terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O Papa Francisco de 2014 - Todo o ano num discurso

Estamos naquela altura do ano em que todos os blogs, jornais e canais de televisão põem o ano que passou em revista. 

Aqui no Senza, para rever o ano, iremos olhar para um dos discursos do Papa Francisco de 2014 que irá marcar definitivamente o próximo 2015.

Refiro-me ao discurso que o Papa Francisco fez no final do Sínodo pela Família. Este discurso foi muito importante não só pelos seus conteúdos, mas também pela forma e contexto em que foi feito.

Poucos dias depois do Sínodo, o Sr. Patriarca de Lisboa deu uma conferência no Oratório de S. Josemaria para contar como tinha sido a sua experiência naqueles dias em Roma. Uma das coisas que disse foi que, ao contrário de Bento XVI, o Papa Francisco quase não falou durante o Sínodo e raramente manifestou qualquer expressão que indicasse o que pensava.

Por isso foi como se o Santo Padre se estivesse a guardar para este discurso. O discurso completo do Papa pode ser encontrado aqui.

Há uns dias o Papa Francisco falou nas doenças da cúria. Pois bem, já há uns meses, nesse discurso, tinha falado nas tentações dos Bispos, no Sínodo. No seu texto, o Papa referiu quatro tentações:
1. A tentação "de querer fechar-se dentro do escrito (a letra) e não deixar-se surpreender por Deus (...) é a tentação dos zelosos, dos escrupulosos, dos cuidadosos e dos assim chamados – hoje – “tradicionalistas”."
Das quatro, esta é a única tentação que se pode aplicar ao que a imprensa chama "lado conservador". Todas as outras foram um aviso ao chamado "lado liberal" do Sínodo. Mas esta é uma nomenclatura perigosa e, diga-se, pouco Católica.

Mas a tentação em si é justíssima. É verdade que a doutrina da Igreja em relação à Comunhão dos recasados não pode ser alterada. Mas não podemos ficar de braços cansados a pensar que já está tudo feito, diz o Papa. É preciso que os Cristãos trabalhem para melhorar e procurem novas soluções que ajudem quem mais precisa, neste caso os cristãos com "segundos casamentos" ou a família num sentido mais geral.
2. "A tentação do “bonismo” destrutivo, que em nome de uma misericórdia enganadora, enfaixa as feridas sem antes curá-las e medicá-las (...)"
Segundo esta tentação, seria muito fácil pegar na misericórdia de Deus e usá-la para fechar os olhos a problemas concretos. Não foi isso que Jesus fez com a mulher adúltera. Nesse episódio, a misericórdia de Deus implicou uma mudança de vida real: "Vai e não voltes a pecar." Há uns meses cinco eminentes Cardeais escreveram um livro em que explicam que seria prejudicial permitir a Comunhão às pessoas recasadas.
Papa Francisco com o Cardeal Muller, Prefeito da Doutrina da Fé e um dos cinco autores do livro sobre os recasados.
3. "A tentação de descer da cruz, para contentar as pessoas, e não permanecer lá, para realizar a vontade do Pai."
Esta tentação é parecida com a anterior. Às vezes, como cristãos, esquecemo-nos que a Cruz foi o caminho escolhido por Deus para nos salvar. Mas o sofrimento é uma auto-estrada para o Céu: ou aprendemos isto ou ficamos no mesmo ponto. Temos que reaprender sempre que, para ser Santos, devemos enfrentar o sofrimento e passar por ele em vez de fugir. Há uns meses, um psicólogo dinamarquês, Católico converso e especialista em aconselhamento matrimonial, esteve a falar em Lisboa. Ele explicou que a união dos casais com problemas passa precisamente por aqui, pois os conflitos surgem quando cada cônjuge está à procura de fugir das suas dificuldades e começa a meter as culpas no outro, em vez de as enfrentar.

É importante perceber que, neste discurso, o Papa não se referia apenas à questão da Comunhão dos recasados, nem era esse o objectivo principal do Sínodo. Mas foi sem dúvida nesse tema que houve mais polémica, por isso como se pode aplicar esta tentação aqui? Bem, percebendo que fechar os olhos para passar por cima do que custa (ou seja, fugir do não poder comungar) é errado.
4. "A tentação de negligenciar o “depositum fidei”, considerando-se não custódios, mas proprietários ou donos (...)"
Ao ler isto não podemos deixar de nos alegrar! Estamos fartos de ouvir dizer que o Papa Francisco quer mudar a lei e a doutrina da Igreja, mas aqui o Papa diz explicitamente que não é isso que ele quer fazer. Mais ainda, se o fizesse estaria a cair numa tentação.

Mais uma vez se prova que não é intenção do Papa Francisco alterar a doutrina da Igreja no que toca à Comunhão de pessoas recasadas mas também em relação à aceitação dos actos homossexuais, por exemplo.

Reparem, não sou eu que digo isto, mas o próprio Papa:
"(...) senti que [no Sínodo] foi colocado diante dos próprios olhos o bem da Igreja, das famílias e a “suprema Lex”, a “salus animarum”. E isto sempre (...) sem colocar nunca em discussão as verdades fundamentais do Sacramento do Matrimônio: a indissolubilidade, a unidade, a fidelidade e a ‘procriatividade’, ou seja, a abertura à vida."
Por fim, quase como resposta a tudo o que se houve na imprensa sobre a Igreja nos dias de hoje, o Papa Francisco explicou que não faz sentido falar em divisões numa Igreja guiada pelo Espírito Santo:
"Muitos comentaristas, ou pessoas que falam, imaginaram ver uma Igreja em atrito, onde uma parte está contra a outra, duvidando até mesmo do Espírito Santo, o verdadeiro promotor e garante da unidade e da harmonia na Igreja. O Espírito Santo que ao longo da história sempre conduziu a barca através dos seus Ministros, mesmo quando o mar era contrário e agitado e os Ministros infiéis e pecadores."
E o Papa reforça esta ideia de unidade na Igreja com o seu poder petrino:
"(...) como vos ousei dizer no início do Sínodo, era necessário viver tudo isto com tranquilidade, com paz interior, porque o Sínodo se desenvolve cum Petro et sub Petro, e a presença do Papa é garantia para todos."
E, não podia faltar, termina esta ideia citando o grande Papa Bento XVI:
"(...) como explicou com clareza o Papa Bento XVI, com palavras que cito textualmente: “(...) o Senhor Jesus, Pastor Supremo das nossas almas, quis que o Colégio Apostólico, hoje os Bispos, em comunhão com o sucessor de Pedro... participassem desta missão de cuidar do Povo de Deus, de serem educadores na fé (...)"
No final do discurso, o Papa Francisco voltou a reforçar a fidelidade à tradição da Igreja.
"O Papa, neste contexto, não é o senhor supremo, mas sim um supremo servidor – o “servus servorum Dei”; o garante da obediência e da conformidade da Igreja à vontade de Deus, ao Evangelho de Cristo e à Tradição da Igreja, deixando de lado todo arbítrio pessoal"
Ou seja, o Papa tem a função de guardar a tradição, independentemente do que acha.

Depois disto é fácil pensar que este foi um discurso único, diferente de tudo o que o Papa tem dito. Mas eu pergunto, será mesmo?

A verdade é que no fim-de-semana de conclusão do Sínodo, o Papa Francisco beatificou o Papa Paulo VI, famoso por ter escrito a encíclica Humanæ Vitæ onde explica que não se deve usar contracepção no acto conjugal. E, poucos dias depois, no encontro com o movimento de Schoenstatt, o Papa Francisco disse que a família e o matrimónio nunca sofreram tantos ataques como nos dias de hoje. Em Novembro, num congresso sobre a complementaridade entre o homem e a mulher, o Papa afirmou que "as crianças têm o direito a nascer com um pai e uma mãe"E ainda esta semana o Papa Francisco disse que as famílias numerosas são a esperança da sociedade.

Nuno CB


Papa Francisco e o Papa Bento XVI na Santa Missa de Beatificação do Papa Paulo VI


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D. Manuel Clemente reza o Rosário todos os dias

Numa entrevista ao jornal Público, o Patriarca de Lisboa disse que reza diariamente o Rosário:

"Na oração pessoal, que faço todos os dias, há muitos anos que rezo o rosário completo. Dantes havia três séries de orações: os mistérios gozosos, lembrando a infância de Jesus, os mistérios dolorosos, sobre a paixão de Jesus, e os mistérios gloriosos sobre a ressurreição. O Papa João Paulo II juntou os mistérios luminosos, que dizem respeito à vida pública de Jesus. Isto dá duzentas Avé Marias, mais os Pai Nossos. Não deve haver muitos dias que não reze [todos]. Aproveito o tempo. As deslocações.

Para que a minha imaginação não dispare e eu permaneça sempre ligado, com a recitação dessas orações, aos episódios da vida de Jesus. As cenas em que medito são as do dia-a-dia. Por exemplo, no tráfico de Lisboa, a conduzir o carro. Penso no mistério da visitação. Maria leva Jesus até Isabel. Rezo para que a vida das pessoas, dos carros, dos autocarros, seja também uma visitação. Que levem Jesus umas às outras.

Essas cenas evangélicas contracenam com a vida das pessoas. Saem das páginas bíblicas para o dia a dia. E ajudam-me a interpretar a vida, na sua tragédia e na sua glória. As crianças que nascem, as pessoas que sofrem, os outros que a gente encontra, os momentos de festa. [riso] Eu sou muito simples, como vê. Gosto muito de ver estas coisas que, acredito, Deus representou na terra."


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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Famílias numerosas são “a esperança da sociedade” diz o Papa

O Papa Francisco considerou este domingo que as famílias numerosas são “a esperança da sociedade”, elogiando o facto de “várias gerações se encontrarem e se ajudarem”. Jorge Bergoglio fez estas reflexões durante o primeiro encontro que teve em quase dois anos de pontificado com milhares de membros de famílias numerosas de todo o mundo.
“Estou contente de estar hoje convosco, representantes da Associação Nacional de Famílias Numerosas. Amais a família e amais a vida”, afirmou o pontífice perante os fiéis católicos que se encontravam na sala Paulo VI, no Vaticano.
O Papa Francisco defendeu que “nas famílias numerosas, várias gerações se encontram e se ajudam. A presença dos avós é preciosa tanto para servir de apoio como para a educação, ao ajudarem os pais a transmitir valores aos filhos”.
Para o pontífice, estas famílias são “a esperança da sociedade”, “um exemplo de amor e de vida”.
O mais alto representante da Igreja Católica referiu a “baixa taxa de natalidade que existe em Itália”, apelando às autoridades políticas e à administração pública para que apoiem as famílias.
in Agência Lusa via Observador.pt


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Is there a Santa Claus?

Um editorial do jornal norte-americano «The Sun», de 1897 (sim!, do século XIX!), ficou tão popular que ainda hoje é conhecido e considerado um clássico. Dizem que faz parte da história dos EUA. O pequeno texto, intitulado «Is there a Santa Claus?», é a resposta a uma minúscula carta ao Director, enviada por uma menina de 8 anos. O editorial teve um tal impacto que inspirou filmes e programas de televisão, canções, livros e peças de museu. E o original da pequenina carta, na realidade um pequeno quadrado de papel rabiscado por uma criança, está avaliado em dezenas de milhares de dólares, mais cobiçado que muitos documentos históricos importantes.

Esta parte do jornal de 1897 pode ler-se nesta reprodução fotográfica.

Porque é que este editorial teve tanto impacto? O que dizia a carta?

A criança, Virginia O’Halon, perguntou se o Pai Natal (Santa Claus, em inglês) existia e o jornal respondeu que sim. A frase mais célebre do artigo é «Yes, Virginia, there is a Santa Claus» (pois é, Virginia, existe um Pai Natal) que, de tão repetida, se tornou uma expressão idiomática nos Estados Unidos.

Se alguém não conhece este editorial do «The Sun», pode ler estas quatro citações, que resumem o essencial:

«Virginia, os teus amiguinhos [que desconfiam do Pai Natal] não têm razão. Eles estão influenciados pelo cepticismo destes tempos cépticos. Eles só acreditam no que vêem».

«Pois é, Virginia, existe um Pai Natal. É tão certo ele existir, como o amor e a generosidade e a dedicação, e sabes como eles se encontram em todo o lado e enchem a vida com a sua beleza mais sublime e a alegria».

«O mundo seria terrível sem o Pai Natal (...). Não haveria poesia, nem romance para tornarem esta vida tolerável. Não teríamos gosto, excepto no que se toca e se vê».

«Isto é real? Ah, Virginia, só isto, neste mundo, é real e eterno».

Não sei o que um leitor açoriano acha destas divagações. A cidade de Nova York comoveu-se e a emoção alastrou a todo o país e continua, passado mais de um século.
Claro que há qualquer coisa de importante neste elogio do sonho; se não tocasse o coração humano, já ninguém se lembrava do episódio.

As histórias de crianças têm valor, transmitem a realidade. A Bela Adormecida, ou o Pinóquio, ou os Três Porquinhos, significam algo para além do enredo. Como a história da água que dança, da maçã que canta e do pássaro que fala. Ou a história pungente do rouxinol e da rosa («The Nightingale and the Rose»), de Oscar Wilde.

Eu compreendo todas estas histórias, excepto a do Pai Natal. Não nasci nos Estados Unidos. Aqueles gorduchos vermelhos não me dizem respeito. Gosto mais da água que dança e do pássaro que fala.

De qualquer modo, o Natal, o nascimento de Jesus Cristo, é outra história, absolutamente incomparável. Com muito mais ternura! Com uma lição muito mais forte de amor, de alegria de viver, de capacidade de resistir. É a diferença entre um conto pelo qual ninguém arriscaria a vida e um facto que justifica a lealdade heróica dos mártires. É a diferença entre a simples imagem e a realidade propriamente dita.

O Natal é de um realismo impressionante, por isso precisa também do sonho. A parte do sonho são os presépios enfeitados com musgo e estrelas de papel, são as guloseimas e as canções. Todos nós precisamos disso, desse bocadinho de sonho que nos empurra para dentro da realidade. A barriga do Pai Natal não empurra para lado nenhum, mas, minha querida Virginia, Jesus verdadeiro sorri. Sabemos que nos vê e gosta de nós, mas precisamos do presépio para olhar para Ele e sorrirmos também.

José Maria C.S. André in «Correio dos Açores», Natal 2014


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domingo, 28 de dezembro de 2014

O próximo Sínodo sobre a Família segundo o Cardeal Napier

O Cardeal Wilfrid Napier, escolhido pelo Papa Francisco como um dos presidentes do próximo Sínodo sobre a Família de Outubro de 2015, deu uma entrevista onde garantiu que o próximo Sínodo será marcado pela "Verdade, fidelidade e autenticidade".

À pergunta sobre o que terá a Igreja em África para oferecer à Igreja no Ocidente, o cardeal sul-africano respondeu desta forma:

"A primeira coisa a dizer é que a Igreja em África é feita de pessoas que sabem e têm consciência que precisam de Deus. Por causa disto Deus está verdadeiramente presente nas suas vidas.

A segunda é que a Igreja em África está muito mais preocupada em viver a Fé do que em contestá-la ou debatê-la. Acredito que a Igreja no Ocidente poderia beneficiar se tivesse fé em Deus, com os sacrifícios que essa fé implica, antes de e mais do que as subtilezas da explicação de doutrinas, etc..."


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Beato Paulo VI explica o não à contracepção

"Nós carregamos o peso da humanidade presente e futura. É necessário compreender que, se o homem aceita dissociar no amor o prazer da procriação, se, portanto, pode pegar no prazer como se pega uma xícara de café; se a mulher, usando um aparelho ou tomando um ‘remédio’ se torna para o homem um objecto, um instrumento, fora da espontaneidade, das ternuras e das delicadezas do amor, então, não se compreende porquê esta maneira de proceder (a união conjugal no matrimónio) seja proibida fora. 

Se a Igreja de Cristo, que nós representamos nesta Terra, deixasse de subordinar o prazer ao amor e o amor à procriação, favoreceria uma saturação erótica da humanidade, que teria como lei apenas o prazer." 

Jean Guitton in Paulo VI secreto


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sábado, 27 de dezembro de 2014

A Cúria tem "15 doenças". E tu?

Nos últimos dias, além do rebuliço natalício, aconteceu um rebuliço extra porque o Papa Francisco denunciou as “15 doenças da Cúria”. O apoio às palavras do Papa foi total e os comentários unânimes, afinal de contas todos sabemos que aquela gente da Cúria é do piorio!

É fácil pensar assim: eles são maus por isso têm que mudar, eu sou bom por isso posso continuar na mesma. Mas isto está errado! As “15 doenças” enunciadas pelo Papa não são da Cúria, são minhas e são tuas, são nossas.

Eu revejo-me em muitas daquelas “doenças” e percebo que tenho que ir ao Médico o mais depressa possível. Preciso de ser curado, preciso de ser acompanhado...sozinho não consigo.

A nossa salvação depende cerca de 0% da forma como os membros da Cúria levam as suas vidas pessoais e depende cerca de 100% da forma como levamos as nossas.

A resposta à graça de Deus e as lutas de cada um de nós contra as suas próprias “doenças” é incomparavelmente mais importante para o seu destino do que as “doenças” desta Cúria ou de outra que venha a seguir.

João Silveira


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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Conto de Natal: Uma Família Especial

- Pst! Já estás a dormir? – perguntou-lhe em tons de sussurro o pai.

Ouviu a resposta do filho que estava deitado e meio estonteado:

- Ainda não, papá...

Já era tarde. O pai, que há quase uma hora estava ali ao seu lado a contar-lhe histórias para lhe preparar o sono, lembrou-se de mais uma, no seu entender a mais importante do seu reportório, e que seria a última daquele dia. No estado ensonado em que o filho já se encontrava, só bastava mais uma para que ele adormecesse.

Durante aquele dia, ainda que tivessem sido regulares as suas visitas a casa, cabia-lhe agora a responsabilidade de tomar conta do menino. A sua mulher tentava descansar um pouco no quarto da frente ainda que permanecesse muito atenta e preocupada com o cachopo. Também ela aproveitava para ouvir as histórias do marido, que a serenavam e encantavam.

A criança, que pouco mais de cinco anos tinha, continuava febril, e isso dificultava-lhe o adormecer.

- Filhote, o pai vai contar-te uma última história para de seguida dormires.

Permanecendo de olhos fechados, o menino ficou a ouvir silenciosamente.

- Certo dia, numa pequena terra, havia um homem de tenra idade, que procurava ser obediente à lei de Deus, como Deus quer que todos os homens sejam. Trabalhava durante o dia ganhando justo dinheiro para as suas despesas e normalmente ao final da tarde orava, entoando salmos, umas vezes na sinagoga outras vezes em sua casa.

Durante aquele tempo e segundo os profetas, um Rei, o Redentor, estaria para nascer o que o deixava, e a grande parte dos habitantes da sua terra, ansiosos. Era solteiro mas já estava comprometido. Os esponsais, que é a cerimónia onde um homem e uma mulher prometem casar um com o outro, já tinha sido celebrada. A noiva era a mulher mais bonita dessa terra, o que lhe era aprazível e não deixava de agradecer essa grande graça a Javé.

Olhando com atenção para os pés da cadeira em que estava sentado e que pareciam tremer, o pai continuou:

- Esta graciosa mulher estava assim noiva dele, usando uma aliança de ouro como forma do seu compromisso, mas ainda não viviam juntos. Também ela, como manda a Torá, era fiel à Lei de Deus, pelo que os dois respeitavam-se escrupulosamente até ao dia do seu casamento. O amor crescia entre os dois e o homem, jubiloso, não queria que viesse a faltar nada à sua futura família, ocupando parte dos seus dias na construção de uma casa acolhedora para habitarem. 

Não foi muito tempo depois que a sua noiva o informou que tinha de ir visitar uma prima direita e que vivia longe. O homem da história que te conto não ficou muito agradado. Aliás, ninguém o ficaria na sua situação. Ver a sua amada partir por tempo incerto, ainda para mais a pouco tempo do casamento, é algo doloroso. Mas a vontade dela era tão grande que, pelos seus princípios, nunca se oporia. Pelo contrário, sendo esse o seu desejo, participou activamente na organização da viagem. 

Seguiram-se três longos meses de espera, separados. As muitas saudades eram sentidas por ambos e não havia meio de chegar o dia do reencontro.

Interrompido novamente pelo tremer da cadeira em que estava sentado, o pai aproveitou para colocar a sua mão forte na testa do menino para verificar se este ainda estaria com febre. Aparentemente já não estava. O menino, agora desperto e de olhos arregalados, esperava o desfecho da história.

- Bem, continuando, quando a sua noiva chegou da viagem, a alegria que sentiu ao vê-la foi enorme e reciprocamente retribuída. Porém, rapidamente se apercebeu que esta trazia uma criança no seu ventre. A elegância da sua noiva deixava agora sobressair a barriga própria da maternidade. O homem, invadido de tristeza, abalado, não sabia o que fazer. Ele não era o pai da criança. Mantinha-se seguro sobre todos os assuntos relacionados com a pureza e lealdade da sua noiva, mas não entendia o sucedido. Que amor enaltecia por ela e que dor esmagava o seu coração! 

Mas o único assunto que o preocupava e lhe ocupava naquele momento o pensamento era sobre que atitude tomar. A sua noiva nada lhe adiantava sobre o tema, e isso dificultava-lhe ainda mais a decisão. A Lei de Moisés impele, nestes casos, a denunciar, mas se assim o fizesse a sua noiva seria acusada de traição e tratada como adúltera, resultando na condenação à morte. E isso ele não queria porque a amava e também confiava nela. 

Por outro lado, não podia consumar um casamento e ser pai de uma criança que não era dele. Depois de muito pensar acabou por decidir fugir. Na sua lógica, ao fazê-lo, todos pensariam que ele era o pai da criança mas não assumia a paternidade. Moralmente seria condenado, mas como estaria longe da sua terra, nada lhe iria acontecer e com a sua noiva tudo ficaria bem. Arrumou as suas coisas e durante a noite fez-se ao caminho. 

Já longe e com o raiar do sol resolveu descansar e dormir um pouco. Em sonhos apareceu-lhe um anjo que lhe explicou que o bebé que a sua noiva esperava era filho do Altíssimo e que ele devia regressar para junto dela.

Pensativo de como continuar a contar o resto da história ao seu filho, prosseguiu com uma serenidade acrescida:

- Quando o homem acordou, não tinha quaisquer dúvidas. O sonho tinha sido demasiado real para ser fruto da sua imaginação. Ele tinha de regressar para apoiar a sua noiva no que fosse necessário. O menino que ia nascer era O tão esperado Emanuel que o povo judeu aguardava e de quem ele iria ser o pai adoptivo. 

responsabilidade que o esperava não lhe retirava uma felicidade irradiante. Foi então que regressou o mais rápido que pôde, mais rápido ainda do que quando fugia. Encontrou-se com a sua noiva e contou-lhe o sucedido. Também ela lhe confirmou a história sobre O menino que trazia nas suas entranhas.

O pai dirigindo-se ao filho disse-lhe:

- Pronto, hoje ficamos por aqui. Noutro dia conto-te o resto da história.

O filho de forma sábia, enroscado no cobertor, respondeu-lhe agradecido:

- Papá! Gostei muito da história. Se não fosse a mamã e o papá eu nunca iria compreender a minha missão no mundo. Obrigado.

Apreensivo com a resposta do menino, deu-lhe um beijo e despediu-se dizendo:

- Dorme bem filho. Procurarei continuar a ser o melhor pai do mundo.

Soprou a vela que iluminava o quarto e levou consigo a cadeira, com o propósito de a consertar no dia seguinte.

Tiago Rodrigues


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Diz o Papa no Natal: "vai rezar... à Confissão, limpar um pouco..."

O Papa Francisco no Domingo passado, no Vaticano, convidou a viver um Natal “verdadeiramente cristão”, menos centrado em aspectos exteriores, e deixou votos de “esperança”, “alegria e fraternidade” para esta celebração.
“Confiemo-nos à interecessão da nossa Mãe e de São José para viver um Natal verdadeiramente cristão, livres de toda a mundanidade, prontos a acolher o Salvador, o Deus connosco”, disse, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, para a recitação do Angelus.
Num espaço já decorado com a tradicional árvore e um presépio em tamanho real, Francisco centrou a sua reflexão no nascimento de Jesus “no coração de cada cristão”.
“Cada um de nós é chamado a responder, como Maria, com um ‘sim’ pessoal e sincero, colocando-se totalmente à disposição de Deus e da sua misericórdia, do seu amor”, declarou.
O Papa disse aos presentes que Jesus “passa” e “bate à porta” do coração de cada um, “muitas vezes envia um anjo”.
“Quantas vezes não nos apercebemos, porque estamos presos, mergulhados nos nossos pensamentos, nos nossos assuntos e até mesmo, nestes dias, nos nossos preparativos de Natal”, alertou.
Segundo Francisco, quando se sente o desejo de “ser melhor” é “o Senhor que bate à porta” e faz sentir “o desejo de estar mais perto dos outros, de Deus”.
“Se sentes isso, pára. É o Senhor que está aí. Vai rezar, talvez à Confissão, limpar um pouco… isso faz bem. Lembra-te: se sentes esta vontade de melhorar, É ele que bate à porta, não o deixes ir embora”, referiu.
O Papa apresentou o exemplo de Maria e José, capazes de “acolher com total abertura de espírito Jesus”, que vem trazer ao mundo “o dom da paz”.
“O dom precioso do Natal é a paz e Cristo é a nossa verdadeira paz. Cristo bate à porta dos nossos corações para dar-nos a paz, a paz de espírito. Abramos as portas a Cristo”, apelou.
Após a recitação do Angelus, Francisco voltou a insistir na necessidade de estar atento ao “Senhor que passa” neste Natal.
Na quarta-feira, a ‘Missa do Galo’, na véspera de Natal, vai iniciar-se 21h30 locais (menos uma em Lisboa), na Basílica de São Pedro, e a bênção ‘Urbi et Orbi’, no dia 25, ao meio-dia de Roma, antecedida pela mensagem natalícia do Papa.
in Agência Ecclesia
Recomendação blog Senza:
Benção do Santo Padre amanhã (25) às 11h00m de Portugal, recebida pela televisão (TVI).


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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Advento significa expectativa - Beato Álvaro del Portillo

Advento significa expectativa e quanto mais se avizinha o acontecimento esperado, maior é o desejo por vê-lo realizado. Nós, juntamente com tantos outros cristãos, desejamos que Deus ponha ponto final à dura prova que aflige a Igreja, já há muitos anos. Desejamos que este longo advento chegue finalmente ao seu termo: que as almas se movam para a verdadeira contrição; que o Senhor se faça presente mais intensamente nos membros da sua amada Esposa, a Igreja Santa. 

Desejamo-lo e pedimo-lo com toda a alma: magis quam custodes auroram, mais do que a sentinela deseja a aurora, ansiamos que a noite se transforme em pleno dia.

in Caminhar com Jesus ao ritmo do ano litúrgico 


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domingo, 21 de dezembro de 2014

De geração em geração até Francisco

A liturgia da Igreja prevê que o «sprint» final que antecede o Natal comece no dia 17 de Dezembro, mas no actual pontificado esse dia tem mais qualquer coisa: faz anos o Papa Francisco. Poderia parecer pouco importante, soprar as velas (78 velas) e cortar umas fatias de bolo, mas é uma coisa muito séria.

À primeira vista, o Evangelho da Missa do dia 17, que marca o «sprint» de preparação para o Natal, não se parece com a partida para uma corrida de velocidade. Julgamos mesmo que S. Mateus perde tempo com uma lengalenga interminável: «Abraão gerou Isaac, Isaac gerou Jacob, Jacob gerou…» e lá vão catorze gerações de personagens estranhos, e mais catorze gerações de uma genealogia ainda mais incompreensível, e mais outras catorze gerações… até concluir finalmente em «José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus». É raro o Evangelho da Missa ser tão comprido e, sobretudo, nenhum outro tem tantos personagens e tão pouco argumento. Poderia suspeitar-se que o Evangelho do dia 17 de Dezembro está em competição renhida com a lista telefónica.

De facto, à primeira vista, é um relatório cansativo. Só Deus parece interessado em cada um daqueles homens e mulheres e conhece o sentido das suas vidas. Por isso, lido no dia 17 de Dezembro, no começo do «sprint» do Natal, aquela lista tem sabor a um sinal de partida pouco incisivo. Ou talvez não.

A surpreendente mensagem de S. Mateus é que Deus se fez Homem e quis misturar-se connosco. Quis ter antepassados, quis nascer numa família e quis rodear-se de pessoas. Mais tarde, quando começou a sua vida pública, Cristo aparece sempre rodeado dos seus discípulos. Podia dispensá-los, mas convoca-os. Atrapalham um pouco, mas quere-os junto a si. Viver acompanhado foi uma opção pessoal tão forte, que se transformou num programa para o mundo: Cristo quer chegar a todos os povos através de uma corrente de pessoas.

Em consequência, Simão ficou «Pedro», isto é, «rocha», porque Cristo o colocou como elo entre nós e Deus, fundamento sobre o qual assentaria a sua Igreja. Nem Pedro compreendeu o mistério. Nem dava para perceber: todos conhecem os inconvenientes de contar com a colaboração de seres humanos; porque é que Deus conta com eles?! Porque é que Deus chamou Pedro? Em vez de uma comunicação directa, eficiente, Deus fala connosco através de um intermediário. Que processo mais complicado, sob todos os pontos de vista! A fraqueza humana não tem limites e a tarefa exige, com alguma frequência, arriscar a vida. Nenhum homem pensaria num sistema tão complexo, mas Cristo não tem só uma inteligência humana, de modo que foi mesmo assim que estabeleceu a sua Igreja.

«Abraão gerou Isaac, Isaac gerou Jacob»… geração após geração, Deus não saltou nenhum elo na cadeia que o liga às raízes da humanidade. Analogamente, nós, como diz uma oração habitual da Missa, «em comunhão com toda a Igreja, veneramos a memória da gloriosa sempre Virgem Maria (…), a de S. José, seu esposo, e a dos bem-aventurados Apóstolos e Mártires Pedro, (…) Lino, Cleto, Clemente, Anastásio…». A lista dos Papas, que começa com Pedro e continua com Lino, Cleto, Clemente, … prolonga-se pelos séculos, geração após geração, até …João Paulo, Bento e Francisco.

É este Francisco, escolhido por Deus para governar a Igreja, que soprou as velas do bolo no dia 17 de Dezembro. Ele podia não ser importante para a nossa relação com Deus, mas Cristo quis que fosse indispensável.
José Maria C.S. André in «Correio dos Açores», 21-XII-2014


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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

7 grandes razões para se confessar hoje mesmo (e sempre)

A confissão é um presente: aproveite já, aproveite muitas vezes e leve os seus filhos consigo!

"A renovação da Igreja na América depende da renovação da prática da penitência", disse-nos o Papa Bento XVI no National Stadium, em Washington.

O Papa João Paulo II passou os últimos anos da sua vida na Terra pedindo que os católicos retornassem à confissão, inclusive mediante um motu proprio urgente e através da encíclica sobre a Eucaristia.

O Papa chamou à crise na Igreja uma “crise da confissão” e escreveu aos sacerdotes: "Sinto a necessidade premente de exortá-los, como fiz no ano passado, a redescobrirem para vós mesmos e ajudarem os outros a redescobrirem a beleza do sacramento da reconciliação."

Porquê toda esta importância dada à confissão?

Porque quando fugimos dela perdemos a noção do pecado. E a perda da noção do pecado é a raiz de muitos males do nosso tempo, do abuso de crianças à desonestidade financeira, do aborto ao ateísmo.

Como, então, promover novamente a confissão?

Sugiro 7 motivos, tanto naturais quanto sobrenaturais, para voltarmos à confissão:

1. Porque o pecado impõe um fardo sobre as nossas costas

Um terapeuta conta a história de um paciente que passava por um ciclo terrível de depressão e de repulsa por si mesmo desde o tempo escolar. Nada parecia ajudá-lo. Um dia, o terapeuta encontrou o paciente à frente de uma igreja católica. Eles entraram na igreja porque tinha começado a chover e viram uma fila de pessoas fora do confessionário.

"Será que eu não devia ir também?", perguntou o paciente, que tinha recebido o sacramento quando criança. "Não!", respondeu o terapeuta.

O paciente desobedeceu e foi à mesma. Saiu do confessionário com o seu primeiro sorriso em anos e começou um processo de melhora que se prolongou durante as semanas seguintes. O terapeuta começou a estudar mais sobre a confissão, converteu-se ao catolicismo e hoje aconselha a confissão regular a todos os seus pacientes católicos.

O pecado leva-nos à depressão porque não é apenas uma violação arbitrária de regras: é uma violação da finalidade proposta por Deus ao nosso próprio ser. A confissão elimina a culpa e a ansiedade causadas pelo pecado e traz a cura.

2. Porque o pecado vicia

Aristóteles disse: "Nós somos o que fazemos repetidamente". O Catecismo diz: "O pecado cria uma propensão ao pecado". As pessoas não mentem apenas: tornam-se mentirosas. Nós não roubamos apenas: tornamo-nos ladrões. O pecado vicia. A ruptura com o pecado redefine-nos, permitindo que iniciemos novos hábitos de virtude.

"Deus está determinado a libertar os seus filhos da escravidão e conduzi-los à liberdade", disse o Papa Bento XVI. "E a escravidão pior e mais profunda é a do pecado".

3. Porque precisamos desabafar

Se alguém destrói um objecto de grande valor afectivo pertencente a um amigo, nunca ficará satisfeito só com o facto de sentir remorso. Sentir-se-á obrigado a explicar-lhe o que fez, expressar a sua tristeza e fazer o que for necessário para consertar o estrago.

Acontece o mesmo quando “destruimos” algo no nosso relacionamento com Deus. Precisamos dizer-Lle que sentimos muito e tentar corrigir o erro.


4. Porque a confissão nos ajuda a nos conhecer

Nós vemo-nos, normalmente, de forma errada. A nossa opinião sobre nós mesmos é como uma série de espelhos distorcidos. Às vezes, vemos uma versão maravilhosa e imponente de nós mesmos. Às vezes, vemos uma versão grotesca.

A confissão obriga-nos a olhar para as nossas vidas objectivamente, a separar os verdadeiros pecados dos maus sentimentos e a vermo-nos como realmente somos.

O Papa Bento XVI afirmou: "A confissão ajuda-nos a ter uma consciência mais alerta, mais aberta e, portanto, também nos ajuda a amadurecer espiritualmente e como pessoas humanas".

5. Porque a confissão ajuda as crianças

As crianças também precisam se confessar. Alguns autores têm enfatizado os aspectos negativos da confissão na infância: segundo eles, a confissão "forçaria a pensar em coisas que geram culpa". Mas isto não é necessariamente verdade.

Danielle Bean, da Catholic Digest, explicou uma vez que os seus irmãos e irmãs se confessavam e depois rasgavam o papel em que tinham escrito a confissão, deitando-o para o lixo da igreja. "Que libertação! Deitar fora os meus pecados, de volta ao lixo de onde vieram! 'Bati na minha irmã seis vezes' e 'respondi mal quatro vezes para a minha mãe' já não eram fardos que eu tinha que carregar!"

A confissão pode ajudar as crianças a desabafar sem medo, a receber o aconselhamento gentil de um adulto quando estão preocupadas ou com medo de falar com os pais. Um bom exame de consciência pode orientar as crianças a pensar nas coisas apropriadas para confessar. Muitas famílias fazem da confissão um passeio seguido de um gelado!

6. Porque confessar os pecados mortais é necessário

O Catecismo diz que o pecado mortal não confessado exclui-nos do Reino de Cristo e causa-nos a morte eterna no inferno, porque a nossa liberdade tem o poder de fazer escolhas definitivas. A Igreja lembra-nos reiteradamente que os católicos em pecado mortal não podem receber a comunhão sem antes se confessarem.

O pecado é mortal quando reúne simultaneamente três condições: matéria grave, pleno conhecimento e consentimento deliberado, explica o Catecismo.

Os pecados que implicam matéria grave incluem, por exemplo, o aborto e a eutanásia, qualquer actividade sexual fora do casamento, o roubo, a pornografia, a calúnia, o ódio, a inveja, a não participação da missa aos Domingos e nos dias de preceito, entre outros.

7. Porque a confissão é um encontro pessoal com Cristo

Na confissão, é Cristo quem nos cura e nos perdoa através do ministério do sacerdote. Temos um encontro pessoal com Cristo no confessionário. Assim como os pastores e os magos na gruta de Belém, encontramos reverência e humildade. E, assim como os santos na crucificação, encontramos gratidão, arrependimento e paz.

Não há maior realização na vida do que ajudar outra pessoa a voltar à confissão.

Temos que estar dispostos a falar da confissão da maneira como falamos de todos os outros eventos significativos da nossa vida. O comentário espontâneo "A essa hora não vou poder ir porque me vou confessar" pode ser mais convincente do que um discurso teológico. E se a confissão é um evento significativo em nossas vidas, é também uma resposta apropriada para a pergunta "O que vais fazer neste fim de semana?". Além disso, muitos de nós têm histórias engraçadas ou interessantes para compartilhar sobre a confissão: por que não contá-las com naturalidade aos amigos?

Ajudemos a tornar a confissão normal novamente! Ajudemos o máximo possível de pessoas a descobrir a beleza deste sacramento libertador!

in Aleteia


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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Doris, a mulher que já salvou mais de três mil bebés

Esta é a história de Doris Hipólito, cujo compromisso permitiu que três mil mulheres continuassem com a gravidez. Ela já começou um projecto de crowd-funding poder ajudar mais mulheres


Longe dos holofotes, existe quem proponha às jovens desesperadas uma solução alternativa ao aborto. A missão em favor da vida, no Brasil, tem o rosto suave e doce de Maria das Dores Hipólito Pires, conhecida como Doris Hipólito. Casada e mãe de dois filhos, essa mulher conseguiu com que, em 23 anos, pelo menos outras 3000 crianças nascessem.

A relação entre a sua vida e os nascituros começa em 1991. Doris, então professora numa escola na periferia do Rio de Janeiro, foi chamada uma manhã pelo director, que lhe propôs começar um projecto de apoio às muitas estudantes que depois de terem abortado sofriam os consequentes problemas psicológicos.

Assim, Doris abriu uma porta de escuta dentro da escola onde lecionava e, pouco depois, dado o sucesso obtido, decidiu exportar o modelo também para outras escolas. A assistência a essas "mães falhadas", muitas vezes adolescentes, começou assim tornar-se para Doris no pão de cada dia.

Católica fervorosa, Doris pede constantemente por meio da oração que Deus a acompanhe no seu compromisso. Um dia, depois de ter rezado o Terço, sentiu o desejo de rezar a Maria pela defesa da vida. Foi assim que formou um grupo de voluntários que durante todo o ano se reúne na rua ou em outros lugares públicos para rezar o terço e distribuir panfletos de defesa da vida e contra o aborto.

Doris e os outros voluntários começam a trabalhar é a temida Baixada Fluminense, habitada por mais de 3 milhões de pessoas e cheia de clínicas de aborto, nas quais, além médicos, estão figuras especialistas em rituais vudu.

Armados com coragem, Doris e os começaram a tentar dissuadir as mulheres, muitas vezes viciadas ou prostitutas à mercê de criminosos, de entrarem nas "clínicas". Em alternativa era-lhes oferecida a possibilidade de entrarem numa casa de acolhimento, criada com fim de cuidar das mães durante a gravidez, para dar à luz os seus filhos e dar-lhes uma oportunidade de trabalho após o parto.

A primeira menina a pisar nesta instalação, alugada por Doris com dinheiro do seu próprio bolso, foi uma grávida sem-abrigo encontrada sob um viaduto enquanto estava em condições psicoológicas e físicas terríveis. O seu resgate deu início a um ciclo virtuoso de mulheres recuperadas dentro daquela que foi baptizada como Casa de Amparo Pró-Vida.

Tal iniciativa deveria receber aprovação unânime, mas infelizmente isso não acontece. Muitas vezes tentaram bloquear o funcionamento da sua estrutura. Em particular, grupos de feministas deploram o seu trabalho porque o consideram um obstáculo para a instância de legalização do aborto no Brasil. Foi emblemático quando uma mulher, procuradora federal, chegou à Casa da Defesa Pro-Vida para uma inspecção e, vendo as fotos das crianças salvas do Aborto num muro, exclamou: “Esta casa nunca deveria ter existido!”.

As ameaças de morte através de telefonemas anónimos são agora uma realidade com a qual Doris aprendeu a viver, confiando na Providência. A mesma Providência que tem conseguido com que a sua casa receba financiamentos para pagar as contas, para ter fornecimentos gratuito de frutas e produtos de uma fazenda, e contar com uma equipe de médicos e psicólogos voluntários que auxiliam as meninas que residem lá.

O último presente é uma parcela de terreno, na qual Doris tem a intenção de construir uma casa, que seja maior do que a actual (agora insuficiente para acomodar as muitas jovens que a procuram) e que seja sua, de modo não ter que pagar a renda. Daí a decisão de começar um projecto crowd-funding. Um novo desafio daquela que, depois de receber a autorização dos seus familiares, se tornou a sua única actividade: salvar vidas humanas do flagelo do aborto. A quem lhe pergunta sobre quem a obriga fazer isso, Doris responde assim: “Os poderosos podem dar-me poder, mas as crianças podem dar-me o paraíso.”


adptado de Zenit


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Interstellar e a humanidade de Christopher Nolan


A humanidade no Interstellar... num filme de ciência? Que coisa estranha.

Fui ver, logo na semana da estreia, o Interstellar do (grande) realizador Christopher Nolan.

Este era um filme que já andava há uns anos a criar água na boca de qualquer apreciador de bom cinema. Desde que conheci Christopher Nolan, com o filme Batman Begins, fiquei apaixonado pela qualidade dos seus filmes - altamente entretainers, capazes de nos fazerem descansar e, ao mesmo tempo, com um bom nível intelectual.

Lembro a trilogia do Batman mas não só: quem não se lembra de Prestige (O Terceiro Passo) ou de Inception (A Origem)? [1] São todos filmes em que Nolan deixa quem os vê a pensar bastante no argumento mas também a apreciá-lo muito, quase como se houvesse uma parte de nós que se identificasse com a história do filme.

Com Interstellar não foi diferente. Confesso que sou suspeito, dado que não é todos os dias que temos um dos maiores realizadores de Hollywood a fazer um filme sobre o nosso tema de tese de mestrado (fiz o curso de física no Técnico, com especialização precisamente em relatividade e cosmologia).

Para quem não sabe, um dos produtores executivos do filme foi o Kip Thorne, um dos maiores físicos vivos e um dos maiores especialistas do mundo na teoria da Relatividade do Einstein, a principal teoria da física para tudo o que tem a ver com gravidade. O filme é portanto um daqueles poucos filmes que tem a parte científica toda impecável. Sim, é verdade: há certas situações em que o tempo pode mesmo andar mais devagar para algumas pessoas. Vem da matemática.

Este filme tem muito que se lhe diga em vários aspectos, no entanto vou-me focar apenas nalguns que, a meu ver, fazem do Christopher Nolan um grande realizador. Mas atenção, no texto falo do fim do filme, por isso atenção aos spoilers!

Vamos pelo início. O filme ensina-nos muito bem para que serve a ciência e o conhecimento da realidade. Logo no início há umas cenas que mostram Cooper, o personagem principal, como pai de família e engenheiro. A sua formação em engenharia dá-lhe uma vantagem incrível sobre o mundo: a forma como ele tinha os seus campos agrícolas altamente desenvolvidos ou como consegue ficar rapidamente com aquele drone usando apenas a sua experiência e capacidade de raciocínio é simplesmente incrível. Os conhecimentos de Cooper fazem-no ter uma mente aberta, em particular porque ele usa-os para aquilo que eles servem: exercer um domínio próprio que o homem tem sobre o mundo e pô-lo ao seu serviço.

A ciência é usada por Cooper como um meio para atingir um fim e não como um fim em si mesmo, como muitos nos dias de hoje pretendem ensinar. Aliás, no filme há alguns cientistas que têm esta atitude errada, como a Dra. Brand e o seu pai. 


Estas pessoas que põem o coração todo na ciência, e quantos cientistas reais podemos nomear assim, como Stephen Hawking, Neil deGrasse Tyson, Peter Atkins ou Richard Dawkins, perdem a noção completa da realidade, da vida. Eles perdem-na ao seguirem as suas visões materialistas do mundo, isto é, pensarem que não existe mais nada a não ser matéria (esquecem a alma, o livre arbítrio, o amor, a beleza, ...). Tais visões levam as pessoas a tomar decisões pouco humanas e vemos isso muito bem no filme.

A maneira como Amelia Brand fica traumatizada com a morte do colega Doyle, no planeta das ondas gigantes, e como não consegue ultrapassar isso, é crasso. Diz ela assustada:
I thought I was prepared… I knew the theory… …reality is different.
Mais à frente vemos como ela nem sequer sabe bem o que é o amor e como começa a pôr as suas emoções à frente de tudo ao ponto de nem sequer conseguir raciocinar. As suas atitudes contrastam com as de Cooper, também formado em física, que sabe dominar-se diante das situações mais complicadas, para poder tomar as decisões de cabeça fria. Isto acontece inúmeras vezes ao longo do filme. No fundo, ao dar à ciência o valor que ela merece, Cooper conseguiu desenvolver outras virtudes humanas, como a temperança e a prudência, e aplica-as ao longo do filme.

Mais grave ainda é a decisão tomada pelo Dr. Brand (Michael Caine), de mentir ao longo do filme todo a propósito de uma equação. Como é que é possível chegar-se ao ponto de retirar o valor que cada ser humano tem para atribui-lo a algo totalmente generalista como a "espécie humana"? Brand acaba por tomar decisões que iam destruir a vida toda na terra, com a desculpa de "salvar a espécie humana".

Como explica Cooper no filme,
Because in his (...) arrogance, he [Dr. Brand] declared their [people on Earth] case hopeless.
Esta frase lembra mostra-nos a esperança de Cooper, uma esperança que o faz mover montanhas, se for preciso, ou... entrar dentro de um buraco negro. Fica bem patente ao longo do filme a certeza que Cooper tem de que todos os problemas têm solução. Mais ainda, o próprio ser humano foi feito para ir atrás dessas soluções e não desistir nunca. No filme, toda a sociedade tinha desistido, mas ele sabia que isso não podia ser assim:
It’s like we’ve forgotten who we are (...). Explorers, pioneers, not caretakers.
E, mais à frente, quando o velho Dr. Brand lhe explica que não há forma de a humanidade sobreviver ele responde:
We’ll find a way, Professor, we always have.
É esta certeza de que tudo tem solução que faz aparecer outra das virtudes de Cooper. A sua coragem, a maneira como a fortaleza, que o faz perseverar em decisões dificílimas, é também muito bem evidenciada no filme. Ainda que não ache totalmente simples deixar a família para trás como ele faz, a verdade é que ele parte para o espaço achando que é uma peça fundamental para salvar a vida na terra, quase como se essa fosse a sua vocação. Mas deixa-os com lágrimas nos olhos e um peso enorme no coração. Lágrimas estas que lhe voltam a cair várias vezes ao longo da viagem, fazendo-o sofrer - um sofrimento do qual ele não foge, ainda assim.

Por último, vale a pena referir "os seres" que conduzem os personagens do filme para outra galáxia. Confesso que esta ideia era uma das que me estava a fazer confusão ao longo do filme. Como é que um filme tão correcto a nível científico podia estar a sugerir a existência de aliens? Ainda que muito se fale sobre a "alta" probabilidade de haver aliens, esta ideia não tem grande cabimento científico pois, além de estar longe de ser provada (e sem evidências ou observações, não podemos falar de ciência propriamente dita), tem vindo a ser cada vez mais posta de lado pelas observações mais recentes dos mais de mil exoplanetas [2] já descobertos, em que nenhum deles apresenta condições suficientes para haver vida [3].

No entanto, Christopher Nolan não podia cometer esse erro e portanto esta foi mais uma das suas excelentes jogadas. Os "seres" que conduzem as personagens são afinal humanos do futuro, com um conhecimento científico mais avançado, que ajudam os humanos do passado!

E como não lembrar também a família numerosa da filha de Cooper, aquela que acaba por ser a melhor cientista do filme e que resolve os problemas mais complexos da física moderna, sobre a relação entre a teoria da Relatividade e a Mecânica Quântica. Já alguém tinha visto um prémio Nóbel da física com uma família numerosa? Obrigado Christopher Nolan por trazeres isto para Hollywood.

Nuno CB

Nota posterior: Há um tema ético que não quis abordar propositadamente. No filme fala-se da colonização de novos planetas através de embriões congelados. Isto é algo eticamente errado. É sabido que, para termos estes embriões, o mais provável é terem sido gerados em fecundação in vitro. Nos dias de hoje a fecundação in vitro só é possível fazer matando uma série de embriões, logo matando uma série de pessoas. Sim, é verdade que na altura do filme provavelmente a tecnologia já estivesse desenvolvida ao ponto de ser necessário matar pessoas, no entanto o nascimento de uma pessoa é fruto directo do acto conjugal entre marido e mulher, portanto a produção de embriões fora deste contexto é também visto como eticamente incorrecto. Mas este é um tema que exige muito estudo (e, portanto, outro post) e não tem a ver com o que quis escrever neste texto [4]. Poderá também haver outro problema relacionado com a filosofia cristã do tempo e o livre-arbítrio, algo que também não foi abordado neste texto pelas mesmas razões.

[1] O blog Deus lo vult! tem uma boa crítica ao Inception, que recomendo: http://www.deuslovult.org/2010/08/24/inception/
[2] Exoplanetas são planetas que estão fora do Sistema Solar, noutros sistemas.
[3] Mais sobre isto pode ser encontrado no recente livro do departamento de Astrobiology da Columbia University, aqui: http://www.amazon.com/The-Copernicus-Complex-Significance-Probabilities/dp/0374129215
[5] Notem que no final se calhar nem foi necessário colonizar nada com embriões, dado que a humanidade já estava a caminho da nova galáxia, numa enorme estação especial perto de Saturno e do wormhole (onde Cooper vai ter).


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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Cristianismo forneceu a base da ciência diz Henrique Leitão

Henrique Leitão, o vencedor do Prémio Pessoa 2014, é um físico teórico de formação, mas que a dada altura se virou para as humanidades para perceber melhor a História da Ciência. Mas é também um homem de fé e a inter-relação entre todos os seus saberes e todos os seus estudos permite-lhe dizer que foi o Cristianismo que forneceu a base para o desenvolvimento da ciência moderna.
“Se não houvesse uma base cristã nunca teria havido, propriamente, ciência moderna, porque se hesitava sobre aspectos que são absolutamente centrais para haver ciência”, afirma Henrique Leitão, em entrevista ao programa "Terça à Noite" da Renascença.
O historiador explica: “Para se poder fazer ciência é preciso ter um conjunto muito específico de ideias sobre a natureza. Ora, sucede que o Cristianismo fornece, precisamente, essas ideias. O Cristianismo afirma que a natureza é boa, a natureza é racional e a natureza é contingente, que quer dizer que é desta maneira, mas poderia ser de outra e só se pode saber como é investigando.”
E foi investigando a forma de fazer ciência ao longo dos séculos que Henrique Leitão fez um percurso brilhante agora consagrado com o Prémio Pessoa, uma iniciativa conjunta do Expresso e da Caixa Geral de Depósitos, que desde 1987 premeia com 60 mil euros alguém que se tenha destacado nos campos das Artes, Ciência ou Cultura.
Doutorado em Física Teórica, Henrique Leitão orientou a sua investigação para a História das Ciências, sobretudo nos séculos XV, XVI e XVI. Coordenou a publicação das obras de Pedro Nunes e contribuiu para resolver um problema científico: o Método da Projecção de Mercator. (...)

Nesta entrevista à Renascença, conduzida por Francisco Sarsfield Cabral, Henrique Leitão fala da importância de Mercator, mas também de Pedro Nunes e de como o matemático português foi importante para que o cartógrafo flamengo chegasse ao mapa. Mas também conta como os colégios jesuítas foram importantes na investigação e divulgação da ciência em Portugal.

Explica por que é que a ciência moderna vingou na Europa. Pelo Cristianismo, porque “estas ideias – a da bondade do mundo natural, do mundo físico e do mundo biológico e da sua racionalidade – que são absolutamente cruciais para haver ciência, são disseminadas culturalmente pela Europa pelo cristianismo”. Mas também porque, ao contrário do que aconteceu na China e no mundo árabe onde a ciência era assunto de elites, na Europa todas as camadas da população tinham algum interessa na ciência.
“Essa é uma convicção que parece ter algum suporte histórico. O que é apaixonante no mundo ocidental é a situação que vem do século XV e XVI: os factos relativos ao mundo natural parecem suscitar interesse em todas as camadas da população”, diz Henrique Leitão, para concluir: “Ter uma ciência pujante e moderna não é apenas um fenómeno de treinar umas elites muito competentes. Mas é, além de ter um conjunto de elites muito competentes, ter uma certa participação de toda a sociedade nas discussões científicas.”


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