Ainda não me passaram da memória as declarações de uma escritora no fim do encontro de Bento XVI com as personalidades da cultura do nosso país. Manifestava ela o seu entusiasmo pelo brilhante discurso do Santo Padre e, ao mesmo tempo, o seu desalento por um homem daquela craveira intelectual rumar imediatamente a Fátima, como que desdizendo toda a postura cultural que tinha manifestado alguns minutos antes.
Estávamos então em 2010. Para muitos, que se consideram (e são considerados) intelectuais de “fina cepa”, Fátima devia ser ignorada: continua a ser sinónimo de obscurantismo, de puro sentimentalismo, de rendição humana diante das suas próprias incapacidades.
A ser isso verdade, com todas as perseguições que desde 1917 até aos nossos dias lhe foram movidas, com o modo fácil e habitualmente sobranceiro com que o tema é tratado na Comunicação Social, Fátima já teria tido tempo de acabar – de desaparecer por completo, ou de, quando muito, constituir hoje um simples fenómeno residual no modo de ser português. O facto é que isso não aconteceu.
Acredito que alguns portugueses nunca tenham ido a Fátima, nem sequer por curiosidade. Mas não acredito que sejam muitos. Em Fátima, há qualquer coisa que nos atrai – a nós, crentes, e a tantos outros. Da simples curiosidade de ver como é, à fé profunda e séria capaz de dizer com exactidão Aquele em quem acredita, passando pelo viver do povo simples, que não sabe expressar por palavras certas e claras o que foram as aparições da Virgem, mas que nem por isso deixa de peregrinar até à Cova da Iria.
O facto é que Fátima não pode ser ignorada. Em simultâneo, mas de um modo harmónico, Fátima é a voz de Deus que, por meio de Nossa Senhora, se faz escutar, persistentemente, aos ouvidos do homem contemporâneo; é a voz do povo de Deus que procura responder e corresponder aos apelos do Pai; e é expressão do sentir humano que percebe, dentro do seu coração, o apelo a ser mais, a viver mais, a não se limitar a este mundo passageiro e sem capacidade de realizar aquilo que promete.
Fátima atrai porque Deus nos atrai, nos chama para Si. Também a Fátima se poderiam aplicar as palavras de S. Paulo: “o que é tido como loucura de Deus, é mais sábio que os homens, e o que é tido como fraqueza de Deus, é mais forte que os homens” (1Cor 1,25). Queiramos ou não, Fátima encontra-se bem no centro do ser português. Pelo menos.
in Voz da Verdade
Sem comentários:
Enviar um comentário