Infelizmente as nossas ideias não resultam de análises racionais e
objectivas, cimentadas por uma atenção constante a todas os factores em
causa. Na esmagadora maioria dos casos, as nossas posições pessoais são
fruto de uma atenção constante a toda a informação que confirme aquilo
em que já acreditamos, ignorando sempre, de forma muito sistemática e
eficaz, qualquer realidade ou ideia inteligente que se oponha a esses
nossos pré-conceitos.
Ao longo dos anos, e buscando somente confirmações das tais opiniões,
fica-se de tal forma convicto da solidez das teses iniciais, que nada,
mas mesmo nada, pode fazer sequer duvidar dessas mundividências tão
firmes quanto falsas.
Esta é a razão pela qual as pessoas comuns tanto gostam de ouvir o que
já sabem, e, pela mesma ordem de razão, se sentem tão desconfortáveis
perante o novo. Afinal, a novidade não é, por definição, aquilo de que
se está à espera, quase nunca se enquadra dentro das estruturas
existentes, sendo necessárias alterações de fundo para as integrar
devidamente. As pessoas preferem mais do mesmo, o velho, o que já está
estabelecido; e apenas admitem suaves variações da mesma matriz. O que
desafia a inteligência, e pode permitir avanços significativos na nossa
capacidade de compreender o mundo, exige uma humildade e agilidade pouco
queridas por quem é preguiçoso com as ideias.
Um corolário desta linha tão generalizada de pensamento é a construção
da imagem que cada indivíduo tem de si mesmo. Na maior parte das vezes,
uma radical dissonância entre o pensamento e a realidade.
As avaliações que fazemos a respeito de nós mesmos não são baseadas em
análises correctas dos nossos sucessos e falhanços ao longo da nossa
história individual. Tendemos a desculparmo-nos pelos insucessos e a
sobrevalorizar as conquistas (por mais insignificantes que sejam). Desta
filtragem viciosa decorre inevitavelmente uma imagem de alguém muito
mais inteligente, capaz e virtuoso do que nós.
Daqui resulta que nem sequer nos ajudarmos a nós próprios, na medida em
que, somos tantas vezes ignorantes da nossa real identidade.
O pensamento quotidiano tende a tentar esquecer de imediato o que não é
bem sucedido e a colocar imediatamente de lado o que não sai de forma
perfeita. Mas para se atingir a perfeição é preciso apostar na
capacidade de corrigir o que correu mal, analisar ao detalhe cada pedaço
dos fracassos, estudando-o, corrigindo-o e aprendendo com ele. Assim,
fracassos, quanto maiores melhor.
Os sucessos animam, e os fracassos deviam ter o mesmo efeito, até mais,
porque neles se encontra a matéria-prima mais valiosa para a criação de
futuros sucessos. Sendo que, espíritos mais elevados, mesmo perante um
sucesso prestam atenção redobrada ao que existiu de menos positivo, a
fim de aproveitar cada oportunidade para se aperfeiçoarem.
A preguiça de pensamento prefere esquecer e começar de novo,
considerando qualquer fracasso ocorrido como algo do qual devemos
distanciar-nos quanto antes.
Os fracassos de quem ousa desafiar-se a si mesmo, são sucessos, porque a
simples tentativa é um sucesso por si mesmo... será necessário algum
génio para descobrir no fracasso as sementes dos sucessos possíveis, mas
não é uma tarefa inacessível ao mais comum dos mortais – dos que não
têm preguiça de pensar, claro.
A maior parte das pessoas não fracassa, porque prefere desistir.
A grandeza da felicidade é certamente o prémio para quem não se deixou
ficar pelos pequenos sucessos, nem se acomodou ao chão ou ao sofá depois
dos seus grandes fracassos; e levantou-se, apesar dos medos, para
seguir adiante. Rumo ao melhor de si.
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