem qualquer aviso prévio, ao apartamento que ocupava em Roma para dali recolher os seus pertences; o Papa Francisco deu uma audiência à Comunicação Social, mas do mesmo modo fez Bento XVI; o Papa Francisco usou um veículo descoberto para entrar na Praça de S. Pedro, o mesmo que o Papa Bento XVI usou, e que só abandonou quando um homem, eludindo a segurança, pôs a sua vida em perigo… Enfim, muitos outros paralelos (mesmo no conteúdo das homilias e discursos) poderíamos encontrar entre o ministério dos dois Papas, e que mais afirmam a continuidade que a ruptura.

É claro que, entre as muitas diferenças que existem, uma sobressai: o Papa Bento XVI nunca teve a benevolência dos Meios de Comunicação. Mesmo agora, quando o Papa Francisco se lhe refere, como aconteceu no encontro com os Cardeais (“Dirijo uma saudação cheia de afeto e profunda gratidão ao meu venerado Predecessor Bento XVI que, durante estes anos de Pontificado, enriqueceu e revigorou a Igreja com o seu magistério, a sua bondade, a sua orientação, a sua fé, a sua humildade e a sua mansidão. Estas continuarão a ser um património espiritual para todos”), nada disso transparece nas notícias ou nos comentários. É por isso que creio andarem enganados todos aqueles que traçam um antes e um depois da eleição do Papa Francisco, ou que julgam que, para ele, tudo lhe será indiferente.

Até agora, os comentadores têm sublinhado apenas a primeira parte do lema que o Santo Padre já tinha assumido como Bispo e que desejou manter no exercício do ministério de Pedro: “Miserando atque eligendo" (com misericórdia, escolheu). A misericórdia não significa indiferença; traz antes consigo uma escolha – a escolha de Deus e por Deus. 


in Voz da Verdade


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segunda-feira, 25 de março de 2013

Segunda-Feira Santa: Jesus em Betânia

Ontem recordámos a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém. A multidão dos discípulos e outras pessoas aclamaram-no como Messias e Rei de Israel. No final do dia, cansado, regressou a Betânia, aldeia situada muito perto da capital, onde costumava alojar-se nas Suas visitas a Jerusalém.
 
Ali, uma família amiga tinha sempre preparado um sítio para Ele e para os seus. Lázaro, que Jesus ressuscitou dentre os mortos, é o chefe da família; vivem com ele Marta e Maria, suas irmãs, que esperam cheias de entusiasmo a chegada do Mestre, contentes por Lhe poder oferecer os seus préstimos.

 
Nos últimos dias de vida na terra, Jesus passa longas horas em Jerusalém, dedicado a uma pregação intensíssima. Pela noite, recupera as forças em casa dos Seus amigos. E em Betânia tem lugar um episódio que recolhe o Evangelho da Missa de hoje. 


Seis dias antes da Páscoa — relata São João — Jesus foi a Betânia. Ofereceram-Lhe lá uma ceia; Marta servia e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Ele. Então Maria tomou uma libra de perfume feito de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-Os com os seus cabelos; e a casa encheu-se com o cheiro do perfume

Salta imediatamente à vista a generosidade desta mulher. Deseja manifestar o seu agradecimento ao Mestre, por ter devolvido a vida ao seu irmão e por tantos outros bens recebidos e não repara nos gastos. Judas, presente na cena, calcula exactamente o preço do perfume. 


Mas, em vez de louvar a delicadeza de Maria, abandona-se à murmuração:porque não se vendeu este perfume por trezentos denários para se darem aos pobres? Na realidade, como nota São João, não porque se importasse com os pobres; interessava-lhe manejar o dinheiro da bolsa e roubar o que se lá deitava. 


«A valoração de Jesus é muito diversa», escreve João Paulo II. «Sem retirar nada ao dever de caridade para com os necessitados, aqueles a que se hão-de dedicar sempre os discípulos — "pobres sempre os tereis convosco"— Ele fixa-se no acontecimento da Sua morte e sepultura e aprecia a unção que se Lhe faz como antecipação da honra que o Seu corpo merece, também depois da morte, por estar indissoluvelmente unido ao mistério da Sua pessoa» (Ecclesia de Eucharistia, 47). 


Para ser verdadeira virtude, a caridade há-de estar ordenada. E o primeiro lugar ocupa-o Deus: amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é como este: amarás o teu próximo como a ti mesmo


Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas. Por isso, enganam-se aqueles que — com a desculpa de aliviar as necessidades materiais dos homens — ignoram as necessidades da Igreja e dos ministros sagrados. Escreve São Josemaria Escrivá: «aquela mulher que em casa de Simão o leproso, em Betânia, unge com um rico perfume a cabeça do Mestre, recorda-nos o dever de sermos esplêndidos no culto de Deus. 


— Todo o luxo, a majestade e a beleza me parecem pouco.
— E contra os que atacam a riqueza dos vasos sagrados, ornamentos e retábulos, ouve-se o louvor de Jesus: "opus enim bonum operata est in me" — fez em Mim uma boa obra».

Quantas pessoas se comportam como Judas! Vêem o bem que outros fazem, mas não o querem reconhecer; empenham-se em descobrir intenções torcidas, tendem a criticar, a murmurar, a fazer juízos temerários. Reduzem a caridade ao puramente material — dar umas moedas ao necessitado, talvez para tranquilizar a sua consciência — e esquecem que — como escreve também São Josemaria Escrivá — «a caridade cristã não se limita a socorrer o necessitado de bens económicos; dirige-se, em primeiro lugar, a respeitar e compreender cada indivíduo enquanto tal, na sua intrínseca dignidade de homem e de filho de do Criador». 

 

A Virgem Maria entregou-se completamente ao Senhor e esteve sempre pendente dos homens. Hoje pedimos-Lhe que interceda por nós, para que, nas nossas vidas, o amor a Deus e o amor ao próximo se unam numa só coisa, como as duas caras de uma mesma moeda. D.Javier Echevarría


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domingo, 24 de março de 2013

Homilia da Eucaristia de Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

1.  Jesus entra em Jerusalém. A multidão dos discípulos acompanha-O em festa, os mantos são estendidos diante d’Ele, fala-se dos prodígios que realizou, ergue-se um grito de louvor: «Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!» (Lc 19, 38).


Multidão, festa, louvor, bênção, paz: respira-se um clima de alegria. Jesus despertou tantas esperanças no coração, especialmente das pessoas humildes, simples, pobres, abandonadas, pessoas que não contam aos olhos do mundo. Soube compreender as misérias humanas, mostrou o rosto misericordioso de Deus e inclinou-Se para curar o corpo e a alma. 


Assim é Jesus. Assim é o seu coração, que nos vê a todos, que vê as nossas enfermidades, os nossos pecados. Grande é o amor de Jesus! E entra em Jerusalém assim com este amor que nos vê a todos. É um espectáculo lindo: cheio de luza luz do amor de Jesus, do amor do seu coração, de alegria, de festa.

No início da Missa, também nós o reproduzimos. Agitámos os nossos ramos de palmeira. Também nós acolhemos Jesus; também nós manifestamos a alegria de O acompanhar, de O sentir perto de nós, presente em nós e no nosso meio, como um amigo, como um irmão, mas também como rei, isto é, como farol luminoso da nossa vida. Jesus é Deus, mas desceu a caminhar connosco como nosso amigo, como nosso irmão; e aqui nos ilumina ao longo do caminho. E assim hoje O acolhemos. E aqui temos a primeira palavra que vos queria dizer: alegria

Nunca sejais homens e mulheres tristes: um cristão não o pode ser jamais! Nunca vos deixeis invadir pelo desânimo! A nossa alegria não nasce do facto de possuirmos muitas coisas, mas de termos encontrado uma Pessoa: Jesus, que está no meio de nós; nasce do facto de sabermos que, com Ele, nunca estamos sozinhos, mesmo nos momentos difíceis, mesmo quando o caminho da vida é confrontado com problemas e obstáculos que parecem insuperáveis… e há tantos! E nestes momentos vem o inimigo, vem o diabo, muitas vezes disfarçado de anjo, e insidiosamente nos diz a sua palavra. Não o escuteis! Sigamos Jesus! Nós acompanhamos, seguimos Jesus, mas sobretudo sabemos que Ele nos acompanha e nos carrega aos seus ombros: aqui está a nossa alegria, a esperança que devemos levar a este nosso mundo. E, por favor, não deixeis que vos roubem a esperança! Não deixeis roubar a esperança… aquela que nos dá Jesus!


2. Segunda palavra. Para que entra Jesus em Jerusalém? Ou talvez melhor: Como entra Jesus em Jerusalém? A multidão aclama-O como Rei. E Ele não Se opõe, não a manda calar (cf. Lc 19, 39-40). Mas, que tipo de Rei seria Jesus? Vejamo-Lo… Monta um jumentinho, não tem uma corte como séquito, nem está rodeado de um exército como símbolo de força. Quem O acolhe são pessoas humildes, simples, que possuem um sentido para ver em Jesus algo mais; têm o sentido da fé que diz: Este é o Salvador. 

Jesus não entra na Cidade Santa, para receber as honras reservadas aos reis terrenos, a quem tem poder, a quem domina; entra para ser flagelado, insultado e ultrajado, como preanuncia Isaías na Primeira Leitura  (cf. Is 50, 6); entra para receber uma coroa de espinhos, uma cana, um manto de púrpura (a sua realeza será objecto de ludíbrio); entra para subir ao Calvário carregado com um madeiro. E aqui temos a segunda palavra: Cruz. Jesus entra em Jerusalém para morrer na Cruz. E é precisamente aqui que refulge o seu ser Rei segundo Deus: o seu trono real é o madeiro da Cruz! Vem-me à mente aquilo que Bento XVI dizia aos Cardeais: Vós sois príncipes, mas de um Rei crucificado. Tal é o trono de Jesus. Jesus toma-o sobre Si… Porquê a Cruz? Porque Jesus toma sobre Si o mal, a sujeira, o pecado do mundo, incluindo o nosso pecado, o pecado de todos nós, e lava-o; lava-o com o seu sangue, com a misericórdia, com o amor de Deus. 

Olhemos ao nosso redor… Tantas feridas infligidas pelo mal à humanidade: guerras, violências, conflitos económicos que atingem quem é mais fraco, sede de dinheiro, que depois ninguém pode levar consigo, terá de o deixar. A minha avó dizia-nos (éramos nós meninos): a mortalha não tem bolsos. Amor ao dinheiro, poder, corrupção, divisões, crimes contra a vida humana e contra a criação! E também – como bem o sabe e conhece cada um de nós - os nossos pecados pessoais: as faltas de amor e respeito para com Deus, com o próximo e com a criação inteira. E na cruz, Jesus sente todo o peso do mal e, com a força do amor de Deus, vence-o, derrota-o na sua ressurreição. Este é o bem que Jesus realiza por todos nós sobre o trono da Cruz. Abraçada com amor, a cruz de Cristo nunca leva à tristeza, mas à alegria, à alegria de sermos salvos e de realizarmos um bocadinho daquilo que Ele fez no dia da sua morte.


3. Hoje, nesta Praça, há tantos jovens. Desde há 28 anos que o Domingo de Ramos é a Jornada da Juventude! E aqui aparece a terceira palavra: jovens! Queridos jovens, vi-vos quando entráveis em procissão; imagino-vos fazendo festa ao redor de Jesus, agitando os ramos de oliveira; imagino-vos gritando o seu nome e expressando a vossa alegria por estardes com Ele! Vós tendes um parte importante na festa da fé! Vós trazeis-nos a alegria da fé e dizeis-nos que devemos viver a fé com um coração jovem, sempre: um coração jovem, mesmo aos setenta, oitenta anos! Coração jovem! Com Cristo, o coração nunca envelhece. Entretanto todos sabemos – e bem o sabeis vós – que o Rei que seguimos e nos acompanha, é muito especial: é um Rei que ama até à cruz e nos ensina a servir, a amar. E vós não tendes vergonha da sua Cruz; antes, abraçai-la, porque compreendestes que é no dom de si, no dom de si, no sair de si mesmo, que se alcança a verdadeira alegria e que com o amor de Deus Ele venceu o mal. Vós levais a Cruz peregrina por todos os continentes, pelas estradas do mundo. Levai-la, correspondendo ao convite de Jesus: «Ide e fazei discípulos entre as nações» (cf. Mt 28, 19), que é o tema da Jornada da Juventude deste ano. Levai-la para dizer a todos que, na cruz, Jesus abateu o muro da inimizade, que separa os homens e os povos, e trouxe a reconciliação e a paz. 

Queridos amigos, na esteira do Beato João Paulo II e de Bento XVI, também eu, desde hoje, me ponho a caminho convosco. Já estamos perto da próxima etapa desta grande peregrinação da Cruz. Olho com alegria para o próximo mês de Julho, no Rio de Janeiro. Vinde! Encontramo-nos naquela grande cidade do Brasil! Preparai-vos bem, sobretudo espiritualmente, nas vossas comunidades, para que o referido Encontro seja um sinal de fé para o mundo inteiro. Os jovens devem dizer ao mundo: é bom seguir Jesus; é bom andar com Jesus; é boa a mensagem de Jesus; é bom sair de nós mesmos para levar Jesus às periferias do mundo e da existência. Três palavras: alegria, cruz, jovens.


Peçamos a intercessão da Virgem Maria. Que Ela nos ensine a alegria do encontro com Cristo, o amor com que O devemos contemplar ao pé da cruz, o entusiasmo do coração jovem com que O devemos seguir nesta Semana Santa e por toda a nossa vida. Assim seja.


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quinta-feira, 21 de março de 2013

Dia Internacional da Síndrome de Down

Muitas destas pessoas são mortas antes de nascer graças aos exames pré-natais e ao egoísmo dos pais


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Frase do dia

"A caridade que não tem por base a verdade é diabólica." 

S. Pio de Pietrelcina


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quarta-feira, 20 de março de 2013

Viva o Papa - Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada

São Pedro e o bom serviço dos maus papas (escrito antes da eleição do Papa)


Desculpem-me a imodéstia mas, já antes da eleição do novo Papa, eu tinha publicamente revelado o seu nome. Foi no passado dia 9 quando, no auditório da Reitoria da Universidade da Madeira, teve lugar, por iniciativa da ACEGE, o lançamento do livro «Auto-de-fé» naquela região autónoma, na presença do Bispo emérito do Funchal e de outras individualidades civis e eclesiásticas. Antes da sessão, uma jornalista quis saber quais eram as minhas expectativas em relação ao próximo Papa.

- Excelentes – disse-lhe – até porque já sei quem é.

- Como?! – perguntou, estupefacta, a entrevistadora local.

- Pois bem, posso-lhe assegurar, de fonte segura, que o próximo Papa será Pedro!

Não sei se a minha simpática interlocutora ficou decepcionada com a resposta, mas creio que é a única possível para um crente que, por razão da sua fé, não pode ter outra. Admito que os pagãos, porque ignorantes da existência e acção do Espírito Santo na Igreja, se entreguem às ocultas ciências da adivinhação e, em consequência, produzam uma quantidade ingente de vaticínios em relação ao resultado de um conclave. Pode ser até que, alguma vez, mais por via de excepção do que por regra, acertem no candidato eleito. Mas seria mais prudente que agissem com a cautela do jogador que, questionado sobre o resultado expectável do encontro a realizar, terá sabiamente afirmado: prognósticos, só no fim do jogo!

Se a ciência humana se revela incompetente para desvendar o futuro, o mesmo já não se pode dizer da fé. Com efeito, basta crer para saber que o Romano Pontífice, qualquer que seja a sua proveniência, a sua raça, a sua idade, o seu temperamento e, até, o seu grau de virtude, é sempre Pedro. Como tal, ele é o vigário de Cristo na terra, o vice-Cristo, como gostava de dizer Santa Catarina de Sena. Por esta razão de peso, para os cristãos é relativamente indiferente a personalidade sobre a qual recai a eleição dos cardeais reunidos em conclave porque, qualquer que seja o eleito, a partir da sua aceitação é o Papa. Sendo, desde esse momento e até ao termo do seu pontificado romano, o representante de Cristo na terra, o instrumento querido pelo Espírito Santo para guiar o povo de Deus, conta com toda a oração e todo o afecto dos fiéis cristãos. Porque, quem quer que antes fosse, agora é, para todos os efeitos, Pedro, aquele sobre o qual o Senhor edifica a sua Igreja.

Mas, não há o perigo de um mau papa? Sim, claro, porque a História da Igreja não ignora alguns bispos de Roma que, embora muito excepcionalmente – a grande maioria dos papas foram mártires e santos – não só não viveram exemplarmente as virtudes cristãs como causaram ainda, deploravelmente, graves escândalos. Contudo, sem branquear a sua enorme responsabilidade pessoal, mesmo esses sumos pontífices prestaram, a seu modo, um relevante serviço à Igreja. Com efeito, que homens bons façam o bem é, por assim dizer, natural, mas que homens menos bons, tendo todo o poder eclesial, nunca tenham desmentido a fé, é muito sobrenatural: não se pode compreender sem reconhecer uma muito providencial protecção divina! Talvez por isso o primeiro Papa, escolhido directamente pelo Senhor, embora tivesse sido antes um Simão hesitante e cobarde, que por três vezes negou o Mestre e a quem Jesus chamou Satanás, depois, enquanto Pedro, foi um papa santo e mártir.

É por isso que o anúncio de um novo Papa é sempre recebido com grande alegria, que o povo da urbe e do orbe festeja com um calorosíssimo aplauso, antes ainda de conhecer a personalidade do eleito. Para todos os efeitos, seja quem for, o Papa é sempre o vigário de Cristo, é Pedro que nos é dado para que nos confirme na fé.


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