Jenny Driver, MD, é professora de Medicina na Harvard Medical School e numerária do Opus Dei.
"Sou médica, e não uma especialista em teologia ou filosofia e nunca conheci S. Josemaria pessoalmente. Considero-me, no entanto, uma especialista numa coisa: stress. Como muitas das minhas colegas, sou uma perita em stress...
A 1 de Julho, primeiro dia de estágio, as únicas pessoas em hospitais universitários que estão mais nervosas que os novos estagiários são os pacientes, que sabem que estão a ser tratados por recrutas ainda bem verdes, fresquinhos da universidade.... Nós (estagiários) ajudávamo-nos uns aos outros através de experiências como ter que contar a uma jovem mãe que está cheia de cancro ou ao cometer um erro que pode levar à morte de um paciente. O stress emocional, físico e existencial teve os seus efeitos em nós... Cada uma de nós enfrentava as questões, "Porque é que estou a fazer isto? Qual é o sentido do sofrimento do meu paciente? Qual o valor do meu trabalho?"
Mas não havia tempo para pensar ou responder a todas essas perguntas. Fruto de uma sociedade contemplativamente mudada, com poucas raízes espirituais, a maioria de nós continuava a trabalhar e seguia em frente, à espera que a angústia que o trabalho nos trazia passasse com o tempo. O meu local trabalho estava desesperadamente a precisar de um sentido espiritual. Para mim, essa necessidade foi preenchida pelos ensinamentos de S. Josemaria sobre a possibildade de contemplação no meio de uma vida frenética de trabalho, que me ajudou a transformar o meu trabalho de uma experiência de enorme stress para um sítio onde posso encontrar Deus.
A minha experiência de contemplação e de uma vida interior começou num pico Himalaia no norte da Índia, cercada por bandeiras de oração tibetanas, pequenos bocados de tecido a chicotear no vento, como se ecoassem as orações dos peregrinos diante de mim, que tinham subido a montanha à procura de paz e ajuda espiritual. Eu acrescentei as minhas bandeiras coloridas às cinzentas e esfarrapadas.
Tinha deixado a minha casa, a minha cultura e a minha religião para trás e estava a passar o meu terceiro ano na Índia. Um exemplo típico da Geração X [1], tinha sido baptizada como Católica mas afastei-me da Igreja na infância, apesar do exemplo de uma mãe muito piedosa e de uma educação Católica. Desliguei-me do que chamava a "corrupção de uma religião organizada" e do materialismo da minha sociedade.
Quando fui para a universidade tinha um desejo espiritual profundo. Especializei-me nos -ismos e em estudos indianos e desejava "escapar" do mundo e do dia-a-dia. Na cadeira de introdução ao existencialismo fiquei intrigada pelo conceito de "existência autêntica" de Martin Heidegger, um estado de "consciência plena do ser" em oposição ao "esquecimento do ser" onde uma pessoa se rende ao mundo do dia-a-dia e se perde nas suas preocupações. Vivia uma vida dupla: os meus interesses espirituais eram a minha missão privada e não se integravam com a realidade da minha vida social e académica.
Subi a montanha porque lá, bem longe das preocupações e stresses do mundo, sentia-me em paz. Era capaz de esquecer as contradições e inconsistências da minha vida. Era fácil ter uma espiritualidade que não exigisse nada de mim, nada que eu não quisesse dar. Sentia que tinha escapado do "mundo" e das coisas materiais, com todas as suas influências negativas sobre mim.
Tive momentos de luz e inspiração. Uma vez, quando estava a viver em Dharamsala, no norte da Índia, onde o Dalai Lama vivia no exílio, reparei nos sinos que tocavam a tempos estranhos. Perguntava-me o que significariam. Fui ter com uma idosa mulher tibetana e perguntei-lhe para que serviam os sinos. Ela sorriu e riu-se: "Servem para te lembrar que é agora." Na altura não percebi o significado das suas palavras. Foi só mais tarde, muito mais tarde, através das palavras de S. Josemaria, que cheguei a percebê-las.
Logo que regressei da Índia, as minhas ideias Budistas desapareceram. Ao discutir com os meus irmãos e cheia de queixas, desejava muito a minha montanha. Não tinha maneira de integrar a minha "espiritualidade" com a realidade de cada dia. Foi mais ou menos nessa altura que a minha mãe me apresentou a algumas raparigas do Opus Dei.
Fiquei imediatamente fascinada pelo seu ideal de ser contemplativas no meio do mundo, algo que eu pensava ser uma contradição. Comovi-me pelo seu amor óbvio por Deus, pela sua intimidade com Deus, que para elas era uma pessoa, alguém que amava e compreendia. Estas mulheres eram profissionais ocupadas e entregavam-se ao seu trabalho, mas de alguma maneira tinham profundidade e paz, que as ajudava a absorver os obstáculos do caminho que me punham fora de forma.
Através das minhas amigas no Opus Dei e da vida e ensinamentos de S. Josemaria, ganhei uma compreensão mais profunda da fé Católica. Comecei a rezar e regressei aos sacramentos. Já não precisava de uma montanha retirada para me sentir perto de Deus. Tinha-O descoberto dentro da minha alma..."
Excerto do livro Women of Opus Dei In Their Own Words
in opusdeiblogs.org
[1] NT: Geração X é o que se chama à geração de pessoas nascidas nas décadas seguintes à II Guerra Mundial, até praticamente aos anos 80. Ver mais aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário