Caro utilizador de pornografia,
Quero que saibas que não escrevo isto com qualquer hostilidade em relação a ti. Talvez vejas pornografia sem que o queiras fazer. Talvez a vejas e não queres parar de o fazer. De qualquer maneira, obrigado por leres.
Fui uma “porn star” durante apenas seis meses, mas participei em mais de vinte filmes. Estive lá, fi-lo e vi a realidade da industria pornográfica. Penso que muita gente acredita em falsidades acerca da pornografia. Falsidades que, se soubessem que o eram, os levariam provavelmente a esforçar-se mais (ou esforçar-se de todo) para parar de ver pornografia!
Nesta carta, quero partilhar contigo cinco desses mitos e a verdade por detrás deles:
Mito #1 – As actrizes gostam de fazer os vídeos
Nada poderia estar mais longe da verdade. O que as pessoas que se agarram a esta mentira não entendem é que estas miúdas estão a representar, ponto. Nada daquilo é real. Em toda a minha experiência, nunca conheci uma única que gostasse daquilo que fazia!
Tendo estado na indústria da pornografia, posso dizer-te que não é uma experiência agradável. O sexo em si é doloroso, e as raparigas estão expostas a todos os tipos de abusos, quer por parte dos restantes actores, quer de toda a gente no estúdio. É uma experiência degradante e, para muitas de nós, a única maneira que tínhamos para aguentar as filmagens era enchendo-nos de drogas ou álcool, enquanto repetíamos para nós mesmas que daí a umas horas tudo teria passado, e apagando-nos completamente, como se nos desligássemos de tudo aquilo que estava a acontecer à nossa volta.
A maioria das miúdas que entra na indústria pornográfica faz um ou dois vídeos e depois sai. Se as actrizes gostam tanto de fazer pornografia, porque é que há uma taxa de desistência tão elevada? Luke Ford disse, numa entrevista ao 60 Minutos: A maioria das raparigas que entra nesta indústria faz um vídeo e sai. A experiência é tão dolorosa, tão horrenda, tão incómoda e humilhante para elas que nunca mais querem voltar a fazê-lo.
Mito #2 – As raparigas que fazem filmes pornográficos devem gostar imenso de sexo
Bem, são várias as motivações que podem levar as miúdas a entrar nesta indústria, mas o desejo sexual não é uma delas. Eu sei, porque era o que eu costumava dizer às pessoas nas entrevistas. Contava sempre aos meus fãs acerca do meu apetite sexual voraz, de quão insaciável era. Dizia-lhes que era tudo aquilo em que pensava!
A triste verdade, no entanto, é que eu detestava sexo! Não significava nada para mim, tal como não significa nada para qualquer pessoa envolvida em pornografia. É apenas algo que tu suportas para receberes o teu dinheiro. Não estou a dizer que é assim com todas as raparigas nesta indústria, mas estou a dizer que é a regra e não a excepção. Com todas as que conheci e com quem falei, a história é a mesma!
Mito #3 – Elas estão lá por vontade própria
Isto não é inteiramente verdade. Muitas vezes, as raparigas são ameaçadas ou manipuladas pelos produtores. Aconteceu-me e vi acontecer também com outras miúdas! É lhes dito que irão fazer uma determinada coisa mas, quando chegam ao estúdio, dizem-lhes que afinal farão outra totalmente diferente e que, se recusarem, é-lhes retirado o pagamento.
Muitas raparigas são novas e inexperientes e sentem que são obrigadas a participar nessa cena... uma cena com a qual não concordaram, e a qual não querem fazer. Muitas vezes têm medo dos produtores, muitas medo de nunca mais voltar a trabalhar. Sentem-se encurraladas. Mesmo se não forem manipuladas, a verdade é que nenhuma rapariga quer estar ali!
Ainda que possam ter concordado em fazê-lo, não significa que gostam de o fazer e qualquer uma que te diga o contrário está ou a mentir descaradamente, ou a contar apenas parte da história.
Mito #4 – Se estão a ser pagas pelo que estão a fazer, qual é o mal?
Embora seja verdade que os actores recebem muito - geralmente centenas de dólares por cena – a ironia é que, quando acabam por abandonar a indústria, saem falidos e sem nada de que se orgulhar. Há diversos motivos para isto. Um deles é a droga. As drogas estão por todo o lado na indústria pornográfica. É raro encontrar uma filmagem que não tenha drogas ou álcool, ou em que grande parte das pessoas não seja viciada.
As drogas são algo que usas para aguentar a humilhação e a dureza do sexo e, em muitos casos, o que usas para entrar num estado de dormência. O dinheiro que recebes da pornografia, gastas a tentar desligar-te do estilo de vida que levas.
Outra razão é que grande parte do dinheiro volta de imediato para a indústria pornográfica, com maquilhagem, roupas e todos os custos de manutenção. Elas gastam o que for necessário para manterem a sua aparência impecável. Assim, mesmo com as centenas de dólares que ganham por filmagem, no fim, não lhes resta nada... estão emocionalmente, espiritualmente e financeiramente falidas.
Mito #5 – Não há (ou são, pelo menos, mínimos) riscos de saúde na pornografia
Isto é absolutamente errado! Somos testados em relação ao HIV, mas não em relação a todas as doenças sexualmente transmissíveis. A maioria dos actores pornográficos tem uma ou mais DST, e muitas raparigas contaram ter contraído cancro cervical e VPH após o seu tempo na indústria pornográfica.
As raparigas que chegam à pornografia não estão conscientes destes ricos. Este ano, o Departamento de Saúde de L.A. proibiu a produção de mainstream porn após serem reportados diversos casos de SIDA. A indústria pornográfica tinha conhecimento do problema, mas nunca o reportou, porque não queria abandonar a produção.
A maioria das raparigas que se vêm em filmes pornográficos são mulheres prostituídas, o que significa que muitas são infectadas pelos seus clientes com SIDA ou qualquer outra doença, passando-a posteriormente para os actores com quem trabalham. Os produtores dirão que os actores usam sempre preservativo, mas isso é mentira! É muito fácil apanhar DST’s na indústria pornográfica, ainda que produtores e actores te digam que é completamente seguro.
Espero que guardes algum tempo para pensar no que te disse, e que saibas que te amo e rezo por todos vocês,
April
in The Porn Effect
2 comentários:
Muito bom documento!
Aqui, meu caro João Silveira, nem assomo de crítica. ou ironia.
Falta apenas uma coisa: estatísticas sobre suicídios. É trágico.
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