Querido João,
Cada uma das nossas famílias adoptou crianças como tu, a quem tentamos dar o melhor para que cresçam felizes. Estamos preocupados: é que há muitos casais que querem ser o pai e a mãe que tu não tens e precisas, mas agora parece que, mais que acelerar as adopções, importa poderes vir a ter dois pais ou duas mães. Dizes que não faz sentido? Pois não, mas há adultos que dizem que é um direito dos pares homossexuais. E tu perguntas onde é que está o teu superior interesse, e perguntas bem.
De facto, o legislador, que é quem decide estas coisas, deve olhar primeiro para o teu interesse e é por isso que existe a adopção: para servir crianças como tu, oferecendo um vinculo e um ambiente semelhante ao da filiação natural. Isto chama-se família, com um pai e uma mãe que se complementam. Se possível, com irmãos. Os poucos estudos que dizem o contrário são duvidosos, apesar de darem muito jeito a alguns.
Se fores adoptado por dois pais ou duas mães, iria faltar-te um dos modelos (masculino ou feminino) que tanto enriquece em tons e contrastes o teu caminho. Seria, no mínimo, uma experiência arriscada feita num laboratório social, só que desta vez o ratinho és tu. Ora, se todos podemos impedir isso e escolher o melhor para ti: porque hesitamos?
Certamente ouviste-os dizer que a tal co-adopção não tem nada a ver contigo e é "só" para regularizar alguns casos reais (por sinal, facilmente regularizáveis retocando um artigo do Código Civil), mas esse “só” já escancara as portas à adopção por pares homossexuais de crianças como tu, objectivo – frouxamente desmentido - de quem fez esta lei.
Alguns alegam que esta proposta de lei combate uma discriminação, mas na adopção já se excluem (será que temos de dizer "discriminam"?), e bem, os casais muito velhos e muito novos e outros que, por uma razão ou outra, são declarados como não tendo capacidade para adoptar. Discriminação "à séria" é a sofrida por casais nossos conhecidos a quem impediram de adoptar só porque um deles ficou desempregado durante o processo ou porque os técnicos acharam o quarto para a criança demasiado pequeno… E esta?
Mas a maior discriminação é a que alguns pretendem com isto, mesmo que o não digam tão cruamente: que não voltes a ter pai e mãe, ao contrário das outras crianças. Mesmo a adopção "mono-parental" ou singular, sendo imperfeita, não se lhe compara, porque, o pai ou a mãe ainda podem vir a casar e, mesmo que o não façam, não confundirão a representação que tens do pai ou da mãe em falta. Por falar em discriminação, será que um dia não vão deixar-nos ter filhos biológicos porque os pares homossexuais também não os podem ter entre eles sem recorrer a terceiros?
Esperamos que esta carta ajude a garantir que tenhas lugar numa família como as nossas, feita também de insuficiências, mas que é o espaço que te dá a melhor oportunidade para preencher o teu coração carregado de promessas.
Um beijinho grande.
por Adelaide e Manuel L Monteiro; Carmo e Rui Diniz; Margarida e Miguel M Guimarães; Maria e Filipe Núncio; Patricia e Pedro M Rodrigues; Rita e Henrique Garcia; Sofia e Pedro Fragoso.
Cada uma das nossas famílias adoptou crianças como tu, a quem tentamos dar o melhor para que cresçam felizes. Estamos preocupados: é que há muitos casais que querem ser o pai e a mãe que tu não tens e precisas, mas agora parece que, mais que acelerar as adopções, importa poderes vir a ter dois pais ou duas mães. Dizes que não faz sentido? Pois não, mas há adultos que dizem que é um direito dos pares homossexuais. E tu perguntas onde é que está o teu superior interesse, e perguntas bem.
De facto, o legislador, que é quem decide estas coisas, deve olhar primeiro para o teu interesse e é por isso que existe a adopção: para servir crianças como tu, oferecendo um vinculo e um ambiente semelhante ao da filiação natural. Isto chama-se família, com um pai e uma mãe que se complementam. Se possível, com irmãos. Os poucos estudos que dizem o contrário são duvidosos, apesar de darem muito jeito a alguns.
Se fores adoptado por dois pais ou duas mães, iria faltar-te um dos modelos (masculino ou feminino) que tanto enriquece em tons e contrastes o teu caminho. Seria, no mínimo, uma experiência arriscada feita num laboratório social, só que desta vez o ratinho és tu. Ora, se todos podemos impedir isso e escolher o melhor para ti: porque hesitamos?
Certamente ouviste-os dizer que a tal co-adopção não tem nada a ver contigo e é "só" para regularizar alguns casos reais (por sinal, facilmente regularizáveis retocando um artigo do Código Civil), mas esse “só” já escancara as portas à adopção por pares homossexuais de crianças como tu, objectivo – frouxamente desmentido - de quem fez esta lei.
Alguns alegam que esta proposta de lei combate uma discriminação, mas na adopção já se excluem (será que temos de dizer "discriminam"?), e bem, os casais muito velhos e muito novos e outros que, por uma razão ou outra, são declarados como não tendo capacidade para adoptar. Discriminação "à séria" é a sofrida por casais nossos conhecidos a quem impediram de adoptar só porque um deles ficou desempregado durante o processo ou porque os técnicos acharam o quarto para a criança demasiado pequeno… E esta?
Mas a maior discriminação é a que alguns pretendem com isto, mesmo que o não digam tão cruamente: que não voltes a ter pai e mãe, ao contrário das outras crianças. Mesmo a adopção "mono-parental" ou singular, sendo imperfeita, não se lhe compara, porque, o pai ou a mãe ainda podem vir a casar e, mesmo que o não façam, não confundirão a representação que tens do pai ou da mãe em falta. Por falar em discriminação, será que um dia não vão deixar-nos ter filhos biológicos porque os pares homossexuais também não os podem ter entre eles sem recorrer a terceiros?
Esperamos que esta carta ajude a garantir que tenhas lugar numa família como as nossas, feita também de insuficiências, mas que é o espaço que te dá a melhor oportunidade para preencher o teu coração carregado de promessas.
Um beijinho grande.
por Adelaide e Manuel L Monteiro; Carmo e Rui Diniz; Margarida e Miguel M Guimarães; Maria e Filipe Núncio; Patricia e Pedro M Rodrigues; Rita e Henrique Garcia; Sofia e Pedro Fragoso.
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