sábado, 27 de julho de 2019

Consoladora dos aflitos - Cardeal Newman

Maria foi mártir, mesmo sem sofrer a desonra violenta que, em geral, acompanha os sofrimentos dos mártires. Como bem sabemos, o próprio Senhor foi esbofeteado, despido, flagelado e, por fim, dependurado numa cruz, pregado nela e levantado para ser visto pela multidão cruel.

Mas Aquele que, pelos pecadores, carregou a vergonha do pecador, poupou à sua Mãe - que, em si mesma, não tinha nenhum pecado - este fracasso e ruína supremos: ela não sofreu no corpo mas na alma. Na agonia do Filho, sofreu uma paixão paralela; foi crucificada com Ele; a lança que lhe enterraram no peito, penetrou no espírito de sua mãe. Mas não houve sinais exteriores, pois o seu martírio foi íntimo.

Agora, todos sabemos que é nisto que consiste o segredo da verdadeira consolação: só são capazes de consolar os outros aqueles que pessoalmente já foram muito provados e encontraram conforto quando precisaram dele. Também foi dito acerca de Nosso Senhor: «É precisamente porque Ele mesmo sofreu e foi posto à prova que pode socorrer os que são postos à prova» (Hb 2,18).

É por este motivo que a Virgem Maria é a consoladora do aflitos. Todos já experimentámos como é tão bom receber conforto que se pode receber de uma mãe; ora, a partir do momento em que Cristo pregado na cruz instaurou uma relação mãe-filho entre ela e São João, já nós podemos chamar a Maria nossa mãe. E Maria pode consolar-nos de maneira muito particular porque sofreu mais do que, geralmente, sofrem as mães.

Em geral, as mulheres, pelo menos as mais sensíveis, são poupadas à rude experiência dos grandes caminhos do mundo; Maria, pelo contrário, depois da Ascensão do Senhor, foi enviada pelas terras estrangeiras quase como os apóstolos, ovelha no meio de lobos. Apesar de todas as atenções que São João lhe dedicava, semelhantes aos cuidados que por ela tinha São José nos seus anos de juventude, ela, mais que todos os santos de Deus, foi estrangeira e peregrina sobre a terra, na proporção do seu maior amor por Aquele que tinha estado na terra e agora já não estava. Quando Jesus era criança, teve de fugir para o Egipto pagão através do deserto; depois de Ele ter subido ao Céu, ela teve de ir de barco para Éfeso, onde viveu e morreu no meio dos pagãos.

Vós estais rodeados de vizinhos indelicados ou de colegas que se riem de vós ou de conhecidos hostis ou de adversários invejosos, invocai o auxílio de Maria lembrando-lhe o sofrimento entre os pagãos.

Cardeal John H. Newman in 'Meditations and Devotions' (1911)


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1 comentário:

Anónimo disse...

muito bonito este quadro...