quinta-feira, 12 de junho de 2008

Impressionante e revoltante (há que agir!)

Velhos, dependentes e ignorados pelas famílias (José Manuel Oliveira in DN)

Há "mais de meio milhar" de idosos em lares do Algarve abandonados pelas famílias, muitas das quais da classe média. A este quadro, que é dramático, juntam-se os que vivem "isolados e em situações degradantes, com pensões de reforma miseráveis e rejeitando qualquer tipo de apoio, apesar de já não terem capacidade física e psicológica para cuidar de si próprios".

Helena Serra, provedora há 30 anos da Santa Casa da Misericórdia de Albufeira, recorda que o último idoso recolhido este ano pela instituição, na zona das Ferreiras, naquele concelho, "vivia pior do que um animal, mesmo abaixo de cão, como se costuma dizer". "Outros, na casa dos 80 anos, ficam ao estilo de sem-abrigo e rejeitam ser acolhidos", refere, recordando um caso que a impressionou particularmente: "Só através do tribunal é que conseguimos que ele deixasse o espaço onde vivia. Há pocilgas muitas mais limpas e cuidadas do que o local de onde o retirámos. As pessoas nem fazem ideia do que muitas vezes se passa no Algarve a este nível", conta.

Apesar de a grande maioria dos familiares preferir ignorar o problema, não visitando nos lares os seus idosos, alguns deles ainda saem em defesa dos filhos, alegando que eles "não têm disponibilidade de tempo para ir vê-los", refere a provedora, para quem, no entanto, tal situação "não é um facto". Por outro lado, afirma, outros idosos há que "sofrem com o abandono por parte das famílias" e muitos "já nem sequer reagem, estando numa situação de alheamento quase total". Um dos casos mais chocantes ocorreu há cerca de dez anos no centro de Albufeira, junto a um mercado, onde um idoso foi abandonado pelo filho num passeio, numa noite chuvosa. "Ele já não estava muito lúcido e só dizia que tinha sido um filho que abriu a porta do carro e o pôs na rua. Mas sem nome, nem local de onde vinha, tornou-se muito complicado saber quem eram os familiares", recorda Helena Serra, que demorou três semanas até os conseguir localizar, embora tal "de nada tivesse valido". O idoso faleceu três meses depois e no funeral apenas o acompanharam a provedora, a governanta da Misericórdia e o padre.

No lar de Vila do Bispo, mais de 20 por cento dos 64 idosos que ali se encontram alojados não sabem há muito tempo o que é ser visitado por um familiar.
"Nota-se que encaram com muito sofrimento essa situação difícil. Tentamos resolver o problema quando, nomeadamente no Natal e nos dias dos aniversários, convidamos as famílias para uma festa. Às vezes até vêm. Mas deslocam-se ao lar sobretudo para a festa e acabam por ter contacto com os idosos numa situação forçada", contou ao DN Vítor Lourenço, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo.

"Infelizmente, a situação de abandono dos idosos pelos seus familiares passa-se ao nível de todo o País. O que interessa a muitos deles é entregar os pais aos lares, esquecendo-se que por muitos serviços de qualidade que estes tenham, a melhor terapia ainda é a relação humana com a família", concluiu Vítor Lourenço.


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3 comentários:

Duarte 16 disse...

Acho smepre impressionante estas notícias. Fazem pensar muiito na nossa sociedade:

Como isto é fruto de uma má formação das pessoas, infelizmente muitas vezes com base na própria família. Não sou adepto da violência doméstica, mas muitas das crianças que hoje são mimadas porque querem pra ontem as Playstations novas e os dvds dos Morangos com Açucar, e ir de férias para o México com os amigos porque sim, são depois os filhos malcriados e desnaturados que abandonam os pais quando estes deixam de ser bancos e passam a ser despesa (a nível económico...).

Impressiona-me também como é que as pessoas não percebem o óbvio que isto é. Com os permanentes ataques à família (casamentos gays, abortos e afins) esta vai enfranquecendo como estrutura fundamental e basilar da sociedade. É uma consequência quase inevitável o desligar destes laços que para nós católicos são tão importantes.

Para além disto tudo há a falta de civismo e de humanidade. Os filhos que abandonam um pai meio senil a meio da noite são criminosos e deviam ser punidos por isso, é de uma brutalidade inadmissível.

Tudo isto é sintoma de uma sociedade que está cada vez mais virada para o prazer e para tudo o que é descartável.
A memória é uma coisa que irrita as pessoas, hoje em dia, não sei se já repararam. As tradições são vistas como coisa de conservadores, como manias retrógradas de quem não é "moderno";
há tanta informação a todos os níveis que as pessoas não guardam espaço para reflectir sobre o que conheceram de novo - a torrente de sempre novas informações impossibilita que se guarde espaço para a memória;
as pessoas agradecem pouco, exigem os seus direitos;
as pessoas não se lembram, quando estão na mó de cima, que já passaram por dificuldades - é o aspecto negativo do "carpe diem" - faço tudo o que posso hoje porque amanhã se calhar não me deixam... é a abominável frase "só me arrependo do que não fiz!".

Enfim, já tou aqui a dissertar imenso, mas isto preocupa-me, porque é uma mensagem que a Igreja tá careca de trasmitir mas parece que não nos querem ouvir. Claro que sempre diremos o mesmo, mesmo que fiquemos carecas, sem escalpe até, se for preciso.
Só que a cada dia que passa há mais pessoas a sofrer sem necessidade!

João Silveira disse...

Tens toda a razão, meu padrinho. Nada a acrescentar

Anónimo disse...

boa João! saudades das coisas que dizes.. beijinhos.
l.h