Hoje, IV Domingo da Páscoa, celebra-se na Igreja Católica o Domingo do Bom Pastor. É por isso que também se diz que este é um Domingo dedicado às vocações. No entanto, nunca é demais lembrar que o Bom Pastor identifica-se quase imediatamente com a figura do Bispo. O prelado de cada diocese é o Bom Pastor dessa diocese.
Quando fez 45 anos que foi ordenado Bispo e 25 anos que foi eleito Sumo Pontífice, pediram ao Papa S. João Paulo II para contar as suas memórias dos seus tempos enquanto Bispo na Polónia. O Santo Padre aceitou e escreveu a autobiografia Levantai-vos! Vamos! em que, além de contar histórias do seu passado, faz uma grande meditação sobre o que é ser Bispo.
O Papa viveu períodos de grande repressão comunista na Polónia, enquanto Bispo. Opondo-se ao regime em vigor de diversos modos, S. João Paulo II conhecia bem a importância de denunciar os erros que dominavam a sociedade em público e que, para isso, era preciso a virtude da fortaleza. O excerto em baixo tem a ver precisamente com esse ponto.
[negritos feitos pelo Senza]
[negritos feitos pelo Senza]
"Fortes na Fé
Permanecem na minha memória as palavras pronunciadas pelo Cardeal Stefan Wyszynski no dia 11 de Maio de 1946, dia que precedeu a sua consagração episcopal em Jasna Góra: 'Ser bispo tem em si alguma coisa da Cruz por isso a Igreja põe a Cruz no peito do bispo. Na Cruz é preciso morrer para si mesmo; sem isso não há plenitude de sacerdócio. Tomar a Cruz sobre si não é fácil, mesmo que seja de ouro e cravada de pedras preciosas.' Dez anos depois, no dia 16 de Março de 1956, ele disse: 'O bispo tem o dever de agir não apenas por meio da palavra, do serviço litúrgico, mas também mediante a oferta do sofrimento.' A estes pensamentos o Cardeal Wyszynski voltou ainda numa outra ocasião: 'Para um bispo, a falta de fortaleza é o início da derrota. Pode ele continuar a ser apóstolo? Para um apóstolo, de facto, é essencial prestar testemunho à Verdade! E isto exige sempre a fortaleza.' [1]
Também são suas estas palavras: 'A maior falta do apóstolo é o medo. O que desencadeia o medo é a falta de confiança na força do Mestre; é esta que oprime o coração e aperta a garganta. O apóstolo pára então de professar. Permanece apóstolo? Os discípulos que abandonaram o Mestre aumentaram a coragem dos algozes. Quem se cala perante os inimigos de uma causa fortalece-os. O temor do apóstolo é o primeiro aliado dos inimigos da causa. 'Obrigar a calar através do medo,' é o primeiro passo da estratégia dos ímpios. O terror que se utiliza nas ditaduras é baseado no medo dos apóstolos. O silêncio possui a eloquência apostólica apenas quando não vira o rosto a quem nele bate. Assim fez Cristo, calando. Mas com aquele gesto demonstrou a própria fortaleza. Cristo não se deixou atemorizar pelos homens. Saindo ao encontro da multidão disse, com coragem: "Sou eu."' [2]
Realmente, não se pode voltar as costas à verdade, parar de anunciá-la, escondê-la, mesmo se se trata de uma verdade difícil, cuja revelação traz consigo uma grande dor. "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (Jo 8:32): aí está a nossa tarefa e, ao mesmo tempo, o nosso suporte! Aí não há espaço para cedências nem para um recurso oportunista à diplomacia humana. É preciso dar testemunho da verdade, mesmo à custa de perseguições, até à custa de sangue, como fez o próprio Cristo e como outrora fez também o meu santo predecessor em Cracóvia, o bispo Estanislau de Szczepanów.
Seguramente teremos de enfrentar provações. Não há nada de extraordinário nisso, faz parte da vida de fé. Umas vezes as provas são leves, outras vezes muito difíceis ou até dramáticas. Na provação podemos sentir-nos sozinhos, mas a graça divina, a graça de uma fé vitoriosa não nos abandona nunca. Por isso podemos confiar que superaremos vitoriosamente cada provação, até a mais dura."
in S. João Paulo II, Levantai-vos! Vamos! - Autobiografia, Publicações Dom Quixote, Junho 2004.
[1] Stefan Wyszynski, Zapiski wiezienne. Paris, 1982, p. 251
[2] Id., p.94
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