quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Há 5 anos o Papa Bento XVI deixava o Vaticano

Foi no dia 28 de Fevereiro de 2013 que o Papa Bento XVI abandonou o Vaticano de helicóptero, viajando até Castel Gandolfo. Aí ficou enquanto decorreu o conclave, a eleição do Papa Francisco e as obras no Mosteiro Mater Ecclesiae. Foi para este local, dentro dos muros do Vaticano, que entretanto se mudou e viverá os últimos dias da sua vida. Rezemos pelo Papa Bento.


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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A Missa de Paulo VI: uma forma sem forma?

Elaborada no contexto teológico do fim dos anos sessenta, com as mentalidades religiosas dessa época,  a reforma litúrgica de Paulo VI não conseguiu cumprir as promessas optimistas que se prospectava, bem longe disso. No entanto, se muitos são os que hoje concordam em dizer que ela fracassou largamente, poucos são os que imaginam ser possível elaborar com precisão um balaço realista. Quanto a nós, fomo-nos empenhando em levar a cabo uma análise crítica de alguns dos rituais desta reforma: o do baptismo (carta 413), o da confirmação (carta 471) e o das exéquias fúnebres (carta 443).

Agora, gostaríamos de dirigir o nosso exame ao coração da reforma , a missa promulgada pela constituição apostólicaMissale Romanum, de 3 de Abril de 1969. Muitos foram os que o fizeram antes de nós, a começar pelos Cardeais Ottaviani e Bacci no seu “Breve exame crítico do Novus Ordo Missae”, logo em 1969, mas pareceu-nos oportuno contribuir aqui para uma reactualização dessas análises, agora que essa reforma se prepara para cumprir meio século de existência.

Dedicaremos a este esforço uma série de três cartas, considerando tanto o aspecto ritual, ou melhor dizendo, a-ritual, do novo missal –  que é o objecto desta primeira carta – como o seu conteúdo propriamente dito. De facto, o exame do novo missal faz aparecer desde logo um aspecto cerimonial realmente espantoso: em comparação com o missal anterior e com as demais liturgias católicas (orientais, ambrosiana, etc.), a nova missa romana já não é em bom rigor e verdadeiramente um rito. É como uma forma sem forma.

O conjunto ritual do cristianismo organizou-se ao longo da Antiguidade partindo do comando de Cristo: «Fazei isto em memória de Mim!», e das cerimónias de fracção do pão das comunidades apostólicas. Entre os séculos VI e XII, os ordines romani são testemunho do considerável desenvolvimento desse mundo cerimonial ao longo da Antiguidade tardia e da Alta Idade Média, paralelamente ao do rico tesouro da catequese patrística dessas mesmas épocas. Transmitida por mão da Idade Média monástica e das catedrais, esta herança foi zelosamente recolhida pela Roma da Contra-Reforma. Senhora de uma consciência agudíssima do facto de que a liturgia, e muito especialmente aquela romana, é veículo de uma tradução concreta do dogma no âmbito dos sacramentos e da oração (lex orandi, lex credendi), a época tridentina teve como especificidade no domínio do culto, a clarificação e a canonização do Ordo, isto é, da ordenação das cerimónias.

Chegados ao século XX, um duplo movimento, por um lado, de “regresso às fontes” – a saber, uma suposta recuperação das forma litúrgicas antigas para lá dos “acrescentos” e “sobrecargas” posteriores – e, por outro, de adaptação aos tempos presentes, tomou-se de antipatia com o “fixismo”  das regras litúrgicas, ao mesmo tempo, aliás, em que também se atacava o “fixismo” das formulações dogmáticas. O cuidado meticuloso com que os livros litúrgicos tradicionais ordenavam a liturgia nas respectivas rubricas (indicações relativamente à ordem a seguir nas cerimónias e que eram impressas a vermelho,rubrae) foi logo visto como algo totalmente em desuso. Esta explosão não levou mais do que poucos anos. 

Desde as primeiras etapas da reforma conciliar da missa, a criatividade extravasou, e a do topo (a Comissão para a Aplicação da Constituição sobre a Liturgia) foi exponencialmente multiplicada pela da base, como o ilustram bem os famosos “padres novos” de Michel de Saint-Pierre. As contínuas modificações que se foram sucedendo de 1964 (instrução Inter oecumenici) até 1968 – pense-se nas “rubricas de 1965”, imediatamente superadas pelas de 1967 (instrução Três abhinc annos) – davam a impressão de que, em matéria litúrgica, todas as normas eram evolutivas. Foi aí que sobreveio o missal de 1969, literalmente pulverizando todo o antigo universo ritual.

I – Um universo ritual pulverizado

O impacto de passar de um missal a outro, do ponto de vista das regras a seguir, causa um grande abalo: é como se passasse para um outro mundo. Em lugar dos gestos e posições do corpo estritamente determinados segundo uma prática imemorial, as novas rubricas passam a ser meras indicações genéricas – e, amiúde, tão-só simples sugestões. A tal ponto, que a aprendizagem da missa, que no caso dos sacerdotes que celebram a missa tradicional ocupa um amplo espaço concreto, já não existe nos actuais seminários onde se ensina a missa de Paulo VI. E o que vale para o rito vale para o sentido das traduções dos textos: uma certa liberdade pessoal é vista como legítima, e a indeterminação que daí resulta é considerada à guia de algo sem grande importância, ou até mesmo desejável, para melhor “se aderir à vida”.

Seja apenas um exemplo relativo ao início da celebração da missa:

a) Os gestos

- No missal tradicional: «O sacerdote sobe até ao centro do altar, sobre o qual depõe o cálice na direcção do lado do Evangelho, extrai o corporal da bolsa, que desdobra sobre a parte central do altar, e sobre ele coloca o cálice coberto com o véu, deixando a bolsa do lado esquerdo, etc. […] Desce os degraus até ao sopé, volta-se para o altar e permanece de pé ao centro, com as mãos juntas diante do peito, os dedos juntos e em riste, com o polegar direito cruzado sobre o esquerdo (o que sempre deve fazer quando junta as mãos, excepto após a consagração), a cabeça descoberta, tendo feito à cruz ou ao altar uma inclinação profunda, ou uma genuflexão, se o Santíssimo Sacramento estiver presente no sacrário, e inicia de pé a missa. […] Enquanto diz o Aufer nobis, o celebrante, de mãos juntas, sobe até ao altar, etc. […] Inclinado a meio do altar, com as mãos juntas postas sobre o altar, de modo a que os dedos mindinhos toquem a parte frontal do mesmo, enquanto os anulares se apoiam sobre a mesa do altar (o que sempre se deverá observar quando apoia as mãos juntas sobre o altar), etc. […] Ao proferir “os corpos cujas relíquias estão aqui”, beija o altar ao meio, com as mãos estendidas apoiando-se sobre o altar a igual distância de cada lado, etc. […] Na missa solene, coloca incenso no turíbulo por três vezes, enquanto diz: Ab illo benedicaris, “Sejais bendito por aquele”, etc.»

- No missal novo: «O sacerdote aproxima-se do altar e venera-o com um beijo. Logo a seguir, se parecer oportuno, incensaa cruz e o altar, andando em volta dele. […] Em seguida, o sacerdote, voltado para o povo e abrindo os braços, saúda-o,utilizando uma das fórmulas propostas.»

b) As palavras

- No missal tradicional: «Uma vez feita a devida reverência, faz o sinal da Cruz sobre si e, salvo se alguma rubrica particular dispuser de maneira diferente, diz em voz alta: In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti. Amen. Em seguida, de mãos juntas diante do peito, dá início à antífona: Introibo ad altare Dei. Os ministros respondem: Ad Deum qui lætificat juventutem meam. Em seguida, alternando com os ministros, diz: etc. (Sl 42) […] Enquanto sobe ao altar, diz em voz submissa: Aufer nobis … “Pedimos-vos, Senhor, afasteis de nós as nossas iniquidades, para que, com uma alma pura, mereçamos entrar no Santo dos Santos. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém.” Em seguida, de mãos juntas apoiadas sobre o altar, diz: Oramus te, Domine, “Nós vos suplicamos, Senhor, pelos méritos dos vossos santos, (beijando o centro do altar)cujas relíquias aqui se encontram, e de todos os demais santos, vos digneis perdoar todos os nossos pecados. Amém.” Na missa solene, não se tratando de uma missa pelos defuntos, o celebrante, antes de iniciar a antífona do Intróito, abençoa o incenso dizendo: Ab illo benedicaris, etc.»

- No missal novo: [Após o sacerdote ter beijado o altar e o ter incensado, se assim o entender,] «Terminado o cântico de entrada, sacerdote e fiéis, todos de pé, benzem-se com o sinal da cruz. O sacerdote diz: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo [...] Amém.” Em seguida, o sacerdote, voltado para o povo e abrindo os braços, saúda-o, utilizando uma das [cinco] fórmulas propostas»,  por exemplo: “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai, etc.” […] Pode também o próprio sacerdote ou outro ministro fazer aos fiéis uma introdução, com brevíssimas palavras, à Missa desse dia.»  Depois, «o sacerdote convida os fiéis ao acto penitencial com estas palavras ou outras semelhantes: “Irmãos: Para celebrarmos dignamente os santos mistérios, reconheçamos que somos pecadores”» Ao que se seguem quatro possibilidades:

1. «Confesso a Deus todo-poderoso, etc.»

2. «Tende compaixão de nós, Senhor, etc.»

3. «Senhor, que fostes enviado pelo Pai, etc.», com algumas variantes em seguida.

4. A aspersão com água benta: «Irmãos, invoquemos o Senhor nosso Deus para que se digne abençoar esta água, etc.»

II – A multiplicação das livres escolhas

Observa-se, portanto, que se vão multiplicando as alternativas à escolha, sucedendo-se as opções, umas embutidas nas outras. Isso mesmo se confirma ao longo do resto da celebração:

a) Por altura da liturgia da Palavra, ao fim da primeira leitura, pode observar-se, «se for oportuno», um momento de silêncio. O cântico de aclamação ao Evangelho é habitualmente o Alleluia. Pode-se, ou não, proceder à incensação e transportar velas para o  Evangelho.

b) A profissão de fé pode ser feita usando o símbolo Niceno-Constantinopolitano ou o dos Apóstolos.

c) A oração universal comporta dezenas de introduções possíveis alternativas, que também não excluem a possibilidade de se usar outras fórmulas, e o mesmo vale para as orações conclusivas.

d) O transporte das oferendas até ao altar (e de outros dons destinados a prover às necessidades da Igreja e dos pobres) pode ser organizado livremente. O sacerdote pronuncia, em voz alta ou baixa, as palavras da apresentação das oferendas: «Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, etc.», às quais o povo pode responder com uma aclamação: «Bendito seja Deus para sempre.»

e) Conquanto a tendência da liturgia romana – e o mesmo vale para outros ritos católicos – sempre tenha sido, desde a Antiguidade, a da redução dos textos que constituem o coração da Missa, seguramente por razões ligadas à manutenção da ortodoxia, agora, chega até a ser difícil enumerar os novos prefácios: à roda de cinquenta para o temporal, mais umas dezenas para o santoral, comuns dos santos, defuntos, missas votivas, missas de casamento e de profissão religiosa.

f) E sobretudo, a oração eucarística introduzida pelos prefácios era (e, sem dúvida, sempre o tinha sido) única, mas, agora, o número oficial das orações eucarísticas é de dez (onze no Brasil): quatro principais (cinco no Brasil), duas para a reconciliação, três para as missas das crianças, e uma para circunstâncias particulares, em função das quais se pode escolher um de entre quatro prefácios – 1) A Igreja a caminho da unidade; 2) Deus guia a Sua Igreja no caminho da salvação; 3) Jesus, caminho para o Pai; 4) Jesus passou fazendo o bem – aos quais correspondem quatro orações de intercessão (o equivalente ao Te igitur do cânone romano), dispostas na segunda parte da oração eucarística, a seguir à consagração, à semelhança das orações eucarísticas II, III, IV. Mas há ainda outras, já que algumas conferências episcopais, designadamente por ocasião de certos acontecimentos particulares, pediram a aprovação de orações eucarísticas específicas.

g) A consagração é seguida de uma de entre três aclamações à escolha.

h) A introdução ao Pater noster conhece três variantes, mas é possível usar outras. A paz e a caridade mútuas expressam-se «segundo os costumes locais». Após o Agnus Dei, duas orações à escolha para o sacerdote.i) A bênção do povo reveste duas formas simples alternativas, e também pode dar-se em modo solene com múltiplas introduções tripartidas alternativas (cinco alternativas segundo os diferentes tempos litúrgicos, e várias outras para ocasiões particulares), entremeadas cada uma das partes por um Amém.

A confusão das línguas

A explosão do rito tornou-se ainda mais palpável com a desaparição do latim. A contagem do número de traduções nas línguas e dialectos diversos em que hoje se celebra a liturgia, que curiosamente ainda se diz latina, já vai em 350 a 4000 (a própria Congregação para o Culto Divino não é capaz de fazer uma contagem exacta). Tais traduções fizeram-se sob o impulso das conferências episcopais nacionais, e foram depois aprovadas pela Congregação para o Culto Divino. Com efeito, uma instrução datada de 25 de Janeiro de 1969 abria de par em par as portas a uma grande liberdade, designadamente no que dizia respeito àquelas realidades «que chocam com as ideias e o sentir cristãos actuais», e a uma actualização das orações, com um convite a fabricar novas criações. 

Sobreveio entretanto um certo movimento de restauração que se empenhou em tentar uma rectificação das traduções que se mostravam insuficientemente conformes com as edições latinas (instrução Liturgiam authenticam, de 28 de Março de 2001), mas com resultados que se pode dizer insignificantes, com a excepção quiçá do mundo anglófono.

Aconteceu deste modo que as conferências episcopais se assenhorearam de liberdades com consequências de monta, sendo a mais célebre a da tradução do pro multis (sangue derramado «por muitos») na consagração do Preciosíssimo Sangue, traduzido como “for all”, “per tutti”, “pour tous”, “por todos”, ou ainda aquela do consubstantialem do Credo, que, em francês, passou a “de même nature”. Liberdades que, em certos casos, tinham em mira uma inculturação da liturgia (instrução Varietates legitimae, de 25 de Janeiro de 1994). Assim é que na China, querela dos ritos chineses oblige, se passou a celebrar desde 15 de Fevereiro de 1972 os antigos ritos de inspiração confuciana em honra dos antepassados. 

Na Zâmbia, suprimiu-se a mistura da água no vinho, com o pretexto de que não havia fundamento bíblico, apesar de tal prática haver sido condenada pelo concílio de Florença, em tempos de heresia monofisita, por isso que a água simboliza a humanidade de Cristo. O rito zairense, uma adaptação congolesa do rito romano, promovido pelo Cardeal Malula, arcebispo de Kinshasa, e aprovado em 1988, previa uma invocação dos antepassados e uma preparação penitencial inseridas antes do ofertório, além de diálogos vários entre o sacerdote e o povo, e gestos e movimentos ritmados.

Bem podemos denunciar o que se usa chamar de “abusos” por parte de sacerdotes que fazem como se lhe antolha, mas o facto é que é intrínseco à nova liturgia o estar aberta à criatividade. Desde o momento em que o novo missal prevê que o sacerdote possa fazer a saudação proferindo «por exemplo» esta ou aquela fórmula à escolha, ou que se lhe sugira como mero «exemplo» uma certa admonição que lhe compete pronunciar, ele vê-se convidado pelo próprio livro à criação pessoal. A inserção por parte de cada ministro de admonições ou comentários pessoais, que em lugar algum está proibida, e que, aliás, este novo estilo cultual suscita, torna-se de facto algo natural. As tentativas de restauração que se conheceram desde 1985, além de que se mostraram, ou mostram, deveras aleatórias, encontram a resistência radical desse carácter fluído e «vivo» da missa nova.

A missa nova, lex orandi ? 

O famoso adágio lex orandi, lex credendi, “a lei da oração regula a lei da fé”, explica-se pelo facto de que todos os elementos da disciplina universal da Igreja romana são, pelo que contêm em matéria de fé e de moral, uma das expressões do magistério ordinário universal: a Igreja de Pedro não pode induzir em erro os seus fiéis pelo modo segundo o qual lhes ordena que rezem. Esta expressão da fé una implica necessária e naturalmente uma certa canonização (1) dos meios que lhe servem de veículo.

Nem por isso se esquece que a explosão do rito trazida pela reforma vem depois da modificação do próprio conteúdo da mensagem, tema que estudaremos nas próximas duas cartas. Todavia, num contexto generalizado – o de Maio de 68 – de relativização da regra dogmática, este abandono pela Igreja latina do seu universo ritual tradicional contribuiu em muito para enfraquecer o carácter do culto enquanto veículo da profissão da fé romana. Esta nova subjectividade, manifestada por aquela do próprio do rito, não deixa de levantar problemas do ponto de vista do rigor e do valor doutrinal das cerimónias novas. 

Seja-nos permitido aventar a seguinte hipótese: ao carácter “pastoral”, isto é, não propriamente dogmático (infalível), do concílio Vaticano II, corresponde o carácter “pastoral” da nova liturgia que dele resultou, na medida em que esta já não pretende ser veículo pela oração de uma regra suprema da fé. Muito simplesmente, porque não procura ser, no sentido mais forte do termo, uma lei da oração, uma lex orandi.

(1) No sentido de codificação.

in Paix Liturgique (carta 86)


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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Roma coberta de neve

Roma acordou hoje coberta de neve. Este é um evento bastante raro na Cidade Eterna, que se encontra perto do Mare Nostrum e está habituada a temperaturas amenas no Inverno e escaldantes no Verão. As imagens deste nevão são belíssimas.





















Fotografias de: Jacob Stein e Fr. Kevin Staley-Joice


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domingo, 25 de fevereiro de 2018

Rara gravação do Papa Pio XII enquanto reza em inglês pela Paz no Mundo



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A importância de viver uma vida pura

"Se vivêssemos como devíamos viver, seríamos mais admirados do que os que fazem milagres. Muitas vezes os milagres levantam alguma suspeita, mas uma vida pura não admite suspeitas." 

São João Crisóstomo


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Coliseu ficou vermelho para lembrar o sangue dos cristãos

O Coliseu, um dos monumentos mais emblemáticos de Roma, ficou hoje tingido de vermelho durante algumas horas. Esta iniciativa da Ajuda à Igreja que Sofre teve o propósito de alertar o mundo para o sangue que hoje em dia é derramado pelos cristãos perseguidos no mundo inteiro. Os cristãos continuam a ser o grupo mais perseguido nos nossos dias, nos continentes Asiático e Africano.

Rezemos pelos nossos irmãos perseguidos por professarem a Fé em Jesus Cristo.


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sábado, 24 de fevereiro de 2018

Cardeal Sarah diz que a comunhão na mão é um ataque de Satanás à Eucaristia

O responsável máximo do dicastério vaticano que trata da liturgia convoca os fiéis católicos a voltarem a receber a Sagrada Comunhão na boca e de joelhos.

No prefácio parade um novo livro sobre o assunto o Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino, escreve: “O mais insidioso ataque diabólico consiste em tentar extinguir a fé na Eucaristia, semeando erros e encorajando um modo inapropriado de recebê-la. A guerra entre São Miguel e os seus anjos, de um lado, e Lúcifer, de outro, continua nos corações dos fiéis."  

“O objectivo de Satanás é o sacrifício da Missa e a presença real de Jesus na Hóstia consagrada”, ele disse.

O novo livro, escrito por Pe. Federico Bortoli, foi lançado em italiano com o título: “A distribuição da Comunhão na mão: considerações históricas, jurídicas e pastorais” (La distribuzione della comunione sulla mano. Profili storici, giuridici e pastorali).

Recordando o centenário das aparições de Fátima, Sarah escreve que o Anjo da Paz, que apareceu aos três pastorinhos antes da visita da bem-aventurada Virgem Maria, “mostra-nos como devemos receber o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo”. Sua Eminência descreve, então, os ultrajes com que Jesus é ofendido hoje na Santa Eucaristia, incluindo “a chamada ‘intercomunhão’”(prática de cristãos de diferentes confissões participarem da mesma mesa eucarística).

O Cardeal continua, destacando como a fé na Presença Real “influencia o modo como recebemos a Comunhão, e vice-versa”, e propõe o Papa João Paulo II e Madre Teresa como dois santos modernos que Deus nos deu para imitarmos a sua reverência na recepção da Santa Eucaristia.

“Por que nos obstinamos em comungar de pé e na mão?”, pergunta o Prefeito da Congregação para o Culto Divino. A maneira como a Santa Eucaristia é distribuída e recebida “é uma importante questão sobre a qual a Igreja de hoje deve reflectir.”

Abaixo, com a autorização de La Nuova Bussola Quotidiana, onde o prefácio primeiramente foi publicado, oferecemos aos nossos leitores uma tradução [n.d.t.: feita directamente do original em italiano] de vários pontos chave do texto do Cardeal Sarah.

A Providência, que dispõe sábia e suavemente de todas as coisas, oferece-nos a leitura do livro 'A distribuição da Comunhão na mão', de Federico Bortoli, justamente depois de havermos celebrado o centenário das aparições de Fátima. Antes da aparição da Virgem Maria, na Primavera de 1916, o Anjo da Paz apareceu a Lúcia, Jacinta e Francisco, e disse-lhes: “Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.” […] Na Primavera de 1916, na terceira aparição do Anjo, as crianças notaram que o Anjo, que era sempre o mesmo, segurava na sua mão esquerda um cálice acima do qual se estendia uma Hóstia. […] Ele deu a Hóstia consagrada a Lúcia e o Sangue do cálice a Jacinta e Francisco, que permaneceram de joelhos, enquanto lhes dizia: “Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus.” O Anjo prostrou-se novamente por terra, repetindo com Lúcia, Jacinta e Francisco por três vezes a mesma oração.

O Anjo da Paz mostra-nos como devemos receber o Corpo e Sangue de Jesus Cristo. A oração de reparação ditada pelo Anjo, infelizmente, é tida como obsoleta. Mas quais são os ultrajes que Jesus recebe na Hóstia consagrada, e dos quais precisamos fazer reparação? Em primeiro lugar, existem os ultrajes contra o próprio Sacramento: as horríveis profanações, das quais alguns convertidos do satanismo já deram testemunho e ofereceram descrições repugnantes; são ultrajes ainda as Comunhões sacrílegas, quando não se recebe a Eucaristia em estado de graça, ou quando não se professa a fé católica (refiro-me a certas formas da chamada “intercomunhão”). Em segundo lugar, constitui um ultraje a Nosso Senhor tudo o que pode impedir o fruto do Sacramento, especialmente os erros semeados nas mentes dos fiéis a fim de que eles não mais acreditem na Eucaristia. As terríveis profanações que acontecem nas chamadas “missas negras” não atingem directamente Aquele que é ultrajado na Hóstia, encerrando-se tão somente nos acidentes do pão e do vinho.

É claro que Jesus sofre pelas almas dos profanadores, almas pelas quais Ele derramou o Sangue que elas tão cruel e miseravelmente desprezam. Mas Jesus sofre ainda mais quando o dom extraordinário da Sua presença divino-humana na Eucaristia não pode levar o seu potencial efeito às almas dos fiéis. E aí nós entendemos que o mais insidioso ataque diabólico consiste em tentar extinguir a fé na Eucaristia, ao semear erros e encorajando um modo inapropriado de recebê-la. A guerra entre São Miguel e os seus anjos, de um lado, e Lúcifer, de outro, continua nos corações dos fiéis: o alvo de Satanás é o sacrifício da Missa e a Presença Real de Jesus na Hóstia consagrada. Essa tentativa de rapina segue, por sua vez, dois caminhos: o primeiro é a redução do conceito de “presença real”. Muitos teólogos não cessam de ridicularizar ou de desprezar — não obstante as contínuas advertências do Magistério — o termo “transubstanciação”. […]

Vejamos agora como a fé na Presença Real pode influenciar o modo de receber a Comunhão, e vice-versa. Receber a Comunhão na mão comporta sem dúvida uma grande dispersão de fragmentos. Ao contrário, a atenção às mais pequeninas partículas, o cuidado na purificação dos vasos sagrados, o não tocar a Hóstia com as mãos sujas de suor, tornam-se profissões de fé na presença real de Jesus, ainda que seja nas menores partes das espécies consagradas. Se Jesus é a substância do Pão Eucarístico, e se as dimensões dos fragmentos são acidentes apenas do pão, pouco importa que o pedaço da Hóstia seja grande ou pequeno! A substância é a mesma! É Ele! Ao contrário, a desatenção aos fragmentos faz perder de vista o dogma: pouco a pouco poderia começar a prevalecer o pensamento: “Se até o pároco não dá atenção aos fragmentos, se administra a Comunhão de um modo que os fragmentos se podem dispersar, então quer dizer que Jesus não está presente neles, ou está ‘até um certo ponto’.”

O segundo caminho em que acontece o ataque contra a Eucaristia é a tentativa de retirar, dos corações dos fiéis, o sentido do sagrado. […] Enquanto o termo “transubstanciação” nos indica a realidade da presença, o sentido do sagrado permite-nos entrever a absoluta peculiaridade e santidade do Sacramento. Que desgraça seria perder o sentido do sagrado precisamente naquilo que é mais sagrado! E como é possível? Recebendo o alimento especial do mesmo modo como se recebe um alimento ordinário. […]

A liturgia é feita de muitos pequenos ritos e gestos — cada um dos quais é capaz de exprimir essas atitudes carregadas de amor, de respeito filial e de adoração a Deus. Justamente por isso é oportuno promover a beleza, a conveniência e o valor pastoral desta prática que se desenvolveu ao longo da vida e da tradição da Igreja, a saber, receber a Sagrada Comunhão na boca e de joelhos. A grandeza e a nobreza do homem, assim como a mais alta expressão do seu amor para com o Criador, consiste em colocar-se de joelhos diante de Deus. O próprio Jesus rezava de joelhos na presença do Pai. […]

Nesse sentido, gostaria de propor o exemplo de dois grandes santos dos nossos tempos: São João Paulo II e Santa Teresa de Calcutá. Toda a vida de Karol Wojtyla esteve marcada por um profundo respeito à Santa Eucaristia. […] Malgrado estivesse extenuado e sem forças […], estava sempre disposto a ajoelhar-se diante do Santíssimo. Ele era incapaz de ajoelhar-se e levantar-se sozinho. Precisava que outros lhe dobrassem os joelhos e depois o levantassem. 

Até os seus últimos dias, ele quis dar-nos um grande testemunho de reverência ao Santíssimo Sacramento. Por que somos assim tão orgulhosos e insensíveis aos sinais que o próprio Deus oferece para o nosso crescimento espiritual e para o nosso relacionamento íntimo com Ele? Por que não nos ajoelhamos para receber a Sagrada Comunhão, a exemplo dos santos? É assim tão humilhante prostrar-se e estar de joelhos diante de Nosso Senhor Jesus Cristo — Ele, que, “sendo de condição divina, […] humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 6–8)?

Santa Madre Teresa de Calcutá, uma religiosa excepcional a que ninguém ousaria chamar de tradicionalista, fundamentalista ou extremista, e cuja fé, santidade e dom total de si a Deus e aos pobres são conhecidos de todos, possuía um respeito e um culto absoluto ao Corpo divino de Jesus Cristo. Certamente, ela tocava quotidianamente a “carne” de Cristo nos corpos deteriorados e sofridos dos mais pobres dos pobres. No entanto, cheia de estupor e respeitosa veneração, Madre Teresa abstinha-se de tocar o Corpo transubstanciado do Cristo; ao invés disso, ela adorava-O e contemplava silenciosamente, permanecia durante longos períodos de joelhos e prostrada diante de Jesus Eucaristia. Além disso, ela recebia a Sagrada Comunhão directamente na boca, como uma pequena criança que se deixava humildemente nutrir pelo seu Deus.

A santa entristecia-se e lamentava sempre que via os cristãos receberem a Sagrada Comunhão nas próprias mãos. Ela afirmou inclusive que, segundo o que era do seu conhecimento, todas as suas irmãs recebiam a Comunhão apenas na boca. Não é esta a exortação que Deus mesmo faz a nós: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair do Egipto; abre a boca e eu te sacio” (Sl 81, 11)?

Por que nos obstinamos em comungar de pé e na mão? Por quê essa atitude de falta de submissão aos sinais de Deus? Que nenhum sacerdote ouse impor a própria autoridade sobre essa questão recusando ou maltratando aqueles que desejam receber a Comunhão de joelhos e na boca: venhamos como as crianças e recebamos humildemente, de joelhos e na boca, o Corpo de Cristo. Os santos dão-nos o exemplo. São eles o modelo a imitar que Deus nos oferece!

Mas como pode ter-se tornado tão comum a prática de receber a Eucaristia sobre a mão? A resposta nos é dada pelo Padre Bortoli, e confirmada por uma documentação até o momento inédita, e extraordinária por sua qualidade e dimensão. Tratou-se de um processo nem um pouco límpido, uma transição do que era concedido pela instrução Memoriale Domini ao modo que se difundiu hoje. […] 

Infelizmente, assim como aconteceu à língua latina e à reforma litúrgica, que deveria ter sido homogénea com os ritos precedentes, uma concessão particular tornou-se uma chave para forçar e esvaziar o cofre dos tesouros litúrgicos da Igreja. O Senhor conduz o justo por “caminhos rectos” (Sb 10, 10), não por subterfúgios; assim, além das motivações teológicas demonstradas acima, até o modo como se difundiu a prática da Comunhão na mão parece ter-se imposto não segundo os caminhos de Deus.

Possa este livro encorajar aqueles sacerdotes e aqueles fiéis que, movidos também pelo exemplo do Papa Bento XVI — que nos últimos anos do seu Pontificado quis distribuir a Eucaristia na boca e de joelhos — , desejam administrar ou receber a Eucaristia deste modo, muito mais apropriado ao próprio Sacramento. A minha esperança é de que haja uma redescoberta e uma promoção da beleza e do valor pastoral dessa forma de comungar. 

Segundo o meu juízo e opinião, essa é uma questão importante sobre a qual a Igreja de hoje deve reflectir. Trata-se de um acto de adoração e de amor que todos nós podemos oferecer a Jesus Cristo. Muito me agrada ver tantos jovens que escolhem receber Nosso Senhor com essa reverência, de joelhos e na boca. Possa o trabalho do Pe. Bortoli favorecer um repensar geral sobre o modo de distribuir a Sagrada Comunhão. Tendo acabado de celebrar, como disse no início deste prefácio, o centenário de Fátima, encoraje-nos a firme esperança no triunfo do Imaculado Coração de Maria: no fim, também a verdade sobre a liturgia triunfará.

Texto: Life Site News
Tradução adaptada da tradução de João Pedro de Oliveira (in Medium)


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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Educar os nossos filhos para a Santidade

Santa Jacinta e Santo Francisco Marto, duas crianças santas!

As Famílias de Caná vivem da convicção profunda de que as nossas crianças são chamadas à santidade, da mesma maneira que nós o somos. Na leitura do Levítico que ontem escutámos, Deus dizia-nos:

"Sede santos porque Eu, o Senhor, sou Santo." (Lv 19, 2)

E no Evangelho Jesus revela um carinho muito especial pelos mais pequeninos:

"Deixai vir a Mim as criancinhas, não as impeçais, porque dos que são como elas é o Reino de Deus." (Lc 18, 16)

Precisamos urgentemente de crianças santas. Precisamos urgentemente de pais que queiram educar os seus filhos para a santidade e para nada menos do que isso. Precisamos urgentemente de pais que não tenham receio de trabalhar as virtudes, todas as virtudes com os seus filhos, colocando limites onde é preciso colocar limites e desafiando sem limites onde é preciso desafiar sem limites.

Francisco e Jacinta foram santos porque Nossa Senhora, a Mãe, os desafiou até ao infinito. Não baixou nunca a fasquia. Não arranjou desculpas para a Jacinta, de sete anos, não precisar de rezar o Terço ou de fazer sacrifícios, muitos sacrifícios. Explicou que o Francisco A conseguiria ver logo que também ele rezasse o Terço. Disse-lhes que Deus estava contente com eles, mas triste com o mundo, e desafiou-os a oferecer-se ao Senhor em expiação pelo mundo.

Hoje, muitos intelectuais católicos ficam escandalizados com este pedido de Maria. Como pode Deus pedir a inocentes que se sacrifiquem pelos maus? Eu fico escandalizada, não com o pedido de Maria, mas com esta dúvida: não foi assim que Deus fez para salvar o mundo? Entregando Jesus, o único verdadeiramente inocente, para nos salvar a nós, os maus? Deus não Se contradiz. Hoje, como ontem, os inocentes têm aos ombros o jugo suave da salvação dos seus irmãos. E não nos surpreendamos muito se forem os nossos filhos os que mais trabalham pela nossa salvação…

Precisamos urgentemente de crianças santas, porque o nosso mundo não se cura sem uma grande dose de inocência. Como o fazer? Francisco e Jacinta são testemunho eloquente de que não há escola de santidade mais rápida e eficaz que a escola de Maria… Assim falou S. João Paulo II quando veio beatificar os pastorinhos:

"Queridos meninos e meninas, vejo muitos de vós vestidos como Francisco e Jacinta. Fica-vos muito bem! Mas, logo ou amanhã, já deixais essa roupa e… acabam-se os pastorinhos. Não haviam de acabar, pois não?! É que Nossa Senhora precisa muito de vós todos, para consolar Jesus, triste com as asneiras que se fazem; precisa das vossas orações e sacrifícios pelos pecadores.Pedi aos vossos pais e educadores que vos metam na «escola» de Nossa Senhora, para que Ela vos ensine a ser como os pastorinhos, que procuravam fazer tudo o que lhes pedia. Digo-vos que «se avança mais em pouco tempo de submissão e dependência de Maria, que durante anos inteiros de iniciativas pessoais, apoiados apenas em si mesmos» (S. Luís de Montfort, Tratado da verdadeira devoção à SS.ma Virgem, nº 155). 

Foi assim que os pastorinhos se tornaram santos depressa. Uma mulher que acolhera a Jacinta em Lisboa, ao ouvir conselhos tão bons e acertados que a pequenita dava, perguntou quem lhos ensinava. «Foi Nossa Senhora» – respondeu. Entregando-se com total generosidade à direcção de tão boa Mestra, Jacinta e Francisco subiram em pouco tempo aos cumes da perfeição." (Homilia de S. João Paulo II a 13 de Maio de 2000)

A Escola de Maria… Não era assim também que S. João Paulo II falava da oração do Rosário?

Santa Jacinta e Santo Francisco de Fátima, rogai por nós e pelos nossos filhos!

Teresa Power in 'Famílias de Caná'


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Declaro-me publicamente Incompetente

Não há muito tempo estive com um grupo de Sacerdotes para trocarmos opiniões sobre as situações em que hipoteticamente, diferentemente da Doutrina Disciplinar da Igreja, desde há dois mil anos, se poderia absolver e dar a Sagrada Comunhão a baptizados cujo casamento validamente contraído tinha, por motivos muito diversos, acabado em separação e seguidamente em divórcio civil e ‘casamento’ civil, fornicando sem arrependimento nem propósito de conversão, porque a continência sexual era tida como não factível.

Como era de esperar a barafunda foi mais que muita. Ninguém se entendia. Uns declaravam isto, outros, aquilo, os demais, aqueloutro, etc. Tudo em nome do “discernimento”. Falou-se também da consciência – caso um Padre decidisse que, após discernimento com a pessoa ou as pessoas em questão autorizar a absolvição e a Comunhão e um outro consultado pelos mesmos “penitentes”, chegasse a uma conclusão oposta que deviam fazer os impropriamente chamados recasados? Seria um Padre obrigado, embora repulsasse à sua consciência, admitir aos Sacramentos somente porque um outro presbítero o fez? O primeiro consideraria um auxílio à santificação, o segundo, pelo contrário, entenderia que era um empurrão para o sacrilégio, ou condenação…

Eu creio que fundamentalmente se trata de uma questão de verdade, humildade e obediência. A Igreja, desde sempre, já fez o discernimento definitivo, em obediência e comunhão com o Seu Senhor (para quem ainda não o tenha percebido, o Papa não é a Igreja, nem o depósito da Fé, nem o Revelador da mesma). O discernimento agora invocado para admitir o inadmissível, não é o da Tradição da Igreja nem o de St. Inácio nem o de nenhum outro Santo. Poderá ser o de Lutero e o de tantos outros inimigos da Verdade e da Igreja ao longo da história. E é certamente, como advertiu o Cardeal Pell, um cavalo de Tróia ou, digo eu, uma caixa de Pandora.

Claro que a Igreja sempre soube e ensinou que se podiam dar circunstâncias em que a responsabilidade pessoal poderá estar atenuada e até anulada, mas o que nunca fez foi substituir-se a Deus no julgamento dos corações. Por isso, sempre afirmou que Ela não tem autoridade nem capacidade para julgar o interior das pessoas:  “A Igreja não julga do interior, e só pode decidir-se pelos actos externos”. (O que sempre fez foi ensinar e ajudar as pessoas a recorrerem a Deus, às obras caritativas e penitenciais para superarem o estado espiritualmente calamitoso em que se encontravam.)

Exemplifiquemos mais claramente. Entra na Igreja em horário de Missa uma pessoa embriagada, oscilante, aos trambolhões, gritando impropérios, provocando nos fiéis um grande alvoroço. Chegado o momento da Comunhão põe-se na fila, entoando, intervalado de soluços, o Grândola vila morena. Dou-lhe a Sagrada Comunhão ou não? Estará ele na Graça de Deus ou não? Terá sido embriagado inadvertidamente por outros? Foi, desde bebé, ‘alimentado a sopas de cavalo cansado’ tornando-se inconscientemente um alcoólico inveterado? Pode estar na Graça de Deus? Poder poderá. Mas é evidente que tem de se lhe negar a Sagrada Comunhão. Ou não?!!!

À porta da Igreja está um ecologista fanático, influenciado pela propaganda de controladores demográficos, que opinam, como alguns famosos, hoje consultores de altas hierarquias eclesiásticas, que é necessário diminuir a população, pelo menos em 300 milhões de pessoas por ano. Cada vez que vê uma grávida, munido de um rijo cajado dá-lhe umas pauladas valentes na barriga para acabar com essa peste venenosa e predadora que é o bebé a nascer. Depois assiste à Missa e vai à Comunhão. Posso ter a certeza de ele não estar na Graça de Deus? Não!? Talvez esteja possesso do Demónio… Posso dar-lhe a Comunhão? Nem pensar!!!

Não, não estou a dizer que os adúlteros são, em virtude desse facto alcoólicos nem que são abortadores e infanticidas.

A segurança de estar ou não na Graça de Deus não se adquire através de um discernimento cuja sentença final seja dada pelo Padre ou/e pelo Bispo. (Os bispos de Buenos Aires, no espaço de um mês, discerniram que cerca de 30 falsos “casais” fossem admitidos aos Sacramentos.) Quem Me ama, diz o Senhor, cumprirá os Meus Mandamentos (conformar-se-á com os Meus dons de Amor); e o Pai e Eu, viremos a ele e nele faremos a Nossa morada (Cf Jo, 14-15). Esta é a melhor segurança, acompanhada da oração pedindo ao Senhor conhecimento, arrependimento, perdão e conversão dos pecados que nos são ocultos e implorando a Graça da perseverança final.

Se algum par que vive em adultério quer temerariamente arriscar a sua salvação eterna poderá racionalizar o recurso aos Sacramentos recorrendo ao cânone 916: “Quem está consciente de pecado grave não celebre a missa nem comungue o Corpo Senhor, sem fazer antes a confissão sacramental, a não ser que exista causa grave e não haja oportunidade para se confessar; nesse caso, porém, lembre-se que é obrigado a fazer um acto de contrição perfeita, que inclui o propósito de se confessar quanto antes.” 

Mas não metam os Bispos nem os Padres ao barulho – Assumam a responsabilidade perante Deus e com Ele se entendam aquando do Juízo imediato após a morte. Não aconselho de modo nenhum, mas se as autoridades eclesiásticas querem levar estes escandalosos destemperos espirituais avante, então que recomendem aos pseudorecasados que se confessem ocultando aos Padres o adultério permanente em que vivem e revelem somente, por exemplo, uma resposta torta ao companheiro ou ter, v. g., ingerido um croquete de vitela numa Sexta-feira; e vão comungar das mãos de um Padre que não os conheça.

Bons e santos amigos, não consegui escrever exactamente o que queria nem como o queria. Infelizmente as minhas capacidades, entre outras as de escrita, são limitadas. Mas parece-me não haver dúvidas de que estamos a viver, por coincidência ou não, nos tempos deste pontificado uma revolução, ou tentativa de ela na Igreja. Muita gente ficou espantada e incrédula quando há 3 (ou 4?) anos escrevi que aquilo que estava a suceder iria prejudicar a Igreja por várias décadas ou mesmo por alguns séculos (o que de resto não seria a primeira vez que isso aconteceria na história da mesma). Alguns que defendiam com unhas e dentes o ensinamento de Papas anteriores, agora advogam exactamente o contrário em nome da fidelidade ao papado e à Igreja. Que acontecerá, se o próximo Papa vier retomar os ensinamentos anteriores?

Outros dizem que não é de estranhar que este Papa seja criticado porque o mesmo aconteceu com os outros mais recentes. Haverá, no entanto, segundo muitos, uma diferença essencial. O actual, com ou sem razão, é contestado por contradizer e entrar em ruptura com a Doutrina de sempre, enquanto os anteriores eram atacados exactamente pelo contrário.

Queridos e santos amigos, nunca pensei vir a dizer uma coisa destas, mas apesar da minha incultura, pouquidão, limitações de todo o género e feitio, caso acontecesse o impossível, a saber, que o Senhor Patriarca ou quem quer que ele designasse, ou mesmo a Santa Sé, aceitasse um debate público, onde quer que fosse, sobre estas questões eu, somente confiado na Graça de Deus, estaria pronto para o/os confrontar. Não quero pôr-me em bicos dos pés, mas não tenho medo. 

Ademais tenho pelo Senhor D. Manuel Clemente uma enorme admiração e uma imensa gratidão. Sei que nunca poderei “pagar-lhe” a dívida de amizade, fraternidade e paternidade que reconheço com o maior agradecimento. Invejo-lhe, santa inveja, uma multidão de qualidades e saberes que não possuo. Mas nada disso me faz recuar. Poderei levar uma sova pública, uma tareia monumental, mas estaria disposto a tudo. É que, apesar de ainda não ter lido na totalidade a sua nota, ou texto, dirigido aos vigários, li com muita mágoa a sua entrevista de ontem ao semanário expresso. Tive pena, muita pena.

Se estou enganado pelo Maligno, que Deus me perdoe, e que os meus santos amigos rezem por mim com todas as veras.

Mas quando a Igreja se declara incompetente para julgar do interior, quem sou eu para arrogantemente presumir pernóstica e perliquitetemente  uma capacidade que, porque não me foi concedida, não possuo?

À honra de Cristo. Ámen.

Padre Nuno Serras Pereira


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Oração contra o pecado

Senhor, Pai soberano da minha vida,
não me abandones ao conselho dos meus lábios,
nem permitas que eles me façam sucumbir.


Quem aplicará o açoite aos meus pensamentos,
e ao meu coração uma sábia correcção,
para que sejam severos com os meus erros,
e eu não tolere as suas faltas?


Para que não se multipliquem os meus erros,
e não aumentem os meus delitos,
e eu não caia diante dos meus adversários,
e se ria de mim o meu inimigo,
pois dele está longe a esperança da tua misericórdia.


Senhor, Pai e Deus da minha vida,
não me dês olhos altivos,

e afasta de mim a concupiscência.

Não se apodere de mim o apetite sensual e a luxúria,
e não me entregues à mercê do desejo impúdico.


Ouvi, filhos, as instruções que vos dou:

aquele que as guardar não cairá no erro.
O pecador será colhido pelos seus lábios,
o maldizente e o orgulhoso tropeçarão por causa deles.


Ben Sira 23, 1-7


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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Como eram os Pastorinhos de Fátima antes das Aparições?

Na Primavera de 1916, a Jacinta tinha seis anos e o Francisco estava quase a fazer oito. Eram assim, cada um à sua maneira, com muitas qualidades e alguns defeitos. Não se distinguiam das outras crianças de Aljustrel, nada tinham de especial. E mesmo as histórias mais tocantes da paixão da Jacinta por Jesus teriam caído no esquecimento de todos, se não viesse o que veio.

Eram normais, muito normais, tão normais como nós. Até se escapavam da oração do terço, para poderem ir brincar mais depressa: "como todo o tempo nos parecia pouco para a brincadeira, arranjámos uma boa maneira de acabar depressa: passávamos as contas dizendo só 'Ave Maria'. Quando chegávamos ao fim do mistério, dizíamos com muita pausas as palavras 'Padre Nosso'. E, assim, num abrir e fechar de olhos, como se costuma dizer, tínhamos o nosso terço rezado".

E é por serem tão crianças e tão normais, que é mais grandioso ainda o que vai operar-se neles. É por isso que, mesmo santos, não deixam de ser tão próximos de nós.

O Céu não escolheu duas crianças iluminadas, excepcionais ou particularmente místicas. Escolheu aqueles pastorinhos de Aljustrel. A massa de que se fez a sua santidade é a mesma de que somos feitos nós, cada um na sua limitação, na sua miséria, na sua normalidade.

Seria tão fácil distanciar-nos de tudo o que eles foram e viveram, se já fossem perfeitos à partida. Mas não eram.

O que veio depois começa agora. O que veio depois aconteceu, mas podia não ter acontecido. O que veio depois mudou tudo.

Mas, para começar, só havia aqueles pastorinhos de Aljustrel, iguais a todos, iguais a nós.

Madalena Fontoura in 'Bem-Aventurados'


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domingo, 18 de fevereiro de 2018

Alerta: Papa Francisco celebrou Missa "de costas" para as pessoas

O Papa Francisco escandalizou os católicos "modernos" ao celebrar Missa 'ad orientem'. Estes católicos - juntamente com tantos não católicos que gostam de opinar em questões da Igreja - sentiram-se ultrajados com este "retrocesso". 

Dizem que longe vão os tempos (felizmente!) em que os sacerdotes celebravam a Missa "de costas" para as pessoas; e estas não "participavam" na Missa, limitando-se a estar ali impávidas e serenas, quem sabe ajoelhadas, enquanto faziam coisas desprovidas de sentido, como por exemplo rezar.

"Estamos no século XXI, os tempos evoluíram"; "Não podemos voltar atrás"; "Jesus veio pedir a simplicidade, não estas pompas"; "Jesus era pobre, nada tem a ver com estes faustos"; "Jesus veio falar olhos nos olhos com as pessoas, nunca lhes virou as costas" - desabafam, num misto de revolta, desilusão e desânimo.

A Santa Missa foi celebrada na Capela Sistina, no altar que se encontra sob o Juízo Final, pintado por Michelangelo. 

João Silveira

Nota interpretativa: Este texto contém ironia a fim que se perceba mais facilmente a irracionalidade de muitos "argumentos" que ouvimos em relação a este tema.


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