quinta-feira, 9 de julho de 2015

Uma história dos primeiros anos do Opus Dei

Texto escrito por Pedro Casciaro, um dos primeiros membros do Opus Dei. Na altura era um jovem estudante de arquitectura de 21 anos e vivia o seu primeiro ano numa residência da Obra.

"Um dia, nos começos de 1936, perguntei ao Padre quantos éramos ao todo e qual o lugar que eu ocupava. Ao notar a falta de humildade que transparecia da minha pergunta, o Padre deu-me uma resposta que, mais do que desconcertar-me, me impressionou. Disse-me mais ou menos o seguinte:

- Nas minhas visitas aos hospitais de Madrid, encontrei, conheci intimamente e dirigi muitas almas de doentes graves e incuráveis. Alguns - homens e mulheres - entenderam perfeitamente qual é a finalidade da Obra de Deus. Uns ofereceram as suas dores e a sua morte para que a Obra fosse para a frente; outros não só ofereceram esses sofrimentos, mas quiseram oferecer-se eles próprios ao Senhor, oferecer-lhe esse pouco de vida terrena que ainda lhes restava: e eu os recebi na Obra... Lembro-me de um homem jovem que tinha boa saúde e não só boa saúde, mas uma boa posição social e económica. Chamava-se Luís Gordon. Mas o Senhor levou-o inesperadamente para junto de Si.

Não me lembro das suas palavras textuais: mas foi isso, substancialmente, o que me disse. Continuou a falar-me de Luís Gordon, um jovem engenheiro industrial que falecera em 5 de Novembro de 1932. Talvez o Senhor tivesse querido levá-lo - comentou-me - para que a Obra nascesse numa pobreza real, sem meios económicos próprios, que nunca os terá. Ele já tinha herdade uma boa fortuna, que quis deixar para a Obra, mas eu - seguindo um impulso interior - dissuadi-o.

Anos mais tarde, pensei que, se o Padre não se tivesse oposto a que a Obra recebesse aquela herança, não teríamos sofrido os apertos económicos que passamos em Ferraz, nem os que vieram depois. Mas também não teríamos conhecido aquela extrema pobreza, que foi para nós uma escola rica de virtudes."

Pedro Casciaro in Sonhai e ficareis aquém


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