terça-feira, 31 de maio de 2022

Maria é a Medianeira de TODAS as graças?

Jesus e Maria - o Novo Adão e a Nova Eva - concedem graças à Humanidade

Maria é a Medianeira de Todas as Graças? Esta é uma questão de duas partes. Primeiro, Maria é "medianeira"? (o sufixo latino -tor denota o agente masculino e o -trix latino denota o agente feminino - como embaixador e embaixatriz Mediador e Mediatriz [N.T.: no português tradicionalmente usa-se medianeira em vez de mediatriz]) Segundo, se ela é uma medianeira, é medianeira de todas as graças?

Maria é uma medianeira?
Antes de falar sobre este nome, é importante confirmar logo no início que a mediação de Maria não viola as palavras de São Paulo no que toca ao sacerdócio medianeiro de Jesus Cristo, quando escreve:
“Porque só há um Deus, e só há um Mediador entre Deus, e os homens que é Jesus Cristo homem” (1Tim 2, 5)
Cristo é o único mediador entre Deus e os homens porque Ele é totalmente Deus e totalmente homem. Visto que Ele se ofereceu a Si mesmo como um sacrifício perfeito a Deus, só Ele sozinho pode redimir a humanidade do pecado.

No entanto, São Lucas recorda que Santo Simeão profetizou a Maria que também ela iria sofrer com o Seu divino Filho.
“e será esta uma espada que trespassará a tua alma, a fim de serem revelados os pensamentos que muitos terão escondidos nos corações” (Lucas 2, 35).
Os Padres da Igreja identificaram a "espada que trespassará" a alma de Maria como o momento em que Maria viu o seu Filho morrer na cruz, e ainda mais quando pegou nos braços o Seu corpo frio e sem vida.

A sua presença silenciosa e materna, em conjunto com o sacrifício do sumo sacerdócio de Cristo, envolve-a no sacrifício de Cristo de uma maneira única. Considerem isto: o Filho de Deus adquiriu a Sua carne e sangue a partir da carne e do sangue dela. Jesus pôde morrer por nós porque ela Lhe deu um corpo.

Jesus e Maria na cruz são o Adão e a Eva redemptores. Eva uma vez olhou para uma árvore para obter o fruto contra a lei. Agora Maria, como a Nova Eva, olha para a árvore onde está "o fruto do Seu ventre". Ela não clama pelos direitos deste Fruto, mas oferece-O com toda a vontade ao Pai. O Novo Adão está suspenso na madeira por cada pecador. A Nova Eva fica lá em tristeza.

A mediação de Maria é baseada na sua íntima união e consentimento à Paixão e Morte de Cristo. Mais ainda, encontramos na Escritura que Jesus vem ao mundo através de Maria, literalmente. Sta. Isabel e o seu bébé, S. João Baptista, enchem-se do Espírito Santo quando Sta. Isabel ouve a voz de Maria. Jesus faz o Seu primeiro milagre em Caná sob o pedido de Maria. E mais, Maria está presente no Pentecostes, quando o Espírito Santo desce sobre o Apóstolos. Tal como a voz de Maria foi o instrumento que levou a graça a Sta. Isabel, também Maria é o instrumento pessoal pelo qual as graças fluem de Cristo para nós. S. Bernardo de Claraval chamava-lhe "aqueduto de graça".

A Festa Litúrgica: Medianeira de Todas as Graças
Em 1921, o Papa Bento XV, respondendo a petições de bispos da Bélgica, estabeleceu o dia da festa anual de "Maria Medianeira de Todas as Graças". Esta festa foi incluída no Missale Romanum sob o título "Omnium Gratiarum Mediatricis" para a data de 31 de Maio. Se tiverem um Missal em Latim pré-conciliar, normalmente conseguem encontrá-la lá (procurem a Missae pro aliquibus locis). Dois dos meus missais incluem a festa.

A primeira leitura para esta festa é Isaías 55, 1-5 e o Gradual é a famosa passagem de Eclesiástico: "Eu sou a mãe do amor formoso, do temor, da ciência e da santa esperança. Em mim está toda a graça do caminho e da verdade, em mim está toda a esperança de vida e de virtude.” (Sir 24, 24-25) A leitura do Evangelho para a festa são os acontecimentos da paixão mariana de João 19, 25-27.

A inclusão por Bento XV de uma festa para "Maria Medianeira de Todas as Graças" tornou a doutrina popular. Quando começou o Concílio Vaticano Segundo (1962), havia uma pressão entre os bispos para declarar formalmente a Santíssima Virgem Maria como "Medianeira de Todas as Graças". Esta tentativa acabou por ser reformulada e ela acabou por ser declarada como "Mãe da Igreja", um título mais suave, mas também bonito. Foi preferido "Mãe da Igreja"  visto que definia a verdade de uma forma mais eclesial.

Podem encontrar esta definição de "Mãe da Igreja" no Capítulo 8 da Lumen Gentium. Ainda assim, a Lumen Gentium 8 acaba por referir-se a Maria Imaculada como "advogada, auxiliadora, socorro, medianeira". Notavelmente, o qualificador "de Todas as Graças" não foi incluído no texto final da Lumen Gentium, apesar de ter sido proposto.

Será que o Papa Bento XV foi longe demais?
Portanto, é matéria de fé que a nossa Santíssima Mãe é uma "Medianeira"... mas será ela a "Medianeira de Todas as Graças"? A maior parte dos Católicos não têm problema com o título "Medianeira", no entanto eu reparo que alguns Católicos vacilam quando ouvem "Medianeira de Todas as Graças." O Papa Bento XV foi longe demais ao adicionar "de Todas as Graças"?

O título completo a incluir "todas as graças" é controverso. Alguns protestam que Maria não poderia nunca ser a medianeira de todas as graças no Antigo Testamento, visto que ainda não existia. Mais ainda, podia ela ser a medianeira de todas as graças enquanto ainda estava na terra? Será que ela só ficou medianeira de todas as graças depois do Pentecostes ou, talvez, apenas depois da sua gloriosa Assunção? E ainda assim, será que ela é medianeira  tanto das graças actuais como da graça sacramental? Isto é, as graças do baptismo e da Sagrada Eucaristia passam pelas mãos dela?

Duas questões difíceis relacionadas com "de todas as graças"
Estas perguntas, essencialmente, levantam duas questões difíceis:
1) Quando é que Maria se tornou a medianeira de todas as graças. Desde sempre? Na Imaculada Conceição? Na Crucifixão? No Pentecostes? Na Assunção?
2) Quando dizemos "todas as graças" queremos dizer "cada graça" ou "todos os tipos de graça" ou "todos os tipos de graça actual"?
Vou revelar a minha posição logo de início. Eu sou pela posição extrema. Insisto que ela é a medianeira de cada graça que alguma vez foi dada à humanidade, de Adão até ao último instante de tempo. É verdade que ela ainda não existia, no entanto ela é a medianeira de todas essas graças.

O Novo Adão como Mediador. A Nova Eva como Medianeira.
Como é que se pode dizer tal coisa? O argumento depende da antiga reputação de Nossa Senhora como a Nova Eva e da reputação de Cristo como Novo Adão. Cada graça é absolutamente mediada através de Cristo, visto que ele é totalmente Deus e totalmente homem. Ele é necessariamente e absolutamente o mediador da humanidade. No entanto, Ele medeia esta graça para a humanidade por virtude da Sua Encarnação e da Sua morte e através do Espírito Santo.

Já Maria, como Nova Eva, foi o instrumento da Encarnação e tinha o papel primário na Crucifixão e na descida do Espírito Santo no Pentecostes. Descobrimos assim que a Escritura a liga com estes três momentos da mediação absoluta de Cristo.

Sabemos também que todas as graças do Antigo Testamento foram mediadas em antecipação da Encarnação e Morte de Cristo. Visto que a carne de Maria e a sua cooperação são necessárias para a Encarnação e Morte de Cristo, estas graças também são mediadas com o seu papel em mente. É por isso que o Papa Pio IX diz que o decreto da predestinação de Cristo é um só com o de Maria.

Ou seja, as graças do Antigo Testamento foram mediadas à luz dela, ainda que não directamente concedidas por ela. Aqui distinguimos o termo "mediar" do termo "conceder". Maria Imaculada tem sido sempre a Medianeira de Todas as Graças, mas tornou-se Dispenseira de Todas as Graças na sua gloriosa Assunção.

Ainda se podia tomar uma opção mais extrema e dizer que Maria se tornou a Dispenseira de cada graça a partir do momento da sua Imaculada Concepção. Isto iria precisar que desde o seu primeiro momento ela teve uma enorme infusão de conhecimento mesmo ainda na barriga de Santa Ana. Eu não tenho bem a certeza de que isto tenha acontecido, no entanto não culparia ninguém que pensasse assim. Parece que Santo Afonso Maria de Ligório possa ter tido esta posição, no entanto não consigo perceber bem (ficaria agradecido se algum afonsista me ajudasse neste ponto.)

E no que toca à Escritura?
Sabemos que a santificação e confirmação na graça de São João Baptista enquanto ainda estava na barriga de sua mãe aconteceu através da mediação da voz de Maria. “Porque assim que chegou a voz da tua saudação aos meus ouvidos, logo o Menino deu saltos de alegria no meu ventre.” (Lucas 1, 44)

Tanto as liturgias gregas como as latinas aplicam Eclesiástico 24 como a profecia da Santíssima Virgem Maria. A passagem diz "Eu sou a mãe do amor formoso, do temor, da ciência e da santa esperança. Em mim está toda a graça do caminho e da verdade, em mim está toda a esperança de vida e de virtude.” (Sir 24, 24–25) Maria é a "Mãe do Amor Formoso" e nela "está toda a graça." Portanto, aqui está uma profecia do Antigo Testamento sobre o título de Maria como Medianeira de Todas as Graças.

Como se disse acima, a presença de Nossa Senhora na Concepção, Natividade, Vida, Morte e Ascensão do Senhor e depois Pentecostes revelam o seu cargo de mediação abaixo de Cristo.

Maria medeia a Graça Sacramental?
No que toca à graça sacramental, Santo Cirilo de Alexandria, quando falava aos Padres do Concílio de Éfeso (AD 431) disse que a graça do baptismo, confirmação e sagradas ordens chegam à Igreja através de Maria.

Pensem simplesmente nos sete sacramentos e vão ver que isto faz sentido:
  1. Baptismo remove a mancha de Eva (Maria é a Nova Eva), dá-nos o Espírito Santo (o Esposo de Maria) e une-nos à morte e ressureição de Cristo (Maria medeia sob a cruz)
  2. Confirmação é o sacramento que confere a graça do Pentecostes a cada um de nós. Maria é a Esposa do Espírito e estava presente no Pentecostes.
  3. Sagrada Eucaristia é o Corpo e Sangue de Cristo. Esta carne e sangue do Logos Eterno vieram do ventre da Santíssima Virgem Maria. Não há Mãe humana? Não há Corpo e Sangue.
  4. Penitência é a aplicação do mérito e sangue de Cristo ao pecador. A presença mediadora de Maria sob a Cruz confirma o seu papel neste sacramento.
  5. Extrema Unção é o sacramento que prepara o fiel para a morte. Cristo deu a Maria domínio sobre a "hora da morte" e sobre o Purgatório devido ao seu desejo de morrer uma morte humana, mesmo tendo permanecido sem pecado. Ela queria morrer para se identificar mais perfeitamente com Cristo. Isto também é previsto por Ben Sirá: “Penetrarei em todas as partes da terra, visitarei todos aqueles que dormem, iluminarei todos os que confiam no Senhor. ” (Sir 24, 45)
  6. As Sagradas Ordens são o mistério do sacerdócio e Cristo tornou-se o Sumo Sacerdote da Humanidade por virtude da Sua Encarnação. No entanto, Maria era absolutamente necessária para a Sua chegada à natureza humana. Não havia Mãe? Não havia Encarnação? Mais uma vez, a presença de Maria na Cruz confirma o seu papel aqui, visto que Cristo exerceu manifestamente o Seu sacerdócio na Cruz.
  7. Santo Matrimónio foi elevado à dignidade de sacramento nas Bodas de Caná. O milagre de Cristo e a bênção nas Bodas de Caná ocorrem por mediação directa de Maria. Assim, também ela é medianeira da graça sacramental do Santo Matrimónio.
Portanto, é fácil ver que a Escritura liga Maria a todos os sete sacramentos. Enquanto que alguns se opõem à posição de que Maria é a medianeira da graça sacramental, eu vejo todas as razões para afirmar que ela é a medianeira da graça sacramental.

Em suma, confirmámos o seguinte:
  1. A mediação de Maria não entra em conflito com a mediação de Cristo, mas é a forma mais alta de sub-mediação abaixo de Cristo. Ela é o aqueduto que traz a graça e méritos infinitos de Cristo.
  2. O Papa Bento XV instituiu a festa litúrgica de Maria, Medianeira de Todas as Graças.
  3. A mediação universal de Maria está vinculada pelo seu nome de Nova Eva. Cristo é o Novo Adão e o seu trabalho redentor é universal. Consequentemente, a sub-mediação de Maria é universal.
  4. Todas as graças, mesmo aquelas do Antigo Testamento são mediadas através do ministério do Novo Adão e da Nova Eva. Apesar de Maria ainda não existir, as graças antes do Novo Testamento foram dadas em expectativa de um Novo Adão e de uma nova Eva - Jesus e Maria.
  5. Mesmo as graças sacramentais são mediadas e aplicadas por Maria Imaculada. A Sagrada Escritura mostra que as graças e dons associados a cada sacramento (ex: o derrame do Espírito Santo na Confirmação) foram conquistados através de Maria (ex: quando Isabel e João Baptista se encheram com o Espírito Santo).
Taylor Marshall



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Verdadeira festa no Céu: Nossa Senhora coroada Rainha

"Por fim, a Assunção chega ao seu auge: a coroação de Nossa Senhora como Rainha dos Anjos e dos Santos, do Céu e da Terra, pela Santíssima Trindade. Houve então uma verdadeira festa no Céu. Ela foi coroada por ser Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filha do Padre Eterno e Esposa do Divino Espírito Santo!"[1]

Afirma S. Luís Maria Grignion de Montfort que, "no Céu, Maria dá ordens aos Anjos e aos bem-aventurados. Para recompensar a sua profunda humildade, Deus Lhe deu o poder e a missão de povoar de Santos os tronos vazios, que os anjos apóstatas abandonaram e perderam por orgulho. E a vontade do Altíssimo, que exalta os humildes (Lc. I, 52), é que o Céu, a Terra e o Inferno se curvem, de bom ou mau grado, às ordens da humilde Maria".

Quando o Filho de Deus entreabriu o Céu para descer até nós, foi Maria que Lhe serviu de porta. Maria é a porta do Céu, porque todos os que nele entram, fazem-no seguindo a Jesus, por meio de Maria. A Terra, que o pecado de Adão havia separado do Céu, reconciliou-se com este pela intercessão de Maria, que nos deu Jesus. É por essa porta que todas as nossas orações chegam até Deus, e é por meio d'Ela que obtemos as graças necessárias para a nossa salvação. Maria humilde: escrava de Deus e serva dos homens.

Diz-nos hoje o Papa Francisco sobre Nossa Senhora: "Mulher corajosa! As mulheres corajosas que estão na Igreja são como a Virgem. Estas mulheres que levam para a frente a família, estas mulheres que levam a cabo a educação das crianças, que enfrentam muitas dificuldades, tantas dores, que curam os doentes... Corajosas: levantar-se e servir, servir. O serviço é sinal dos cristãos."[2]

Toda a devoção a Maria termina em Jesus, tal como o rio que se lança ao mar. Nossa Senhora é aquela que do Céu reina sobre as almas cristãs, a fim de que haja a salvação: “É impossível que se perca quem se dirige com confiança a Maria e a quem Ela acolher” ( diz-nos Santo Anselmo).

"Maria é a rainha do Céu e da terra, por graça, como Cristo é Rei por natureza e por conquista" (diz S. Luís Maria Grignion de Montfort). O reinado de Maria semelhante e em perfeita coincidência com o Reino de Jesus Cristo não é temporal nem terreno, mas é um reino eterno e universal. "[E]sta realeza da Mãe de Deus se faz concreta no amor e no serviço a seus filhos, em seu constante velar pelas pessoas e suas necessidades." - diz o Papa Bento XVI.

"(...) Maria é rainha, por ter dado a vida a um Filho, que no próprio instante da sua concepção, mesmo como homem, era rei e senhor de todas as coisas, pela união hipostática da natureza humana com o Verbo. Por isso muito bem escreveu S. João Damasceno: "Tornou-se verdadeiramente senhora de toda a criação, no momento em que se tornou Mãe do Criador"."[3]

"Dessas premissas se pode argumentar: Se Maria, na obra da salvação espiritual, foi associada por vontade de Deus a Jesus Cristo, princípio de salvação, e o foi quase como Eva foi associada a Adão, princípio de morte, podendo-se afirmar que a nossa redenção se realizou segundo uma certa "recapitulação", pela qual o género humano, sujeito à morte por causa duma virgem, salva-se também por meio duma virgem; se, além disso, pode-se dizer igualmente que esta gloriosíssima Senhora foi escolhida para Mãe de Cristo "para lhe ser associada na redenção do género humano", e se realmente "foi ela que – isenta de qualquer culpa pessoal ou hereditária, e sempre estreitamente unida a seu Filho – o ofereceu no Gólgota ao eterno Pai, sacrificando juntamente, qual nova Eva, os direitos e o amor de mãe em benefício de toda a posteridade de Adão, manchada pela sua desventurada queda" poder-se-á legitimamente concluir que, assim como Cristo, o novo Adão, deve-se chamar rei não só porque é Filho de Deus mas também porque é nosso redentor, assim, segundo certa analogia, pode-se afirmar também que a bem-aventurada virgem Maria é rainha, não só porque é Mãe de Deus mas ainda porque, como nova Eva, foi associada ao novo Adão."[4]

"Procurem pois todos, e agora com mais confiança, aproximar-se do trono da misericórdia e da graça, para pedir à nossa Rainha e Mãe socorro na adversidade, luz nas trevas, conforto na dor e no pranto; e, o que é mais, esforcem-se por se libertar da escravidão do pecado, e prestem ao ceptro régio de tão poderosa Mãe a homenagem duradoura da devoção filial. Frequentem as multidões de fiéis os seus templos e celebrem-lhe as festas; ande nas mãos de todos a piedosa coroa do terço; e reúna a recitação dele – nas igrejas, nas casas, nos hospitais e nas prisões – ora pequenos grupos, ora grandes assembleias, para cantarem as glórias de Maria."[5] (No entanto,) "[n]em presuma alguém ser filho de Maria, digno de se acolher à sua poderosíssima protecção, se a exemplo dela não é justo, manso e casto, e não mostra verdadeira fraternidade, evitando ferir e prejudicar, e procurando socorrer e dar ânimo."[6]

"Em algumas regiões da terra, não falta quem seja injustamente perseguido por causa do nome cristão e se veja privado dos direitos divinos e humanos da liberdade. Para afastar tais males, nada conseguiram até hoje justificados pedidos e reiterados protestos. A esses filhos inocentes e atormentados volva os seus olhos de misericórdia, cuja luz dissipa nuvens e serena tempestades, a poderosa Senhora dos acontecimentos e dos tempos, que sabe vencer a maldade com o seu pé virginal. Conceda-lhes poderem em breve gozar a devida liberdade e cumprir publicamente os deveres religiosos. E, servindo a causa do Evangelho – com o seu esforço concorde e egrégias virtudes, de que no meio de tantas dificuldades dão exemplo – concorram para o fortalecimento e progresso das sociedades terrestres."[7]

"Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus veio ao mundo e por ela também deverá Jesus reinar no mundo."[8] "Se, como é certo, o conhecimento e o Reino de Cristo chegarem ao mundo, isto será necessária consequência do conhecimento e do reino da Santíssima Virgem Maria".[9] "Por fim, o meu Imaculado Coração Triunfará".[10] Que venha o Reino de Maria, para que assim venha o Reino de Jesus Cristo!
  
Ad Iesum Per Mariam!

PF

Notas:
 

[1] Meditações dos Primeiros Sábados - Pe. António de Almeida Fazenda, SJ
[2] Papa Francisco, 31-05-2016, Homília na Casa de Santa Marta
[3] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 33
[4] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 36
[5] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 46
[6] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 47
[7] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 48
[8] S. Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria, p. 1
[9] S. Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria, p.13
[10] Irmã Lúcia dos Santos, Terceira Parte do Segredo de Fátima, Tuy, 3-1-1944


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segunda-feira, 30 de maio de 2022

10 novos diáconos para a Fraternidade de São Pedro

Pela primeira vez em 35 anos, na Alemanha, um Bispo titular fez uma ordenação em Rito Tradicional Romano na sua diocese. Trata-se de Mons. Bertram Meier, Bispo de Augsbourg, a diocese onde se encontra o Seminário da Fraternidade Sacerdotal de São Pedro (em Wigratzbad). Foram ordenados 10 diáconos na igreja paroquial de Lindenberg.












Fotografias: fsspwigratzbad.blogspot.com

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Santa Joana d'Arc, padroeira de França

Nasceu em Domremy, Champagen (França) em 1412. Morreu em Rouen a 31 de Maio de 1431. O pai de Joana, Jaques D’Arc era um fazendeiro e Joana nunca aprendeu a ler ou a escrever. 

Quando tinha ela 13 ou 14 anos teve a sua primeira experiência mística. Ouviu uma voz chamando-a, acompanhada de uma luz. Ela teve as visões quando cuidava das ovelhas do seu pai. Visões posteriores eram compostas de mais vozes e ela foi capaz de identificar as vozes como sendo de São Miguel Arcanjo, Santa Catarina de Siena e Santa Margarida, entre outras. As suas mensagens tinham um fim especifico: apresentar-se a Robert Bauricourt, que comandava o exército do Rei. Joana convenceu um tio a levá-la, mas Bauricourt riu-se dela e recomendou que o seu pai a disciplinasse. 

Mas as visões continuaram e Joana, secretamente, deixou a sua casa e retornou a Vancoulers. Baudricourt duvidou dela, mas modificou a sua posição quando chegaram as noticias de sérias derrotas nas batalhas de Herrings do lado de fora de Orleães, em Fevereiro de 1429, exactamente conforme Joana havia predito. Ele enviou Joana com uma escolta para o falar com o Rei e ela escolheu viajar disfarçada com roupas de homem para a sua própria protecção. Em Chinon, o Rei Carlos estava disfarçado, mas ela identificou-o e por sinais secretos comunicaram e ela convenceu-o a acreditar na origem divina das sua visões e da sua missão.

Santa Joana pediu uma tropa de soldados para ir a Orleães. O seu pedido foi muito polémico na corte e ela foi enviada para ser examinada por um painel de teólogos em Poitiers. Após um exame de três semanas, o painel aconselhou que o Rei fizesse uso dos seus serviços. Diz a tradição que um dos membros do painel era um cardeal que conhecia a verdadeira aparência de São Miguel Arcanjo, secretamente guardado nos arquivos de Roma, e quando perguntou a Joana como era São Miguel, a santa descreveu-o exactamente como estava descrito no arquivo secreto em Roma. 

Foi-lhe dada a tropa e um estandarte especial feito para ela com a inscrição "Jesus:Maria" e o símbolo da Santíssima Trindade na qual dois anjos lhe presenteavam uma flor-de-lis e Joana vestia um armadura branca. A sua tropa entrou em Orleães no dia 29 de Abril e a Sua presença revigorou a cidade. No dia 8 de maio as forças inglesas que cercavam a cidade foram capturadas. Ela foi ferida no peito por uma flecha, o que reforçou a sua reputação de guerreira. 

Começou uma campanha em Loire com o Duque d’ Alençon, e tornaram-se grandes amigos. A campanha teve grande sucesso em parte graças ao elevado moral das tropas, com a presença de Joana e as tropas britânicas retiraram para Paty e de lá para Troyes. Joana tentava agora fazer com que o Rei aceitasse a sua própria responsabilidade e lutou pela sua coroação em 17 de Julho de 1429. E a missão de Joana, conforme as suas visões, estava completa. 

Daí em diante, como o Rei Carlos não forneceu suporte nem a sua presença, conforme prometido, Joana sofreu varias derrotas. O ataque a Paris falhou e ela foi ferida na coxa. Durante a trégua de Inverno, Joana ficou na corte onde continuava sendo vista com cepticismo. Quando as hostilidades recomeçaram ela foi para Compiegne onde os franceses resistiam ao cerco dos Burbundians. A ponte movediças foi fechada demasiado cedo e Joana e suas tropas ficaram do lado de fora. Foi capturada e levada ao Duque de Burgundy a 24 de Maio. Ficou prisioneira até o fim do Outono. 

O Rei não fez nenhum esforço em libertá-la. Ela havia previsto que o castelo seria entregue ao ingleses e assim aconteceu. Foi vendida aos lideres ingleses na negociação. Os ingleses estavam determinados a ficarem livres do poder de Joana sobre os soldados franceses. Como os ingleses não podiam executá-la encontraram uma maneira de julgá-la como herege. 

No dia 21 de Fevereiro de 1431 ela apareceu a um tribunal liderado por Peter Cauchon, bispo de Beauvais, que esperava que os ingleses o fizessem Arcebispo de Rouen. Ela foi interrogada sobre as vozes, a sua fé e a sua vestimenta masculina. Um sumário falso e injusto foi feito e as suas visões foram consideradas impuras na sua natureza, uma opinião suportada pela Universidade de Paris. O tribunal declarou que, se ela se recusasse a retratar, entregue aos seculares como herege . 

Teve a coragem de declarar que tudo que havia dito antes era verdade, que havia recuperado a sua força e que Deus a havia enviado para salvar a França dos ingleses. 

Assim, no dia 30 de Março de 1431, ela foi levada a praça pública do mercado em Rouen e queimada viva. Joana não tinha ainda 20 anos. As suas cinzas foram atiradas ao rio Sena. Em 1456 a sua mãe e dois irmãos apelaram para a reabertura do caso, e o Papa Calisto III assim fez. O julgamento e o veredicto foram anulados e ela considerada como uma santa virgem e mártir. Foi chamada La Pucelle, "a Virgem de Orleães". 

Na arte litúrgica da Igreja, Santa Joana é aparece como uma jovem numa armadura, com uma espada, ou uma lança e às vezes com uma bandeira, com as palavras "Jesus:Maria", e por vezes com um capacete. Nas pinturas mais antigas, ela tem longos cabelos que caem nas suas costas, para mostrar que era virgem. Certas vezes aparece incentivando o Rei, ou seguida de uma tropa, ou em roupas femininas com um espada. 

Santa Joana d'Arc venerada durante séculos, e foi finalmente beatificada em 1909 e canonizada em 1920. Foi declarada oficialmente padroeira da França em 1922. 

adaptado de catolicismoromano.com.br


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domingo, 29 de maio de 2022

7 semelhanças entre o Terço e a Missa Tradicional

1. Repetição útil. Como todos os seres humanos normais sabem, e como aparentemente os reformadores litúrgicos não sabiam,  a repetição é extremamente útil e importante em todo o discurso humano - como demonstrado nas linhas rítmicas dos poetas, nas conversas íntimas das pessoas que se amam, nas elevadas visões dos místicos, nas árias dos compositores de ópera, e nos frequentes pedidos das crianças para ouvir a mesma história. Nós repetimos aquilo que é amoroso para aqueles que amamos. O Terço exemplifica esta prática, mas também a liturgia tradicional, seja a Santa Missa ou o Ofício Divino. As muitas repetições aqui reforçam, amplificam e dão expressão aos pensamentos e sentimentos do coração. 

Foi um exercício cruel de racionalismo cortar as supostas "inúteis" repetições como os muitos beijos do altar, as muitas enunciações "Dominus vobiscum", o Confiteor duplo, as nove vezes do Kyrie, os sinais da Cruz, as múltiplas orações antes da comunhão, o duplo "Domine, non sum dignus" dito três vezes. Pergunto-me se os responsáveis por esta deformação tiveram o desgosto de serem crianças negligenciadas que não ouviram poesia ou histórias repetidas vezes sem conta.

O único tipo de repetição que Nosso Senhor proíbe é repetição manipulativa ou sem razão. Quando uma pessoa repete vocábulos sem intenção nenhuma, ou repete palavras como feitiços que podem exercer poder sobe um outro objecto (incluindo dirigidos aos deuses, na maneira pateta como alguns pagãos os pensam). Piedade católica tradicional usa a repetição numa maneira inteiramente diferente, para honra de Deus e benefício da alma.

2. Concentração em mistérios, não em actividade. O Terço é como o saltério de Nossa Senhora: é, por assim dizer, os 150 salmos dos pobres. Mas estes pobres somos cada um de nós, todos nós; somos pobres pedintes que se ajoelham diante do trono de Deus, procurando a Sua misericórdia e bênção às mãos da Sua Santa Mãe. As orações do Terço são em si duma riqueza sem medida, inesgotáveis, a fonte de uma vida de união orante com Jesus. 

Algum tempo após o aparecimento do Terço, a meditação nos mistérios da vida de Jesus e Maria foi adicionada como enquadramento para as dezenas. Notem como o Terço nos faz abrandar e focar a nossa atenção nos mistérios divinos, não no apostolado externo ou num activismo frenético. Aponta mais para o ser do que para o fazer. A Missa tradicional, também, é libertada da estranha preocupação dos nossos tempos com a utilidade, com os resultados instantâneos e com nova evangelização de tudo. O Terço e a Missa formam-nos, alimentam-nos e envolvem-nos nos mistérios de Nosso Senhor, através de quem somos salvos. Isto é o pré-requisito para fazer o que for pelo reino de Deus - e é o objectivo de todo o trabalho que fazemos.

3. Foco no Senhor e na Sua Mãe, não no povo. O Terço, mesmo quando recitado em grupo, é ainda uma oração "vertical": não é sobre o grupo, ou acerca do grupo, ou focado em atender às suas necessidades reais ou estimadas, ou uma tentativa de persuadir ou incentivar alguma resposta em particular. Como a Missa, faz de facto as pessoas mais unidas, responde às nossas necessidades, e extrai de facto respostas. Mas a sua atenção, o seu propósito, toda a sua orientação, é outra.

Isto é talvez o aspecto mais notável e digno de louvor da Missa tradicional: em todas as alturas, excepto a homilia, a Missa é manifestamente um acto de culto dirigido a Deus Omnipotente, Pai, Filho e Espírito Santo, um exercício do sacerdócio de Cristo e um sacrifício do Seu Corpo e Sangue. Claramente não é um get-together social no qual o celebrante e a congregação se voltam uns para os outros e são servidos refrescos.

4. Escola de disciplina. Conquanto não haja nada de errado com recitar o Terço sentado, muitas pessoas rezam-no ajoelhadas. Isto é duro para os joelhos e para as costas: não é por nada que ajoelhar é considerado uma postura penitencial nas Igrejas Orientais, e que os católicos tradicionalmente ajoelham-se no sacramento da penitência. O Terço é uma oração que convida, e de certa medida, exige, disciplina: a disciplina do corpo, e ainda mais, da alma. Quando a atenção começa a deambular temos de trazê-la gentil, mas firmemente, de volta para a oração. É uma oração de perseverança: temos de lhe aderir, para o que der e vier. O diabo certamente não quer que continuemos a rezar o Terço. Pelo menos na minha experiência de vida, o Terço não é uma oração que se compreenda automaticamente; temos de crescer para junto dela, com confiança nas promessas de Nossa Senhora.

A Missa antiga é um verdadeiro bootcamp de disciplina espiritual. Na Missa rezada, é costume, pelo menos nos Estados Unidos, ajoelhar durante quase toda a Missa, do princípio ao fim. Não consigo expressar a ajuda que isto tem sido para a minha preguiça. Na Missa solene, também, há muitos momentos de joelhos, e toda a liturgia é longa - sem pressa aqui, e sim, Deus é mais importante que tudo o resto que nós ou as nossas famílias possam estar a fazer em casa, portanto ultrapassemos a nossa impaciência. Se alguém tem um grande número de filhos, os desafios acumulam.[1] Terço e o rito antigo da Missa exigem - e recompensam - a disciplina.

5. Uso de sinais tangíveis junto com oração vocal e mental. Estou convencido que uma das simples razões pelas quais gostamos do Terço é que é um objecto físico: um conjunto de contas, agrupadas em padrões, com medalhas e um crucifixo. Os católicos tendem a gostar de coisas físicas, porque Deus as ama. Ele criou o mundo material para se tornar uma das maneiras de comunicar connosco e uma das maneiras nas quais podemos comunicar com Ele.

Portanto o Terço não é apenas um conjunto de palavras (a maldição da verbosidade), nem um Monte Evereste de oração mental (a maldição da devotio moderna levada ao extremo), mas uma tríade harmoniosa: as palavras repetidas, os mistérios ordenados e as contas. Há algo para cada um de nós - e, para ser honesto, isto significa que, por vezes, parte de nós vai saltar e liderar o resto de nós. Alguma vez notámos que há dias em que parecer que os nossos dedos estão a rezar mais que os lábios e a mente? Temos de ser suficientemente humildes para ser carregados pelas nossas próprias mãos.

A comparação com a Missa tradicional não está longe. Está mais repleta de sinais físicos do sagrado, do princípio ao fim, dando-nos mais cavilhas às quais agarramos as nossas orações. Permite uma grande latitude para a meditação: ninguém está constantemente à espera que se faça isto, diga aquilo, "todos juntos agora"! Há silêncio para descansar, canto para nos expandirmos, cerimónia para assistir, tempo e espaço para rezar, e, quando Deus nos favorece, uma conexão intemporal com Ele que nada mais pode trazer. A Missa antiga não é demasiado cerebral ou demasiado dita, como se fosse uma palestra apontada a melhorar moralmente os fiéis (diversas vezes um esforço vão, até na melhor altura). É um acto de culto ao qual nos podemos agarrar, no qual podemos encontrar Deus.

Os Missais, bem manuseados por aqueles que ouvem Missa, e os véus bem usados pelas mulheres, são como as contas do Terço, lembretes tangíveis do que estamos a fazer. É suficiente olhar de soslaio para uma antífona ou para uma página do Ordinário para levar os nossos pensamentos dispersos de volta para o mistério central.

6. É recebido como algo basicamente inalterado por séculos. O Terço existe há muito tempo - e não nos atrevamos a brincar com ele.[2] Não sugerimos um "Terço reformado" do qual todas as "repetições inúteis" foram retiradas. Não transformamos a forma recebida, do avesso, para a tornar mais aceitável ou ameno para o homem moderno. Não o desfazemos por ter desenvolvimento medieval ou como uma relíquia suplantada de crédula "Mariolatría". Não; nós mantemo-lo, valorizamo-lo, preservamo-lo, entregamo-lo intacto aos nossos filhos.

A lógica, a atitude, a espiritualidade é a mesma no que toca à Santa Missa. Na sua forma clássica, o Rito Romano em Latim foi desenvolvido organicamente por 1500 anos - com o seu desenvolvimento a abrandar nos séculos recentes, porque tinha atingido perfeição formal, perfeitamente proporcionada à glorificação do Deus Uno e Trino e às necessidades da comunidade orante. Somos humildemente privilegiados ao receber este tesouro imenso. Amamo-la e vamos entregá-la aos nossos filhos.

7. Nossa Senhora é invocada, pelo nome, muitas vezes. Isto é obviamente verdade no Terço, o que torna esta devoção num correctivo saudável ao racionalismo protestante que reduziria a oração a dirigirmo-nos a Deus apenas, ignorando a Sua Mãe e todos os Seus filhos, os santos, e desta maneira insultando-O e pecando contra as Suas disposições providenciais.

Da mesma maneira, a Missa tradicional exalta adequadamente Nossa Senhora mencionando-a várias vezes - nas orações fixas apenas, 10 ou 11 vezes, dependendo do dia.[3] Neste honrar frequente da Santa Theotokos, o Rito Romano mostra o seu parentesco com todas as outras liturgias cristãs autenticas, como a Divina liturgia de S. João Crisóstomo.

A liturgia tradicional, como o Terço, nunca se cansa de voltar a chamar a sua memória e de invocar a intercessão da toda-gloriosa Mãe do nosso Deus e Senhor, Jesus Cristo.

Talvez parte da razão para a continua popularidade do Terço seja que ele nutre a vida espiritual em várias maneiras semelhantes àquelas como a Missa tradicional fazia (e ainda faz, onde existe). Isto talvez possa explicar também o encaixe natural entre assistir a uma Missa rezada, rezando o Rosário. Enquanto rezar o Rosário durante a Missa talvez não seja a forma ideal de participar interiormente nas riquezas da sagrada liturgia, sabemos que a Igreja, ainda assim não proíbe ou desencoraja tal coisa na Missa rezada, e apenas apontamos que existe parentesco entre a oferta silenciosa da oração pública da Igreja e da reza silenciosa do terço de Nossa Senhora.

Existe consolação neste facto, Pois, se estamos correctos, a oração do Terço está a preparar um largo contingente de católicos para redescobrir e regressar à Missa antiga, tão profunda e puramente mariana na sua espiritualidade.[4]

Salve, Rainha do Santíssimo Rosário! Salve, Nossa Senhora da Victoria! Rogai por nós pecadores neste vale de lágrimas, e obtende de Vosso Filho a muito esperada restauração da grande e bela liturgia da Igreja Romana. Amen.

Peter Kwasniewski in Rorate Caeli
Notas:
[1] Ver o artigo Ex ore infantium: Children and the Traditional Latin Mass” e os links lá providenciados.
[2] Claro que os Mistérios Luminosos são uma espécie de invenção, mas a ideia de usar mistérios alternativos da vida do Senhor é muito antiga e recomendada pelo próprio apóstolo do Rosário, S. Luís Maria Grignion de Monfort. Isto não significa, no entanto, que os católicos têm de adoptar os Mistérios Luminosos; até João Paulo II os apresentou como opcionais.
[3] A variação é causada pela diferença entre a Missa rezada e a Missa solene.
[4] Algo como isto, é claro, estava a acontecer de maneira espontânea e orgânica com os Frades Franciscanos da Imaculada.


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Primeira Comunhão




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sábado, 28 de maio de 2022

Quão negra era a "Idade das Trevas"?



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Ex-recluso conta como os visitadores católicos mudaram a sua vida na prisão

José Silva esteve três anos e sete meses preso na cadeia de Angra do Heroísmo por tráfico de droga. Em pequeno ia à Missa com os pais mas o hábito foi-se perdendo à medida que outros interesses o iam puxando para a vida terrena. Ao ponto de ter entrado no mundo da droga, o mesmo que o levou à cela da prisão. Ali, além das paredes frias e dos olhares julgadores, encontrou quem lhe mudaria a vida. Deus. Os visitadores da pastoral penitenciária foram a “tábua de salvação”, diz o jovem cabo-verdiano.

Sem família na ilha, José Silva ansiava por chegar ao fim de semana para se encontrar com os visitadores e “aquela hora que eu passava com eles era tudo para mim”. Visitas habituais que se misturavam com outras esporádicas “nas festas, quando fazia anos eles faziam um bolo e iam lá cantar os parabéns”. 

Gestos que levam o jovem a admitir que “fui bombardeado com amor e carinho”. E isso é o que faz as pessoas mudarem porque “uma pessoa por mais mal que fez, se for atacado com amor e carinho, tem de parar para pensar um bocadinho”. 

A postura de não julgamento dos visitadores foi determinante, confessa o jovem, que salienta que “essas pessoas não querem saber o que é que eu fiz, essas pessoas estão simplesmente a mostrar amor e carinho e isso é que é importante.” E, assim, conseguem fazer vir ao de cima o melhor que a pessoa tem escondido lá dentro, ”conseguem cativar na pessoa outra perspectiva de vida, outra maneira de ver as coisas.” 

No seu ponto de vista, “é por aí que a pessoa pode mudar” e não através do julgamento e da condenação. Como provou Jesus Cristo em toda a sua breve vida. “O castigo só revolta a pessoa”, garante o ex-recluso. “Nós precisamos de pessoas que olhem para nós com amor de mãe, foi esse amor de mãe que eu senti lá dentro por parte dos visitadores”. 

Um apoio que não pediu mas que foi oferecido pelos próprios colaboradores da pastoral penitenciária. Começou por ir à Missa e gostou tanto que “nos últimos anos já fui à Missa mais vezes do que em toda a minha vida”. E se havia um dia em que não podia ir à Missa “ficava triste”. 

Lembra-se de um desses dias. Foi quando a imagem de Nossa Senhora de Fátima esteve na cadeia. Devido a um problema administrativo, o seu nome não constava da lista dos reclusos que iriam assistir à celebração. Enquanto a Missa decorria, as lágrimas corriam pela sua face. Uma situação que, ao menos, serviu para sentir, admite, “a necessidade de estar lá”. Agora, cada vez que vai à missa tem “uma sensação inexplicável de que só consegue ter uma noção quem a consegue sentir”.

“A minha vida mudou bastante” diz. “Já li a Bíblia umas três vezes do princípio ao fim, levo o meu filho de sete anos à catequese, rezo com ele e já aprendi muitas orações que não sabia”. “Hoje tenho outra vida”, diz, reconhecido, o jovem que pisou este Sábado pela primeira vez o solo de Fátima, embora esteja há 27 anos a viver em Portugal.

Paula Costa Dias in Rádio Renascença


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sexta-feira, 27 de maio de 2022

Algumas Dicas sobre a Oração

A Oração, segundo eminentíssimos Santos e Padres da Igreja, é um elevar-se da alma a Deus que desemboca num diálogo com Ele. S. Francisco de Assis considerava fundamental uma consciência não só da sua miséria, mas também da grandeza e Majestade de Deus, por isso repetia, inclusive durante vigílias muito prolongadas ‘Quem és Tu, Deus Omnipotente e Misericordioso, e o que sou eu, miserável verme, indigno de ti’. As orações que compôs são essencialmente como que um esquecimento de si mesmo e um extasiar-se em Deus, louvando-O continuamente não só por Ele ser quem É, mas também por toda a Criação, que não só O revela, como nos ajuda a reconhecer e cantar, com profunda gratidão, todas as Suas obras.

Sta. Teresa de Jesus (de Ávila) ensinava que antes de rezar devíamos considerar quem fala - nós grandes pecadores -, com Quem fala - com Sua puríssima e Santíssima Majestade Divina -, e como se fala, isto é, com toda a humildade e Reverência. Esta mística extraordinária, dizia que a Oração era ‘Um entreter-se de amizade, estando muitas vezes a sós, com Alguém (Jesus Cristo) que sabemos que nos ama’. Por insistência das Irmãs, que lhe pediam um livro sobre a Oração, escreveu o “Caminho da Perfeição”. Poderá parecer extraordinário, mas a verdade é que quase todo texto se refere às condições indispensáveis para a Oração, a saber, o desapego ou desprendimento quer de coisas quer de pessoas; a humildade, ou verdade, que proporciona o conhecimento de Deus na Sua grandeza e o da própria pessoa como inteiramente dependente do Criador, e também no conhecimento da sua miséria, embora esta seja vista à luz da Infinita Misericórdia Divina; e a caridade em tudo para com todos aqueles que nos rodeiam. Sta. Teresa considerava que sem estas virtudes não seria possível uma verdadeira vida de Oração-contemplação.

Na sua autobiografia, e no seu livro das Moradas torna muito claro, contrariando muitos teólogos de então, que a verdadeira e mais elevada Contemplação não é possível senão através da humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, e aponta como exemplo S. Francisco de Assis. Compreende-se, entre outras influências, a marcante Direcção Espiritual, por parte do sublime S. Pedro de Alcântara, franciscano, não só durante a sua vida terrena, mas mesmo depois da sua morte, uma vez que, segundo o testemunho da própria, continuou a acompanhá-la.

Nos tempos idos em que se debatiam distinções agudas entre oração vocal e oração mental, Sta. Teresa não titubeia e afirma claramente que toda a Oração vocal que seja rezada com atenção, considerando o que se diz, é necessariamente Oração mental.

O P. António Vieira, jesuíta, que escreveu trinta magníficos Sermões sobre o Rosário (o Terço), a determinada altura pergunta-se como será possível que uma Oração tão potente rezada por tanta gente não dê os frutos esperados e prometidos. A esta interrogação responde dizendo que o Terço não tem sido bem rezado, pois para sê-lo não basta recitar as orações, mas mais importa meditar os Mistérios da vida de Cristo. E adianta, quando rezamos o Pai-nosso e as Ave-marias falamos nós com Deus, mas quando meditamos os Mistérios da vida de Cristo é Deus que fala connosco; e acrescenta, é muito mais importante escutar atentamente o que Deus nos diz do que aquilo a que Ele dizemos. Uma vez que falamos do Terço do Rosário, parece vir a propósito recordar que até S. Pio V somente se rezava a primeira parte da Ave-Maria que terminava com o Nome de Jesus. S. Pio V, certamente inspirado pelo Espírito Santo, acrescentou a segunda parte, a saber, ‘Santa Maria, etc.’

Sto. Inácio de Loyola sintetiza nos seus Exercícios Espirituais a tradição dos Padres do deserto, das Ordens Monásticas e Religiosas que o antecederam. Mesmo as suas regras de discernimento já se encontravam em grandes autores e pregadores espirituais. Isto em nada diminui o seu mérito. Aliás os seus Exercícios tiveram um impacto enorme e muito positivo na Igreja. Infelizmente, hoje em dia, em algumas regiões, são utilizados de um modo que Sto. Inácio nunca admitiria, a saber, manipulados, em nome do discernimento, para fugir à Doutrina da Igreja sobre os absolutos morais, induzindo muitos a pensar que podem em boa consciência praticar aquilo que é intrinsecamente perverso (mau). Ora os absolutos morais obrigam sempre, em qualquer circunstância e sem excepção alguma.

Sta. Teresinha do Menino Jesus praticou e ensinou a “Infância Espiritual”. Este caminho tão extraordinário, acessível a qualquer Crente, conquistou uma imensidade de almas para o Amor a Jesus. Mas, segundo grandes teólogos, por exemplo, Hans Urs von Balthasar, terá sido a sua fase, no final da sua vida - em que experimentou tremendas dúvidas de Fé, permanecendo, não obstante, na firmeza da fidelidade Àquele em que sempre acreditou -, que Sta. Teresinha suportou vicariamente o ateísmo do séc. XIX, passando de algum modo para esses ateus a Fé em Deus.

Sta. Isabel da Trindade, também ela carmelita, recebeu Graças extraordinárias, sendo que a principal foi a de tomar consciência da habitação da Santíssima Trindade na sua alma. Toda ela se deixava absorver por essa Presença. O Pai, o Filho e o Espírito Santo estavam nela, como estão em todas as almas em Graça. No entanto, há tantos que não têem esta consciência. Dessa consciência e meditação contínua brotou toda a sua alegria, toda a sua devoção e contemplação: ‘O Céu é Deus, tenho Deus na minha alma, porque em mim habitam o Pai, o Filho e o Espírito Santo, por isso possuo o Céu na terra.

Padre Nuno Serras Pereira


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