Durante quatro anos, de novembro de 2006 a outubro de 2010, fui voluntária do JRS (Serviço Jesuíta aos Refugiados). Passei-os nos campos de refugiados no Ruanda e de deslocados internos à força na República Democrática do Congo.
Fui desafiada pela Ecclesia a contar como é que se vive o Natal em sítios como estes, onde se respira permanentemente um enorme e denso “advento”, onde se vive uma enorme e densa espera… onde se equilibra o desespero com a certeza do regresso a casa; onde se antevê a própria terra, que agora parece unicamente ser prometida, com a certeza de que Deus é fiel e não abandona o seu povo em terra estrangeira.
Durante esses quatro anos não faltei a um único Natal no campo. Eles eram, e ainda são, a minha Comunidade de referência.
Não é fácil falar do Natal quando o contraste é tão grande com o nosso. Não é fácil. Não é fácil porque o Natal num campo de refugiados é tão austero e tão extremamente pobre que a única coisa que realmente acontece é, de facto, o nascimento do Deus Menino, o Emmanuel, o Deus-connosco!
Não há iluminações porque não há eletricidade. Há apenas a Luz que veio habitar entre nós e que, guiados pela potente estrela da fé, nos faz sair do pequeno abrigo, na escuridão da noite e da própria vida, até ao presépio para adorar Aquele que quis ter a sua tenda do meio das nossas! Pode haver alguém que entenda melhor as razões pelas quais o Deus Menino quis nascer em extrema pobreza e habitar numa tenda, que nasceu numa gruta por não encontrar lugar na hospedaria, do que aqueles que, tal como Ele, vivem em pobreza e habitam em tendas porque não têm lugar no seu próprio país, na sua própria terra? De facto, a única coisa que realmente acontece no Natal dos campos de refugiados é o nascimento do Deus Menino, o Deus-connosco!
Não há rabanadas, nem peru, nem bacalhau, nem vinho nem azevinho. Nalgumas tendas haverá batata cozida, um verdadeiro manjar de festa, para quem conseguiu trocar, por estas, parte da farinha de milho que, há anos sem fim, é o prato do dia a dia que se recebe mensalmente do Programa Alimentar Mundial. Pode haver alguém que entenda melhor o que experimentaram os pobres pastores, que viviam fora das cidades, ao serem os primeiros a dar “as boas vindas a este mundo” ao Salvador do que aqueles que de mãos vazias e coração ardente adoram o Menino na grande tenda do Campo onde se celebra a missa do galo?
Pode haver alguém que se alegre mais com os anjos que cantaram naquela noite “Glória a Deus no Céu e Paz na terra aos homens por Ele amados” do que aqueles que depois da missa ficarão horas a dançar com o coração repleto de alegria porque nasceu novamente o Menino, o Príncipe da Paz que fortalece a esperança que lhes permitirá voltar a casa?
Pode haver Alguém que entenda melhor o que é ser refugiado do que Aquele que também o foi? “O anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar.» E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito, permanecendo ali até à morte de Herodes” Mt.2,13-15
No Natal num Campo de Refugiados de facto não acontece nada. Unicamente nasce o Salvador ardentemente esperado!
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