Na Reconquista, uma das últimas vitórias sobre os árabes para o reino de Portugal foi Ceuta (1415). O capitão desta façanha, e primeiro governador da cidade conquistada, foi D. Pedro de Menezes, Conde de Vila Real e descendente dos reis de Castela. Na conquista de Ceuta, o cavaleiro D. Ruy Gomez de Silva havia participado com bravura e seu comportamento lhe mereceu o apreço do capitão a ponto de lhe dar a mão de sua filha Isabel.
Beatriz da Silva e Menezes nasceu no ano de 1424 em Celta, quando esta cidade pertencia a Portugal. Era a oitava filha de Ruy Gomes da Silva, Senhor de Campo Maior, e de Isabel de Menezes, filha de D. Pedro de Menezes. Por via materna, descendia também dos condes de Ourém e Barcelos. O casal teve 11 filhos, educados por franciscanos, que lhes inculcaram sólidos princípios cristãos e um especial amor à Imaculada Conceição. Dos 10 irmãos de Beatriz, é dever mencionar D. João de Menezes da Silva, o Beato Amadeu.
Beatriz da Silva era uma jovem de grande beleza, conforme testemunha um relato da época: "além de vir de sangue real, era mui graciosa donzela e excedia a todas em formosura e gentileza". Desde cedo Beatriz foi preparada para a vida na Corte. Além da formação humana, os primeiros 21 anos de sua vida ela os passou entregue à devoção e às obras de caridade. Visitava frequentemente Jesus Sacramentado na Igreja Matriz e desde pequenina Nossa Senhora era seu exemplo a seguir. Chamada ao Paço Real de Lisboa, Beatriz tornou-se dama da infanta Dona Isabel, quatro anos mais nova que ela, filha do infante D. João, o penúltimo dos filhos de D. João I de Portugal.
Em 1447, a infanta Dona Isabel contava dezenove anos. O seu tio, regente do reino, promoveu os seus esponsais com D. João II de Castela, que então se achava viúvo. Uma vez rainha, Isabel, ambiciosa, começou por afastar a influência do Condestável de Castela, D. Álvaro de Luna, e criou intrigas na corte, algumas das quais envolvendo a jovem Beatriz, cuja beleza não passara despercebida.
Beatriz atraía a atenção de toda a Corte por seu porte senhorial, por sua sensatez e beleza. A Rainha, despeitada, a perseguia e maltratava. Segundo a tradição, Isabel teria fechado Beatriz num estreito baú, onde eventualmente a falta de oxigénio acabaria por tirar-lhe a vida.
Após três dias, o tio de Beatriz, Dom João de Menezes, que também se encontrava na corte, estranhando a sua ausência perguntou à rainha onde estava a sobrinha. Ela conduziu-o ao baú onde a encarcerara, certa de encontrá-la morta. Desceram até os subterrâneos do Palácio de Tordesilhas, no Alcácer de Valladolid, e, para seu grande espanto, Beatriz tinha sobrevivido. Ela havia invocado a Virgem Maria que lhe aparecera e comunicara que a salvaria, e que ela deveria fundar uma Ordem religiosa que celebrasse o mistério da Imaculada Conceição.
Beatriz perdoou a rainha, que dera mostras de arrependimento, retirou-se da Corte e ingressou no Convento de São Domingos o Real, de Toledo. Ali viveu como monja, sem professar, preparando-se, e a um pequeno grupo de companheiras, para ingressar na nova Ordem que Nossa Senhora a designara fundar.
Como nos conta Sóror Catarina, Beatriz "florescia em todas as virtudes e comia parcamente; era tida por santa e obrava milagres, distinguiu-se sempre por sua humildade e obediência às superioras" do dito Convento de São Domingos o Real. A sua vida era verdadeiramente exemplar: dos bens que possuía reservava uma modesta parte para si, usando todo o resto em esmolas e outras obras de piedade.
Beatriz viveu naquele convento durante trinta anos. "Poucas vezes uma fundadora terá sido preparada tão profunda e prolongadamente para a sua missão".
No ano de 1484, a Virgem Santíssima julgou que, após longos anos vividos na obscuridade do claustro, ela estava pronta para executar a sua obra: deu-lhe a ordem longamente esperada e teve início um período de intensa actividade.
A Rainha Isabel, a Católica, que nutria grande admiração por Beatriz, concedeu-lhe os palácios de Galiana e o Mosteiro de Santa Fé. Foi neste mosteiro que Beatriz conseguiu enfim estabelecer, com mais doze religiosas, a Ordem da Imaculada Conceição, ou das Concepcionistas Franciscanas, um ramo da Ordem dos Frades Menores. As religiosas deviam usar o hábito azul e branco, as cores de Nossa Senhora da Conceição, e dedicar-se unicamente à vida contemplativa.
A 30 de Abril de 1489, o Papa Inocêncio VIII expediu a bula Inter Universa, que autorizava a constituição das Concepcionistas. A Bula foi levada solenemente da Catedral de Toledo até o Mosteiro de Santa Fé.
Santa Beatriz recomendava às suas religiosas grande pureza de coração, amor a Jesus e uma particular devoção a Imaculada Conceição: "Considerem as Irmãs atentamente que sobretudo devem desejar ter o Espírito do Senhor e a sua santa actuação, com pureza de coração e oração devota; purificar dos desejos terrenos e das vaidades do século a consciência; e tornar-se um só espírito com Cristo seu Esposo, pelo amor".
A festa da profissão de Beatriz e das suas doze companheiras já tinha sido marcada pelo Bispo de Toledo quando a Santíssima Virgem de novo lhe apareceu dizendo: "Dentro de dez dias virei buscar-te, porque não é vontade de meu Filho que gozes aqui na Terra o que tanto desejastes".
Beatriz cobria o seu belo rosto com um véu branco desde que saíra da Corte de Tordesilhas, a fim de ocultar a beleza que fora causa de tantos desgostos e dissabores. E assim viveu no Convento de São Domingos o Real e depois no seu Convento definitivo.
No momento de sua agonia, quando o véu foi erguido para que ela recebesse a Extrema Unção, admirados os presentes viram saírem raios de luz de seu rosto, iluminando todo o aposento: uma estrela luminosa se fixou em sua testa e ali permaneceu até seu último suspiro.
Antes de comparecer diante de Deus, Beatriz recebeu o hábito branco e azul, como Nossa Senhora lhe havia prometido, e fez a sua profissão religiosa nas mãos de um sacerdote franciscano, morrendo como uma verdadeira Concepcionista. A Fundadora faleceu dia 17 de agosto de 1490, aos 66 anos de idade, em Toledo, onde jazem as suas relíquias.
O povo já lhe prestava culto como Santa antes mesmo que a Santa Sé a canonizasse, e assim continuou por muito tempo, pois a Igreja Católica só a elevou aos altares em 28 de Julho de 1926. Pio XI beatificou-a e aprovou o culto que já lhe era dado há tantos séculos. A 3 de Outubro de 1976 foi canonizada por Paulo VI.
Em Espanha, a Ordem conta com mais de 90 conventos, e há cerca de 120 casas monásticas espalhadas pela Europa e América Latina.
Santa Beatriz da Silva destacou-se pela sua fé inquebrantável, pela sua pureza - que lhe permitiu ser Lírio Alvíssimo no Canteiro da Imaculada - e por todas as suas virtudes - paciência alicerçada na esperança, caridade, simplicidade, humildade, generosidade em oferecer um perdão sincero - indica-nos o caminho mais curto, fácil e seguro para chegar ao Coração de Jesus: Maria Santíssima.
in heroinasdacristandade.blogspot.pt
2 comentários:
Muito interessante este relato. Gostaria de saber mais pormenores de milagres e representações desta Santa
Caro João Silveira:
Tem ou sabe onde posso encontrar mais informação sobre o irmão de Stª. Beatriz, D. João da Silva Menezes, o Beato Amadeu?
Enviar um comentário