domingo, 3 de maio de 2020

Mãe, o nome que enche o Mundo


O Padre Américo foi o fundador da 'Casa do Gaiato', na qual acolheu muitos jovens órfãos ou abandonados pela Família. É sobre um desses jovens que o Padre Américo fala neste testemunho:

Temos cá em Casa um dos espigados que fala às vezes na sua Mãe. Ele tem Mãe algures. Longe. Muito longe de Paço de Sousa. Esteve ontem comigo aqui no escritório a falar no caso. «Gostava de ver a minha Mãe», disse-me. Eu respondi que sim, unicamente aconselhei a Primavera. Será melhor na Primavera. Temos agora distância. Temos o frio. «Tu és doente». O rapaz acede. 

Olha-me na face, resignado e fala de si para si: «eu só queria dizer Mãe. chamar-lhe Mãe. Ó Mãe. Ó minha Mãe». Eu estava silencioso, a escutar estas grandezas da alma. O rapaz, continua na sua meiga e santa fraseologia: «como será dizer agora Mãe? Eu era pequenino quando saí de ao pé dela!». E murmurava: «Mãe, Mãe!». 

Mas isto encerra um mundo de Beleza e Verdade! Andamos todos à procura das coisas grande e não vemos a verdadeira grandeza das pequenas. Este rapaz, que era ontem lixo das montureiras, prega hoje ao mundo sábio o conceito verdadeiro e divino da Família. Tem-no escrito na alma: «Mãe, ó Mãe!». O nome que enche o mundo!

O rapaz deixa-se ficar. Não tem pressa de sair do escritório. Pois se ele vê em mim a ponte por onde há-de ir até junto de sua Mãe! Quando colhe a certeza de que virá, a seu tempo, visitar quem deseja, continua a expor: «mas olhe que eu não quero ir sozinho. V. há-de ir comigo para me tornar a trazer». 

Oh medo! Oh fraqueza! Forças estas que, sendo sinceras, não há nada que as vença nem ninguém que lhes resista! Sim. Eu vou com ele. eu sou o servo destes rapazes. Eu quero ser testemunha; ver a que sabe e como soa na boca deste filho saudoso, o doce nome de Mãe.

Padre Américo in 'Isto é a Casa do Gaiato' - Vol II, 1951


blogger

2 comentários:

doisjacarandas disse...

Homem, esta não publica.

Durante cinco anos dei 110 euros ao mês a uma das casas do gaiato. Falei com o padre, deu-me o nib e eu paguei. Ao logo de cinco anos nem uma cartinha de boas-festas. Quando o meu pai morreu, indignado com os padres de s.João de Deus, pus fim ao pagode.

Também não houve queixas. Anos depois o padre era apanhado num esquema de carros de gama alta. Consequentemente hoje dou zero a quem quer que seja.

Anónimo disse...

Daquilo que eu sei, as casas do gaiato de hoje estão um "pouco" diferentes daquilo que era o "sonho" do Padre Americo. Certamente, na altura dele, estas coisas não aconteciam. Quando dou alguma coisa a alguma instituição, é sempre cara-a-cara e, de preferencia, em generos alimentares ou consumiveis (ex.: fraldas para bebés).