sexta-feira, 30 de outubro de 2015

10 ideias Cristãs para o Halloween

A
creditam num Halloween Cristão? Preparem-se! Durante esta semana vão ouvir dos vossos amigos, sejam eles Católicos, Protestantes ou outra coisa, a conversa: "Halloween ou não?".
Para os Protestantes, sem a tradição do dia de Todos os Santos, normalmente esta festa torna-se em "Halloween vs Dia da Reforma". Tendo sido neste dia que Martinho Lutero colou as 95 teses a 31 Outubro. Mas mesmo alguns Católicos estão preocupados que o Halloween se tenha tornado "mau".
Bem, aqui estão dez maneiras de manterem o bom velho Halloween divertido e santo.
Christian Halloween 1950s
Festa de Halloween por volta de 1950
10. Não lhe chamem o "dia de Satanás"!
Muitos Cristãos excluiram o Halloween como algum tipo de missa negra diabólica. Na verdade, é a vigília de um feriado Cristão: All Hallows' Eve ou Véspera de Todos os Santos. Foi corrompido pela nossa cultura e mercados consumidores? Podem crer. No entanto, o Natal também descarrilou devido à cultura. Significa isso que vamos entregar o Natal? Claro que não! O mesmo acontece com o Halloween. A Igreja não entrega o que lhe pertence por direito, ganha-o de volta!
9. Não pensem que têm que escolher uma alternativa cristã ao Halloween.
Algumas igrejas (particularmente as Protestantes) estão a organizar "Festas de Outono" no dia 31 de Outubro.
Isso é o equivalente a dizer, "o comercialismo destruiu o Natal por isso vamos então celebrar uma "Festa de Inverno" no dia 25 de Dezembro (Já agora, eu acredito mesmo que Cristo nasceu no Natal: carreguem aqui para o artigo).
Chama-se All Hallows' Eve. Não mudem o nome.
A não ser que desconfiem dos vossos vizinhos, porque não os juntam todos? Pode ser uma grande oportunidade para os conhecer e começar algumas relações de amizade. Eu já conheci alguns vizinhos enquanto estávamos no passeio a ver os nossos miúdos a tocar às campainhas de cada casa da rua.
8. Divirtam-se e não forcem as pessoas a converter-se.
Pensem, ninguém gosta de receber uma coisa religiosa no seu saco de doces. Não passem textos religiosos em vez de doces. Dêem umas grandes mãos cheias de doces e uma barra grande de doce extra, se conseguirem. No final, vão acabar por converter as pessoas com a vossa caridade. Afinal de contas, vão ser conhecidos como "a casa que dá sempre bons doces". Se tiverem uma nova festa pós-Halloween se calhar é esse o momento para darem Terços (Outubro é o mês do Rosário!).
christian halloween baby ruth
A rapariga de fato escuro exclama: "Uau, esta senhora Católica é o máximo - barras grandes Baby Ruth e Butterfingers! Se calhar devia largar o meu disfarce pagão e ir vestida de Santa Joana d'Arc, no próximo ano!!"
7. Sejam audazes. Tentem fazer algum apostolado subtil. Não usem a abordagem evangélica: "Sabiam que Jesus é o vosso único Senhor e Salvador? Gostariam de se baptizar amanhã?" Em vez disso, perguntem às pessoas se sabem a origem do Halloween. Falem sobre "santos". É uma óptima e fácil oportunidade para terem uma conversa espiritual com os vosso vizinhos.
6. Sejam hospitaleiros - Porque não organizam a festa do bairro?
Os Cristãos devem ser hospitaleiros, certo? Está na Bíblia. Espreitem Romanos 12, 13. Porque não darem uma festa pós-Halloween na vossa casa com chocolate quente e café para os adultos? Abram a vossa casa ou o pátio das traseiras para jogos. Lembram-se do jogo de trincar as maçãs? E o de atirar sacos de feijões para o alvo? E do jogo de pôr a cauda no burro?
5. Não se deixem ir abaixo pelo nível macabro do Halloween.
Qualquer grande catedral Católica tem gárgulas cravadas e trabalhadas na pedra. Os manuscritos com iluminuras também estão cheios de espíritos nas margens. Os Católicos estão dentro disto. Porquê? Porque Cristo conquistou a morte e o diabo. Depois de Cristo, a morte perdeu o seu ferrão.
Além disso, o dia de Todos os Santos é seguido pelo dia dos Fiéis Defuntos, por isso não tem problema ser um bocadinho de nada macabro. (Já agora, a palavra "macabro" vem dos Macabeus - aqueles dois livros na Bíblia Católica que os Protestantes deitaram fora). E se viverem numa zona Hispânica, como eu, têm todo o "Dia de Muertos" para brincar.
4. Tenham uma fogueira!
Nós Católicos costumávamos ser especialistas em fogueiras. Um Halloween Cristão pede uma fogueira ao ar livre. Se tiverem um quintal e for permitido, acendam uma. Se os miúdos forem mais velhos, porque não fazer uma data de abóboras acesas e queimar alguns marshmallows sobre o fogo? Se alguém souber tocar violino, melhor ainda.
3. Façam algumas abóboras acesas bem giras.
Façam download de alguns padrões para cortar da internet. Gastem algum tempo em família a cortar algumas abóboras. Ponham velas lá dentro e deixem-nas a queimar fora da vossa casa durante uma semana ou algo parecido antes do Halloween. Os meus miúdos gostam sempre de ver quem é que tem abóboras à frente de casa. Querem fazer vizinhos no bairro? Organizem uma festa só para cortar abóboras e dêem um prémio a quem fizer a melhor.
2. Visitem os túmulos daqueles que vos são mais queridos.
Isto aplica-se mais ao dia dos Fiéis Defuntos (2 de Novembro) do que ao dia de Todos os Santos (1 de Novembro). O ponto é sempre lembrarmo-nos das pessoas que nos eram mais chegadas e rezarmos por aqueles que morreram marcados pelo sinal da fé. A morte não é a última palavra. Cristo superou a morte pela Sua dolorosa paixão e morte, através da ressureição. Esta é a fonte de toda a nossa esperança e a força de todos os santos.
A indulgência dos Fiéis Defuntos funciona de 1 a 9 de Novembro.
1. Sejam santos.
Se perseverarem no amor e na graça de Deus, também serão Santos, com letra maiúscula. O objectivo principal de "All Hallows" é lembrar-nos que temos que ser "hallowed" ou "santificados". A maior parte de nós não vai ter o seu dia de festa particular e portanto o dia de Todos os Santos vai ser o nosso dia de festa. É o dia de festa da maior parte dos santos da Igreja, aqueles que viveram em paz, seguiram Cristo, amaram as suas famílias, cumpriram os seus deveres na vida e seguiram para a vida seguinte. Que as suas orações permaneçam connosco.
Tenham um feliz Halloween Cristão!
Taylor Marshall


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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A Igreja contra a escravatura




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Perseguidos, mas não esquecidos

O sumário do último relatório sobre os cristãos oprimidos por causa da fé (Fundação AIS, Outubro de 2015) estende-se por 170 páginas tristes de ler. Este sumário do relatório é sóbrio, não alimenta aversão contra ninguém, apenas enumera, ao longo daquelas 170 páginas, com factos e datas, a imensa desgraça que aflige grande parte do nosso mundo. Os incidentes de destruição e de sangue estão agrupados por países: a China, a Coreia do Norte, o Vietname, a Indonésia, a Índia, o Sri Lanka, o Paquistão, a Rússia, a Bielorússia, o Turquemenistão, a Turquia, a Ucrânia, a Síria, Israel, a Palestina, o Egipto, o Irão, o Iraque, a Arábia Saudita, a Eritreia, o Sudão, a Nigéria, o Quénia... 

Que montanha de ódio explica esta fúria generalizada? 

O Papa João Paulo II dizia que o século XX tinha sido o século dos mártires. O Papa Francisco continua a queixar-se das notícias que recebe e não se cansa de enviar emissários a todo o lado, para acalmar esta enxurrada de loucura. A situação é, de facto, aflitiva. 

O número de deslocados e refugiados atingiu máximos históricos. 

Grupos islâmicos estão a levar a cabo uma limpeza étnica de cristãos, sobretudo na África e no Médio Oriente. O medo do genocídio – que em vários casos aconteceu, apesar de tudo –, levou multidões de famílias cristãs a tentarem a estrada da fuga, sem lugar para onde ir, nem assistência. A fuga do Iraque é dramática. A fuga da Síria mistura-se com o choque dos exércitos. 

Nos regimes que ainda são comunistas, e nalguns países que foram comunistas até há pouco tempo, reacenderam-se focos de perseguição, como há umas décadas atrás. 

Um pouco por todo o mundo, há grupos nacionalistas que olham para Jesus Cristo como um invasor estrangeiro, que os quer arrancar das superstições ancestrais. O Papa Bento XVI referia que o cristianismo representou para esses povos a grande libertação, ao anunciar que Deus é bom, que o mundo não está sob o domínio oculto do irracional; mas ainda há gente agarrada ao poder do mal. 

O panorama é desolador? 

A introdução do sumário do relatório são umas palavras do Arcebispo Jeanbart, de Aleppo, na Síria, de que fazem parte estas frases: «Estamos expostos à morte o dia inteiro e outros cristãos também (...). Mesmo assim, estamos convencidos de que o nosso amado Senhor Jesus está presente na sua Igreja e que nunca nos vai abandonar. Sabemos que nada pode intrometer-se entre nós e o amor de Cristo. E que, em todas as provações, saímos vencedores graças ao poder daquele que nos ama». 

Há 2000 anos, S. Paulo escrevia aos cristãos recém-chegados a Roma: «Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? (...) Por causa de Ti estamos expostos à morte o dia inteiro, fomos tratados como ovelhas destinadas ao matadouro. Mas, em tudo isso, saímos mais do que vencedores graças Àquele que nos amou». 

Segundo as estatísticas da Santa Sé, o número de católicos continua a aumentar no mundo inteiro, excepto na nossa Europa, onde já não corre o sangue precioso dos mártires. Talvez não esteja longe: na visita aos Estados Unidos, o Papa Francisco recebeu uma senhora posta na prisão por não aceitar ir contra a sua consciência cristã. 

O título do sumário do relatório AIS é uma interrogação: «Perseguidos e Esquecidos?». Faltou-me coragem para manter a pergunta no cabeçalho deste artigo. 

José Maria C.S. André in Correio dos Açores, 25-X-2015 
Funcionários do Governo chinês queimam o crucifixo no cimo da igreja de Huzhen, na cidade de Lishui (4 de Maio de 2015)
Nota: A AIS (Ajuda à Igreja que Sofre) é uma fundação da Santa Sé, para ajudar cristãos perseguidos, ou passando grandes necessidades. No início da AIS, a maioria dos crimes cometia-se nas ditaduras comunistas. Hoje em dia, a perseguição estende-se por grande parte da Ásia, pela África do Norte e do Leste e por locais específicos da América Latina.


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terça-feira, 27 de outubro de 2015

A Tradição e as novas gerações



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Confiai a Deus todas as vossas preocupações

Entrou na Ordem um novo aspirante de qualidade e o seu número foi assim elevado para oito. Então o bem-aventurado Francisco reuniu-os a todos e falou-lhes longamente do Reino de Deus, do desprezo do mundo, da renúncia à vontade própria e da docilidade que tinham de exigir ao seu corpo. 

Depois dividiu-os em quatro grupos de dois e disse-lhes: «Ide, meus bem-amados, percorrei dois a dois as diversas regiões do mundo, anunciai a paz aos homens e pregai-lhes a penitência que obtém o perdão dos pecados. Sede pacientes na prova, certos de que Deus cumprirá o que decidiu e manterá as suas promessas. Respondei humildemente a quem vos interrogar, abençoai os que vos perseguirem, agradecei aos que vos insultarem e vos caluniarem, pois esse é o preço do Reino dos Céus (Mt 5,10-11).» 

Eles acolheram com alegria a missão que lhes confiava a santa obediência e prostraram-se aos pés de São Francisco, que abraçou cada um deles ternamente dizendo-lhes com fé: «Confiai a Deus todas as vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós» (1Pe 5,7). Era a sua frase habitual quando enviava um irmão em missão.

Tomás de Celano (biógrafo de S. Francisco e de S. Clara) in «Vita Prima» de S. Francisco 


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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O que diz o Concílio Vaticano II sobre o Casamento?

A Palavra de Deus convida repetidas vezes os noivos a alimentar e robustecer o seu noivado com um amor casto, e os esposos a sua união com um amor indiviso [10]. (...) E o Senhor dignou-se sanar, aperfeiçoar e elevar este amor com um dom especial de graça e caridade. Unindo o humano e o divino, esse amor leva os esposos ao livre e recíproco dom de si mesmos, que se manifesta com a ternura do afecto e, com as obras, e penetra toda a sua vida [11]; e aperfeiçoa-se e aumenta pela sua própria generosa actuação. Ele transcende, por isso, de longe a mera inclinação erótica, a qual, fomentada egoísticamente, rápida e miseravelmente se desvanece.

Este amor tem a sua expressão e realização peculiar no acto próprio do matrimónio. São, portanto, honestos e dignos os actos pelos quais os esposos se unem em intimidade e pureza; realizados de modo autenticamente humano, exprimem e alimentam a mútua entrega pela qual se enriquecem um ao outro na alegria e gratidão. Esse amor, ratificado pela promessa de ambos e, sobretudo, sancionado pelo sacramento de Cristo, é indissoluvelmente fiel, de corpo e de espírito, na prosperidade e na adversidade; exclui, por isso, toda e qualquer espécie de adultério e divórcio.

A unidade do matrimónio, confirmada pelo Senhor, manifesta-se também claramente na igual dignidade da mulher e do homem que se deve reconhecer no mútuo e pleno amor. Mas, para cumprir com perseverança os deveres desta vocação cristã, requere-se uma virtude notável; por este motivo, hão-de os esposos, fortalecidos pela graça para levarem uma vida de santidade, cultivar assiduamente e impetrar com a oração a fortaleza do próprio amor, a magnanimidade e o espírito de sacrifício.

O autêntico amor conjugal será mais apreciado, e formar-se-á a seu respeito uma sã opinião pública, se os esposos cristãos derem um testemunho eminente de fidelidade e harmonia e de solicitude na educação dos filhos e se participarem na necessária renovação cultural, psicológica e social em favor do casamento e da família. Os jovens devem ser conveniente e oportunamente instruídos, sobretudo no seio da própria família, acerca da dignidade, missão e exercício do amor conjugal. Deste modo, educados na castidade, poderão, chegada a idade conveniente, entrar no casamento depois dum noivado puro.

in Gaudium et Spes, 49 -- Constituição do Concílio Vaticano II

[10] Cfr. Gén. 2, 22. 24; Prov. 5, 18-20; 31, 10-31; Tob. 8,4-8; Cant. 1, 2-3; 2,16; 4,16-5,1; 7, 8-11; 1 Cor. 7, 3-6; Ef. 5, 25-33.

[11] Cfr. Pio XI, Enc. Casti Connubii: AAS 22 (1930), p. 547-548; Denz.-Schön. 2232 (3707).


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Comentário ao Relatório Final do Sínodo - George Weigel

A Relatio Finalis [relatório final] do Sínodo-2015, adoptado esta noite pelos Padres Sinodais, representa um melhoramente enorme e encorajador em relação ao Instrumentum Laboris [documento de trabalho] que serviu de base para o trabalho do Sínodo. A tremenda diferença entre os dois documentos ilustra o quão frutífero foi o caminho que o Sínodo percorreu ao longo de três semanas, às vezes desafiantes.

Diferenças consideráveis, melhoramento considerável

Disposto como estava, com sociologia, e sociologia não muito boa, o documento de trabalho era, em mais do que uns pontos, difícil de reconhecer como um documento da Igreja. O relatório final é claramente um texto eclesial, um produto da mediação da Igreja em relação à Palavra de Deus, compreendida como a lente através do qual a Igreja interpreta a experiência contemporânea.

O documento de trabalho era biblicamente anorético. O relatório final é biblicamente rico, mesmo até eloquentemente bíblico, como é próprio de um Sínodo no quinquagésimo aniversário da conclusão do Concílio Vaticano II e a sua Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina, Dei Verbum.

Às vezes, o documento de trabalho parecia quase embaraçado com a doutrina estabelecida pela Igreja sobre a indissolubilidade do casamento, sobre as condições necessárias para a digna recepção da Sagrada Comunhão, e sobre as virtudes da castidade e fidelidade. O relatório final reafirma as doutrinas da Igreja sobre o matrimónio, a Sagrada Comunhão e a possibilidade de viver virtuosamente no mundo pós-moderno. E fá-lo sem objecções, mesmo quando exige à Igreja uma proclamação das verdades como património do próprio Senhor Jesus e um cuidado pastoral mais solícito daqueles que estão em circunstâncias de dificuldades maritais e familiares.

O documento de trabalho era praticamente silencioso sobre o dom dos filhos. O relatório final descreve os filhos como uma das maiores bençãos, louva as famílias grandes, tem cuidado em honrar crianças com necessidades especiais e eleva o testemunho de casais felizes e dos seus filhos com muitos frutos como agentes de evangelização.

O documento de trabalho tinha alguma discussão sobre a consciência e o seu papel na vida moral. O relatório final faz um trabalho muito melhor de explicar a compreensão que a Igreja tem de consciência e a sua relação com a verdade, rejeitando a ideia de que a consciência é uma espécie de faculdade flutuante da vontade que funciona de forma equivalente à carta "Pode Sair Livre da Prisão".

O documento de trabalho estava cheio de ambiguidades sobre a prática pastoral e a sua relação com a doutrina. O relatório final, apesar de ainda ter algumas ambiguidades, deixa claro que o cuidado pastoral tem que começar de um ponto de compromisso com o ensinamento estabelecido pela Igreja, e que não existe tal coisa como "Catolicismo de opção local", quer em termos de soluções regionais/nacionais ou de soluções de paróquia-em-paróquia. A Igreja permanece uma Igreja.

O documento de trabalho também era ambíguo na sua descrição de "família". O relatório final sublinha que não pode haver uma analogia bem feita entre a compreensão Católica de "matrimónio" e "família" e outros acordos sociais, independentemente do seu estatuto legal.

A misericórdia e a verdade às vezes pareciam estar em tensão no documento de trabalho. O relatório final está muito mais desenvolvido teologicamente no que toca ao relacionar a misericórdia e a verdade em Deus, que são portanto inseparáveis na doutrina e prática da Igreja.

O documento de trabalho não era nada de especial de um ponto de vista literário e era mais do que difícil para digerir. O relatório final é bastante eloquente em alguns pontos e vai enriquecer as vidas de quem o ler, mesmo que possam não concordar com esta ou aquela formulação.

No fundo, o relatório final, apesar de não estar sem falhas, avança um longo caminho - e anos-luz além do Instrumentum Laboris - ao fazer aquilo que o Papa Francisco e muitos Padres Sinodais queriam fazer com este processo inteiro de dois anos: elevar e celebrar a visão Católica do matrimónio e da família como uma resposta luminosa à crise dessas instituições no século XXI.

Entrelinhas e oportunidade perdidas

O Sínodo-2015 também trouxe à luz alguns problemas sérios que ainda têm que ser respondidos, agora que a Igreja se move para além dos Sínodos gémeos de 2014 e 2015, com o relatório final do Sínodo-2015 como esquema de trabalho para reflexões futuras (e para qualquer documento pós-sinodal que o Papa Francisco eventualmente decida promulgar).

O primeiro destes problemas pode-se chamar problema de digestão pastoral e teológica. Para mim era dolorosamente claro através de algumas intervenções na assembleia geral do Sínodo - e através de alguns dos relatórios dos grupos de discussão do Sínodo separados por línguas - que vastos sectores da Igreja mundial não começaram ainda a interiorizar o ensinamento da Familiaris Consortio (a exortação apostólica de João Paulo II de 1981, que completou o trabalho do sínodo de 1980 sobre a Família), e muito menos a interiorizar a Teologia do Corpo de João Paulo. Pior ainda, algumas zonas da Igreja ocidental na Europa parecem olhar para tais materiais como um chapéu velho sem esperança, apesar de só ter ainda trinta anos. O entusiasmo com que a Teologia do Corpo tem sido recebida nas zonas mais alerta da Igreja na América do Norte foi certamente parte da discussão do Sínodo-2015; mas falta ainda um grande trabalho a ser feito para levar esta perspectiva Católica única sobre o corpo, a sexualidade e o amor humano para uma fruição pastoral na América Latina e Europa.

No entanto, talvez não seja tão surpreendente que demore algum tempo que um ensinamento verdadeiramente original se espalhe e se desenvolva na tradição Católica; estas coisas demoram sempre tempo. Mas dada a velocidade com que a mudança cultural (ou desconstrução cultural) está a lavar o mundo ocidental, certamente que se espera que as igrejas locais que ainda não estão equipadas com estes recursos carreguem no acelerador.

O Sínodo-2015 também teria sido mais honesto se o debate tivesse trazido à superfície o duro facto de que a questão da comunhão e da consciência muitas vezes funcionou como pretexto para bispos, em grande medida do mundo alemão, que querem esquecer a Humanae Vitae e desconstruir a Veritatis Splendor. Essas partes da Igreja universal nunca perdoaram a Paulo VI por reafirmar, na Humanae Vitae, a visão Católica clássica dos meios apropriados para regular a fertilidade. Nem perdoaram a João Paulo II por rejeitar a teologia moral proporcionalista e insistir, na Veritatis Splendor, que alguns actos são, por eles mesmos, gravemente maus (malum in se). Um padre Sinodal proeminente do Catolicismo alemão foi tão longe como sugerir, numa entrevista antes do Sínodo-2015, que se pode encontrar sempre algum bem em todas as situações, que o malum in se não tinha um significado real no mundo de hoje. (Uma pessoa pensa imediatamente na violação, na tortura de crianças, no tráfico sexual de jovens raparigas, nas crucixões e decapitações de Cristãos pelo ISIS, e pergunta-se o que é que se estava a passar nesta afirmação incrível.)

Para além do orgulho intelectual que já referi como problema nestas contestações, uma pessoa não pode deixar de pensar numa certa cegueira à história. O tecido moral do Ocidente que se está a desenrolar está a levar, passo a passo, ao que Bento XVI apropriadamente chamou de "ditadura do relativismo" - o uso do poder coercivo do estado para impor um código com uma moral relativista em toda a sociedade. Porque é que importantes bispos alemães não conseguem ver isto?

Outra ideia nos debates do Sínodo-2015 foi a questão tão velha como a controvérsia entre Agostinho e Pelágio - e provavelmente muito mais velha que isso: nós somos pecadores à procura de redenção ou somos basicamente pessoas boas que conseguem, pelos seus próprios esforços, puxar-se à nobilidade que aspiram? Esta última está hoje carregada de um "individualismo expressivo" - o termo usado pelo professor de direito de Notre Dame, Carter Snead, numas declarações divulgadas esta semana em "Letters to the synod", para resumir a noção pós-moderna da pessoa humana simplesmente como um conjunto de desejos, uma vontade com corpo. É suficiente mau que, como diz o Professor Snead, quando cinco juízes do Supremo Tribunal Americano acreditam nisto e o usam como desculpa para encontrar "direitos" na Constituição que seriam inimagináveis para os que a escreveram e adoptaram esse texto e amendas. É muito pior quando se encontram bispos Católicos que parecem inclinar-se para uma direcção parecida e errónea, agindo sob pressões culturais que parecem criar uma sensação de pastoral do desespero. Aqui, portanto, está um assunto que precisa de sério exame na Igreja pós-Sínodo-2015.

Por fim, e apesar de todas as coisas boas no relatório final, é uma pena que um Sínodo que devia ser sobre mudar o mundo acabasse por ser uma batalha sobre mudar a Igreja - ou permanecer fiel à sua doutrina e forma fundamental. Isto não é, esperamos, o que o Papa Francisco queria, mas é o que aconteceu e isso em si mesmo foi uma oportunidade perdida. Também sugere que a paixão por uma "Igreja permanentemente em missão" de que o Santo Padre fala tem ainda que ser comunicada a muitos sectores importantes da Igreja mundial.

Uma Igreja virada para dentro não é a Igreja da Nova Evangelização. Por isso falta aos que se dedicam ao renascimento evangelizador do Catolicismo do século XXI ligar  a família a essa missão de uma forma mais forte do que o Sínodo-2015 foi capaz de fazer.

 George Weigel, Distinguished Senior Fellow e William E. Simon Chair em Catholic Studies, Ethics e Public Policy Center.

in firstthings.com [Negritos Senza Pagare]




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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Intervenção do Arcebispo da Igreja Católica Grega da Ucrânica

A família moderna na Ucrânica está marcada por dificuldade da sociedade pós-comunista, que sofre uma rápida emancipação social e cultural...

Para o ano, a Igreja Católica Grega Ucraniana vai celebrar o 70º aniversário da sua liquidação forçada por Estaline na União Soviética e a incorporação à Igreja Ortodoxa Russa [no “L’viv Sobor”]. Desde então, começou uma Via Sacra para os bispos, padres, monges e freiras e, acima de tudo, para as numerosas famílias Cristãs que foram arrastadas das suas terras e colocadas no enorme deserto da Sibéria...

Durante este período de perseguição da Igreja, as famílias tornaram-se como lareiras onde a fé em Deus era preservada e onde novas gerações recebiam o dom da fé, tornando-se autênticas igrejas domésticas. Nas suas casas, sacerdotes perseguidos asseguravam-se de arranjarem lugares escondidos para o altar do Senhor onde, durante o silêncio da noite, celebravam a Eucaristia e os outros Santos Sacramentos...

[Depois do colapso da União Soviética, quando a Igreja Católica Grega da Ucrânica se encontrou diante de novos desafios sob a forma de migração em massa], as famílias dos crentes, especialmente as mães, mais uma vez trouxeram a Igreja para países onde nos tínhamos tornado presentes recentemente, em particular na Europa Ocidental. Frequentemente, estas mães e avós ucranianas restauraram os valores Cristãos e humanos em família italianas, espanholas e portuguesas e outras. Muitas pessoas idosas nestes países passaram para a eternidade, reconciliadas com Deus e receberam o Sacramento da Santa Unção, graças a cuidados ucranianos...

Mesmo no tempo presente da guerra na Ucrânia, diante de outro desafio de uma crise económica real e severa, as famílias Cristãs receberam migrantes [refugiados] e [tornaram-se] a fonte de um poder solidário inesperado... De acordo com as estimativas da ONU, na Ucrânica há [mais do que um] milhão de Pesssoas Refugiadas, a maior partes das quais foi ajudada por famílias ucranianas, a célula fundamental da sociedade...

Hoje tenho que afirmar que, no passado, a família defendia e preservava a Igreja. Hoje a Igreja tem o dever sagrado de proteger e preservar a família; a família como a união fiel, frutífera e indissolúvel entre um homem e uma mulher... Os meus fiéis pediram-me para apelar aos Padres Sinodais para lembrar que nós, os bispos, não somos os mestres da verdade revelada sobre a família, mas antes os seus servos. Hoje, as nossas pessoas esperam que nós confirmemos e enfatizemos o ensinamento da Igreja sobre a família, clarificada e sumarisada pelo Beato Paulo VI e o Papa S. João Paulo II.

Famílias santas e piedosas, fortalecidas na fé, encontram, na sua terra, as formas mais criativas para responder aos desafios da sociedade moderna e ensinam-nos como mostrar misericórdia aos que passam por dificuldades. Não conseguimos resolver os problemas com que está a tentar a família, mas podemos pregar a verdade do Evangelho sobre a família e ajudar a próxima geração, com a ajudade de Deus para prosseguir no caminho de santidade.

in voiceofthefamily.org


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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

S. João Paulo II escreve às famílias

Em 1994 o Papa João Paulo II proclamou para toda a Igreja um ano da família. Para tal escreveu uma lindíssima Carta às Famílias, da qual transcrevemos alguns pontos:


Ponto 13:
Quem pode negar que a nossa seja uma época de grande crise, que se exprime sobretudo como profunda «crise da verdade»? Crise da verdade significa, em primeiro lugar, crise de conceitos. Os termos «amor», «liberdade», «dom sincero», e até mesmo os de «pessoa», «direitos da pessoa», significarão na realidade aquilo que por sua natureza contêm? Eis porque se revela tão significativa e importante para a Igreja e para o mundo — sobretudo no Ocidente — a Encíclica sobre o «esplendor da verdade» (Veritatis splendor). Somente se a verdade acerca da liberdade e da comunhão das pessoas no matrimónio e na família readquirir o seu esplendor, é que se desencadeará verdadeiramente a edificação da civilização do amor, e será então possível falar eficazmente — como faz o Concílio — de «promoção da dignidade do matrimónio e da família».

Civilização do amor significa «comprazer-se com a verdade» (cf. 1 Cor 13, 6). Mas uma civilização, inspirada numa mentalidade consumista e anti-natalista, não é uma civilização do amor nem o poderá ser nunca. Se a família é tão importante para a civilização do amor, isto fica-se a dever à especial proximidade e intensidade dos laços que nela se instauram entre as pessoas e as gerações. Apesar disso, ela continua vulnerável e pode facilmente sucumbir aos perigos que enfraquecem ou até destroem a sua união e estabilidade. Devido a tais perigos, as famílias cessam de testemunhar a favor da civilização do amor e podem até mesmo tornar-se a sua negação, uma espécie de contra-testemunho. Uma família desfeita pode, por sua vez, reforçar uma específica forma de «anticivilização», destruindo o amor nos vários âmbitos em que se exprime, com inevitáveis repercussões sobre o conjunto da vida social. (13.)

Ponto 12:
Eis por que a Igreja nunca se cansa de ensinar e testemunhar tal verdade! Embora manifeste uma materna compreensão pelas não poucas e complexas situações de crise, em que as famílias se vêem envolvidas, como também pela fragilidade moral de todo o ser humano, a Igreja está convencida de que deve absolutamente permanecer fiel à verdade relativa ao amor humano: caso contrário, atraiçoar-se-ia a si própria. Afastar-se desta verdade salvífica, seria como fechar à fé «os olhos do coração» (Ef 1, 18), que, pelo contrário, devem permanecer sempre abertos à luz, com que o Evangelho ilumina as vicissitudes humanas (cf. 2 Tm 1, 10). A consciência daquele dom sincero de si, pelo qual o homem «encontra-se a si mesmo», deve ser solidamente renovada e constantemente garantida, defronte às muitas oposições que a Igreja encontra por parte dos fautores de uma falsa civilização do progresso. A família exprime sempre uma nova dimensão do bem para os homens, e, por isso, suscita uma nova responsabilidade. Trata-se da responsabilidade por aquele singular bem comum, no qual está incluído o bem do homem: de cada membro da comunidade familiar; um bem certamente «difícil» (bonum arduum), mas fascinante

De modo particular, paternidade e maternidade responsável referem-se directamente ao momento em que o homem e a mulher, unindo-se «numa só carne», podem tornar-se pais. É momento impregnado de um valor peculiar, quer pela sua relação interpessoal quer pelo seu serviço à vida: eles podem-se tornar progenitores — pai e mãe —, comunicando a vida a um novo ser humano. As duas dimensões da união conjugal, a unitiva e a procriadora, não podem ser separadas artificialmente sem atentar contra a verdade íntima do próprio acto conjugal.

Este é o ensinamento constante da Igreja, e «os sinais dos tempos», de que hoje somos testemunhas, oferecem novos motivos para reafirmá-lo com particular vigor. S. Paulo, tão atento às necessidades pastorais do seu tempo, exige clara e firmemente que se «insista oportuna e inoportunamente» (cf. 2 Tim 4, 2), sem qualquer temor pelo facto de «já não se suportar a sã doutrina» (cf. 2 Tim 4, 3). As suas palavras são bem conhecidas de quantos, compreendendo profundamente as vicissitudes do nosso tempo, esperam que a Igreja não só não abandone «a sã doutrina», mas antes, a anuncie com renovado vigor, perscrutando nos actuais «sinais dos tempos» as razões para um ulterior e providencial aprofundamento da mesma. (...)

A Igreja ensina a verdade moral acerca da paternidade e maternidade responsável, defendendo-a das visões e tendências erróneas hoje difusas. Por que motivo faz isto a Igreja? Será, talvez, porque não se dá conta das problemáticas invocadas por quantos aconselham cedências neste âmbito e procuram convencê-la inclusivamente com pressões indevidas, quando não mesmo com ameaças? Não raro, de facto, o Magistério da Igreja é acusado de estar superado já e fechado às instâncias do espírito dos tempos modernos; de realizar uma acção nociva para a humanidade, e inclusive para a própria Igreja. Ao manter-se obstinadamente nas próprias posições — diz-se —, a Igreja acabará por perder popularidade e os fiéis afastar-se-ão cada vez mais dela.

Mas como é possível sustentar que a Igreja, especialmente o Episcopado em comunhão com o Papa, seja insensível a problemas tão graves e actuais? Foi precisamente neles que Paulo VI entreviu questões de tal forma vitais que o impeliram a publicar a Humanae vitae! O fundamento sobre o qual se baseia a doutrina da Igreja acerca da paternidade e maternidade responsável é bem amplo e sólido. 


Ponto 17:
O matrimónio, que está na base da instituição familiar, é estabelecido pela aliança com que «o homem e a mulher constituem entre si a comunhão íntima de toda a vida, ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à procriação e educação da prole». Somente uma tal união pode ser reconhecida e confirmada como «matrimónio» pela sociedade. Ao contrário, não o podem ser as outras uniões interpessoais que não obedecem às condições agora recordadas, mesmo se hoje, precisamente sobre este ponto, se difundem tendências muito perigosas para o futuro da família e da própria sociedade.

Nenhuma sociedade humana pode correr o risco do permissivismo em questões de fundo relativas à essência do matrimónio e da família! Um tal permissivismo moral só pode causar dano às autênticas exigências da paz e da comunhão entre os homens. Compreende-se assim a razão por que a Igreja defende vigorosamente a identidade da família e incita as instituições competentes, especialmente os responsáveis pela política, bem como as organizações internacionais, a não cederem à tentação de uma aparente e falsa modernidade.

Ponto 20:
Graças a uma tal reflexão crítica, a nossa civilização, com tantos aspectos positivos que possui quer no plano material quer no cultural, dever-se-ia dar conta de ser, sob diversos pontos de vista, uma civilização doente que gera profundas alterações no homem. Por que é que se verifica isto? A razão está no facto de a nossa sociedade se ter afastado da verdade plena sobre o homem, da verdade acerca daquilo que o homem e a mulher são como pessoas. Consequentemente, não sabe compreender de maneira adequada o que sejam verdadeiramente o dom das pessoas no matrimónio, o amor responsável ao serviço da paternidade e da maternidade, a autêntica grandeza da geração e da educação.

A carta pode ser lida na íntegra aqui.


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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Esplêndida intervenção do Arcebispo de Caracas no Sínodo

A proposta de admissão de divorciados e recasados à Eucaristia

Refiro-me aos números 121, 122 e 123 do Instrumentum Laboris nos quais é considerada a proposta para a aceitação à mesa da Eucaristia – pressupondo certas condições a serem cumpridas, entre as quais uma jornada penitencial – dos divorciados e recasados, ainda que mantenham a vida conjugal.

Todos somos movidos pelo desejo de descobrir uma solução melhor para esta situação dolorosa. Devemos fazê-lo no espírito do Bom Pastor e da verdade que nos liberta. No espírito evangélico de misericórdia, penso que a jornada penitencial deveria concluir com a conversão e o propósito de emenda e de viver em continência, como ensinado por outras palavras por S. João Paulo II na Familiaris Consortio (FC), 84.

Pergunto-me: podemos esquecer as palavras do Senhor no Evangelho, Mateus 19, e o ensinamento de São Paulo (Rm 7, 2-3, 1Cor 7, 10, Ef 5, 31) e da Igreja ao longo dos séculos? Podemos livrar-nos dos ensinamentos de João Paulo II na sua exortação apostólica de 1981 Familiaris Consortio? Este documento, publicado um ano após o Sínodo sobre a Família de 1980, tendo o Papa seriamente considerado e consultado durante vários meses de estudo e reflexão, em comunicação com especialistas de várias disciplinas teológicas, claramente excluiu essa possibilidade (FC 84).

Temos também os ensinamentos do Catecismo da Igreja Católica em 1992, com a tradicional doutrina acerca das condições para acesso à Comunhão e os ensinamentos da Igreja acerca da moral sexual (CIC, 1650). Temos também a Carta da Congregação para a Doutrina da Fé, de 14 de Setembro de 1994, escrita especificamente sobre este assunto. Podemos esquecer-nos do documento conclusivo da V Conferência dos Bispos da América Latina e das Caraíbas em Aparecida, que nos pede: “Acompanhar com cuidado, prudência e amor compassivo, seguindo as directrizes do magistério, casais que vivem juntos fora do matrimónio, tendo em conta que aqueles que estão divorciados e recasados não podem receber a Comunhão” (n. 437).

Podemos contradizer estes ensinamentos? Podemos esquecer a recente declaração do Papa Bento XVI na sua exortação apostólica sobre a Eucaristia, Sacramentum Caritatis, de 2007, reiterando a prática da Igreja, alicerçada na Sagrada Escritura (cf. Mc 10, 2-12) de não admitir aos sacramentos os divorciados e recados, pois o seu estado e a sua condição de vida objectivamente contradizem a união de amor entre Cristo e a Igreja que é significada e feita presente na Eucaristia? (n. 29).

Unida a Cristo, que venceu o mundo (cf. Jo 16, 33), a Igreja é chamada a manter o esplendor da verdade mesmo em situações difíceis. A misericórdia convida o pecador e torna-se perdão quando este se arrepende e muda a sua vida. O filho pródigo foi recebido com um abraço de seu pai apenas quando voltou a casa. 

Este Sínodo, sem dúvida na luz da verdade revelada e com os olhos da misericórdia, é chamado a reflectir muito claramente o ensinamento do Evangelho e da Igreja através dos séculos sobre a natureza e a dignidade do casamento Cristão, sobre a grandeza da Eucaristia e sobre a necessidade de ter as disposições necessárias para estar em união com Deus e assim poder receber a Santa Comunhão; a necessidade de penitência, arrependimento e firme propósito de emenda para o pecador arrependido poder receber o perdão divino; e a força e continuidade da verdade dogmática e moral do Magistério ordinário e extraordinário da Igreja. Deve também providenciar luzes inspiradas pela misericórdia para assistir mais eficazmente aqueles em situações irregulares, para aliviar o seu sofrimento moral e viverem melhor a fé católica.

Finalmente, o Sínodo deve indicar linhas de acção que fortaleçam o casamento, tornando-o mais atractivo para os jovens, e mantendo-o vivo nos corações dos esposos durante o tempo. Nesta matéria, fornecerá ao Papa Francisco elementos muito importantes para promover uma intensa evangelização da família e a revalorização do sacramento do matrimónio.

Cardeal Urosa Savino, Arcebispo de Caracas (Venezuela)


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Uma Igreja que mude o mundo

"Nós não queremos uma religião que esteja certa quando estamos certos. Queremos uma religião que esteja certa quando estamos errados.

Ao contrário do que dizem os jornais, nós não queremos uma Igreja que mude com o mundo. Queremos uma Igreja que mude o mundo."

G.K. Chesterton in 'The Catholic Church and Conversion' (1926)


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terça-feira, 20 de outubro de 2015

Médica romena põe os 'pontos nos is' no Sínodo sobre a Família

Santidade, Padres Sinodais, Irmãos e Irmãs,

Eu represento a Associação de Médicos Católicos de Bucareste. Sou da Igreja Greco-Católica Romena.

O meu pai era um líder político cristão, que esteve preso pelos comunistas durante 17 anos. Os meus pais estavam noivos, mas o seu casamento ocorreu apenas 17 anos depois.

A minha mãe esperou todos esses anos pelo meu pai, embora ela nem sequer soubesse se ele ainda estaria vivo. Ambos foram heroicamente fiéis a Deus e ao seu compromisso.

O seu exemplo mostra que a graça de Deus pode ultrapassar circunstâncias sociais terríveis e pobreza material.

Nós, enquanto médicos católicos, defendendo a vida e a família, podemos ver que isto é, primeiro que tudo, uma batalha espiritual. A pobreza material e o consumismo não são a primeira causa da crise da família. A primeira causa da revolução sexual e cultural é ideológica.

Nossa Senhora de Fátima disse que os erros da Rússia se espalhariam pelo mundo todo. Isso foi feito primeiramente debaixo de uma forma violenta, o marxismo clássico, matando dezenas de milhões. Agora, é feito primariamente por via do marxismo cultural. Há continuidade entre a revolução sexual de Lenin, Gramsci [N.T.: comunista italiano] e a Escola de Frankfurt, até aos actuais direitos “gay” e à ideologia de género.

O marxismo clássico pretendia redesenhar a sociedade, mediante a apropriação violenta da propriedade. Agora, a revolução vai mais fundo: pretende redefinir a família, a identidade sexual e a natureza humana.

Esta ideologia autoproclama-se progressista. Mas não há nada mais do que a antiga oferta da serpente para que o homem tomasse controlo, substituísse Deus e planeasse a sua salvação aqui neste mundo.

É um erro de natureza religiosa, é agnosticismo. É tarefa dos pastores reconhecê-lo, e alertar o rebanho acerca deste perigo.

“Procurai portanto primeiro o Reino dos Céus, e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas.”

A missão da Igreja é salvar almas. O mal, neste mundo, vem do pecado. Não da disparidade de rendimentos ou das 'alterações climáticas'.

A solução é: Evangelização. Conversão. Não um crescente controlo governamental. Não um governo mundial. Estes são hoje em dia os principais agentes a impor o marxismo cultural às nossas nações, sob a forma do controlo populacional, da saúde reprodutiva, dos direitos dos homossexuais, educação de género, etc.

O que o mundo precisa hoje em dia não é de limitações à liberdade, mas da liberdade real, liberdade do pecado. Salvação.

A nossa Igreja foi suprimida durante a ocupação soviética. Mas nenhum dos nossos 12 bispos traiu a sua comunhão com o Santo Padre. A nossa Igreja sobreviveu graças à determinação dos nossos bispos e ao seu exemplo resistindo a prisões e terror. Os nossos bispos pediram à comunidade para que não seguissem o mundo. Para não cooperarem com os comunistas.

Agora precisamos que Roma diga ao mundo: “Arrependei-vos e virai-vos para Deus pois o Reino dos Céus está perto”.

Não apenas nós, Católicos leigos, mas muitos Cristãos Ortodoxos rezam ansiosamente por este Sínodo. Porque, como eles afirmam, se a Igreja Católica cede ao espírito deste mundo, será muito difícil que os outros cristãos resistam.

Dr.ª Anca-Maria Cernea


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