sexta-feira, 31 de julho de 2020

Santo Inácio de Loyola revela as ciladas do demónio


6. Quando o demónio for descoberto pela sua cauda serpentina, isto é, pelo fim pernicioso a que nos quer levar, será útil considerar os pensamentos que nos sugeriu, examinar-lhes o princípio e ver como, pouco a pouco, nos fez perder a alegria espiritual até nos levar à sua perversa intenção. A fim de que, pela experiência alcançada, nos acautelemos para o futuro de suas costumadas fraudes.

12. O inimigo procede como uma mulher, mostrando-se fraco contra o forte, e forte contra o fraco. Assim como é próprio da mulher, quando luta com algum homem, perder a coragem e fugir, se o homem se mostra corajoso; e, ao contrário, se o homem se mostra cobarde e tímido, a ira da mulher chega até ao excesso: do mesmo modo costuma o nosso inimigo enfraquecer e fugir, se aquele que se exercita nas coisas espirituais lhe resiste varonilmente e se opõe diametralmente às suas sugestões; se, pelo contrário, aquele que se exercita, começa a ter medo e a perder a coragem em lhe resistir, não há fera no mundo mais terrível, que este inimigo da natureza humana.

13. Porta-se também o demónio como um falso amante, que não quer ser descoberto. Assim como um homem que, procurando seduzir, com suas ilusórias palavras, a filha dum pai honesto, ou a esposa dum marido honrado, lhes propõe silêncio e pede segredo para que suas pérfidas insinuações não cheguem aos ouvidos do pai ou do marido, pois desfazer-se-ia toda a sua tentativa: assim quer o inimigo que as falazes propostas, que segreda à alma justa, fiquem ocultas e não sejam manifestadas ao confessor ou a uma pessoa espiritual que conheça bem seus embustes, pois perderia toda a esperança de consumar a sua malícia ao ver descobertos todos os seus artifícios.

14. Porta-se também o demónio como um general, quando quer apoderar-se duma fortaleza. Pois, à semelhança dum comandante ou chefe militar que, depois de assentar os arraiais, explora as fortificações e obras de defesa, para saber qual é a parte mais fraca, para começar por ela o ataque: assim o maligno espírito anda rondando em volta de nós para explorar as nossas virtudes teologais, cardeais e morais, a fim de começar por onde nos achar mais fraco, e nos render.

Regras para o discernimento dos espírito (II parte) - Exercício Espirituais de Santo Inácio


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O 'Gato de Cheshire' e a decadência do Cristianismo liberal


O projecto para destruir o Cristianismo está em curso há mais de três séculos, mas foi só nos últimos 50 anos que os anticristãos descobriram a sua arma mais eficiente.

Este projecto teve o seu início cerca do ano 1700 com o aparecimento do deísmo como alternativa ao Cristianismo. Surgiram umas quantas variedades de deístas. Alguns (por exemplo Voltaire e Tom Paine) detestavam o Cristianismo. Outros (como Jefferson e Kant), não odiavam o Cristianismo, simplesmente consideravam-no um sistema de crenças inferior, um sistema que contém alguns belos princípios morais, mas também algumas superstições perniciosas. Voltaire tentou destruir o Cristianismo (apelando à eliminação “da coisa infame” – Ecraszez l’infame) fazendo troça dele, como no seu Dicionário Filosófico. 

E como era um homem com grande sentido de humor, até teve um certo sucesso. Jefferson tentou destruir o Cristianismo mostrando o quão porreiro Jesus era, desde que a sua imagem pudesse ser libertada das muitas superstições adicionais que os cristãos tinham afixado nele, como quem coloca decorações numa árvore de Natal. Vejam, nesse sentido, “A Vida e Moral de Jesus de Nazaré” que é, literalmente, uma edição de corta e cola do Novo Testamento.

Este tipo de ataque levou algumas pessoas a abandonar o Cristianismo, mas não muitas. Para ser afectado por críticas destas era preciso ler livros, e lê-los com alguma atenção. Por outras palavras, era preciso ser intelectual ou semi-intelectual.

Na segunda meta do século XIX surgiu outro grande ataque ao Cristianismo. Desta vez os anticristãos usaram a teoria de Darwin da evolução das espécies, a filosofia do agnosticismo de Spencer e a história crítica alemã da Bíblia para bater na velha religião. Mais uma vez, tratou-se de um ataque bastante intelectual, que apelava a pessoas que liam livros e artigos de revistas sérias. Contudo, devido ao grande crescimento da prosperidade económica durante o século XIX, o mundo tinha muito mais intelectuais e semi-intelectuais do que no século anterior. Por isso este ataque produziu muito mais deserções do Cristianismo. Não obstante, o Cristianismo continuaria, de longe, a ser o sistema de crenças dominante do mundo ocidental.

Um dos efeitos secundários deste ataque da era vitoriana foi o protestantismo liberal, que acreditava estar a adaptar o Cristianismo para o tornar mais apetecível ao homem moderno, mas que acabou por conduzir, nos primeiros sessenta e tal anos do século XX, a um grande número de deserções, algumas inconscientes, do protestantismo clássico. Um protestante liberal podia abandonar um após outro os artigos do Credo tradicional, tal como o nascimento virginal, a divindade de Cristo, a expiação e a Ressurreição, enquanto se continuava a apelidar de cristão e acreditar, mais ou menos honestamente, que o era. (Outro efeito secundário foi o Modernismo Católico, porém esse foi morto à nascença por Pio X).

Mas o maior golpe contra o Cristianismo, o golpe que parece ter sido em grande medida bem-sucedido no objectivo de reduzir o Cristianismo a um estatuto minoritário no mundo ocidental, foi a revolução sexual, que começou na década de 60. Não era preciso ser um intelectual ou um semi-intelectual para se participar na revolução sexual. Não era preciso ler livros ou artigos de revistas nem participar em conferências chiques.

Bastava cometer aquilo que o mundo cristão até então tinha chamado um pecado sexual e ao mesmo tempo sentir que o que tinha feito, longe de ser um pecado, era de facto um gesto bom. Nem sequer era preciso cometer este pecado pessoalmente, bastava dar a sua aprovação ao pecado em geral. A revolução foi só em parte uma alteração em grande escala do comportamento sexual. Em maior medida constituiu uma mudança na avaliação moral do comportamento sexual, transformando os sinais negativos em positivos.

Claro que o protestantismo liberal (a que se juntou, depois do Vaticano II, o Catolicismo neomodernista que tinha recuperado do golpe aparentemente mortal que lhe tinha sido infligido no início do século XX por Pio X) fez aquilo que faz melhor e disse que se podia ser um cristão mesmo enquanto se repudiava a moral sexual que remonta aos primórdios do Cristianismo. Num acto incrível de auto-ilusão, muitos protestantes e católicos conseguiram mesmo convencer-se de que isso é verdade. Mas este tipo de ilusão tem pouco poder de permanência. É tão claramente ridículo que não é o género de coisa que possamos passar a gerações futuras.

Vivemos numa era em que o Cristianismo, tal como o Gato de Cheshire – de Alice no País das Maravilhas – está gradualmente a apagar-se na maior parte dos países mais desenvolvidos do mundo. O Gato de Cheshire deixou apenas o seu sorriso. O Cristianismo liberal, seja protestante ou católico, também está a deixar para trás o que parece ser um sorriso, um sorriso que diz, “sou um grande fã de Jesus, o tipo porreiro cuja mensagem intemporal se resume às magníficas palavras, ‘não julgues para que não sejas julgado’”.

David Carlin in thecatholicthing.org (traduzido por 'Actualidade Religiosa')


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quinta-feira, 30 de julho de 2020

Conferência em Lisboa sobre a Missa Tradicional



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Concílio de Trento sobre Matrimónio e Adultério

Se alguém afirmar que a Igreja erra quando ensinou e ensina que, segundo a doutrina evangélica e apostólica, o vínculo do matrimónio não pode ser dissolvido pelo adultério de um dos cônjuges e que nenhum dos dois, nem sequer o inocente que não deu motivo ao adultério, pode contrair outro matrimónio em vida do outro cônjuge, e que comete adultério tanto aquele que, repudiada a adúltera, casa com outra como aquela que, abandonado o marido, casa com outro, seja anátema.

Concílio Tridentino, Sess. XXIV c. 7


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quarta-feira, 29 de julho de 2020

Santa Teresinha do Menino Jesus escreve sobre Santa Marta

Uma alma abrasada de amor não pode ficar inactiva. Sem dúvida que, como Santa Maria Madalena, ela permanece aos pés de Jesus, e escuta a sua palavra doce e inflamada. Parecendo não dar nada, dá muito mais do que Marta, que se aflige com muitas coisas e que quereria que sua irmã a imitasse. 

Não são, de modo nenhum, os trabalhos de Marta que Jesus censura; a esses trabalhos se submeteu humildemente sua Mãe durante a vida, pois tinha de preparar as refeições da Sagrada Família. Era apenas a inquietação da sua ardente anfitriã que Ele queria corrigir.

Todos os santos o compreenderam, e mais particularmente talvez aqueles que encheram o universo com a iluminação da doutrina evangélica. Não foi acaso na oração que os santos Paulo, Agostinho, João da Cruz, Tomás de Aquino, Francisco, Domingos e tantos outros ilustres amigos de Deus beberam esta ciência divina que arrebata os maiores génios? 

Houve um sábio que disse: «Dai-me uma alavanca, um ponto de apoio, e levantarei o mundo.» O que Arquimedes não pôde obter, porque o seu pedido não se dirigia a Deus, e por não ser feito senão sob o ponto de vista material, obtiveram-no os santos em toda a plenitude: o Todo-Poderosos deu-lhes como ponto de apoio Ele mesmo e Ele só; e como alavanca a oração, que abrasa com fogo de amor. E foi assim que levantaram o mundo; é assim que os santos que ainda militam na terra o levantam e que, até ao fim do mundo, os futuros santos o levantarão também.

Santa Teresinha do Menino Jesus in Manuscrito autobiográfico C, 36 r° - v°


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terça-feira, 28 de julho de 2020

Irmãs do Instituto de Cristo Rei e Sumo Sacerdote recebem hábito

8 postulantes das Irmãs Adoradoras do Coração Real de Jesus Sumo Sacerdote receberam o hábito, em Nápoles.









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segunda-feira, 27 de julho de 2020

50 anos da morte de António de Oliveira Salazar

No dia 27 de Julho de 1970 rendia à alma ao Criador António de Oliveira Salazar, considerado por muitos um dos maiores estadistas da história de Portugal. Publicamos aqui Excertos do discurso proferido que proferiu a 7 de Janeiro de 1949, na inauguração da conferência da União Nacional.


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sábado, 25 de julho de 2020

Líderes pró-vida apelam aos Católicos que recebam a Comunhão na boca

"Por causa do amor e reverência devidos a Nosso Senhor 
não recebo a Comunhão na mão."


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sexta-feira, 24 de julho de 2020

São Tomás de Aquino sobre Maomé e o Islão

 
A maravilhosa conversão do mundo à Fé cristã é um certíssimo indício dos sinais havidos no passado, que não precisaram ser reiterados no futuro, visto que os seus efeitos são evidentes.

Seria realmente o maior dos sinais miraculosos se o mundo tivesse sido induzido, sem aqueles maravilhosos sinais, por homens rudes e vulgares, a crer em verdades tão elevadas, a realizar coisas tão difíceis e a desprezar bens tão valiosos.

Mas ainda, nos nossos dias, Deus, por meio dos Seus santos, não cessa de operar milagres para confirmação da Fé.

No entanto, os iniciadores de seitas erróneas seguiram um caminho oposto, como se tornou patente em Maomé, fundador do Islão.

a) Ele (Maomé) seduziu os povos com promessas referentes aos desejos carnais, excitados que são pela concupiscência.

b) Formulou também preceitos conformes àquelas promessas, relaxando, desse modo, as rédeas que seguram os desejos da carne.

c) Além disso, não apresentou testemunhos da verdade, senão aqueles que facilmente podem ser conhecidos pela razão natural de qualquer medíocre ilustrado. Além disso, introduziu, em verdades que tinha ensinado, fábulas e doutrinas falsas.

d) Também não apresentou sinais sobrenaturais. Ora, só mediante estes há conveniente testemunho da inspiração divina, enquanto uma acção visível, que não pode ser senão divina, mostra que o mestre da verdade está inspirado de modo invisível.

Mas Maomé manifestou ter sido enviado pelo poder das armas, que também são sinais dos ladrões e dos tiranos.

e) Ademais, desde o início, homens sábios, versados em coisas divinas e humanas, não acreditaram nele.

Nele, porém, acreditaram homens que, animalizados no deserto, eram totalmente ignorantes da doutrina divina. No entanto, foi a multidão de tais homens que obrigou os outros a obedecerem, pela violência das armas, a uma lei.

f) Finalmente, nenhum dos oráculos dos profetas que o antecederam dele deu testemunho, visto que ele deturpou com fabulosas narrativas quase todos os factos do Antigo e do Novo Testamento.

Tudo isso pode ser verificado ao estudar-se a sua lei. Já também por isso, e sagazmente pensado, não deixou que os seus seguidores lessem os livros do Antigo Testamento, para que não o acusassem de impostura.

g) Fica assim comprovado que os que lhe dão fé crêem levianamente.


in Suma contra os Gentios - Livro I, Capítulo VI


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Contracepção: Releiamos a Humanae Vitae à luz da Casti Connubii


O Ocidente conheceu nas últimas décadas uma Revolução anti-familiar sem precedentes na História. Um dos pilares desse processo de desagregação da instituição familiar tem sido a separação dos dois fins primários do matrimónio, o procriativo e o unitivo.

O fim procriativo, separado da união conjugal, levou à fertilização in vitro e ao útero alugado. O fim unitivo, emancipado da procriação, levou à apoteose do amor livre, hetero e homossexual. Um dos resultados dessas aberrações é o recurso das parelhas de pessoas do mesmo sexo ao útero alugado para realizar uma grotesca caricatura da família natural.

A encíclica Humanae Vitae, de Paulo VI, cujo quinquagésimo aniversário será celebrado em 25 de Julho de 2018, teve o mérito de reafirmar a inseparabilidade dos dois significados do casamento e de condenar claramente a contracepção artificial, tornada possível nos anos 60 do século passado pela comercialização da pílula do Dr. Pinkus.

No entanto, até a Humanae Vitae tem culpa no cartório: a de não ter afirmado com igual clareza a hierarquia dos fins, ou seja, a primazia do fim procriativo sobre o unitivo. Dois princípios, ou valores, nunca podem estar num mesmo nível, em condição de igualdade. Um é sempre subordinado ao outro.

Isto acontece nas relações entre a fé e a razão, a graça e a natureza, a Igreja e o Estado, e assim por diante. Essas são realidades inseparáveis, mas distintas e ordenadas hierarquicamente. Se a ordem dessas relações não for definida, as tensões e os conflitos se seguirão, até a inversão da ordem dos princípios. Deste ponto de vista, uma das causas do processo de desintegração moral dentro da Igreja foi a falta de uma definição clara do fim primário do casamento pela encíclica de Paulo VI.

A doutrina da Igreja sobre o casamento foi afirmada como definitiva e obrigatória pelo Papa Pio XI na sua encíclica Casti Connubii, de 31 de Dezembro de 1930. Neste documento, o Papa recorda à Igreja e à Humanidade as verdades fundamentais sobre a natureza do casamento, estabelecido não pelos homens, mas pelo próprio Deus, e sobre as bênçãos e benefícios que advêm daí para a sociedade.

O primeiro objectivo é a procriação: que não significa apenas trazer filhos ao mundo, mas educá-los intelectual e moralmente, e, acima de tudo, espiritualmente, para conduzi-los ao seu destino eterno que é o Céu. O segundo objetivo é a assistência mútua entre os cônjuges, que não é apenas material, nem tampouco sexual ou sentimental, mas antes de tudo uma assistência e uma união espiritual.

A encíclica contém uma condenação clara e vigorosa do uso de meios contraceptivos, definidos como “uma acção torpe e intrinsecamente desonesta”. Portanto: “Qualquer uso do casamento em que pela maldade humana o acto seja destituído da sua virtude procriadora natural, vai contra a Lei de Deus e da natureza e aqueles que ousam cometer tais acções se tornam responsáveis de culpa grave.”

Pio XII confirmou em muitos discursos o ensinamento do seu antecessor. O esquema original sobre a família e o casamento do Concílio Vaticano II, aprovado por João XXIII em Julho de 1962, mas rejeitado no início dos trabalhos pelos Padres Conciliares, reafirmou essa doutrina, condenando explicitamente “teorias que invertem a ordem correcta dos valores, colocam o fim primordial do matrimónio no segundo plano em relação aos valores biológicos e pessoais dos cônjuges e que, na mesma ordem objectiva, indicam o amor conjugal como fim primário” (nº 14).

O fim procriativo, objectivo e enraizado na natureza cumpre-se espontaneamente. O objectivo unitivo, subjectivo e baseado na vontade dos cônjuges pode desaparecer. A primazia do fim procriativo salva o casamento, a primazia do fim unitivo o expõe a sérios riscos.

Além disso, não devemos esquecer que os fins do casamento não são dois, mas três, porque subsidiariamente existe também o remédio para a concupiscência. Ninguém fala deste terceiro fim, porque se perdeu o significado da noção de concupiscência, confundido muitas vezes com o pecado, à maneira luterana.

A concupiscência, presente em todos os homens, excepto na Santíssima Virgem, imune do pecado original, recorda-nos que a vida na Terra é uma luta incessante, porque, como diz São João, “no mundo não existe se não concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e orgulho da vida” (1 Jo 2, 16).

A exaltação dos instintos sexuais, inoculados na cultura dominante pelo marxismo-freudismo, não é senão a glorificação da concupiscência e, consequentemente, do pecado original.

Essa inversão dos fins matrimoniais, que conduz inevitavelmente à explosão da concupiscência na sociedade, aflora na exortação do Papa Francisco Amoris Laetitia, de 8 de Abril de 2016, em cujo o número 36 se lê: “Com frequência apresentamos o casamento de modo tal que o fim unitivo, o convite a crescer no amor e o ideal de ajuda mútua permanecem à sombra de uma nota quase exclusiva sobre o dever de procriar.”

Estas palavras repetem quase literalmente aquelas pronunciadas pelo cardeal Leo-Joseph Suenens na aula conciliar, em 29 de Outubro de 1964, num discurso que escandalizou Paulo VI. “Pode ser – disse o cardeal arcebispo de Bruxelas – que tenhamos acentuado a palavra da Escritura: ‘Crescei e multiplicai’ a ponto de deixar a outra palavra divina nas sombras: ‘Os dois serão uma só carne’. (…) Caberá à Comissão dizer se não enfatizámos muito o primeiro objectivo, que é a procriação, em detrimento de um fim igualmente imperativo, que é o crescimento da unidade conjugal”.

O cardeal Suenens insinua que a finalidade principal do casamento não é crescer e multiplicar, mas que “os dois sejam uma só carne”. Passamos de uma definição teológica e filosófica para uma descrição psicológica do casamento, apresentada não como um vínculo enraizado na natureza e dedicado à propagação da humanidade, mas como uma comunhão íntima, voltada para o amor recíproco dos cônjuges.

O casamento é reduzido mais uma vez a uma comunhão de amor, enquanto o controle de natalidade – natural ou artificial – é visto como um bem que merece ser encorajado sob o nome de “paternidade responsável”, pois ajuda a fortalecer o bem primário da união conjugal. A consequência inevitável é que, no momento em que essa comunhão íntima vier a fracassar, o casamento pode se dissolver.

A inversão dos fins é acompanhada pela inversão dos papéis dentro da união conjugal. O bem-estar psicofísico da mulher substitui sua missão de mãe. O nascimento de uma criança é visto como um elemento que pode perturbar a íntima comunhão de amor do casal. A criança pode ser considerada como um injusto agressor do equilíbrio familiar, da qual o casal se defende com a contracepção e, em casos extremos, com o aborto.

A interpretação que demos das palavras do cardeal Suenens não é forçada. Em coerência com aquele discurso, o cardeal primaz da Bélgica liderou em 1968 a revolta dos bispos e teólogos contra a Humanae Vitae. A Declaração do episcopado belga, de 30 de Agosto de 1968, contra a encíclica de Paulo VI, foi, com a do episcopado alemão, uma das primeiras elaboradas por uma Conferência Episcopal e serviu de modelo de protesto a outros episcopados.

Aos herdeiros dessa contestação, que se propõem reinterpretar a Humanae Vitae à luz da Amoris Laetitia, respondemos com firmeza que continuaremos a ler a encíclica de Paulo VI à luz da Casti Connubii e do Magistério perene da Igreja.

Roberto de Mattei in Corrispondenza Romana
Tradução: Hélio Dias Viana – FratresInUnum.com


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quinta-feira, 23 de julho de 2020

D. Athanasius Schneider convoca uma Cruzada Eucarística

Os pecados contra o Santíssimo Sacramento
e a necessidade de uma cruzada de reparação eucarística

D. Athanasius Schneider

Nunca houve um tempo na história da Igreja em que o Santíssimo Sacramento tenha sofrido abusos e ofensas tão assustadores e sérios quanto os infligidos nas últimas cinco décadas, especialmente desde a autorização oficial e a aprovação papal em 1969 da prática da comunhão na mão. Esses abusos são ainda mais agravados pela prática generalizada em muitos países quando os fiéis, sem terem recebido o sacramento da penitência durante muitos anos, recebem, no entanto, regularmente a Comunhão. 

A gravidade dos abusos da Santa Eucaristia é confirmada na admissão à Santa Comunhão de casais que vivem em estado público e objectivo de adultério, violando assim os seus laços matrimoniais sacramentais válidos e indissolúveis, como no caso dos chamados “divorciados e novamente casados”. Em algumas regiões, essa admissão à comunhão foi oficialmente aprovada com normas específicas e, no caso da região de Buenos Aires na Argentina, essas normas foram até ratificadas pelo Papa. Além desses abusos, a prática de admissão oficial à Santa Comunhão também é verificada para cônjuges protestantes de casamentos mistos, por exemplo, em algumas dioceses da Alemanha.

Dizer que o Senhor não está a sofrer por causa dos ultrajes perpetrados contra Ele no Santíssimo Sacramento pode levar-nos a minimizar as enormes atrocidades cometidas. Algumas pessoas dizem: Deus ofende-Se com o abuso do Santíssimo Sacramento, mas o Senhor não sofre pessoalmente. Essa é, no entanto, uma visão teológica e espiritualmente muito estreita. Embora Cristo esteja agora em seu estado glorioso e, portanto, já não esteja sujeito ao sofrimento humano, Ele é, no entanto, afectado e tocado no Seu Sagrado Coração pelos abusos e ultrajes cometidos contra a Sua Divina Majestade e contra o Seu amor infinito no Santíssimo Sacramento. Nosso Senhor expressou a alguns santos as suas queixas e tristeza pelos sacrilégios e ultrajes com que os homens O ofendem. Podemos entender essa verdade com as palavras que o Senhor dirige a Santa Margarita Maria de Alacoque, como o Papa Pio XI as relata na sua encíclica Miserentissimus Redemptor:

Quando Jesus Cristo aparece a Santa Margarida Maria, manifestando-lhe a infinidade do Seu amor, juntos, como se estivesse entristecido, queixa-se de tantos ultrajes que recebe dos homens por estas palavras que teriam que ser gravadas em almas piedosas para que nunca fossem esquecidas: «Aqui está este coração que amou tanto os homens e os encheu de tantos benefícios e que, em preço de seu amor infinito, não encontra gratidão, mas ultrajes, às vezes até mesmo daqueles que são obrigados a amá-lo com amor especial.»

O Frei Michel de la Sainte Trinité deu uma explicação teológica profunda do significado do "sofrimento" ou "tristeza" de Deus por causa das ofensas que os pecadores cometem contra Ele:

“Este “sofrimento”, esta "tristeza" do Pai Celestial ou de Jesus desde a sua Ascensão devem ser entendidos de maneira analógica. Eles não sofrem passivamente como nós, mas, pelo contrário, são livremente escolhidos como expressão máxima da sua misericórdia para com os pecadores chamados à conversão. Eles são apenas uma manifestação do amor de Deus pelos pecadores, um amor que é soberanamente livre e gratuito e que não é irrevogável.” (cf. Toda a verdade sobre Fátima, vol. I 1311-1312).

Este significado espiritual análogo da "tristeza" ou "sofrimento" de Jesus no mistério eucarístico é confirmado pelas palavras do Anjo em sua aparição em 1916 aos pastorinhos de Fátima e especialmente pelas palavras e exemplo da vida de São Francisco Marto. As crianças foram convidadas pelo anjo para reparar as ofensas contra Jesus sacramentado e consolá-lo, como podemos ler nas Memórias da Irmã Lúcia:

Estando, pois, aí, apareceu-nos pela terceira vez, trazendo na mão um cálix e sobre ele uma Hóstia, da qual caíam, dentro do cálix, algumas gotas de sangue. Deixando o cálix e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra e repetiu três vezes a oração: – Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo… Depois, levantando-se, tomou de novo na mão o cálix e a Hóstia e deu-me a Hóstia a mim e o que continha o cálix deu-o a beber à Jacinta e ao Francisco, dizendo, ao mesmo tempo: – Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolei o vosso Deus.” (Memórias da Irmã Lúcia I, Fátima 2007, pp. 170-171)

Relatando a terceira aparição em 13 de julho de 1917, a Irmã Lúcia sublinhou como Francisco percebeu o mistério de Deus e a necessidade de consolá-lo por causa das ofensas dos pecadores:

O que mais o impressionava ou absorvia era Deus, a Santíssima Trindade, nessa luz imensa que nos penetrava no mais íntimo da alma. Depois, dizia: – Nós estávamos a arder, naquela luz que é Deus, e não nos queimávamos. Como é Deus!!! Não se pode dizer! Isto sim, que a gente nunca pode dizer! Mas que pena Ele estar tão triste! Se eu O pudesse consolar” (Memórias da Irmã Lúcia I, Fátima 2007, p. 145)

A Irmã Lúcia escreveu como Francisco percebeu a necessidade de consolar Deus, que ele entendia "triste" por causa dos pecados dos homens:

Um dia perguntei-lhe: “Francisco, tu, de que gostas mais: de consolar a Nosso Senhor ou converter os pecadores, para que não (vão) fossem mais almas para o inferno? – Gostava mais de consolar a Nosso Senhor. Não reparaste como Nossa Senhora, ainda no último mês, se pôs tão triste, quando disse que não ofendessem a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido? Eu queria consolar a Nosso Senhor e depois converter os pecadores, para que não O ofendessem mais” (Memórias da Irmã Lúcia I, Fátima 2007, p. 155)

Nas suas orações e na oferta de seus sofrimentos, São Francisco Marto tinha como prioridade a intenção de "consolar o Jesus escondido", isto é, o Senhor Eucarístico. A Irmã Lúcia relatou estas palavras de Francisco, que ele lhe disse: “Olha: vai à Igreja e dá muitas saudades minhas a Jesus escondido. Do que tenho mais pena é de não poder já ir a estar uns bocados com Jesus escondido. Mas primeiro ofereço para consolar a Nosso Senhor, a Nossa Senhora e depois, então, é que ofereço por os pecadores e por o Santo Padre.” (Memórias da Irmã Lúcia I, Fátima 2007, p. 156)

Jesus Cristo continua misteriosamente a sua paixão no Getsémani ao longo dos séculos, no mistério da sua Igreja e também no mistério eucarístico, o mistério do seu imenso amor. É conhecida esta expressão de Blaise Pascal: “Jesus ficará em agonia até o fim do mundo. Não devemos dormir durante esse tempo”. (Pensées, n. 553) O cardeal Karol Wojtyla deixou-nos uma profunda reflexão sobre o mistério dos sofrimentos de Cristo no Getsémani, que, em certo sentido, continuam na vida da Igreja. O cardeal Wojtyla também falou sobre o dever da Igreja de consolar Cristo:

E agora a Igreja procura recuperar aquela hora no Getsémani - a hora perdida por Pedro, Tiago e João - para compensar a falta de companhia do Mestre que aumentou o sofrimento da sua alma. O desejo de compensar essa hora tornou-se uma verdadeira necessidade de muitos corações, especialmente para aqueles que vivem tão plenamente quanto possível o mistério do Coração Divino. O Senhor Jesus permite-nos encontrá-lo a essa hora e convida-nos a compartilhar a oração do seu coração. Diante de todas as provações pelas quais o homem e a Igreja precisam passar, há uma necessidade constante de retornar ao Getsémani e empreender essa participação na oração de Cristo, nosso Senhor.” (Sinal de contradição, capítulo 17, "A oração no Getsémani")

Jesus Cristo, no mistério eucarístico, não é indiferente e insensível ao comportamento que os homens Lhe mostram neste sacramento de amor. Cristo está presente neste sacramento também com a sua alma, que está hipostaticamente unida à sua Pessoa Divina. O teólogo romano Antonio Piolanti apresentou uma sólida explicação teológica a esse respeito. Embora o Corpo de Cristo na Eucaristia não pudesse ver ou sentir com os sentidos o que está acontece ou o que é dito no lugar da sua presença sacramental, Cristo na Eucaristia "ouve tudo e vê com conhecimento superior". Piolanti então cita o cardeal Franzelin:

"A santa humanidade de Cristo vê todas as coisas em si mesma em virtude do infinito conhecimento infuso do Redentor da humanidade, do Juiz dos vivos e dos mortos, do Primogénito de todas as criaturas, do centro de toda a história celestial e terrestre. Todos esses tesouros da visão beatífica e do conhecimento infuso estão certamente na Alma de Cristo, na mesma medida em que estão presentes na Eucaristia. Além dessas razões, por outro título especial, assim como a alma de Cristo está formalmente na Eucaristia, para o próprio objectivo da instituição do mistério, ela vê todos os corações dos homens, todos os pensamentos e afectos, todas as virtudes e todos os pecados, todas as necessidades de toda a Igreja e dos seus membros individuais; as obras, as ansiedades, as perseguições, os triunfos - numa palavra, toda a vida interna e externa da Igreja, sua Esposa, alimentada com a sua carne e o seu precioso Sangue. Assim, para um título triplo (se é que podemos dizer), Cristo no Santíssimo Sacramento vê e de certa maneira divina percebe todos os pensamentos e afectos, a adoração, as homenagens e também os insultos e pecados de todos os homens em geral, de todos os seus fiéis especificamente e os seus sacerdotes em particular; Ele percebe homenagens e pecados que se referem directamente a este inefável mistério do amor”. (De Eucharistia, pp. 199-200, citado em Il Mistero Eucaristico, Firenze 1953, pp. 225-226)

Um dos maiores apóstolos da Eucaristia nos tempos modernos, São Pedro Julião Eymard, deixou-nos as seguintes profundas reflexões sobre os efeitos do amor sacrificial de Cristo na Eucaristia:

Ao instituir o seu sacramento, Jesus perpetuou os sacrifícios da Sua paixão ... Ele estava familiarizado com todos os novos Judas; ele contou-os entre os seus, entre os seus filhos amados. Mas nada disso poderia detê-lo. Ele queria que o seu amor fosse além da ingratidão e malícia do homem; ele queria sobreviver à malícia sacrílega do homem. Ele sabia de antemão a tibieza dos seus seguidores: conhecia a minha tibieza; Ele sabia quão pouco fruto obteríamos da Sagrada Comunhão. Mas Ele queria amar da mesma maneira, amar mais do que era amado, mais do que aquilo que o homem poderia retribuir. Existe algo mais? Mas não é nada ter adoptado esse estado de morte quando se tem a plenitude da vida, uma vida glorificada e sobrenatural? Não é nada para ser tratado e considerado morto? Nesse estado de morte, Jesus não tem beleza, movimento ou defesa; é envolto na espécie sagrada como uma mortalha e colocado no tabernáculo como uma sepultura. No entanto, está lá; Ele vê tudo e ouve tudo. Ele submete-se a tudo como se estivesse morto. O seu amor projecta um véu sobre o seu poder, sobre a sua glória, nas mãos, nos pés, no rosto formoso e nos lábios sagrados; escondeu tudo. Ele apenas deixou o seu coração para nos amar e a sua condição de vítima para interceder por nós”. (A Presença Real: O Santíssimo Sacramento não é Amado!, III)”

São Pedro Julião Eymard escreveu a seguinte profissão comovente e quase mística do amor eucarístico de Cristo, com um ardente apelo à reparação eucarística:

O coração que suportou os sofrimentos com tanto amor está aqui no Santíssimo Sacramento; ele não está morto, mas vivo e activo; não é insensível, mas ainda mais carinhoso. Jesus já não pode sofrer: é verdade; mas, infelizmente, o homem ainda pode se tornar culpado de ingratidão monstruosa. Vemos cristãos que desprezam Jesus no Santíssimo Sacramento e mostram desprezo pelo coração que os amou tanto e que consome amor por eles. Para desprezá-lo, alegremente, aproveitam-se do véu que O oculta. Eles insultam-No com as suas irreverências, pensamentos pecaminosos e olhares criminosos na presença d'Ele. Para expressar o seu desprezo por Ele, aproveitam-se da sua paciência, da bondade que tudo sofre em silêncio, como aconteceu com o soldado ímpio de Caifás, Herodes e Pilatos. Eles blasfemam sacrílegamente contra o Deus da Eucaristia. Eles sabem que o seu amor O deixa sem palavras. Eles crucificam-No mesmo nas suas almas culpadas. Eles recebem-No. Eles atrevem-se a pegar esse coração vivo e amarrá-lo a um cadáver imundo. Eles atrevem-se a entregá-lo ao diabo que é seu senhor! Não! Nem mesmo nos dias da sua paixão Jesus recebeu tantas humilhações como no seu Santíssimo Sacramento! A terra para Ele é um calvário de ignominias. Na sua agonia, procurou alguém para confortá-lo; na cruz, pediu a alguém que compartilhasse as suas aflições. Hoje, mais do que nunca, devemos expiar e reparar a honra do adorável Coração de Jesus. Vamos esbanjar a nossa adoração e o nosso amor pela Eucaristia. Ao coração de Jesus que vive no Santíssimo Sacramento seja dada honra, louvor, adoração e poder real para todo o sempre!” (A Presença Real. O Sagrado Coração de Jesus, III)

Na sua última encíclica Ecclesia de Eucharistia, o Papa João Paulo II nos deixou reflexões luminosas com as quais destacou a extraordinária santidade do mistério eucarístico e o dever dos fiéis de tratar este sacramento com a máxima reverência e ardente amor. De todas as suas exortações, essa afirmação se destaca: “Não há perigo de exagerar no cuidado que lhe dedicamos, porque, «neste sacramento, está condensado todo o mistério da nossa salvação»” (São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, III, q. 83, a. 4c). ” (n. 61)

Seria uma medida pastoralmente urgente e espiritualmente frutuosa para a Igreja estabelecer em todas as dioceses do mundo um "Dia de reparação pelos crimes contra a Santíssima Eucaristia". Esse dia poderia ser a Oitava dia da festa de Corpus Christi. O Espírito Santo dará graças especiais de renovação à Igreja em nossos dias quando, e somente quando, o Corpo Eucarístico de Cristo será adorado com todas as honras divinas, amado, cuidadosamente tratado e defendido como realmente o Santo dos Santos. Santo Tomás de Aquino diz no hino Sacris sollemniis: “Ó Senhor, visitai-nos na medida em que nós Vos veneramos neste sacramento.” (sic nos Sua visita, sicut Te colimus) E podemos dizer sem dúvida: Ó Senhor, Vós nos visitareis na Vossa Igreja em nossos dias, na medida em que a prática moderna da Comunhão nas mãos retrocede e na medida em que Vos oferecemos actos de reparação e amor.

Na actual chamada "Emergência Pandémica COVID-19", os horríveis abusos do Santíssimo Sacramento aumentaram ainda mais. Muitas dioceses em todo o mundo ordenaram a Comunhão na mãos e, nesses lugares, o clero, de uma maneira muitas vezes humilhante, nega aos fiéis a possibilidade de receber o Senhor de joelhos e em boca, demonstrando um clericalismo deplorável e exibindo o comportamento de neopelagianos rígidos. Além disso, em alguns lugares, o adorável Corpo Eucarístico de Cristo é distribuído pelo clero e recebido pelos fiéis com luvas domésticas ou descartáveis. O tratamento do Santíssimo Sacramento com luvas apropriadas para o tratamento do lixo é um abuso eucarístico indescritível.

Em vista dos horríveis maus tratos de Nosso Senhor Eucarístico - que é continuamente pisoteado por causa da Comunhão na mão, durante a qual pequenos fragmentos da Santa Hóstia quase sempre caem no chão; em vista do facto que o Corpo do Senhor é tratado de maneira minimalista, privado do sagrado, tratado como uma bolacha ou como lixo pelo uso de luvas de uso doméstico - nenhum bispo, sacerdote ou fiel fiel católico pode permanecer indiferente e  ficar simplesmente a assistir.

Deve ser iniciada uma cruzada mundial de reparação e consolo do Senhor Eucarístico. Como medida concreta para oferecer ao Senhor Eucarístico os urgentemente necessários actos de reparação e consolo, cada católico pode prometer oferecer pelo menos uma hora inteira de adoração eucarística mensalmente, seja diante do Santíssimo Sacramento no tabernáculo ou diante do Santíssimo Sacramento exposto no ostensório. A Escritura Sagrada diz: "Onde abundaram os pecados, a graça abundou mais" (Rom. 5, 20) e podemos acrescentar de maneira análoga: "Onde abundam os abusos eucarísticos, os actos de reparação serão mais abundantes".

O dia em que, em todas as igrejas do mundo católico, os fiéis recebem o Santíssimo Sacramento, velado sob as espécies da pequena Sagrada Hóstia, com verdadeira fé e coração puro, no gesto bíblico de adoração (prosquinesis), isto é, ajoelhado e com a atitude de uma criança, abrindo a boca e deixando-se alimentar pelo próprio Cristo com um espírito de humildade, então a verdadeira primavera espiritual virá sem dúvida. A Igreja crescerá na pureza da fé católica, no zelo missionário pela salvação das almas e na santidade do clero e dos fiéis. De facto, o Senhor visitará a sua Igreja com suas graças na medida em que o veneramos em seu sacramento inefável de amor (sic nos Tu visita, sicut Te colimus).

Queira Deus que, através da Cruzada Eucarística de reparação, possa aumentar o número de adoradores, amantes, defensores e reparadores do Senhor Eucarístico. Que os dois pequenos apóstolos eucarísticos de nossa época, São Francisco Marto e o em breve bem-aventurado Carlo Acutis (beatificação em 10 de Outubro de 2020) e todos os santos eucarísticos sejam os protectores desta Cruzada Eucarística. Porque, como lembra São Pedro Julião Eymard, a verdade irrevogável é a seguinte: “Uma época prospera ou diminui proporcionalmente à sua devoção à Eucaristia. Esta é a medida da sua vida espiritual, da sua fé, caridade e virtude. ”

+ Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Santa Maria em Astana

Oração da Cruzada de Reparação ao Coração Eucarístico de Jesus


Ó Divino Coração Eucarístico de Jesus, aqui estamos nós, prostrados com um coração contrito e adorador diante da majestade do Vosso amor redentor no Santíssimo Sacramento. Declaramos que estamos dispostos a reparar por expiação voluntária, não apenas por os nossos próprios pecados pessoais, mas, em particular, pelos ultrajes indescritíveis, sacrilégios e indiferenças com os quais Vós estais ofendido no Santíssimo Sacramento do Vosso Divino Amor neste nosso tempo, especialmente pela prática da Comunhão na mão e pela recepção da Sagrada Comunhão em estado de descrença e pecado mortal.

Quanto mais a incredulidade ataca a Vossa Divindade e a Vossa presença real na Eucaristia, mais acreditamos em Vós e Vos adoramos, o coração eucarístico de Jesus, em quem habita toda a plenitude da Divindade!

Quanto mais os Vossos sacramentos são desprezados, mais creremos neles e mais reverentemente queremos recebê-los, ó Coração Eucarístico de Jesus, fonte de vida e santidade!

Quanto mais o Vosso Santíssimo Sacramento é ultrajado e blasfemado, mais proclamaremos solenemente: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo Vos! Peço Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam“, o Coração Eucarístico de Jesus, digno de todo louvor!

Quanto mais Vos sois abandonado e esquecido em Vossas igrejas, mais queremos visitar Vos que habitais entre nós nos tabernáculos das nossas igrejas, ó Coração Eucarístico de Jesus, Casa de Deus e Porta do Céu!

Quanto mais a celebração do sacrifício eucarístico é privada de seu carácter sagrado, mais queremos apoiar uma celebração reverente da Santa Missa, orientada externa e internamente para Vos, ó Coração eucarístico de Jesus, tabernáculo do Altíssimo!

Quanto mais Vós sois recebido na Sagrada Comunhão nas mãos e em pé, sem um sinal visível de humildade e adoração, mais queremos receber Vos ajoelhados e na boca, com a humildade do publicano e a simplicidade de uma criança, ó Coração Eucarístico de Jesus, de infinita majestade!

Quanto mais corações impuros em estado de pecado mortal Vos receberem na Sagrada Comunhão, mais queremos fazer actos de contrição e purificar os nossos corações com a frequente recepção do Sacramento da Penitência, ó Coração Eucarístico de Jesus, nossa Paz e Reconciliação!

Quanto mais o inferno trabalha pela perdição de almas, mais o nosso zelo pela salvação delas arde com o fogo do Vosso amor, ó Coração Eucarístico de Jesus, salvação daqueles que esperam em Vós!

Quanto mais a diversidade de religiões é declarada como vontade positiva de Deus e como um direito baseado na natureza humana; e quanto mais o relativismo doutrinário cresce, mais confessamos vivamente que Vós sois o único Salvador da humanidade e o único caminho para Deus Pai, ó Coração Eucarístico de Jesus, Rei e centro de todos os corações!

Quanto mais algumas autoridades da Igreja não se arrependerem da exibição de ídolos pagãos nas igrejas, e mesmo em Roma, mais confessaremos a verdade: "Que acordo existe entre o templo de Deus e os ídolos?" (2 Cor. 6, 16); e mais condenaremos convosco “a abominação da desolação no lugar santo” (Mateus 24, 15), ó Coração eucarístico de Jesus, templo santo de Deus!

Quanto mais os Vossos santos mandamentos são esquecidos e transgredidos, mais queremos observá-los com a ajuda de Vossa graça, ó Coração eucarístico de Jesus, abismo de todas as virtudes!

Quanto mais a sensualidade, o egoísmo e o orgulho reinam entre os homens, mais queremos dedicar nossa vida a Vós com um espírito de sacrifício e abnegação, ó Coração Eucarístico de Jesus, saturado de opróbrios!

Quanto mais violentamente as portas do inferno assaltam a Vossa Igreja e a rocha de Pedro em Roma, mais cremos na indestrutibilidade de Vossa Igreja, ó Coração Eucarístico de Jesus, fonte de toda a consolação, que não abandonais Vossa igreja ou a rocha de Pedro, nem mesmo nas tempestades mais pesadas!

Quanto mais as pessoas se separam em ódio, violência e egoísmo, mais intimamente nós, como membros da única família de Deus na Igreja, queremos amar uns aos outros em Vós, ó Coração eucarístico de Jesus, cheio de bondade e de amor!

Ó Divino Coração Eucarístico de Jesus, concedei-nos a Vossa graça, para que sejamos fiéis e humildes adoradores, amantes, defensores e reparadores do Vosso Coração Eucarístico nesta vida e recebamos as glórias do Vosso amor na visão beatífica por toda a eternidade! Amém.

Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo Vos! Peço Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam. (três vezes)

Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, rogai por nós!

São Tomás de Aquino, São Pedro Julão Eymard, São Francisco Marto, São Pio de Pietrelcina e todos os santos eucarísticos, rogai por nós!


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terça-feira, 21 de julho de 2020

D. Henrique Soares da Costa, um Bispo nas mãos de Deus

Queremos deixar aqui a nossa homenagem um bispo que deu a vida para glória de Deus e pela salvação das almas. D. Henrique Soares da Costa foi um desses bispos, raros nestes nossos dias. Infelizmente, para nós, morreu aos 57 anos. Rezemos pelo descanso da sua alma.

O texto que se segue foi publicado por D. Henrique no dia 20 de Março de 2018 e mostra bem de que fibra era feito:

Meu caro Amigo,

Há exatamente nove anos, 20 de março de 2009, eu vivia momentos de intensa emoção: experimentei, naquele dia para mim inesquecível, a mão de Deus, que nos guia de modo realmente incompreensível...

Pela manhã tinha viajado a Salvador, pois o Senhor Núncio Apostólico desejava falar-me. O assunto era uma reviravolta na minha vida: o Papa convidava-me a aceitar ser consagrado Bispo Auxiliar de Aracaju. Onde Deus desejava levar-me? O que desejava de mim? Disse “sim” ao Núncio! Não, ao Núncio não: ao Papa através do Núncio! Não, ao Papa não: a Cristo através do Papa! Disse “sim” sem pensar – não se pensa quando o Senhor chama; não se calcula! Simplesmente diz-se “sim”! Foi o que procurei fazer em toda a minha vida, apesar de tantas e tantas infidelidades e covardias... Deus as conhece; você não, caro Amigo!

Mas, disse “sim”. E voltei para Maceió, pois era sexta-feira da Quaresma e eu tinha via-sacra às 16 horas na minha Igreja do Livramento (inesquecível e saudoso Livramento!) e, depois, uma missa no Povoado Poxim, em Coruripe, na Diocese de Penedo... Apressado, sem almoço, fiz a via-sacra e fui para o Poxim. 

No retorno, pelas 21 – 21:30h, o inesperado, o absurdo, o desígnio de Deus que eu não sei e Ele sabe; não compreendo e Ele vê com clareza: um daqueles automóveis utilitários me trancou; quatro homens de revólveres em punho. Fugi. Perseguiram-me. Atiraram no meu carro; seis balas o perfuraram e esvaziaram os dois pneus dianteiros. Trancaram-me novamente. Tiraram-me do automóvel, espancaram-me gravemente, recolocaram-me no automóvel, levaram-me para o meio do mato. Eu sangrava muito. Disseram-me que me matariam: aqueles seriam meus últimos momentos...

Eu me perguntava todo o tempo qual o sentido daquilo tudo: naquele dia recebera a notícia da nova missão que o Senhor me confiara. Naquele mesmo dia o Senhor permitiria que me tirassem a vida... Disse-lhes que não me matassem, pois tinha ainda uma missão a cumprir. Estava – como sempre estou – de batina, a veste do sacerdote, a veste do bispo, a veste que deve significar que somos de Deus, somos consagrados, que algo em nós rompeu-se na relação com o mundo, de modo que vivemos no mundo, plenamente, mas somos homens de Deus, testemunhas do Absoluto, mensageiros do Infinito. 

Não sei se tiveram medo ou respeito por um homem de Deus... Não me mataram. Deixaram-me no carro, sangrando, ferido... com o coroinha que me acompanhava e ao qual não fizeram mal algum (Sim: meus queridos coroinhas! Tive mais de quarenta: sempre procurei fazer deles verdadeiros homens e cristãos! Sempre os amei e os amo ainda agora como a filhos no Senhor. Desses, três já são padres e um está a caminho do sacerdócio...) Quando os bandidos foram embora, fui, com meu coroinha, para a estrada e consegui carona até a polícia.

Tudo isto há nove anos! Estou vivo, sou Bispo e continuo minha vida, viajando tantas vezes à noite, por estradas tão desertas, cumprindo a missão que o Senhor me confiou... Sempre que vou por esses caminhos escuros, recordo do que me aconteceu... Recordo que pode acontecer novamente...

Um padre amigo, como um irmão para mim, disse-me: O Senhor hoje poupou sua vida. Hoje você deveria morrer! Ele o deixou com vida porque, a partir de agora, é como se você já fosse morto: não deve se poupar, não deve se guardar para você: deve entregar-se por Ele, dar-se a Ele, estar disposto a tudo perder por Ele...

É verdade! Estou nas mãos Dele! Seja Ele minha vida, seja Ele minha força, seja Ele a alegria dos meus dias e o sentido da minha existência! Dele vim, Nele vivo, para Ele vou! Seja bendito o Seu Nome em mim, quer na vida quer na morte! E que Ele nunca permita que Dele eu me separe!

Hoje, como há nove anos, in manus Tuas, Domine (nas Tuas mãos, Senhor)...

Para você compreender meus sentimentos, foi assim que fiquei...


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