O último número da revista católica italiana “Tracce” era em grande parte dedicado aos mártires contemporâneos, desde os que vivem em países ocupados pelo chamado “Estado Islâmico”, ao Quénia, Paquistão e vários outros lugares do mundo onde os cristãos são vítimas de perseguição.
Um dos testemunhos mais tocantes era o do Padre Douglas Bazi. Em 2006, este sacerdote caldeu era pároco em Bagdad. Foi raptado e torturado, durante 9 dias. Desde Julho de 2013 está em Erbil, no Kurdistão iraquiano, com os refugiados de Mosul e Qaraqosh: 150 mil famílias que escaparam aos horrores do Isis, depois que Mosul foi ocupada em 6 de Junho de 2014.
Ao entrevistador que lhe dizia: “esta gente perdeu tudo”, não hesitou em responder: “Em 6 de Junho, Deus salvou-nos a vida”. E acrescentava o seu testemunho: “Dispararam sobre mim, fizeram explodir a minha igreja, sobrevivi a diversos atentados, fui raptado. E, no entanto, desejo sempre um futuro sem ódio porque sou cristão”. E mais à frente: “Não sou um herói. Sou apenas um cristão. A minha tarefa é cuidar da comunidade, da nossa Igreja”.
Ou, então, o testemunho do missionário italiano Bernardo Cervellera que visitou o mesmo campo de refugiados e se deparou com professores, empresários, arquitetos que tinham escapado de Mosul para poderem viver a fé: “É impressionante: pedem-te apenas que rezes por eles. Vi uma fé que dá sentido à vida, a toda a vida, mesmo aos desastres”. E contrastava com o modo “burguês” em que vivemos: “Logo que sucede qualquer coisa, pensamos que Deus nos abandonou. Para eles, Deus é a fonte que os mantém na vida”. E continuava: “O martírio não é uma coisa do passado ou uma possibilidade remota: é uma dimensão contínua da sua fé. E não apenas o martírio de sangue derramado uma vez por todas, mas o martírio quotidiano”.
Talvez também para nós não seja difícil responder aos apelos destes mártires do nosso tempo, e todos os dias rezarmos por eles.
D. Nuno Brás in Voz da Verdade (14.06.2015)
Sem comentários:
Enviar um comentário