quarta-feira, 6 de junho de 2007

Como se passa um dia (II)

8:50 Chego e sento-me bem lá atrás, onde posso estar mais à vontade e tenho uma janela aberta. Nestas salas miseráveis só há praí três tomadas….como ligar vários computadores? Lá atrás só há uma! Mas o Rúben trouxe a ficha tripla. Sim, já chegámos a isto, uma ficha tripla. Ah, é amarela fluorescente. Feitas as ligações, entra-se na net e faz-se a visita matinal pelos mil e um blogs (Sempre primeiro o dos Senzas…) Depois vê-se de que séries é que eu gostaria de ter uns episódios e tal… Vejo os mails.

8:53 “Bom dia meus senhores…” Entra o Professor e acaba-se a distracção (a realidade pode estar ligeiramente modificada para não causar escândalo a nenhum leitor.) Entretanto também está cá o Filipe Avillez! É sempre bom tê-lo nestas aulas, apesar de ele ser um nerd e estar sempre na segunda fila, muito atento.

9:04 O calor. Já vejo o Prof por entre os efeitos do calor, qual miragem. Os estores da sala, avariados e todos tortos, claro, deixam passar o sol de chapa. O sono a querer dominar. O tom monocórdico… Mas o calor. Mas já tanto calor? E de repente, atinge-me! “Flanela??? ESTOU COM UMA CAMISA DE FLANELA??” O caricato acontece. Na minha correria da manhã com a preocupação da toilette nem me apercebi do suicídio que cometia. Uma camisa de flanela bem quentinha, a única que tenho e que quase nunca uso. Logo hoje, dos dias mais quentes até agora! “Oh meu Deus, que mal fiz eu???” Que loucura! E agora já não consigo pensar noutra coisa! O deserto. Incêndios nas florestas. Um forno de lenha gigante. O tubo de escape de um camião mesmo a apontar para a minha cara. Uma praia sem mar! Nããããão! Gotas de suor salpicam-me o buço! Não! Bendita Água Brava que me faz resistir à porcaria.

9:11 “Ó Duarte, como é que estás com uma camisa de flanela num dia destes?” Pergunta o David…Pronto! Já começam a notar a minha idiotice! “Pois - digo, irritado - sei lá, não pensei bem nisso! (um frango a grelhar numa grelha gigante)”

9:34 Abano-me loucamente com as benditas folhas de matéria da sebenta (afinal servem para as aulas!!) Pareço as velhas a ter afrontamentos na Missa. (pelo menos essas têm leves “blusas” de seda!) ah, o que eu não dava agora por um ar condicionado….ou uma ventoinha! Um leque?? Alguém a soprar? Pronto, tá bem! Servem muito bem as folhas! Pelo menos estou bem vestido! Nem que morra de calor, pelo menos morro dignamente! (Neste momento agradeço a Deus por não suar quase nada, senão já ostentaria dois belos medalhões nos sovacos!)

10:00 Começam aqueles relógios da Casio a apitar – há dois ou três colegas nossos, Espiritanos, parece-me, que fazem questão de pôr naquela função de tocar hora a hora. Muito irritante. Mas mais ainda é a impassividade do Professor perante os mil alarmes (se calhar é como eu e o despertador às seis e meia!)

10:07 Ora finalmente acaba a aula! E a próxima quem é? O próprio! Ah pois é, de Teologia Filosófica passamos para Antropologia Filosófica! Isto é uma delícia! Mas antes 15 minutos de intervalo. Em rigor já só são 8, mas eu tenho uma costela de função pública e conto a partir do momento em que saio da sala. O calor.

10:13
“Bom dia Duarte!!”, diz-me uma amiga que está em Direito. “Não tens calor num dia destes com essa camisa??” Exibo o melhor sorriso que tenho embora a conversa já me comece a irritar.

10:14 Chega a minha vez no bar e logo vem o meu croissant misto com manteiga e o leite com chocolate sem ser preciso pedir. E já está no vidro riscado do balcão 1,97€ que dou certinhos.
Apesar de ainda estar enjoado vou comer, pode ser que passe. Falo com os seminas sobre coisas normais, vem o Pe João que conta sempre histórias cómicas. Pergunto como estão as coisas em Santa Isabel. Tudo bem.

10:24 Bom, já passaram os 15 minutos..Há três minutos… Talvez voltar à aula! Lá vamos nós, “como cordeiro ao matadouro” O calor. “Então no Inverno vens de t-shirt e no verão de flanela?” - pergunta o Dehoniano. Sorriso amarelo. “Ah, sorry, já tou atrasado pra aula, tenho de correr!” Fui.

10:26 “Desculpe o atraso, digo inaudivelmente enquanto vou para o lugar. Já tá o quadro todo escrito com a bibliografia para esse dia, e o professor alegremente a falar sobre ela. É impressionante a quantidade de livros e autores dos quais ele fala. E ligo logo o modo (que sequência de palavras irritante) de alerta máximo porque as distracções à aula são muitas! Pelo menos não vou conseguir adormecer, o calor não deixa.

11:03 Algo desperta a minha atenção – sim, o professor acabou de falar da bibliografia para o tema que vamos dar na aula. Sim, foram cerca de 40 minutos. Agora estamos prontos para dar a matéria! (…) Agora estou a ouvir. E tal, o Ser, Deus, “o homem como unidade diferenciada de corpo, alma e espírito”; “Sentido – o carácter mais espiritual do sentido da visão é o “vemos que não”.A audição não é à distância – implica temporalidade, sucessão. É o órgão da compreensão, o órgão do sentido.” Umas palavras que apanho e escrupulosamente escrevo no meu computador, todo contente por estar a ser um estudante aplicado!

11.34 Finalmente acabou a aula! E o calor que está não é real! Ainda bem que já não temos mais aulas hoje!! A correr para a carrinha, procuro no parque uma flor para hoje à hora de almoço dar à D. Benedita. Enquanto os mais atrasados ficaram à conversa. Hmm, estas azuis já levei…estas amarelas e as brancas também… Esta da última vez que levei ao terceiro km da auto-estrada já tinha murchado, então com este calor nem vale a pena. Que seca, não levo nenhuma hoje. Também não é nenhum drama.

11:40 Vamos embora. Tá a dar a”Grace Kelly” do Mika, ponho aos berros e abro a janela, só para libertar energias. Tá calor e a carrinha não tem ar condicionado, como seria de esperar.

11.58 “Rápido, o que dizer na mensagem do Angelus de hoje? Hoje de manhã nas Laudes rezei qualquer coisa bonita, mas para variar já não me lembro! Cá vai mais uma frase estúpida…Se ao menos me pedissem intenções era mais fácil pra eu partilhar…”

12.00 103.4 na telefonia da carrinha e rezamos todos juntos o Angelus na RR! Muito bom. “18 mensagens enviadas” diz-me o tlm. Tá feito! Espero que pelo menos um deles reze!

12.04
Paramos na bomba da gasolina. O pneu continua a perder ar. Enquanto o João Paulo o enche eu vou a correr arrancar umas flores amarelas muita bonitas que vi lá ao fundo. “A D. Benedita vai gostar destas. E cheiram mesmo bem, vê lá Duarte, não achas?” Também acha. E seguimos.


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2 comentários:

Anónimo disse...

ai pá...só tu pra me fazer rir desta maneira das 23:23 às 23:30 nesta noite indiferente.continua.por mim podes escrever mais.quando começar a não ter novidades eu aviso.

João Silveira disse...

lol, mt bom